expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

terça-feira, 9 de agosto de 2011

SÃO TOMÉ E A GUERRA DO BIAFRA: ODISSEIA DOS VOOS DE “JESUS CHRIST AIRLINES” - RESTA A MEMÓRIA DOS ESQUELETOS DOS SUPER CONSTELLATION, QUE URGE PRESERVAR

Jorge Trabulo Marques – Jornalista e antigo correspondente, em S.Tomé e Principe,  da revista Semana Ilustrada 


FOTOS HISTÓRICAS E INÉDITAS DOS VOOS DA SOLIDARIEDADE DA FOME  E DAS ARMAS PARA A MORTE   - TEM MAIS DE 40 ANOS -   Obtidas pelo autor deste post Inicialmente esteve previsto o envio de  uma frota de cinco C-97, mas três foram cancelados devido à falta de manutenção. Cada um transportava 16 toneladas - ficaram operar apenas dois - Este foi um deles. Actualmente encontram-se guardados num museu americano

Das outras aeronaves  não consigo saber qual o modelo. Mas o desta fotografia,  pude verificar através de imagens de aviões pousados na pista (e até de vídeos - um deles é o que  a seguir apresento - Com referências à ponte aérea Biafra-São tomé, ) tratar-se de um imponente avião militar de carga, a grande vedeta de 1945. o .Boeing C-97 Stratofreighter -. The Republic of Biafra was a secessionist state in south-eastern Nigeria. 

A frota da ponte aérea humanitária de S. Tomé ao Biafra, que inicialmente fora designada  pela sigla JCA -  Ajuda da Igreja Conjunta - , passou depois a ser conhecida por aviadores e organizações envolvidas, por  os  Voos de JESUS CHRIST AIRLINES ou Jesus Cristo Airways"., tendo dado origem a um filme, com o mesmo nome - Por sua vez, a própria a guerra, também foi rotulada de diferentes maneiras - Eu hoje - atendendo ao que analisei e observei  - chamar-lhe-ia a  Guerra dos Novos Cruzados da Fé Colonial e do Petróleo. - A imagem a lado -In Biafra



ESCREVEU-SE  MUITA COISA MAS TALVEZ FOSSE MAIS O QUE SE OMITIU E NUNCA FOI DITO  - QUEM LÁ ANDOU É QUE O AFIRMA

  "O livro que nunca chegou a ser escrito "

"Para o número x de anos atrás, eu tinha acabado de apresentar o meu ensaio na história , liguei para o elevador(memória) Biafra. Foi sobre a ponte aérea para o Biafra separatista 1967-1970 e a pergunta era, se os pilotos, que em muitos olhos foram classificados como mercenários, deliberadamente prolongaram a guerra entre a Nigéria e Biafra. Não posso dizer que há um trabalho científico radiante direto ao olhar para o jornal de hoje - dificilmente era melhor, então - mas foi aprovado" Texto traduzido. Biafra
.

A Guerra Civil da Nigéria, também conhecida como Guerra Civil Nigeriana, Guerra Nigéria-Biafra ou ainda Guerra do Biafra que durou de 6 de Julho de 1967 a 13 de Janeiro de 1970, foi um conflito político causado pela tentativa de separação das províncias ao Sudeste da Nigéria, como a República autoproclamada do Biafra. O governo federal nigeriano opôs-se e começou a Guerra do Biafra (1967-70)" InGuerra Civil da Nigéria

Do lado do Governo Federal da Nigéria – mantiveram-se fiéis os ingleses, que, no início dos anos 60 haviam reconhecido a independência à sua antiga colónia, a que  veio juntar-se  o apoio dos  Americanos (que fizeram o jogo duplo) e, por último,  os caças Mig da União Soviética -   intervenção esta crucial: os russos, sempre de olho no melhor furo, não quiseram ficar de fora, mesmo ao lado dos maiores inimigos.


 Por sua vez o governo rebelde do "Biafra foi reconhecido pelo Gabão, Haiti, Costa do Marfim, Tanzânia e Zâmbia. Outras nações não deram reconhecimento oficial, mas providenciaram assistência ao Biafra: Israel, França, Portugal, a Rodésia, a África do Sul e o Vaticano providenciaram esse apoio. O Biafra também recebeu ajuda de organizações não governamentais como a Joint Church Aid, a Holy Ghost Fathers of Ireland, a Caritas Internacional, a MarkPress e a U.S. Catholic Relief Service". Iers of Ireland, a Caritas Internacional, a MarkPress e a U.S. Catholic Relief Service". In Biafra – Wikipédia
.
MAS ENQUANTO O APOIO  AO LEGÍTIMO GOVERNO NIGERIANO, ERA PUBLICAMENTE DECLARADO -  O CONCEDIDO AO ESTADO DA AUTO-PROCLAMADA INDEPENDÊNCIA  DO BIAFRA ERA MAIS DISFARÇADO E INDIRECTO - ATRAVÉS DE VÁRIAS ORGANIZAÇÕES HUMANITÁRIAS, PELAS QUAIS SE FAZIAM PASSAR ARMAS E MERCENÁRIOS - O QUE ORIGINOU VÁRIOS ACTOS DE SABOTAGEM E OS EPISÓDIOS MAIS INCRÍVEIS À VOLTA DOS VOOS QUE PARA LÁ SE DIRIGIAM...VOO 1501 O AVIÃO DO BIAFRA ..


"Durante o conflito Biafra, Air Fret havia-se diligentemente empenhado em voar de armas para o estado de separação com o seu DC-4or e Connie. Agora que a guerra tinha acabado, essas aeronaves estavam desgastadas e era natural que procurar substitutos". Baskerville.Biafra
.
The new men are being armed with weapons apparently bought with private European credits and flowing into Biafra from neighboring Gabon and the Portuguese island of São Tomé. Up to as much as 40 tons are said to be arriving every night—more than ever before in the war - In Biafra: The Mercenaries - TIME

Biafra was recognized by a small number of countries during its existence: Gabon, Haiti, Ivory Coast, Tanzania, and Zambia. Despite lack of official recognition, other nations provided assistance to Biafra. France, Rhodesia and South Africa provided covert military assistance. The aid of Portugal proved to be crucial to the republic's survival. Portugal's São Tomé and Príncipe became a centre of humanitarian relief efforts; Biafran currency was printed in Lisbon, which was also the location of Biafra's major overseas office. Israel also gave Biafra the arms. In Nigeria: Biafra

"T-6s para Biafra - Doze aviões  North American T-6  (ex-franceses) comprados e entregues em viagem de barco para Lisboa, a partir de Março de 1968":  - Traduzido ..MFI och Biafra  - Mas - segundo soubemos por Carlos Oliveira - "não foram para o Biafra por barco mas só tendo chegado 2 dos 4 que partiram de Tires"

"Há forças soltas em Biafra"  - Título do London Sunday Times Magazine
 
A guerra civil Nigéria-Biafra era simplesmente uma guerra movida por um conflito de interesses, entre as diversas potências ocidentais, sobre os recursos naturais deste jovem país  - As empresas petrolíferas, como a Golfo, Mobil, Texaco e Standard, sabiam que 75 por cento do petróleo da Nigéria estava no estado secessionista. - Houve quem apostasse na democracia  do jovem pais nigeriano e houve  os que apostaram no lado errado. Até a nível das igrejas - Mas houve quem o fizesse da forma mais inteligente:– a Igreja Presbiteriana – nem se passou nem para um lado nem para o outro:  apoiou ambos os lados: procurando “ promover uma solução pacífica através da manutenção de contactos e conversações com ambas as parte do conflito"Hugh McCullum
.
Sem dúvida, a cobiça estrangeira foi a causa principal   dessa guerra terrível.  Que viria a culminar com o bloqueio e o  isolamento do estado rebelde, custando a ambas as parte mais de um milhão e meio de vidas - A ilha de S. Tomé,  vindo a revelar-se a mais importante plataforma de auxilio humanitário, no fundo só contribuiria para adiar o fim do conflito e prolongar ainda mais o sofrimento da população biafrense. Pois, nos aviões, não partiam apenas alimentos e medicamentos, mas  mercenários e a circulação de material de guerra. Daí o seu aspecto mais controverso e hipócrita.  Até porque, os países que  fomentaram o separatismo,  eram, afinal,  donde provinha  agora o apoio às principais instituições humanitárias

CLARO QUE NÃO PODEMOS GENERALIZAR -  MAS NÃO HÁ FOGO SEM FUMO. - SALVEM-SE AO MENOS OS BONS EXEMPLOS

(...)"As igrejas foram acusadas ​​de fabricação destas imagens horrendas para arrecadar dinheiro para manter Ojukwu no poder. "
 The churches were accused of manufacturing these horrific images to raise money to keep Ojukwu in power. The brutal fact, Johnson told me, was that these children and millions more were innocent victims of an international power game of political influence in Africa and one of a struggle for control of oil reserves in the big world.
 
