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quarta-feira, 27 de abril de 2016

Barão de Água Izé – Nasceu há 200 anos (12-03-1816 - 17.10.1869) – O mui nobre visionário mestiço, João Maria de Sousa e Almeida, que o Reino distinguiu de Barão e Conselheiro – O poeta agricultor que introduziu a árvore da fruta pão e a cultura do Cacau em S. Tomé – Porque não uma lápide ou uma palestra a assinalar a efeméride do ilustre filho das Ilhas Verdes?

Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador  -- C



1910 - De Francisco Mantero - Água Izé - Praia do Rei


Barão de Água Izé – Nasceu há 200 anos (12-03-1816 - 17.10.1869) –  O mui nobre visionário mestiço, João Maria de Sousa e Almeida, que o Reino distinguiu de Barão e Conselheiro.

O poeta agricultor que, em 1855,  introduziu  a cultura do Cacau em S. Tomé, importando-o da Ilha do Príncipe, para a qual do Brasil a tinha importado o Governador Manuel Ferreira Gomes 

Pena, no entanto, que aquela que começou por ser designada como a árvore dos pobres, com o decorrer do tempo, viesse a tornar-se a árvore das patacas dos ricos  - Pois não tardou que  a maior parte das terras que,  até 1872, eram propriedade dos nativos passassem para os roceiros colono

Em 1858 - ou seja três anos depois da cultura do cacau - o mesmo fidalgo introduziria  também a árvore da fruta pão (artocarpus incisa 1.bella, tendo o referido barão publicado diversas instruções sobre a sua cultura

No ano em que passam duzentos anos, sobre a  data do seu nascimento, oportunidade para S. Tomé e Príncipe  homenagear um dos seus mais lendários e distintos filhos - Por exemplo, com o descerramento de uma lápide ou um qualquer outro evento cultural - documentário televisivo, palestras ou outra iniciativa cultural ou se considere relevante e adequada.

Água Izé - 1910
Água Izé - 2016

Nasceu  na Ilha do  Príncipe descendente de uma família mulata abastada , de São Salvador da Baía, que emigrou  para o Príncipe nos finais  do século XVIII. Faleceu aos 53 anos - Naquele tempo, a media de vida era bem mais curta de que atualmente. No seu espírito dinâmico e empreendedor, brilhava também a inspiração e a verve poética -  É  o que demonstram os extremosos versos que dedicou ao seu pai, numa lápide tumular, na cidade de Santo António, na Ilha do Príncipe, o coronel de milícias Manuel de Vera Cruz e Almeida Viana, nascido em 1750 -  Não tendo tido porém, o mesmo procedimento para com  a sua mãe,  D. Pascoela de Sousa Leitão, nascida em 1790


1910 - Senzalas - Água Izé  - In A Mão d'Obra em S. Tomé





João Maria de Souza e Almeida, Barão de Água Izé e Conselheiro do Reino,  o primeiro mestiço nobre a ser distinguido com tão alta distinção, o qual, além do “importante e abastado proprietário em S. Tomé e Príncipe e no distrito de Benguela, senhor dos prazos de Agua-lzé, Castelo do Sul e Alto Douro,  a quem se deve o fomento da cultura do cacau, introduzido na ilha do Príncipe, em 1822, mas cultivado em tão pequena escala que – nem sequer constava dos  seus famosos «Ensaios Estatísticos.


Referem estudos genealógicos que, João Maria de Souza e Almeida casou com D.Maria Antónia de Carvalho sg.  ( e Antónia Carolina da Rocha Guimarães - Não deixou filhos legítimos,"mas muitos filhos de amigas que trabalhavam nas suas roças".http://geneall.net/pt/forum/97022/familiares-dos-baroes-de-agua-ize/

Baía de Água Izé 
Baía de Água Izé

 “Para S. Tomé, não se poderia encontrar figura mais ligada à Colónia que a dum mestiço a quem as ridentes ilhas atlânticas tanto devem - o barão de Agua-Izé - homem de primeiro plano na ocupação económica do Império, como grande propulsor do desenvolvimento agrícola

Sim, hoje venho trazer-lhe o que penso ser uma outra novidade, que logrei extrair de uns cadernos dactilografados caídos no esquecimento, que, um feliz acaso me proporcionou – sim, porque, já em avançado estado de decomposição, nem fácil de localizar nem de forma ordenada - Diz o seguinte:



Bisneto do Barão de Água Izé


Ao meio da Rua de  S. Gregório, hoje  Rua Francisco Mantero,  por deliberação da C.M. de  1-4-1937, está indicada uma igreja que se chamou S. Gregório. O caminho conduz ao cemitério e a igreja ficava onde termina hoje o terreno pertencente a uma casa de Adolfo Ferreira Lousada.

Ao fim da Rua Tenente Valadim está marcada na carta, finalmente a última igreja: era a Igreja do Senhor do Bom Jesus dos Passos, conhecida por Igreja do Senhor (Gueja Sinhô) – Esta igreja foi construída benta procedendo autorização do cabido em S. Tomé no ano de 1825 (Reg. De of. e Registos a Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos da Graça, 1824, a  flhs 1) – Os restos das desmoronadas paredes serviram para a construção  de um Matadouro Municipal. Nessa ocasião – 1925 -  foi ali encontrada uma sepultura coberta com uma lápide; Ali estavam enterrados os restos mortais de Manuel da Vera Cruz Almeida, pai de João Maria de Sousa e Almeida que foi o primeiro Barão de Água Izé.