"A coragem dos pilotos, os trabalhadores humanitários Biafra que poderia descarregar um Super Constellation de 15 toneladas de ajuda em 20 minutos na escuridão, e os missionários e a equipe médica que estavam dentro Biafra, foi incrível. - No final a política internacional e o comércio venceu. Biafra entrou em colapso". Hugh McCullu - In Voice of Biafra International



MAS QUE ESPECTÁCULO MAIS "ATRAENTE" PARA OS NOSSOS TELESPECTADORES!...  -
TERÁ PORVENTURA PENSADO O ESCRUPULOSO "REPÓRTER", QUE PARECE FAZER DA CRIANÇA À BEIRA DA MORTE UMA AUTÊNTICA COBAIA NUM LABORATÓRIO DE
Experimentación médica nazi -
  
Veja com que atenção é seguido pelo  pequeno grupo de crianças e adultos nos lados à sua retaguarda - e, por certo, também à sua volta: será que estão mais interessados em cuidar da pobre criança, que agoniza vergada sobre aridez do chão,  ou em não querer perturbar a filmagem? - Mas ainda bem que houve alguém que acabou por fazer a imagem mais patética e esclarecedora.

De repente, todos as atenções dos media atestavam baterias nas esfomeadas crianças – Os repórteres sabiam que eram as imagens que mais impressionavam a opinião pública, as que faziam vender mais jornais ou conquistar maiores audiências televisivas – E os senhores da guerra (que só facilitavam o visto à PRESS da confiança) era justamente o que pretendiam explorar  – As organizações humanitárias também não o descuravam e nunca se viu que transportassem algum velho ou mulher grávida  para o exterior a precisar de cuidados. 

No fundo,  as imagens das crianças a morrerem de fome, era  a chave de toda uma mediática campanha, que visava mostrar ao mundo que os católicos e cristãos ibos do Biafra, eram marginalizados, sofriam imenso e eram massacrados por culpa dos carrascos e dos racistas muçulmanos ou protestantes das outras etnias.  

.
VEJA A INDIFERENÇA DA IMAGEM DA ESQUERDA E A    SUBSERVIÊNCIA DA IMAGEM À DIREITA: ANALISE AS DUAS IMAGENS ATENTAMENTE:  

Na imagem  ao lado, um companheiro ferido estende a mão e ninguém lhe liga e vão deixá-lo morrer - talvez no mais horrível abandono e sofrimento: ao lado, um mercenário (o belga Marc) é transportado aos ombros sobre um rio caudaloso . E quase se deixam afogar para o salvar. Por aí, já vê a mentalidade colonial que norteou aquela guerra 

- Estas imagens estão acessíveis em vários sites da Guerra do Biafra - e, em muitas delas,  são desconhecidos os seus autores - é o caso de algumas que  reproduzimos.

.
.

"Na África, ao que parece as regras são diferentes para o mundo rico branco ou talvez seja apenas que as nossas consciências não se relacionam com o sofrimento do povo negro. Stanley Burke, 1968".

BOAS RECORDAÇÕES?!..: - CERTAMENTE PARA QUEM PARTICIPOU NA PONTE AÉREA E À MARGEM DA GUERRA E LUCROU!  - MAS DE MUITO MÁ MEMÓRIA PARA QUEM SOFREU DIRECTAMENTE  OS HORRORES DESSA GUERRA OU FOI SIMPLESMENTE USADO 

O legado da ajuda humanitária da ponte área de S. Tomé-Biafra, deixou recordações indeléveis para os seus intervenientes - Todos terão, com certeza, os  seus episódios para contar - sobretudo os pilotos dos aviões - Mas, no tocante aos reflexos nas população das ilhas, foi uma espécie de meteoro  que vira atravessar-se no firmamento, vira-o à sua frente, mas, conforme apareceu, assim desapareceu  - Nada de útil lhe trouxe, em nada a favoreceu. Pelo contrário, em certos aspectos, até terá deixado muito más recordações. 

Fomentou-se a prostituição e houve muito quem abusasse de jovens adolescentes (a troco de quase nada) e, mesmo as organizações humanitárias, nem sequer se dignaram distribuir uma simples lata de leite em pó, tigela de feijão ou de arroz: a um velho, a um mendigo ou a uma criança - E a mortalidade infantil era elevadíssima! - 

PREFERIAM DEIXAR ESTRAGAR OS ALIMENTOS A DISTRIBUIR UMAS MÍSERAS MIGALHAS AOS SANTOMENSES -  NO FIM DE CONTAS, NÃO SE RESOLVEU O PROBLEMA DA FOME NO BIAFRA NEM SE PRESTOU QUALQUER AJUDA PRÁTICA ÀS CRIANÇAS E À POPULAÇÃO DAS ILHAS

Havia crianças muito carentes, que bem precisavam de alguns desses alimentos! - Vi mães a chorar ao lado dos pequeninos caixões (ou simplesmente com o cadáver embrulhado num modesto cobertor) a derramarem-se em lágrimas de dor e sofrimento, porque, o estado de fraqueza e a falta de medicamentos do menino ou da sua menina, lhe havia tornando a vida mais frágil à disenteria, à tuberculose e à malária - Quem se importava?!... Alguns daqueles pastores ou padres, se interessou pelas crianças santomenses?!... Não proporcionavam imagens nas primeiras páginas da imprensa internacional - E também sabiam que não podiam arriscar romper a  cumplicidade mantida com o governo colonial.

 Aos adultos restava-lhe  o cheiro intenso desses produtos à mistura com os do cacau e do café, quando passavam à frente dos armazéns – E também os próprios miúdos, que não deixaram de parar, espreitar e “farejar”  o que havia ensacado ou  nas inúmeras caixas de cartão ou em paletes de madeira, no interior desses mesmos armazéns, ironicamente espalhados em vários pontos da cidade, pagando alugueres milionários aos roceiros  - onde costumavam armazenar o cacau e o café para embarque, e que agora, só a cedência de uma parte do espaço, lhes iria trazer lucros bem mais avultados de que as colheitas desses produtos tropicais.

Grandes felizardos! Porém, os  sacrificados carregadores negros, cujos modestos salários nem por isso haviam beneficiado um centavo, carregando às costas  pesados sacos e   acarretando pesadíssimas contendores,  para eles a vida continuava como dantes:  tudo lhes passava ou às costas ou pelas mãos, mas ao lado: muitos deles, esfomeados e com a barriga a dar horas, verem tanta comida, tantos alimentos e alguns já prontos a serem consumidos (o queijo enlatado, por exemplo)  e não lhe poderem tocar!!... Calculo!... Pior que o suplício do Tântalo

 
Aliás, o Governo colonial, que foi quem mais lucrou com as taxas aduaneiras, alguma vez ia admitir a existência de fome nas Ilhas?!... E a pretensa ajuda humanitária beneficiou talvez até muito pouco os próprios biafrenses – pois, se tal acontecesse, as crianças que  foram acolhidas em S. Tomé, não teriam chegado no ponto de desnutrição que atestavam as imagens

AVIÕES VELHOS E OBSOLETOS, A CAÍREM AOS BOCADOS - MAS PAGOS A PESO DE OURO: TÃO VELHOS ESTAVAM, QUE ALGUNS ACABARAM POR FICAR ABANDONADOS E  APODRECER POR ENTRE O CAPINZAL NAS IMEDIAÇÕES DA PISTA DO AEROPORTO DE S.TOMÉ - 

 
(..)The planes we flew were no longer first line equipment in world commerce. Jets had taken their place. The Douglas DC7 had been the ultimate in the evolution of reciprocal engine propeller driven passenger planes. It was much faster and more powerful than the DC6. The Lockheed Super Constellation was a comparable plane. The Boeing 707 and the DC8 replaced these in airline service

And the DC7 quickly became nearly worthless. Its powerful R4350 engines were more sophisticated than the R3350 engines in the DC6 and the C46, but they were also more finicky and required almost daily maintenance. They were much more expensive to operate, and they no longer generated the revenue. As jets took over, secondary carriers continued to haul freight in the old propeller planes, and they preferred the reliable workhorse DC6. That is why when ARCO chartered companies for the airlift, these companies brought DC6s. That is why when ARCO bought their own planes, they bought DC7s, because they were very cheap. And that is why I was hired as a help mechanic. WID Planes of the Biafran Airlift - W


Admirável era a coragem dos pilotos que os tripulavam – Protagonizaram voos admiráveis!  Episódios, que eles próprios relatam -  verdadeiramente épicos! - Alguns tinham sido pilotos na segunda guerra mundial, foram legionários no Congo,  na guerra de Argel e noutros conflito sangrentos


Arriscavam as vidas, por vezes, sob autêntica chuva de bombas e do fogo cruzado de metralhadoras anti-aéreas nigerianas - Muitos dos quais, creio, não tanto pelas vidas que poderiam salvar, mas porque, mercenariamente, valia a pena entrar no jogo da roleta russa

Além das armas que transportavam, a preocupação dominante era descarregar e vir embora e depois mostrar ao mundo as fotografias das crianças subnutridas – Ajuda ineficaz! Propaganda hipócrita, mais nada! – A caridade foi sempre mais uma panaceia de que uma solução.  Ficava por lá quase tudo a apodrecer  - e até nos armazéns, em São Tomé,  uma vez que  os aviões não davam escoamento a tudo, depois os ratos encarregavam-se de  os destruir e a própria humidade de os deteriorar – Além de que muito pouco ultrapassava o bloqueio no terreno.