Tributo de amor filial levantado por João Maria de Sousa Almeida


Aqui jaz os restos mortais de Manuel da Vera Cruz Almeida – Coronel das Ordenanças natural da Baía de Todos os Santos, cidade de S. Salvador, Província do Império Brasileiro – nasceu a 22 de Setembro de 1780 e faleceu a 31 de Maio de 1833 com 53 anos  8 meses  e  8 dias


Esta pedra que voz incerta e dura,
De humano explendor frágil padrão,
É das cinzas dum nobre capitão
Das relíquias mortais a sepultura

Encera o corpo se,  que a alma pura
Que habita em virtuoso coração
Vão nos céus receber o galardão
Vai viver no reino da ventura.

Morreste; eterna he a tua memória
Teu nome será sempre venerado
Pois a tua virtude foiche motorista

Morreste pelos homens ser coroado
E nos eternos volumes da Glória
Também foste ó Almeida retardado

Perdemos um amigo  um protector
Quanto nos he cara a lembrança
De todos foi amparo foi a esperança
Ao pobre ao infeliz sanou a dor.

A todos infundiu respeito, amor
Quer Astrea pezasse na balança
Quer nos cargos de Alta Governança
Foi sempre sábio, justo e acolhedor

Mortaes que fruisteis seu amparo
Vinde orar, as saudades avivas
Por um varão em virtudes preclaro

Aqui sobre este túmulo choras
Vos amigo perdesteis, terno, caro
Eu perdi amigo e perdi pae.


As ossadas e a lápide foram transferidas, hoje repousam noutro local – Quando voltarmos ao Príncipe, esperamos poder fazer o registo fotográfico - Pois temos indicações onde se encontram.


"Quanto à capela do cemitério da cidade de Santo António da Ilha do Príncipe, do Ofício Nº 521 de 11 de Novembro de 1856 do Govº do Príncipe ao Govº de S. Tomé, costa o seguinte a fls 74 verso do lado  do Lº do Regtº  do Externos  “….. porquanto o encontrado por mim quando dei “principio ao cemitério foi unicamente  uma capela construída  de barro, que por se achar ameaçando  inevitável queda”, a deitei abaixo e em seu lugar edifiquei outra de “pedra e cal”.

Foi reedificada em 1870, segundo um auto de arrematação da obra adjudicada a José Joaquim de Melo por 182$700 reais fortes, em sessão da C.M., de 9 de Maio.  – Sofreu novas obras posteriores  e hoje está coberta de telha marselha (foto N.35),

DOS VÁRIAS OBRAS E TEXTOS  SOBRE O 1º BARÃO, NÃO CONSTA TÃO POÉTICA E SENTIDA HOMENAGEM TUMULAR – Mas há realmente alguns livros ( e muitos textos na WEB)  acerca da vida do famoso Barão

Um dos quais publicado, num pequeno opúsculo, que faz parte da minha vasta bibliografia, que lhe foi dedicado, por ocasião da 1ª exposição Colonial Portuguesa, no dia 25 de Agosto de 1934

1.ª Exposição Colonial Portuguesa – Porto 1934-comemora hoje, 25 de Agosto "O Dia de S. Tomé e Príncipe “

A homenagem veio a-propósito da passagem do aniversário da assinatura da lei que promulgou para aquela colónia a abolição do tráfico dos escravos.
A famosa colónia equatorial obriga, nesta comemoração, a salientar com realce especial o trabalho dos colonos que resultou na brilhante realização que ainda hoje refere, perante o mundo, S. Tomé e Príncipe como um exuberante atestado das especiais aptidões colonizadoras dos portugueses.

Em S. Tomé e Príncipe a grandiosa obra realizada tem ofertado generosamente um doloroso tributo de sangue a encarecer, por preço inestimável, o· sacrifício dos colonos de Portugal.
Assim a homenagem de hoje vai, em sentida saudação, para aqueles que, em sublime holocausto, no clima inóspito das verdejantes ilhas equatoriais, realizaram uma grande obra-a sua plantação.

Para essa homenagem e em representação de todos os demais, que muitos são, destacamos a figura de João Maria de Sousa e Almeida, t» Barão de Água- Izé, - um dos propulsores da grande agricultura da colónia.

O 1º Barão de Água-lzé, bem como Francisco  de Assis Belard, Manuel da Costa Pedreira e outros mais, são símbolos que bem atestam a iniciativa, a inteligência e a actividade do português que, comerciando e agricultando, realizou em África a mais incontesta ocupação de territórios para Portugal.

Movia-os o interesse mercantil, é certo, mas já hoje não se consente, nem mesmo aos mais sentimentalistas, que levem a mal a provada afirmação de que o lucro é o principal objectivo de todos os cometimentos humanos.

O 1º Barão de Agua-lzé foi essencialmente um grande agricultor das ilhas de S. Tomé e Príncipe, dirigindo ele próprio as suas importantes plantações de café e de cacau.