TODAVIA, SEJA QUAL FOR O ÂNGULO EM QUE FOR ANALISADA A DITA PONTE AÉREA HUMANITÁRIA, ELA FAZ PARTE DE UM DETERMINADO PERÍODO  DA HISTÓRIA DAS DUAS ILHAS -   CURTO, É CERTO,  MAS MUITO MEDIÁTICO   - SÓ POR ISSO VALE A PENA SER RECORDADA:

 É TAL QUAL O EPISÓDIO BÍBLICO  DE CAIM E ABEL - EM QUE, UM IRMÃO PERSONIFICA O BEM, O OUTRO O MAL - TODAVIA, SÃO INDISSOLÚVEIS DO GÉNESIS Caim e Abel (Gênesis) O POVO NÃO LUCROU  COISA ALGUMA, MAS ESSE É  UM DOS MAUS EXEMPLOS QUE IMPORTA RECORDAR.

SÓ POR ESSE FACTO, VALE A PENA PRESERVAR AS CARCAÇAS DOS DOIS AVIÕES, QUE AINDA RESTAM E DOS FAMOSOS Lockheed Constellation  E ATÉ CLASSIFICÁ-LOS COMO MONUMENTO À HIPOCRISIA E À BRUTALIDADE NEO-COLONIAL .
 
Embora distante dos olhares dos santomenses, lá longe, a Norte do Golfo, corriam rios de sangue pelos caminhos do mato, havia forme, sofrimento, luto e morte. Era a fratricida Guerra do Biafra, a imagem cruel do egoísmo humano: - fomentada por outro tipo de colonialismo, que, hipocritamente,  queria fazer-se passar por solidário e humanitário - Mas, por detrás da máscara, era a sofreguidão,  a insaciável avidez da rapinagem pelos recursos naturais daquela martirizada região africana -  o saque perpetrado do petróleo e gás natural.

Claro que não podemos  culpar completamente as organizações humanitárias, que cumpriram o seu papel e  terão dado o melhor do seu esforço - E, indubitavelmente, enormes esforços e sacrifícios, terão sido dados por parte de muitos dos seus membros -  Mas há uma constatação, que ressalta: que o mais importante, não eram as crianças, mas o petróleo - A guerra do Biafra não era excepção: tem  sido assim aos longo dos tempos: os interesses materiais a sobrepor-se  aos valores éticos e moraiS



CARCAÇAS DOS LOCKHEED COSTELLATION DA CANAIRELIFE NO AEROPORTO DE SÃO TOMÉ  QUE  APODRECIAM ENVOLVIDAS POR ESPESSA MATA DE CAPIM,  ENTRETANTO RECUPERADAS PARA COBERTURA DE UM PEQUENO RESTAURANTE 

AGORA SÓ FALTA CLASSIFICÁ-LO  COMO MONUMENTYO NACIONAL OBRIGATÓRIO  - E DIZEM QUE VALE A PENA, PORQUE SERVEM LÁ  COMIDA TIPICA E DA BOA  - A  Imagem que aqui se reproduz é do geógrafo   Xavier Muñoz, : .São Tomé x Biafra > Fotos 2007 > Xavier Muñoz


FOTO HISTÓRICA  -Voltando à foto, com que abro este post, trata-se de um dos aviões que tomou parte na ponte aérea humanitária de São Tomé-Biafra,  que pessoalmente fotografei no momento em que ia abandonar a pista do aeroporto - Em cujo bojo (avantajado) não faltariam também algumas armas - Aliás, deveria ser mais o material de guerra, que transportavam,  de que propriamente alimentos

Além desta imagem, tenho ainda outros registos, que serão editados noutro post: os aviões descolavam com intervalos curtos. Foram obtidas no terminal, pouco antes do pôr-do-sol, junto ao mar, com uma Yachica, 6X6. Numa das ocasiões, tive que me deitar no chão, dado o avião só começar a subir quase nos derradeiros metros da pista - Estava a ver que me esmagava e ia estatelar-se no fundo do mar - E eu estava ali por detrás do arame que a separava de um pequeno e estreito caminho ao longo da orla.

- Dispunha de uma razoável colecção de fotografias  - dos aviões, crianças biafrenses e toda a actividade das organizações humanitárias,  tal como milhares de negativos, desde  1963, a 1975, mas, infelizmente, não os tenho comigo.

C-97, estacionado no hangar do Aeródromo de S. Tomé - Foto recolhida de  WID Planes of the Biafran Airlift - Wik.




DO CONFLITO BIAFRENSE. O QUE RESSALTA IMEDIATAMENTE À MEMÓRIA  É A FOME E A MORTE - A MORTE DE MUITAS VIDAS E DE OUTRAS QUE, SOBRETUDO CRIANÇAS, QUE,  EMBORA PERMANECENDO DE PÉ,  JÁ NÃO ERAM VIDAS, MAS ESQUELETOS AMBULANTES.



Imagem de
Don McCullin In 100 Photographs that Changed the World by Life
.

A ESMAGADORA MAIORIA PERDEU-SE NOS ESCOMBROS DA FRATRICIDA GUERRA

FAZ PARTE DA IMENSA LEGIÃO DE  VITIMAS INOCENTES E ANÓNIMAS  - ALGUMAS, PORÉM - UMAS ESCASSAS CENTENAS - TIVERAM A SORTE DE SEREM ASSISTIDAS - NALGUNS HOSPITAIS BIFARENSES E NIGERIANOS E NA QUINTA DE SANTO ANTÓNIO, EM SÃO TOMÉ

QUEM VIU ESSES ROSTOS FAMÉLICOS, OS SEUS OLHARES ESBUGALHADOS,    DIFICILMENTE OS ESQUECERÁ

Para quem presenciou, na Quinta de Santo António, nos arredores da cidade  (para onde, mais tarde,  pós 25 de Abril, haveriam de ser recolhidos os PIDES, os elementos da polícia repressora do regime fascista-colonialista), sim, quem viu os rostos de algumas centenas dessas crianças esqueléticas (as poucas que foi possível transportar ou mostrar) nos voos  apoiados por várias  organizações religiosas e humanitárias, dificilmente poderá esquecer tais são imagens!

Eu tive oportunidade de as ver e as fotografar. E,  ao recuar no tempo,  é como se ainda, hoje mesmo,  lhes  estivesse a ver  os  seus olhos esbugalhados , expressões atónitas e aturdias pela fome e o rebentamento das bombas ao seu lado, mas evidenciando um  ar de uma infinita tristeza e desengano, incapazes  até de chorar e exteriorizar o seu sofrimento.  braços delgadíssimos e as  pernitas, quase como as das aves,  da grossura do próprio osso,  os ventres ostensivamente dilatados e a destacarem-se como barrigas  de vento

Estive lá, numa das visitas efectuadas pelo Coronel Silva Sebastião, governador da colónia, na qualidade  de jornalista da Revista Semana Ilustrada (já depois da ponte aérea haver terminado e o Biafra ter caído sob o domínio do governo de Lagos.
  
Antes também pude registar várias imagens do movimento da ajuda humanitária. Estava convencido (e até já me referi num comentário na Internet) que  chegara a publicar algumas dessas fotos, mas constato, que, em 68 e 69, ainda não era correspondente daquela revista angolana. Mesmo assim fiz muitos registos da presença das organizações humanitárias, em São Tomé. Só  depois da minha solitária viagem de canoa ao Príncipe, que ocorreu, em Fevereiro de 1970, e tendo como primeiros trabalhos o relato dessa aventura , é que eu passei a enviar outros artigos .

  INFELIZMENTE,  HOJE SÃO BANAIS IMAGENS EM VÁRIAS REGIÕES DE ÁFRICA

Naquela altura, a sua divulgação  pelos media internacionais, chocou o  mundo, mas, hoje em dia, são frequentes em vários países de África: nuns casos, causadas por idênticas guerras civis, noutros, por culpa dos próprios governantes, corruptos, que apenas olham  para os interesses pessoais e do seu séquito  - Angola, ambos os Congos, Moçambique, Libéria, Costa do Marfim, Leoa,, Somália, Chade, Sudão,  Uganda, Etiópia,  Burundi,, Ruanda, Eritréia, etc.


OS FACTOS HISTÓRICOS, VALEM  NÃO APENAS PELAS  BOAS MEMÓRIAS, COMO  TAMBÉM  PELAS MÁS  .

Poder-se-á argumentar (e com justificada razão) que, a memória herdada da ponte aérea humanitária São Tomé-Biafra, sob o ponto de vista sentimental,  talvez seja  mais negativa de que positiva, todavia, o mesmo não poderá dizer-se como  testemunhos de um determinado momento histórico, que levou o nome de S. Tomé para os principais jornais e televisões  mundiais.

Photobucket
On the island of Sao Tome, chartered planes were loaded with beans, sugar, and rice for Biafra, mainly on aging Lockheed Super Connies. So many lives were saved thanks to the work of a small group of charities and dedicated volunteers. In Remember Biafra



Todos os aviões que participaram na ponte aérea humanitária  São Tomé- Biáfra, são mencionados no historial de cada um dos vários tipos  e modelos de  aeronaves –Isso está patente na Internet – Uma consulta mais aprofundada, pelo leitor,  dar-lhe-á conta desses registos.

AS DUAS CARCAÇAS DOS   - Lockheed Constellation - that was carrying weapons to Biafra - SÃO A ÚNICA MEMÓRIA FÍSICA QUE RESTA NO AEROPORTO DE SÃO TOMÉ

Vêm-se tantos aviões em museus, com menos história, e esses, que, já por si, fazem  parte das mais importantes aeronaves da aviação, pois bem, independentemente da interpretação  sentimental ou política, que possa fazer-se, são história

Curiosamente,  hoje em dia,  quem mais se bate pela preservação da escassa memória que resta da ponte humanitária de S. Tomé- Biafra,  não é o santomense (e compreende-se a razão, como atrás explicamos) mas os estrangeiros – Biafra e a ponte aérea de São Tomé 

E também não  aqueles  que estão de passagem, os que visitam as ilhas e se vão embora, mas os que, depois da independência, ali se fixaram ou por ali têm passado passaram longos períodos,  criaram fundas raízes, na qualidade de  amigos e de cooperantes,  e rapidamente se afeiçoaram às belezas naturais das ilhas e à  cordialidade e simpatia das suas gentes. E que se sentem, tão apaixonados como os que lá nasceram. 

Daí que, paralelamente, ao   empenho manifestado pelo progresso e desenvolvimento do jovem país, também passassem a interessar-se, não somente  pelo estudo da recuperação ancestral da sua história,  como  da situação mais recente – do seu dia a dia. - É o caso da já emblemática  Associação Caué - Amigos de São Tome e Príncipe

Associação, com sede em Barcelona,   tem desenvolvido várias iniciativas e actividades, múltiplas acções de apoio Trata-se, pois, conforme prevêem, os seus estaututos de una organización no gubernamental de desarrollo, sin finalidad de lucro ni orientación política, que tiene por objeto la puesta en práctica de todas aquellas actividades culturales, científicas, educacionales o técnicas que favorezcan difusión del conocimiento sobre la cultura, la economía, el patrimonio natural, artístico y humano de las Islas de São Tomé y Príncipe (África Occidental) y que permitan la organización de acciones para el fomento del desarrollo económico y social de los ciudadanos de aquellas islas. (In  A Associação)


MAS VAMOS AO FACTOS - CRUS E DUROS DO SUPREMO REINO DO OPORTUNISMO E MERCENARISMO


Starving Biafran WomanIn.Biafra
A ponte aérea de ajuda humanitária de S. Tomé-Biafra,   ocorreu há mais de quatro décadas, uns anos antes da   independência das ilhas verdes – Naquela atura, houve muito quem enriquecesse à custa dessa tragédia: – Armazéns dos roceiros; donos dos restaurantes, bares, esplanadas, lojas comerciais, pousadas (pois ainda não existiam hotéis) quartos particulares  e pensões.

SÃO TOMÉ - CENTRO DE MERCENÁRIOS E DE ESPIONAGEM INTERNACIONAL


Passavam por ali mercenários, vindos de toda a parte. Afluíam a São Tomé espiões para as mais diversas tarefas e missões. Disfarçados de turistas ou de repórteres que passavam relatórios dos horários do voos e os denunciavam aos ingleses (a BBC transmitiu várias noticias desse género) e também ao governo federal nigeriano ou então queriam recolher informações do terreno através de pilotos e mercenários, que frequentemente ali regressavam para se estenderam ao sol nas praias, a própria contra-espionagem francesa e alemã, americana e russa, que procurava baralhar e contraditar essas informações, negociantes de armas, jornalistas que chegavam de toda a parte(fotógrafos e operadores de imagem de cinema e televisão)contrabandistas    de dólares, proxenetas – e talvez até sabotadores: então como se  explica que dois "aviões de treino/ataque ligeiro, Fouga Magisters" não chegassem a a ser enviados para o Biafra, por falta das asas?!... Vi-os, mais tarde, depois do conflito, no Hangar do aeroporto. Vi gente dessa - e conheci pessoalmente duas personagens da multifacetada fauna que então proliferava na pequena cidade.  

Vi, por várias vezes, um tal alemão Rolf Steiner, mercenaire  (sempre de camuflado e de boné na cabeça) com fama de ter atrás de si um currículo diabólico: militou na juventude hitleriana, ex-sargento da Legião Estrangeira na Argélia, com missões na Correia , Sudão  - onde houvesse necessidade de recrutamento de mercenários, lá estava  ele  à cabeça. E foi o que aconteceu também no Biafra. Tendo feito da  Ilha de São Tomé, o lugar de eleição para vários fins de semana e ou  períodos mais prolongados  para descanso e lazer -  retemperar forças. .

Toda a espécie de acólitos das igrejas,  com a sua já tradicional  ostentação de salvadores das almas através de uma caridade ineficaz e hipócrita,  sem dúvida, um maná para o mais descarado mercenarismo e oportunismo - São Tomé era o centro do mundo, geograficamente, mas também o centro do disfarce e da maior hipocrisia da Terra.

Para muitos colonos foi como que a descoberta de um Novo Brasil. Nunca lhes entrou tanto dinheiro nos bolsos e duma assentada. Não havia o menor pudor nem a a menor vergonha. Qualquer serviço prestado aos estrangeiros, era uma exorbitância. Aliás, eles também eram principescamente pagos! - Não faziam mais de que lhe sacar  algum dos chorudos cashets que facturavam.  O pretexto era a fome dos biafrenses, mas a mola real girava toda  à volta do mesmo: - dos cifrões!   E o governo colonial não ficava atrás! -  as taxas aduaneiras eram pagas pela hora da morte! - Encheu os cofres!

Links com imagens de São Tomé e Príncipe e da ponte aérea humanitária ao Biafra*****São Tomé e Príncipe - António Vaz - CPM 1754 -******São Tomé e Príncipe - António Vaz - CPM 1754*******São Tomé x Biafra - 40 anos da ponte aérea humanitária*****For a few bucks more... - CalClassic Forum*

.
 
OUTROS LINKS DE IMAGENS - SÃO TOMÉ - BIAFRA

*CF‑NAM‑14Sep05‑2.jpg****CF‑NAM‑14Sep05‑1.jpg*

MILHARES DE MÃES - MORRIAM COM  OS FILHOS NOS BRAÇOS -E, TODAVIA, QUEM SE IMPORTAVA DELAS?!...


AVIADORES MERCENÁRIOS PORTUGUESES  - COM O IMPLÍCITO APOIO DO GOVERNO COLONIAL-FASCISTA, TAMBÉM FALI ORAM TENTAR A  CHANCE.

(...)"Os mercenários compareciam apenas para ganhar dinheiro"(refere um artigo da Lusa) "outros surgiram por puro espírito de aventura ou para genuinamente quererem ajudar a luta da minoria cristã massacrada pelos muçulmanos do Norte da Nigéria.
 

O auxílio humanitário começou a chegar a São Tomé após um apelo feito por Pat Nixon, mulher do então vice-Presidente Richard Nixon, ao povo norte-americano. 


No frenesim que se apoderou da tranquila ilha de São Tomé, um grupo de pilotos portugueses, na reserva da Força Aérea Portuguesa (FAP), também respondeu ao apelo, nomeadamente Artur Alves Pereira, José Eduardo Peralta, José Pignatelli, Manuel Correia Reis e Gil Pinto de Sousa, para integrarem a chamada “aviação de guerrilha” do Biafra.  .".- Veja o resto do artigo, em:Biafra/40 anos: Pilotos portugueses *****português a bombardear na guerra do biafra - Gente - DN****SOUSA no CM - joseramoseramos.com*
BELO SALÁRIO, PARA A ÉPOCA ! - MAS OS MERCENÁRIOS ESTRANGEIROS ERAM DUPLAMENTE AINDA MAIS BEM PAGOS. - SÃO OS PRÓPRIOS QUE O RELATAM NA INTERNET
.
(..)As condições salariais dos pilotos eram: salário base de US$ 1.000/mês enquanto fora do Biafra e US$ 3.000/mês quando no teatro de operações. Um prémio extra era pago por cada missão de combate variando o valor com o tipo de objectivo e resultado alcançado. Por cada voo de translado os pilotos recebiam um prémio de US$ 1.000.


Em Setembro de 1969 os primeiros quatro T-6G foram testados em voo e, logo após transportados por via marítima para Bissau. Estes viriam a ser os únicos aviões a sair de Tires com destino ao Biafra**CLUBE DE ESPECIALISTAS DO AB4: NA GUERRA DO BIAFRA**********VOO 1543 BISSALANCA EA GUERRA DO BIAFRA.****-português a bombardear na guerra do biafra ******.FUI FEITO PRISIONEIRO NA GUERRA DO BIAFRA»..*

 "Carlos Dias, que dirigia o serviço de Turismo em São Tomé, recorda que quando a guerra estava já no fim um piloto europeu entregou uma "pasta James Bond" ao chefe dos Serviços de Transportes Aéreos de São Tomé, Vicente Cortes, pedindo-lhe que a entregasse à família se algo lhe acontecesse. Nessa noite, o seu avião foi abatido e morreu. Vicente Cortes cumpriu a promessa e entregou a pasta à família que, com espanto geral, verificou conter milhares de dólares".InPilotos portugueses responderam á crise .
.
TODOS ATRÁS DOS DÓLARES... E AS CRIANÇAS AS MAIORES VÍTIMAS DA GANÂNCIA  DOS ADULTOS - DO ESPÍRITO DOS NOVOS CRUZADOS E  DA HIPOCRISIA NEOCOLONIALISTA

Aos estrangeiros, não faltavam pipas de dólares.  Aos colonos, tudo tinha de ser pago na moeda americana e   na hora. Mais de que um escândalo, uma  obsessão. Os mercenários pegavam nas armas (partiam e vinham nos aviões) mas só para sacar - E, ali,  quis-me parecer que havia mais legionários de que freiras e padres. 