Os seus serviços foram reconhecidos e galardoados: "Fidalgo da casa real, do conselho de Sua Majestade, comendador das Ordens de Cristo e da de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, tenente-coronel de 2.ª linha dos voluntários de Benguela. Foi 1.0 Barão de Agua-!zé em sua vida, por decreto de 76 de Abril de 1868,,.

Na colónia exerceu, com elevado apreço, o cargo de presidente do município da capital  
As ilhas de -S. Tomé e Príncipe, à data do descobrimento, eram-diz Piloto, que viveu na primeira metade do século XVI – todas elas  uns bosques espadissimos, com árvores viçosas, e tam grandes que pareciam tocar no Céu.;

As ilhas referem hoje uma colónia de plantação exemplarmente apetrechada, devendo especializar-se a parte da assistência hospitalar, que mereceu ao sábio francês Brumpt os maiores encómios que foram divulgados pela imprense de todo o mundo.

Essa obra deve-se à iniciativa do colono que em "O Dia de S. Tomé e Príncipe,, a 1.ª Exposição Colonial Portuguesa-Porto- 1934 consagra, rememorando um dos mais ilustres- o Conselheiro João Maria de Sousa e Almeida, 1ºBarão de Áqua-lzé.

Da bibliografia, acerca do Barão de Água Izé,  penso que o livro  mais completo é de autoria de Amândio César, que eu tive o prazer de conhecer pessoalmente, numa das suas viagens a S. Tomé  - 

Mas eu vou aproveitar par aqui citar dois textos, um dos quais de  MANUEL FERREIRA (ln «O MUNDO PORTUGUÊS-1942)  inserido no ensaio que, Amândio César,  elaborou na sua obra “Presença do Arquipélago de S. Tomé e Príncipe  - Na modera Cultura Portuguesa  

O BARÃO DE ÁGUA-IZÉ

"Quando, em 1934, se ergueu, no velho burgo nortenho, essa demonstração singular das nossas possibilidades que foi a. Exposição Colonial, memoraram-se vultos de nome grado.
Para S. Tomé, não se poderia encontrar figura mais ligada à Colónia que a dum mestiço a quem as ridentes ilhas atlânticas tanto devem - o barão de Agua-Izé - homem de primeiro plano na ocupação económica do Império, como grande propulsor do desenvolvimento agrícola.

Ele- diz a pequena mas elucidativa monografia que, no «dia de S. Tomé» saiu dos prelos - «como Francisco de Assis Belard; Manuel da Costa Pedreira e outras mais, são símbolos que bem   atestam a iniciativa, a inteligência e a actividade do português que, comerciando e agricultando, realizou em Africa a mais incontestada ocupação de territórios para Portugal».

Importante e abastado proprietário em S. Tomé e Príncipe e no distrito de Benguela, senhor dos prazos de Agua-lzé, Castelo do Sul e Alto Douro, João Maria de Souza e Almeida deixou o seu nome ligado à agricultura da Colónia. A ele se deve, em especial, o fomento da cultura do cacau, introduzido na ilha do Príncipe, em 1822, mas cultivado em tão pequena escala que - refere Lopes de Lima nos seus famosos «Ensaios Estatísticos - em 1826 não havia exportação alguma.

Surgiu João Maria, em 1851, na propaganda e, dois anos depois, ensinava o modo prático de conservar o cacau, a fim de lhe conseguir exportação que, em 1857 L em vida do grande agricultor atingia já 12 735 quilos. Em 1899 -diz o Dr. Manuel Ferreira Ribeiro - a exportação do precioso fruto atingia 11 028 133 quilos. Fez do desenvolvimento dessa cultura um sacerdócio: foi quem escreveu a primeira memória sobre o assunto, em que demonstra larga cópia de conhecimentos, trabalho intitulado «As plantações de cacau nas ilhas de S. Tomé e Príncipe em 1851 e 1858, datado de 15 de Janeiro deste último ano e dado à estampa no Boletim Oficial da Colónia.

Presidente de Cabo Verde, Jorge Fonseca
Contudo não foi apenas o cacau que interessou o ilustre fidalgo. Era motivo dos seus cuidados a produção de tabaco, inhame e café, trabalhando, ao mesmo tempo, pela exploração f; das madeiras.
Sendo-lhe concedida, por decreto, uma área de terrenos para cultivo (1 000 braças ao longo do mar, com um porto, rio ou enseada) e permitido o transporte de 100 serviçais, João Maria cultivava, também, a palmeira e o coqueiro, oferecendo todo o óleo preciso para a iluminação pública de S. Tomé.

Fazia largas sementeiras de milho e introduzia na colónia, em 1858, as sementes da árvore da fruta-pão. Presidente da Câmara \Municipal, aproveitou o lugar de destaque que usufruía para fazer parte de todas as comissões, quer agrícolas, quer de qualquer outro interesse público.
Promoveu a construção de estradas; ensinou novas maneiras de plantar; distribuiu, largamente, aos agricultores, sementes de algodão que mandava vir de Mossãmedes ...