"terá sido uma das guerras mais vistas, com as suas emblemáticas fotografias de crianças de ventre inchado pela fome. Mas isso não era a guerra propriamente dita, antes uma consequência do bloqueio que os federais haviam instalado à volta do Biafra. E a sua divulgação mundial, a suscitar simpatia e comiseração pela causa biafrense, era uma excelente manobra mediática até então inédita"Herdeiro de Aécio

.. Era a corrida aos dólares!... Quem não lucrou, minimamente, com a tragédia biafrense – não tenho a menor dúvida - foram os  santomenses. - E sou eu apenas a dizê-lo - São-tomenses pouco beneficiaram com a ponte aérea com o Biafra

Este C-97 está estacionado Aeródromo de S. Tomé (não é no Negage, nem em qualquer base da Força Aérea Portuguesa, como erradamente se diz na legenda, pois na foto pode ver-se o ilhéu das Cabras). O registo e legenda foram extraídos do blogue -O NEGAGE E A GUERRA... DO BIAFRA


PARA OS SANTOMENSES, A GUERRA DO BIAFRA É APENAS SINÓNIMO.  DOS QUE SE ENCHERAM DE DINHEIRO  E A IMAGEM DE CRIANÇAS MAGRAS, SUBNUTRIDAS, ESQUELÉTICAS 

– "Oh! Parece criança Biafra!" - Esta a expressão que se popularizou, quando alguém via uma criança mais débil ou fraca.

Quase já na fase final do conflito, começaram a chegar à Quinta de Santo António as primeiras crianças, que ali iam ser assistidas e acarinhadas. Quem as podia visitar eram apenas as organizações humanitárias. A maioria dos santomenses não as viu. Mas  ficaram a saber,  através das noticias ou quando eram desembarcadas no aeroporto. O sentimento que então se propalou e generalizou, foi o de que havia guerra e fome num país de África  e que, muitos brancos, se enchiam de dólares  à custa dessa mesma guerra.

Também por lá se viam a circular notas do Biafra, mas ninguém as aceitava ou trocava por dinheiro algum. Se os biafrenses  (que eram quem mais as trazia), não tivessem dólares na carteira, estavam desgraçados!... Ninguém lhes dava dormida.

-
Mãe santomense - Foto do autor deste blogue

COM AS GUERRAS, HÁ SEMPRE QUEM ENRIQUEÇA

Os avultados lucros passaram  completamente à margem das gente da terra 

Só de algum modo os  taxistas. Mas de forma muito vaga. Como os preços eram tabelados, certo que houve mais corridas e deslocações ao aeroporto  e a outros pontos da ilha, porém,  como  aos negros estava vedado  poderem  especular e praticarem tarifas livres, os ganhos ficavam sempre muito aquém do esforço do seu trabalho – Tiveram mais clientes, é certo  – e talvez algumas magras gorjetas – mas nem por isso  deixaram de ser pobres. E de enfrentar as dificuldades do costume. 

Houve também quem vendesse o corpo  - . Mas quem comia a fatia maior eram os angariadores, os proxeneta  – Que não se coibiam de ir  ao mato buscar as suas presas - mais delas ainda menores. Aliás, o abuso de jovens adolescentes - a vilania dos cabaços - era uma prática há muito seguida pelos feitores gerais e administradores das roças - Um tal Fonseca, administrador da Roça Rio Douro,  barrigudo e anafado, era tido como o grande  campeão dos cabaços!

Não havia casa de colono na cidade, e até nas roças,  que não hospedasse um ou mais estrangeiros – e até alguns dos pobres biafrenses, em trânsito ou para ficarem por ali algum tempo. Coitados, sabe deus as dificuldades!... Mais deles não se importavam de vender alguns dos poucos bens que lograram trazer consigo, sacrificando-os para pagar as despesas das refeições e hospedagem.

O colonialismo sempre  escravizou e foi perverso - então, em S.Tomé, foi cruel!  - E não se julgue que, mesmo depois dos ventos de libertação que sopravam por toda a África, algo substancial ali se operou!

Precisamente, por esse facto, notei que havia comentários muito negativos, sobre o oportunismo desenfreado de certos colonos,  cujo comportamento se evidenciava às descaradas nos comerciantes das lojas, donos das pensões, das pousadas e dos proprietários das casas que alugavam quartos particulares. 

Apercebi-me dessa má impressão,  nomeadamente por parte de padres e pastores protestantes – Se havia expressões mais descontraídas, era só quando se juntavam com as freiras, acólitos  e o pessoal da sua comunidade. Quanto algum colono falava com eles, davam ares de se mostrarem desconfiados, sempre de pé atrás. 

Mas, nas roças, já eram todos vénias. Quando recebidos pelos administradores,  tudo era etiqueta e mesuras de parte a parte. Não deixavam de se aproveitar de lautos almoços e das jantaradas que lhe eram oferecidas - O próprio governador, esse, então era o anfitrião-mor no Palácio da Vila da Trindade.

Com a raia miúda  dos colonos, sempre os mesmas caras de pau.    Eu próprio me apercebi desse tipo de  reacção, quando um dia falei com um  padre  irlandês. Olhava-me com sobranceria e ar distanciado, como se eu fosse algum pária.  

O comportamento discriminatório, em parte, é fácil de explicar: é que, por terras de França e Alemanha (donde eram originárias as  empresas interessadas em investir no Biafra, através da dita campanha humanitária) , sim, por esse tempo, havia milhares de portugueses, ali emigrados e que viviam em barracas ainda piores do que os africanos. Logo, a postura daquela gente estrangeira, perante a maioria dos colonos,  era a de sobranceria!.. Continuavam a olhar o  português, com o mesmo sentido discriminatório  como encaravam os árabes e os africanos  .Aliás, em boa parte, ainda hoje assim é - Dir-se-ia prevalecer a  hipocrisia sob o manto diáfono  da religiosa caridade. .- Então donde vinha tanta massa para pagarem os transportes dos aviões, aos pilotos (mercenários) despesas de milhões?!... Não era das petrolíferas que pretendiam instalar-se naquele estado nigeriano?!.. 

Fosse como fosse, se os colonos eram mal encarados e olhados com desconfiança,  a  verdade é que a, PIDE, não largava os estrangeiros de vista:  os agentes da  PIDE-DGS, seguiam-lhes os passos, receosos de que pudessem  introduzir conceitos "subversivos" e incentivassem a descolonização. E acho que alguns ainda lá foram chamados e convidados a abandonar a ilha.


As organizações humanitárias (que se haviam retirado do  Aeroporto Internacional de Malabo em Bioko, capital da República da Guiné Equatorial e optado por S. Tomé e Gabão,  assumiam o papel de frota avançada dos novos neo-colonizadores ocidentais, aos quais interessava a independência do Biafra, unicamente para se apoderarem das suas riquezas naturais -  Não tenho a menor dúvida que era mais  as armas,  transportadas, na dita ponta aérea, que propriamente cargas de mantimentos - Ainda me apercebi de alguns obuses numas caixas - De resto,na Internet, abundam testemunhos desse procedimento.

FOTO EM FAMÍLIA - ALGURES NO BIAFRA: ENTRE SOLDADOS E  SACERDOTES EM AMENA CAVAQUEIRA, ONDE NÃO FALTA A INDISPENSÁVEL CERVEJA -  CÓPIA EXTRAÍDA DE IMAGEM  DE.F] Thunder Road to Biafra - Philip Emeagwali.

Em África dificilmente algum europeu dá uma fatia de pão que não seja para comer um salpicão!

Constava-se, de volta e meia, que os armazéns onde armazenavam os alimentos para o Biafra, (espalhados desde a alfandega a  vários pontos da cidade) eram arrombados e assaltados: mas creio que essa era uma desculpa esfarrapada. Quem tinha as chaves, usava, em proveito próprio, o queria e bem lhe apetecia -  ou fazia negócio com as mercearias - depois propalava a desculpa que eram os negros que assaltavam os armazéns! 

Não davam nada a ninguém!...  Preferiam que os alimentos se estragassem ou ficassem á mercê das grandes ratazanas.  Vi muito sacos rebentados e muita farinha de trigo e de milho, soja e de arroz espalhado no chão, por entre caixas rebentadas de latas de queixo e de farinha de leite  - E grandes ratazanas a correrem de um lado para o outro, como se fossem coelhos numa coelheira. .

Mas nunca  se lembravam de dar sequer uma malga de farinha, uma lata de leite em pó  ou de arroz a um negro santomense -  Nem aos desgraçados dos trabalhadores que carregavam os sacos e iam para casa (todos enfarruscados de branco) como se fossem moleiros (escravizados) que tivessem acabado de sair de uma fábrica de uma moagem.  

Em São Tomé, não havia a fome do Biafra, porque, na floresta, sempre houve muita fruta, alguns recursos oferecidos pela natureza. Todavia, existiam muitas carências alimentares!... Pois qual era a família nativa que podia dar-se ao luxo de comprar mercearia para alimentar todos os filhos?!..    


OS CRUZADOS DOS NOVOS TEMPOS

 No final do conflito, vi dois Migs num hangar do aeroporto, sem as asas. Depois constou-se que houve um  caça que logrou conseguir escapar do Biafra - o qual teria sido anteriormente pilotado pelo  próprio general C. Odumegwu Ojukwu - o  rebelde que liderou a revolta - 

 Houve quem falasse em sabotagem ou fizesse as mais diversas estrapulações aos ditos aviões desactivados. Estavam pintados de camuflagem.Cheguei a fotografá-los, depois da guerra haver terminado.  Obviamente, que não se destinavam a levar alimentos. .