Evidentemente que todos esses serviços não podiam deixar de ser galardoados. Foi fidalgo cavaleiro da Casa Real; comendador das ordens militares de Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, tomando em consideração os esforços efectuados para a construção de estradas e outros melhoramentos e tenente-coronel honorário pelos serviços em campanha. Pertenceu ao Conselho de sua Majestade e no seu peito brilhava o colar de cavaleiro da Torre e Espada, ganho em risco da própria vida. Em 1868 era-lhe concedido o título, pelo qual passou à posteridade, de barão de Agua-Izé com o respectivo brasão de armas.
Manuel Ferreira (ln «O MUNDO PORTUGUlÊS-1942)


segunda-feira, 25 de abril de 2016

EM S. TOMÉ – A Revolução do 25 de Abril – às 19 horas, na rádio local- “Perante notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em pleno exercício das suas funções. A população tem dado um magnífico exemplo de calma e tranquilidade “ – Neste post a cronologia dos acontecimentos da ex- colónia

Jorge Trabulo Marques - Jornalista


 

25 DE ABRIL EM STP - UM DIA IGUAL AOS OUTROS MAS      ACABARIA POR SER O GRANDE PONTO DE PARTIDA PARA A INDEPENDÊNCIA DESTA ANTIGA COLÓNIA PORTUGUESA

Alvorada da revolução do  25 de Abril, de 1974, não foi quase notada neste dia em S. Tomé e Príncipe,  senão para quem acompanhava as emissões estrangeiras de rádio, que não era, naturalmente, o grosso da população, mas quando raiou foi como um rastilho que se ateasse a um foguete – Mesmo assim, houve quem quisesse ofusca-la – E pouco faltou para que os roceiros provocassem um banho de sangue e o  Movimento das Forças Armadas  ali fosse abortado – Ou antes, um pouco retardado, já que a população, galvanizada pelas manifestações populares, dificilmente o ia permitir

A partir daí, o movimento libertador das Forças Armadas, rapidamente ali encontrou eco nas duas ilhas – Os colonos receberam-no com apreensão e jamais se mentalizaram para  o alcance das transformações que rapidamente se iriam operar. 

Enquanto, que, na população negra – aquilo que inicialmente fora tomado com bastante desconfiança e incredulidade, depressa a galvanizou e a levou a pôr-se inteiramente ao lado do programa e dos ideais independentistas, defendidos pelo (MLSTP) Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, sediado no Gabão, cujos dirigentes desenvolveram, desde logo,  uma intensificada ação mobilizadora. 

Nunca chegaram a pôr em risco  a integridade dos colonos  que  nas roças até dispunham de armas já anteriormente distribuídas pelo exército colonial  (não enveredaram pela luta armada), mas causaram forte contestação e  instabilidade, não dando tréguas a qualquer ideia ou projeto  que não visasse a libertação do povo do arquipélago. As suas ações foram muito aguerridas e dinâmicas. Promoveram uma agitação política e social permanente. Não deram hipóteses a que  os movimentos federalistas ou neocoloniais, conquistassem adeptos e se  implantassem. O seu desejo  era conseguir a “Independência-Já”.   Os  slogans mobilizadoras pautavam-se sobretudo por esse único objetivo, explicito em  linguagem popular: “Independência total, çà cu pôvô  mecê”  -  Independência total é  tudo o que povo quer. Foram a principal força interventiva e conciencilizadora durante o processo de descolonização –  E até mesmo depois da tomada de posse do governo de transição

 ABOMINÁVEL Polícia Internacional e de Defesa do Estado NÃO DESMOBILIZA E CONTINUA   ACTIVA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

Enquanto,  na  Rua António Maria Cardoso, capital do Império Colonial, os PIDES se entrincheiravam, metralhando quem se lhe opusesse ou eram presos e humilhados onde fossem localizados, em São Tomé, nada parecia perturbá-los: mesmo depois de já não existirem dúvidas, quanto ao êxito do Movimento dos Capitães de Abril, a PIDE teimou manter-se em atividade por algumas semanas, fazendo de contas que a situação na colónia não se ia alterar: porém, à cautela, houve o cuidado (com a conivência das secretas do CTI de STP)levarem os arquivos para aquele quartel e limparem os cadastros. 

Jornalismo com história em S. Tomé e Príncipe - Nunca recebi nem espero receber louvores de ninguém, bem pelo contrário, suportei muitas agressões por quem não aceitava os novos ventos da descolonização - Sim, fiz jornalismo em momentos históricos e decisivos desta antiga colónia portuguesa, perdendo longas horas a escrever numa velha Remington - Desde 1970 a 1975 - Aqui deixo alguns desses exemplos 

TOMEI CONHECIMENTO NA MANHÃ DAQUELE HISTÓRICO DIA 

Mas eu soube da notícia ao raiar dessa alvorada. Era operador na rádio local e correspondente da revista angolana, Semana Ilustrada. A estação encerrava à meia-noite e abria (se a memória não me falha) às cinco e meia da manhã. 

Nesse dia, era o técnico escalado para abrir a estação e pôr o Hino Nacional no ar, seguido de  um programa de música variada – era mais uma das bobines gravadas que recebíamos regularmente da extinta Emissora Nacional. Poucos depois, chega o Raul Cardoso, que, na redação, passava ao papel as noticias transmitidas, em onda curta, por aquela estação, para depois serem lidas nos noticiários da "província". Pois não dispúnhamos de fax.

 “Houve um golpe militar!!... Há uma revolução em Lisboa!"Confessava-me, mal   pôs os auscultadores à escuta.  Porém, as notícias dos acontecimentos em Lisboa, foram encaradas com reservas e a sua divulgação, começou por ser bastante lacónica - Só, depois do pôr-do-sol. já noite, às 19 horas, é que  O Emissor Regional difunde o seguinte comunicado da Repartição do Gabinete e distribuído pelo C.I.T

Só às 19 horas daquele dia 25 de Abril, é que o Governador envia um comunicado à rádio local, ao Emissor Regional de S. Tomé e Principe da EN,  dizendo que, “perante notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em pleno exercício das suas funções A população tem dado um magnífico exemplo de calma e tranquilidade “ 


Só que, alguns colonos, quando, dias depois,  comecei a divulgar na revista Semana Ilustrada, de Luanda, o evoluir dos acontecimentos, fizeram-me a  vida bem difícil, com agressões e provocações de vária ordem: tendo-me colocado  uma forca pendurada à porta da minha residência, num modesto anexo da Casa Lima & Gama, depois de ma assaltarem e até o colchão da  cama, mo terem esfaqueado, o mesmo fazendo por duas vezes aos pneus do meu carro. Ao ponto de, após sucessivas bárbaras agressões,  em meados de março de 1975, ser forçado a escapar-me numa canoa para a Nigéria, em plena noite de tempestade e a ter que enfrentar  pela frente 13 dramáticos dias

CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS  - DA REVOLUÇÃO DE ABRIL EM S. TOMÉ-  "Os factos que tiveram lugar em São Tomé e Príncipe nos primeiros dias após o golpe militar dos capitães de Abril foram revelados pelo correspondente da Revista Semana Ilustrada, Jorge Trabulo Marques, jornalista português radicado há bastante tempo neste arquipélago" -   Carlos Espírito Santo, cita os meus textos em O NACIONALISMO POLÍTICO SÃO-TOMENSE  - 

Desde meados dos ano 70, era correspondente da Revista Semana Ilustrada, de Luanda - Naturalmente, que, a repercussão do 25 de Abril, nas Ilhas Verdes do Equador, nomeadamente, em S. Tomé, onde residia, não podia passar despercebida ao jornalista - De resto, com o fim da censura, não havia mãos a medir

Muitos dos meus trabalhos, não passavam no crivo dos censores, em Angola, pelo que, finalmente, com a despertar da liberdade de expressão, havia que aproveitar os novos ventos da história ,que, aliás, muitas contrariedade me haviam de trazer, da parte dos colonos - Na edição da semana seguinte, fiz um relato circunstancial dos principais acontecimentos na Ilha, que julgo ter sido o único a nível da imprensa -
S. Tomé-25. O dia amanheceu sereno e calmo como outro qualquer. As pessoas dirigem-se para os seus locais de trabalho habituais. Um sol resplandecente e equatorial banha de luz e de vida a pequena cidade de S. Tomé. A vida parece continuar com a mesma rotina dos demais dias da semana. Porém, para um número muito restrito de cidadãos, começam a chegar os primeiros rumores de que algo de estranho se passava na capital do País. Há interrogações. Expectativa geral. Tudo o que se fala e se sabe, é escutado de estações de rádio estrangeiras. Por isso a dúvida subsiste. As perguntas sobre o que há ou não, de verdade, sobre a situação em Lisboa, começam a suceder-se a cada instante. E a não encontrar uma resposta exacta, Tudo o que se fala é incerto e impreciso.


S. Tomé-25. É quase meio-dia. O Governador da Província é já conhecedor das noticias que pela manhã começaram a ser radiofundidas por Emissões do exterior. Toma conhecimento do teor do comunicado emanado pela Repartição do Gabinete do Governo de Angola, transmitido pela Estação Oficial deste Estado. Que nada de concreto diz, pois é bastante lacónico.

S. Tomé-25. Estamos no começo da tarde. Chega-nos ao conhecimento que parte do efectivo militar aquartelado na cidade entra de prevenção. Notícias não confirmadas começam a partir de agora a circular com maior intensidade pela população que, com crescente expectativa, se interroga ansiosamente.

S. Tomé-25. São 19 horas. O Emissor Regional difunde o seguinte comunicado da Repartição do Gabinete e distribuído pelo C.I.T

"Perante notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em pleno exercício das suas funções. A população tem dado um magnífico exemplo de calma e tranquilidade que o Governo e as Forças Armadas da Província continuarão a assegurar."

Lampejos de um defunto moribundo. Pois escusado seria dizer que àquela hora ainda o Governo derrubado estaria no exercício pleno das suas funções. Um comunicado, portanto, que não veio trazer luz alguma sobre as dúvidas que já existiam. Maior confusão, porventura, estamos certos, foi o que veio provocar.

Pois se as estações estrangeiras já àquela hora estavam fartas de deitar cá fora a noticia do golpe militar aos quatro ventos. Um caso mais ou menos consumado, era a ideia que começava já a prevalecer em muita gente, tal a veracidade e o pormenor com que o desenrolar dos acontecimentos passavam a ser pelas mesmas relatados. Uma sensação de alívio notava-se nas pessoas, se bem que juntamente com alguma inquietação pela incerteza que, não obstante, ainda pairava. Oficialmente nada de concreto se sabia, apenas o conteúdo daquela comunicação que, àquela hora,  e dada de maneira  como foi redigida, terá sido bastante inoportuna. 