Depois da publicação deste poste, recebemos, por e-mail,  do leitor Carlos Oliveira a seguinte informação, e que muito agradecemos:  "Os aviões sem asas que estiveram no hangar em S. Tomé e Príncipe não eram Migs mas sim aviões de treino/ataque ligeiro, Fouga Magisters.
 

- O avião que escapou no final no final conflito foi o último T-6 Texan operacional do Biafra com um piloto português e o seu mecânico biafrense para evitar a execução deste último pelas tropas federais.


- Além desses dois aviões, houve um Meteor que ficou a apodrecer na BA 12 em Bissalanca-Bissau.


- Os T-6 não foram para o Biafra por barco mas por ar só tendo chegado 2 dos 4 que partiram de Tires"

 
 Foto de avião a descolar da pista do aeroporto de S.Tomé - em mais um voo para o Biafra - Registo de Jorge Trabulo Marques, autor deste blogue.


NEM ESTRANGEIROS, NEM COLONOS - DEIXARAM OS MELHORES EXEMPLOS DE SOLIDARIEDADE - À NOITE, NAS ESPLANADAS, SÓ SE VIAM MESAS PEJADAS DE GARRAFAS DE CERVEJA E GENTE A CAIR DE EMBRIAGADA.

As mesas nas esplanadas estavam sempre repletas de cervejas, garrafas de uísque, conhaque, licores e álcoois de toda a variedade. Lagostas e camarão importado. Quando se levantavam, muitos deles mal se endireitavam de bêbados! - Subia-lhe a libido e era ouvi-los, alto e bom som: Black girl! Where is a girl?  fok fok! - Isto porque, as prostitutas que vinham de fora e se hospedavam com eles, não chegavam para todos. 


Não ligavam, minimamente, aos negros santomenses. Não queriam saber deles para nada. Conversei com dois jornalistas, naturais do Biafra, que ficaram instalados num quatro na Avenida que sai do largo do Mercado para a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, e do lado esquerdo - A conversa surgiu casualmente, quando me dirigi a essa casa para falar com uma pessoa amiga, que ali estava hospedada: enquanto os hóspedes portugueses (militares) pagavam uma ninharia, os dois biafrenses pagavam, umas quantas vezes mais. Cumprimentei-os e pedi-lhes que me falassem dos seus dramas: nessa altura ainda não era ali jornalista, mas senti uma natural curiosidade em  conhecer os pormenores da sua profissão e do que se passava pelo Biafra.  

No entanto, do que agora me falavam, o que mais os preocupava nem era da tragédia que se abatia sobre o seu país, pois estavam conscientes que a mesma estava estampada nas imagens da fome e das mortes que corriam o mundo, mas em arranjar dinheiro para pagar o quarto - sob pena de os porem na rua.  Esse era o seu maior drama do momento. E, ao despedir-me deles, propuseram-me a compra de uma câmara de filmar a um preço quase de esmola, e era uma máquina profissional. 

Não lha comprei – porque também ganhava mal e  senti-me incomodado com a oferta – Não quis aproveitar-me da sua desgraça. Mas,  pouco depois, vi-os na rua e verifiquei que houve quem não desperdiçasse a pechincha –  Vi-os rodeados de interessados (brancos, risonhos e bem dispostos, com ares de já estarem habituados àquelas ofertas) a comprarem-lhe as suas máquinas e umas peças de roupa. 

O negócio não era comigo, mas senti-me envergonhado com tão descarada rapina. E essa situação era frequente. Os aviões, como  vinham sem carga,  davam boleia a biafrenses adultos, os que podiam chegar ao aeroporto de ULI,  mas depois abandonavam-nos  à sua sorte.

O COLONIALISMO NAS ILHAS,  VIVIA O SEU MELHOR MOMENTO - TODAVIA, O POVO CONHECIA  A MESMA PAZ PODRE E ENTORPECIDA, DOMINADA PELO  HABITUAL SENTIMENTO DE EXPLORAÇÃO, FALTA DE LIBERDADES FUNDAMENTAIS,  SUBJUGADO PELOS INTERESSES DOS  ROCEIROS E  PELA SUA DÉSPOTA DITADURA.

A guerra decorria algures a  umas centenas milhas a Norte, muito para lá do vasto círculo azul,  a população das ilhas estava longe do conflito, mas apercebia-se perfeitamente que na cidade  havia muitos estrangeiros, as esplanadas enchiam-se, e, para muita gente, o barulho dos aviões a aterrar e a levantar voo, os voos nocturnos que saíam ou entravam no aeroporto, atroando  os ares, com os seus potentes motores, perturbava a tranquilidade idílica das ilhas, chegava a  ser  ensurdecedor.

A capital de S. Tomé, dantes um burgo tipicamente colonial,  quase entorpecido por um quotidiano dominado pelas exportações do café e do cacau, transformava-se, de um dia para o outro,  numa cidade cosmopolita, no ambiente de euforia de uma autêntica  Babel.  Fazendo criar a falsa ilusão de  que a guerra colonial na Guiné, Angola e Moçambique, que tanto sangue fazia verter (nos movimentos de libertação e o exército colonial),  sim, que, aquela colónia, não fazia parte do mesmo regime e que se situava num mundo completamente à parte. Mas não era bem assim.  

Não havia nem houve luta armada, é um facto - pois as condições insulares e a distância do continente africano, eram muito adversas e desadequadas a esse tipo de reacção .Por outro lado, o massacre do Bate-pá ainda estava muito fresco na  memória do povo e já bastava de mortandade e de mártires. O que as gentes das ilhas mais desejavam era que, pelo menos,  esse terrível fantasma não voltasse a repetir-se -  Que não as massacrassem mais. Mas a paz em que vivia era a paz dos condenados-resignados, uma paz podre, sob a opressão e o domínio colonial.   Qualquer veleidade ou esboço de luta armada, seria imediatamente reprimindo e esmagado. 

Os contingentes de tropa, que chegavam da "Metropole" , sob
Comando Territorial Independente de São Tomé e Príncipe" (artilharia, infantaria e policia militar)  estavam  suficientemente bem armados e equipados- isto para já não falar do arsenal à disposição dos roceiros. A Companhia de Caçadores de S. Tomé e Príncipe, na qual fui incorporado como furriel miliciano (foto ao lado, depois de ter ido frequentar o curso de sargentos milicianos em Angola e o curso de comandos) era composta por mancebos naturais ou residentes nas duas ilhas, comandada por oficiais brancos e de apenas de quase simbólica representatividade. 

No entanto,  embora os colonos não se dessem conta, os intelectuais, as pessoas mais conscientes e informadas, a escassa elite africana das ilhas, estava atenta ao desenrolar dos acontecimentos nas outras colónias, e sabia  que, o seu futuro, dependia do êxito  do PAIGC; MPLA e FRELIMO  - E a PIDE não descurava  a vigilância e sabia quais as famílias em que não podia confiar. Seguia a par e passo as suas vidas. Não era por caso, que, de volta e meia, havia uns  interrogatórios no "consultório" do  Inspector Nogueira Branco - A  velha raposa branca manhosa, pidesca, que, uns dias depois do 25 de Abril, fora o primeiro subscritor do Partido Democrático. Não as prendia, porque, S. Tomé, era, por natureza, já uma grande prisão. 

Ninguém podia esboçar qualquer tipo de resistência activa - mas existia uma resistência passiva,  que causava algumas contrariedades nos roceiros.  Muitos trabalhadores santomenses, além de já irem trabalhar nas roças, contra-feitos e de má vontade (e os roceiros sabiam, perfeitamente, que não podiam contar com os forros, quando queriam e lhes apeteciam), sim,  só lá apareciam quase no limiar das suas necessidades. Eu apercebi-me desse tipo de resistência,  enquanto empregado de mato.  E, então, branco que chateasse algum trabalhador forro, não era tão cedo que ele voltava à "forma do cacau ou da capina". 

E,  quem melhor seguia o que se passava nas outras colónias e também no interior da sua terra (embora longe, mas com particular atenção)  era um grupo de   patriotas, sediados no Gabão: conquanto não desenvolvessem acções armadas, esperavam a sua hora. E essa hora, com certeza, naquele período de euforia colonial, em que se transformara subitamente a Ilha de S. Tomé, talvez até lhes parecesse algo adiado. Uma enorme contrariedade para os  propósitos de uma verdadeira paz e libertação do seu povo. Tanto mais que, o Gabão, onde se encontravam sediados (dominado por um governo neo-colonial imposto pelos franceses), também se pusera ao lado dos interesses colonialistas e capitalistas de França, dos racista da África do Sol e do regime colonial português.

OS VOOS DA SOLIDARIEDADE NÃO DEIXARAM  BOAS RECORDAÇÕES  – PARA MUITOS SÃO-TOMENSES  - MAS SÃO HISTÓRIA

Os "forros" e outros negros que habitavam a preferia da cidade (mas principalmente os pescadores da Praia Gamboa e  os habitantes de outras aldeias nas praias ou lugares do mato, das proximidades), sim, a tranquilidade dessas pessoas, foi bastante perturbada  e afectada - ninguém se importava com isso.  O roncar dos motores, misturado com o silvo do vento das hélices, o intenso ruído causado por aquelas potentes máquinas voadoras, carregando toneladas de alimentos e medicamentos, ouvia-se perfeitamente em toda a cidade e até nas roças: não passava despercebido   – Ainda hoje,  quando penso nesses dias de desusada agitação, da cidade e ao aeroporto, até  parece que ainda me soam aos  ouvidos os sons e o troar característico  da descolagem e aterragem  dos aviões,  lá para os lados da Ponta Vasconcelos, Praia Lagarto, Praia Cruz  e Praia Gamboa. 

Não tenho a menor dúvida do pesadelo que assolou a vida pacata dos pescadores que habitavam as modestas casas de madeira, cobertas de ramos de andalas, nas aldeias pegadas à pista, ali junto ao mar,  habituados apenas ao marulho das ondas, à maresia, e, de um dia para o outro, verem-se confrontados, todas as noites, com o barulho ensurdecedor dos motores: primeiro a aquecerem, depois  já com os quatro a funcionar, e, por fim, a descolarem  ou  a fazerem-se à pequena pista – Hoje mesmo, quem viva junto ao aeroporto da Portela, em Lisboa,  e numa altura em que  o ruído dos aviões, está mais controlado, é algo perturbador, quanto mais naquele tempo! 

Na verdade, conforme já referi, o  povo de São Tomé não lucrou minimamente com a onda de especuladores e oportunistas – Mas tomou consciência de que, na direcção para onde os aviões se dirigiam  ao fim da tarde e pela noite a fora,  lá para os confins a Norte da vastidão oceânica do Golfo,   havia uma guerra sangrenta,  entre irmãos africanos,  marcada pela fome e pela morte – E houve até – da parte do regime colonial, quem se aproveitasse para argumentar que “os pretos não sabem governar e só sabem matar-se  uns aos outros” – Quando, afinal, aquela guerra era fomentada do exterior, como, de resto,  a maioria das guerras africanas – pois,  o expansionismo colonialista-capitalista, não conhece rostos nem fronteiras e  o negócio das armas é extremamente lucrativo.



GUERRA CIVIL DO BIAFRA – TALVEZ DAS PRIMEIRAS GUERRAS CIVIS AFRICANAS, ONDE OS MEDIA OCIDENTAIS USARAM AS VITIMAS(AS CRIANÇAS ESFOMEADAS) PARA MANIPULAREM A OPINIÃO PÚBLICA - 
Terá sido das primeiras guerras civis no continente africano – pelo menos, até aquela data, a mais fratricida e devastadora – entre Maio de 1967 e Janeiro de 1970. As imagens que então correram e chocaram o mundo, de crianças esqueléticas e desnutridas, com enormes barrigas, mas onde apenas existia a fome e carências tremendas,  infelizmente, essa tão perturbadora tragédia, hoje dificilmente teria o mesmo impacto: tais imagens, tornaram-se banais

O NEGÓCIO DAS ARMAS E A EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO – PRINCIPAIS CAUSADORES DOS MAIORES CONFLITOS BÉLICOS

De facto, não há guerras limpas: todas as guerras têm o seu lado cruel e em permeio com os gestos da maior coragem e abnegação humana. A Guerra  do Biafra, também conhecida por Guerra Civil Nigeriana(1967-70) é talvez, até hoje, dos conflitos africanos, um dos exemplos mais paradigmáticos,  aquele  onde se cruzaram os mais diferentes   e contraditórios interesses e objectivos, incluindo as próprias organizações humanitárias – tendo, porém, como dominador comum as riquezas petrolíferas (jogos económicos e coloniais entre as várias potências, explorando crenças religiosas,  muçulmanos, a norte - e cristãos, a sul) diferenças étnicas (Yoruba, na de Sudeste os Ibo e na do Norte os Hausa. )
 ............
Do lado do Governo Federal da Nigéria, predominavam os apoios dos britânicos e dos americanos e das  suas companhias petrolíferas, a que veio juntar-se a União Soviética, com o envio dos então sofisticados  Mig-17 e o Il-28 RUSSOS E AS GUERRAS CIVIS AMERICANA E NIGERIANA
 ............................

 Do lado rebelde, do estado separatista, a auto-proclamada República do Biafra,    estavam, descaradamente, aqueles países que questionavam o status quo africano da época da pós descolonização, como eram os casos da África do Sul e de Portugal (apoio logístico a partir de São Tomé) e, de forma encapotada, os interesses das petrolíferas francesas e, de forma mais genérica, um bloco que se pode identificar como o eixo franco-alemão que prosseguia em África uma estratégia frequentemente distinta da das duas potências anglo-saxónicas. Essa distinção é visível no apoio material que aqueles dois países davam ao equipamento do exército português em África: a G-3, os helicópteros Allouette III, os Fiat G-91, as Berliets e os Unimogs – In GUERRAS ESQUECIDAS (3): A GUERRA DO BIAFRA .

As igrejas cristãs e católicas (e respectivas instituições) estavam em S. Tomé, porque,  os Ibos do Biafra, eram maioritariamente cristãos e católicos; além de, que, entretanto, a descoberta de importantes jazidas  no delta do rio Níger, atiçava ainda mais a cobiça estrangeira – que não dispunha da mesma implantação dos ingleses e americanos.a. *

O ETERNO OURO NEGRO - A FONTE DO MAL

 “A organização da Nigéria colonial estruturava-se em três grandes regiões separadas pelas pernas desse hipotético Y: na de Sudoeste predominavam os Yoruba, na de Sudeste os Ibo e na do Norte os Hausa.

Mas a história das três regiões era completamente distinta: enquanto as duas primeiras já tinham tido contacto com os europeus (a começar pelos portugueses) desde o século XV, tendo-se desenvolvido um intenso comércio com eles desde aí (sobretudo de escravos…), o protectorado que estabelecera a supremacia britânica no Norte da Nigéria datava de 1901… O Norte era maioritariamente muçulmano mas no Sul predominavam os cristãos. Excerto Herdeiro de Aécio.
 .........
OS VOOS  DE SOLIDARIEDADE, SE FORAM VERDADEIRAMENTE SINCEROS, SÓ O SABE, QUEM OS REALIZOU  - PELO MENOS, COMO PROVAS  DE CORAGEM,  NÃO RESTAM DÚVIDAS 
......Depois que a União Soviética se pôs ao lado dos americanos e ingleses, que apoiavam o poder central, com o envio de  aviões caças MIG e bombardeiros Ilyushin,  o Biafra não tardou a capitular -  E foi, justamente, nos último meses da resistência biafrense que se registaram os maiores exemplos de coragem e de solidariedade humana,  nomeadamente através de pilotos  e a respectiva tripulação - se bem que fazendo-se pagar por avultados cachets, por cada voo da sua  temeridade. 

Voos houve que se encaminharam para a morte e nunca mais voltaram – conheci alguma dessas pessoas. E vi as lágrimas vertidas  pelos seus companheiros e amigos - Muitos dos aviões, eram atingidos pelas balas  e dir-se-ia ter sido por milagres que pousaram e voltaram.

No entanto, a par dessa admirável generosidade e sentido de bem servir o próximo, proliferava o mais desenfreado mercenarismo – O próprio governo colonial não ficou a perder – arrecadando uns  bons milhares de dólares e obtendo visibilidade filantrópica internacional, para a qual apenas cobrou – fazendo-se pagar por  taxas avultadíssimas por  cada voo que chegasse ou partisse do aeroporto ou descarregamento dos barcos..


Já se escreveram livros e fizeram filmes, já se publicaram muitos artigos nos jornais, e, a par de muitas imagens, existe abundante  informação e muitas análises e comentários  na Internet,  porém,  as imagens que mais chocaram o mundo e que  ainda hoje mais se recordam, foram as das crianças com as barrigas inchadas (sempre as primeiras vítimas dos mesquinhos interesses egoístas dos adultos e os relatos, as autênticas odisseias  vividas por corajosos pilotos, cujos voos foram apelidados para a televisão e o cinema de “JESUS CHRIST AIRLINES 

Mesmo que o fizessem, com vista a ganhar fortunas -  há que reconhecer que não há  dinheiro que pague uma vida: e eles sabiam, que, em cada noite, a sua vida podia desfazer-se nos destroços da sua aeronave. Tal como, infelizmente, veio a acontecer a alguns desses voos 


UM MONUMENTO INTERNACIONAL À AJUDA HUMANITÁRIA EM SÃO TOMÉ - HÁ UMA ASSOCIAÇÃO QUE QUER RELANÇAR O DEBATE 

Já lá vão uns bons anos e o que resta de memória física, conforme atrás referimos, são os esqueletos de dois dos emblemáticos constellation  

Trata-se de uma iniciativa popular internacional, promovida pela Associação Caué - Amigos de São Tome e Príncipe..., cuja campanha de reconhecimento histórico (da qual sou subscritor), teve  início em Setembro de  2007, por ocasião do 40º aniversário do início do conflito de  Biafra 

 Eis um excerto de um longo texto – muito detalhado e documentado – que foi editado,  por aquela altura, no site da referida Associação, onde ainda é possível ser consultado, sobre as consequências da auto-proclamado estado independente da  República do Biafr:. “Essa proclamação foi o detonante de uma das guerras mais sangrentas que nunca tem visto o mundo -a Guerra de Biafra- e um dos maiores genocídios, que incluiu a mais terrível das fomes: mais de 1.500.000 civis, a maior parte crianças, sucumbiram ao drama.