S. Tomé-25. E a hora de fechar o Emissor Regional. Ouvem-se os últimos acordes do Hino mas até àquele momento a grande verdade, de que já muita gente não tinha dúvidas, não chega a ir para o éter pelas ondas hertzianas desta Voz Portuguesa no Equador. E isto porque a Emissora Nacional, de que faz parte, continua no seu mutismo em relação à sua emissão para o Ultramar. Continua com a sua normal programação, apenas com a diferença dos noticiários serem demasiado breves.

S. Tomé-26. É meia-hora da madrugada. Algum do pessoal do E. R. de S. Tomé e Príncipe que se havia mantido em escuta depois de encerrada esta estação, houve e regista, em fita magnética, as primeiras palavras do grande general António Spínola. Fala como Presidente da Junta de Salvação Nacional, que então se constituira após o Glorioso Movimento das Forças Armadas, em tão boa hora levado a cabo, segundo as sua próprias palavras, no seu memorável comunicado à Nação Portuguesa, de que, a partir daí, assumira a enorme e pesada responsabilidade da condução dos novos destinos.

S. Tomé-26. São cinco e meia da manhã. O Emissor Regional, embora tivesse já pleno conhecimento da situação e das palavras do Presidente da Junta de Salvação Nacional, abre a sua emissão como habitualmente. O programa musical continua a cumprir-se na íntegra. Não faz qualquer referência, entretanto, sem autorização superior. Apenas uma ligeira alteração na programação: Não transmite o noticiário das 6.30.


S. Tomé-26. Aproxima-se as sete horas de um novo dia. De um dia que traria de facto uma bela e risonha mensagem a toda a população destas ilhas. Era a mensagem de um Portugal livre. De um Portugal para um futuro melhor, cujo raiar havia começado já na madrugada da véspera do dia anterior. 

(....) S. Tomé-26. São 10.30. O Emissor Regional de S. Tomé e Príncipe lê uma comunicação das Forças Armadas da Província dando conhecimento do telegrama por elas enviado à ]. S. N. e com o seguinte teor: "Tomado conhecimento proclamação]. N. S., Forças Armadas de S. Tomé e Príncipe garantem total apoio destes objectivos. Política Nacional anunciados. Mais asseguram perfeita calma e tranquilidade população e controle situação local". 

S. Tomé-26. 19.00. Uma comunicação do Governo da Província anuncia que, segundo telegrama do Ministério do Ultramar, o Governador de S. Tomé e Príncipe é reconduzido.

S. Tomé-27. O Comandante Militar em exercício, tenente-coronel Ricardo Durão, é chamado pela Junta de Salvação Nacional a desempenhar importante cargo no Ministério da Defesa Nacional. Função essa que, segundo posteriormente veio a público, não chegou a ocupar visto ter sido mais tarde designado delegado da J.S.N. junto do Ministério das Corporações.

S. Tomé-29. Em cumprimento de um despacho da Repartição de Gabinete, o pessoal da extinta D.G.S. é obrigado a abandonar o edifício onde se situavam as instalações desta corporação, feito o espólio de todo o material e recheio à mesma pertencente e entregue ao Comando Territorial Independente de S. Tomé e Príncipe. Segundo o mesmo despacho, as ditas instalações passavam a pertencer, o 1.0 andar à Guarda Fiscal, e o rés-do-chão à Policia Judiciária.

S. Tomé-29. Perante a surpresa geral, o governador de S. Tomé e Príncipe, coronel Cecílio Gonçalves, anuncia que, embora reconduzido e tendo na sequência dessa recondução garantido adesão aos princípios da Junta de Salvação Nacional, não havendo assim quaisquer motivos de consciência, mas que no interesse da Província achava melhor entregar a encarregatura do Governo ao Intendente Administrativo, Pinto de Souto.

S. Tomé-29. São cerca de 18.30. Verificam-se os primeiros passos, por parte de um grupo de democratas na ilha, para a criação de uma Associação Democrática. O mesmo grupo, em reunião havida naquela noite, decide convidar todas as pessoas que partilhem dos sentimentos democráticos e estejam de acordo com os objectivos preconizados pela J. S. N. a fazer um "abaixo-assinado" a manifestar o seu inteiro e incondicional apoio a esta Junta. S. Tomé-30. Por despacho do Encarregado do Governo, é anunciada a dissolução em S. Tomé e Príncipe das comissões de Freguesia, Concelhia e de Província, da A. N. P.


 
Cerca das 16 h. da tarde regista-se o embarque do coronel Cecílio Gonçalves. A sua partida foi sentida com bastante comoção por todas as pessoas que se encontravam presentes no aeroporto. O caso da partida do Sr. coronel Cecílio Gonçalves, segundo sublinha a folha dominical, "O Dia do Senhor" deu a impressão geral de tratar-se de um dia de luto para a população. O ex-Governador amava S. Tomé. Confessava com frequência que gostava das gentes de S. Tomé ... e assim o demonstrou até ao fim. O coronel Cecflio Gonçalves, segundo diz ainda a mesma folha, para além do mais, possuía o dom da sensatez, raro em nossos dias, o equilíbrio e serenidade mental, o apreço da justiça, a firmeza de um militar, a visão clara dos problemas e a vontade de resolver com urgência os que fossem do interesse comum; simplicidade e entrega ao trabalho no silêncio. A educação, as comunicações, o operariado, o turismo, a indústria mereceram-lhe atenção e carinho. S. Tomé fica a dever-lhe muito nestes diversos sectores.