 Desde Julho de 1968 até Janeiro de 1970, a Joint Churches Aid (Ajuda Conjunta das Igrejas) organizaram desde São Tomé uma ponte aérea humanitária que, graças a perícia dos pilotos de diferentes nacionalidades em perigosos vôos noturnos, burlando a artilharia nigeriana, abasteceu no mais básico aos assediados biafrenses. Os aviões da JCA, fizeram inumeráveis viagens (os faziam várias vezes ao longe na noite) e participaram na evacuação da população indefesa onde o genocídio era certo.

(....) Na atualidade os restos de dois dos aviões utilizados nessa ponte humanitária, dois "Lockheed Constellation" ("Connies"), abandonados às inclemências do clima desde o fim da guerra, são os testemunhos silenciosos desse episódio, quase esquecido, da história contemporânea de São Tomé e da África Ocidental. - Excerto de São Tomé x Biafra - 40 anos da ponte aérea humanitária

Dois portugueses mortos no Toubkal: o voo de Faro do Lockeed L 749 A Constellation


(actualização)  14-10-2015 - Acabo de receber - através de um comentário inscrito ao fundo deste post – que teve a gentileza de me informar de   uma interessantíssima análise, feita no Blogue   Montanhismo Desnível, acerca da morte de dois portugueses, que teriam morrido no desastre de um avião avião Lockeed quadrimotor da TAP, que, no dia 28 de novembro de 1969, partira do aeroporto de Faro, carregado de armas, com destino a S. Tomé, para, no aeroporto desta ilha, serem transportadas para o Biafra. Pois, tal como também refere, a dita ponte aérea criada  “pela Cruz Vermelha, em parte suportada por pilotos israelitas voluntários, escondia também abastecimentos de armas e respetivas munições” – E recorda que, “o Lockeed L-749 A Constellation saído de Faro era um polivalente avião com 4 motores Wright, de 18 cilindros cada, geralmente utilizado em layout de transporte de passageiros, mas neste caso uma versão militar de carga, matriculado 5N-85H e que fez o seu primeiro voo em 1951. Excerto de http://adesnivel.blogspot.pt/2014/06/dois-portugueses-mortos-no-toubkal-o.html

NO INICIO DO PRÓXIMO MÊS, O TEMA VAI SER PRETEXTO DE VÁRIAS ACÇÕES - UMA DAS QUAIS NO  CENTRO CACAU, ORIENTADO POR JOÃO CARLOS SILVA |. O FAMOSO AUTOR  COZINHEIRO, ESCRITOR E APRESENTADO DE “NA ROÇA COM OS TACHOS”

Super Constellation de São Tomé, um exercício de memória histórico

Por gentileza dos e-mails enviados Gerhard Seibert  e do Xavier Muñoz i Torrent tive conhecimento de que, “nas próximas semanas vão organizar-se alguns encontros para alimentar ainda mais essa memória histórica contemporânea, ao redor das “Asas do Avião”, com os seus protagonistas, e também na celebração de um ato público muito provavelmente o próximo dia 1 de Setembro, na Casa das Artes, Criação, Ambiente e Utopias (CACAU), da Cidade, com a projecção de um documentário e a mostra de outros materiais gráficos, facilitados pelo Fundo de Documentação dos Amigos de São Tomé e Príncipe em Barcelona. Téla Nón >> A SuperConstellation de São Tomé, um exercício de memória histórico.

10 comentários :

Elsa Garrido disse...

Merci de nous rafraichir la mémoire, car un peuple qui ne connait pas son histoire est un peuple aveugle.

Cordialmente.

Elsa.

canoasdomar disse...

Merci pour vos commentaires genre

canoasdomar disse...

Recebemos do leitor, Carlos Oliveira, por e-mail, um esclarecimento, que muito agradecemos, sobre algumas questões abordadas neste post - e cuja informação já aproveitámos para fazer as rectificações que nos sugeriu. Como prova do nosso reconhecimento, aqui lhe reproduzimos na íntegra o conteúdo do mesmo.


Boa tarde,

Em primeiro lugar os meus parabéns pelo blog e os artigos sobre o Biafra.

Embora ainda não o tenha lido todo com a devida atenção (houve partes que li na diagonal) gostei bastante da informação e relatos que constam no blog.

Infelizmente, constato que a quase totalidade das pessoas não sabem ou não se lembram da tragédia do Biafra, o que não é de estranhar pois também eu nasci em Dezembro de 1971 e se não fosse o meu gosto por história também não saberia nada sobre o Biafra.

Hoje apesar de achar que continuo a saber pouco sobre o Biafra já fiz umas pesquisas que me levou a entrar em contacto com quem esteve envolvido no conflito.

Permita-me que faça, com o simples propósito de tornar alguma da informação que disponibiliza mais correcta, as seguintes observações:

- Os aviões sem asas que estiveram no hangar em S. Tomé e Príncipe não eram Migs mas sim aviões de treino/ataque ligeiro, Fouga Magisters.

- O avião que escapou no final no final conflito foi o último T-6 Texan operacional do Biafra com um piloto português e o seu mecânico biafrense para evitar a execução deste último pelas tropas federais.

- Além desses dois aviões, houve um Meteor que ficou a apodrecer na BA 12 em Bissalanca-Bissau.

- Os T-6 não foram para o Biafra por barco mas por ar só tendo chegado 2 dos 4 que partiram de Tires.

CMC

Carlos Oliveira

João Sousa disse...

Simplesmente extraordinário. Não imaginava que a tragédia do Biafra estivesse tão ligada à ganância humana. São tantas as coisas que desconhecemos... essa é, talvez, a grande certeza!
Obrigado pelo esforço em trazer ao conhecimento do publico tantos factos da história deste nosso mundo...

canoasdomar disse...

Obrigado amigo pelas amáveis palavras

Alpine disse...

Caro Jorge Trabulo Marques
Já não comunicamos há uns tempos (a propósito do Pico Cão Grande) mas sobre este assunto da ponte aérea São Tomé Biafra, postei um pequeno artigo no Blog da ADA Desnível a propósito da queda de um Lockeed L 749 em Marrocos, em viagem de transporte de munições entre Faro e São Tomé. É o 5º ou 6º artigo do Blog:

http://adesnivel.blogspot.pt/

Um breve resumo da parte relevante do mesmo:
No dia 28 de novembro de 1969, um avião Lockeed quadrimotor partiu do aeroporto de Faro com destino a São Tomé, colónia portuguesa ainda por mais meia dúzia de anos. Registado como pertencendo ao “Governo do Biafra”, transportava munições destinadas a este conflito (não está provado que seguissem também armas a bordo) provavelmente oriundas da fábrica de Braço de Prata, que detinha o monopólio nacional da sua produção. São Tomé era um destino intermédio, onde a carga seria transbordada para um dos 5 potentes aviões Boeing C 97 Stratofreighter, envolvidos diretamente na guerra do Biafra. São Tomé era aliás não só a base da ponte aérea humanitária, mas também a base de todas as operações militares aéreas, ligando os enormes C 97 quase todas as noites São Tomé com a pista improvisada de Uli, dentro do território libertado do Biafra. Todas as operações decorriam de noite, uma vez que a Nigéria tinha menos capacidade de abate de aviões neste período. O Lockeed L-749 A Constellation saído de Faro era um polivalente avião com 4 motores Wright, de 18 cilindros cada, geralmente utilizado em layout de transporte de passageiros, mas neste caso uma versão militar de carga, matriculado 5N-85H e que fez o seu primeiro voo em 1951. A versão que se seguiu seria o Super Constellation, bem conhecido da TAP e dos aeroportos portugueses. A bordo do Lockeed, além da “preciosa” carga, seguiam 8 homens, dos quais 4 eram a tripulação necessária, estando ainda dois portugueses entre os restantes ocupantes. A sua identidade é desconhecida, mas será alvo de investigação posterior.

canoasdomar disse...

Obrigado pelas oportunas observações - Já li o seu artigo, que achei muito interessante, cuja leitura recomendo - em http://adesnivel.blogspot.pt/2014/06/dois-portugueses-mortos-no-toubkal-o.html tanto pelas excelentes imagens que recolheu, como pelas análise aprofundada que sobre o referido conflito e a trágica morte dos portugueses no desate de aviação, do qual pôde fotografar alguns dos despojos - Vou tomar a liberdade de, num destes dias, ao voltar a este assunto, citar o seu texto e comovente testemunho fotolitográfico - Obrigado e um grande abraço amigo

canoasdomar disse...

Caro Amigo - Afinal, acabei mesmo de tomar a liberdade de postar um excerto do seu interessantíssimo neste artigo neste meu post, cuja informação muito lhe agradeço, cujo link remeto depois para o seu blogue.

Alpine disse...

Caro Jorge
Tenho muito gosto de ver o excerto do meu artigo no teu magnífico Blog. Voltaremos ao tema, certamente. Em relação ao assunto "Pico Cão Grande", que muito gostaria um dia de ver in loco, enviei um mail de desafio para uma Palestra sobre essa audaz primeira escalada. Enquanto não a repetimos, organizamos essa palestra? Grande abraço

canoasdomar disse...

Caro Amigo, Obrigado uma vez mais pela sua atenção. Já o editei neste post - Veja um pouco mais acima, até com uma foto - Publiquei um excerto com o linke do seu blogue para que os leitores possam também tomar conhecimento do seu magnífico trabalho - Já agora, aproveito para o informar que tenho outro site, de nome Templos do Sol - Tambores - Mancheia - ou seja - www.vida-e-tempos.com - Um abraço amigo