S. Tomé-30. No noticiário da noite do Emissor Regional é tornado público um despacho, ainda emanado pelo Governador cessante, que eleva para novos limites mínimos os salários dos trabalhadores rurais, em regime transitorial, enquanto não é devidamente revista nova legislação sobre o problema. Os ditos aumentos de salários foram pois acolhidos com certo agrado pela população rural, mas, dada a pequena margem acrescida com que foram contemplados, cremos ainda estarem muito aquém da satisfação "dos justos desejos da classe trabalhadora rural.


S. Tomé-1 de Maio. À semelhança do que aconteceu pelo País fora, também o Dia do trabalhador de S. Tomé foi vivido com manifestações do mais veemente apoio ao novo regime português, no qual se depositam as melhores esperanças para uma nova vida e um futuro mais próspero para todos, designadamente para o trabalhador, até agora o menos favorecido e regra geral o mais injustamente remunerado de todas as classes sociais.
O Sindicato dos Empregados do Comércio, Indústria e Agricultura convidou todos os seus associados e trabalhadores para uma manifestação cívica frente ao Palácio do Governo, à qual, de facto, compareceram em peso tendo, após a mesma, seguido em cortejo até às instalações da sede social daquele organismo.

S. Tomé, 2 de Maio. A Direcção do Sindicato dos Empregados do Comércio, Indústria e Agricultura de S. Tomé e Príncipe, interpretando os direitos de liberdade proclamados pela J.S.N. resolveu em reunião extraordinária apresentar à Assembleia Geral o seu pedido colectivo de demissão, proporcionando assim aos associados desse sindicato o direito à livre escolha dos seus dirigentes.

S. Tomé, 2 de Maio. - Os corpos Gerentes da Caixa de Previdência dos Funcionários Públicos de S. Tomé e Príncipe, reunidos em sessão conjunta aprovaram uma exposição ao Encarregado do Governo, pela qual solicitavam a exoneração dos actuais Corpos Gerentes, visto que, embora há longo tempo no exercido das suas funções, nelas não se têm mantido por vontade própria durante todo esse lapso de tempo.
Na mesma exposição, pediam simultaneamente, disposições adequadas onde se determine a constituição de uma Assembleia Geral de todos os da Caixa que eleja, sem quaisquer restrições, salvo o pleno uso dos seus direitos de associados, uma Direcção e um Conselho Fiscal.

S. Tomé, 3 de Maio. - É extinta a Comissão de Censura, nomeada por despacho n.019-1966, de 4 de Abril de 1966, publicado no B.O. do mesmo mês e ano.
S. Tomé, 3 de Maio. - É criada nesta Província uma comissão "adhoc", para controlo da Imprensa, Rádio, Televisão, Teatro e Cinema, de carácter transitório até à publicação de novas leis que regulem estes meios de comunicação sociais.

S. Tomé, 5 de Maio. A rádio de S. Tomé vive momentos altos desde a sua fundação, devido à intensa divulgação e abertura dada à informação que passou a verificar-se a partir do dia 26 de Abril. Por outro lado, a imprensa vive a sua hora mais morta de sempre. O jornal" A Voz de S. Tomé", que era propriedade da extinta A.N.P. continua a ter a sua publicação suspensa, Por seu turno, a folha dominical, "O Dia do Senhor", que devia sair neste dia, não foi autorizada a sair pela Comissão "ad-hoc", por inserir afirmações segundo declarou a própria comissão controladora, de carácter ambíguo e pouco expirei to em relação a referências elogiosas a instituições do regime anterior. Tal suspensão acontece pela primeira vez na existência desta publicação semanal»'


Por seu turno, a folha dominical, "O Dia do Senhor", que devia sair neste dia, não foi autorizada a sair pela Comissão "ad-hoc", por inserir afirmações segundo declarou a própria comissão controladora, de carácter ambíguo e pouco expirei to em relação a referências elogiosas a instituições do regime anterior. Tal suspensão acontece pela primeira vez na existência desta publicação seman

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PIRES VELOSO, AGIU BEM - Em obrigar o então Tenente-Coronel Ricardo Durão, enviado por Spínola para liderar a revolta dos cafusos (os colonos das roças) - Atitude inteligente e sensata que evitou um banho de sangue  e regorçou a confiança junto dos dirigentes nacionalistas  

 Se o  Tenente-Coronel Pires Veloso já falecido, com a patente de  General), não o obrigasse a voltar no mesmo avião, estou certo de que, as águas que correm nas pacíficas Ilhas de São Tomé e Príncipe, ter-se-iam toldado por muitas manchas de sangue. E, sobretudo, se o Governador, não apelasse à calma dos manifestantes: os quais se rebelaram por motivos absolutamente injustificáveis, pois ninguém os molestou - Seguiram, depois, para  o quartel da Polícia Militar e Cinema Império. Porventura, na perspectiva de que, Ricardo Durão, os viesse comandar -  Já que a o episódio do seu regresso forçado não fora tornado público.

MULTIDÃO DE COLONOS INVADE O PALÁCIO - Insultaram o  Governador Pires Veloso e, ao sairem,  quando me viram ali próximo, correm atrás de mim de machins nas mãos - Se me apanhassem ter-me-iam  esmagado 

PIRES VELOSO ALUDE,  NO SEU LIVRO:  “VICE-REI DO NORTE – Memórias e Revelações” À INESPERADA INVASÃO DOS COLONOS AO PALÁCIO DO GOVERNADOR

Mal me viram sentado na esplanada do Restaurante Palmar, – onde pretendia inteirar-se daquela estranha ocorrência -, imediatamente correram furiosos atrás de mim!  Eram umas largas centenas. 
Se me apanhassem, naquele momento, estou convencido que me  tinham esmagado e linchado. - Mesmo assim ainda levei com uma pedra na cabeça. E o que me valeu foi ter subido por umas escadas e me ter  refugiado num telhado. À noite foi socorrido por um santomense que me levou para sua casa, onde estive escondido  quase duas semanas.

Com o general Pires Veloso, em Portugal
 Fugi para uma escada até que caísse a noite para me escapar para qualquer sítio, pois sabia que já tinham assaltado a minha casa e espatifado tudo. Era demasiado arriscado ali voltar.  Foi o  Constantino Bragança, (o jovem são-tomense que me distribuía a Semana Ilustrada) que,  tendo-se apercebido da minha entrada naquela escada (onde por acaso pude esconder-me sem que fosse visto pelos moradores) que veio, mais tarde, em meu auxilio. 

Os colonos (muitos deles, em vez de regressarem às suas casas), optaram por se aquartelar com a tropa portuguesa. Nessa altura, as ruas à noite ficavam praticamente desertas e eu tive então oportunidade de escapar dali. Tendo passado quase duas semanas na casa dos pais desse generoso jovem, num autêntico esconderijo, algures no mato. 

A heroicidade, o humanismo, a generosidade do então jovem são-tomense, Constantino Bragança  -  Que chegou alojar-me em sua casa para me defender as agressões colonialistas e a trocar a sua roupa com a minha para me ajudar a sair de casa, tendo um dia também sido agredido, ao pensarem que era eu que estava de lá a sair. 

Pelo facto de S. Tomé ser pequeno, isto não quer dizer que vá precisar de esmolas" - Declarações de um dirigente do MLSTP -  

Sem dúvida, era perfeitamente compreensível a explicação do Dr. Victor Correia, em declarações à revista Semana Ilustrada, de Luanda, da qual era seu correspondente

Infelizmente é quase do que vive: da dependência, quase total, das ajudas externas - Todavia, é bom não esquecer: Alcançou-se a liberdade, deram-se importantes passos  na irradiação do analfabetismo, houve significativas reformas na urbanização e turismo, alguma industrialização, se bem que ainda incipiente, combateu-se o índice mortalidade infantil, que no tempo colonial atingia dramaticamente todas as famílias, deu-se um grande salto no combate às doenças endémicas, houve realmente grandes progressos em múltiplos aspetos e sectores da vida, económica, politica e social de São Tomé e Príncipe - A população, quase triplicou e, e se tal aconteceu foi por alguma razão e, os filhos destas Ilhas, deixaram de ser colonizados, podem orgulhar-se de que têm uma pátria e uma bandeira

"O NACIONALISMO POLÍTICO SÃO-TOMENSE -


Sem dúvida, uma muito aprofundada e bem elaborada pesquisa e análise,  que, segundo ao autor,  "tem como finalidade  examinar diferentes vectores que sustentaram o nacionalismo desenvolvido, pelos são-tomenses, desde a queda da monarquia portuguesa (5 de Outubro de 1910) à data da independência  de São Tomé e Príncipe (12 de Julho de 1975" - 

A referida cronologia está inserida no capítulo dedicado â  "Associação Cívica Pró-Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe", ou seja, num conjunto de factos, relacionados com a  Revolução de Abril de 1974 - E começa assim: 

A 25 de Abril de 1974 (quinta-feira), um grupo de oficiais portugueses liderado pelo major Otelo Saraiva de Carvalho finalizou um pacifico golpe de Estado depondo o regime fascista que vigorava há quarenta anos. Tratou-se, sem dúvida, de um dos mais significativos feitos históricos dos militares lusos, que dessa forma puseram termo ao Estado Novo, marcado pela desigualdade económica, ausência de liberdade de reunião e de expressão, proibição de formações políticas, repressão policial, etc.

Em São Tomé e Príncipe, a queda da ditadura salazarista/ marcelista foi vivida com grande satisfação pela população nativa e também pelos democratas portugueses radicados nestas ilhas, logo que foram informados deste transcendente facto histórico político. Era governador de São Tomé e Príncipe o coronel João Cecílio Gonçalves 658, que regressara a São Tomé no dia 23 de Abril de 1974659, após viagem de trabalho às terras lusas 660.

João Cecílio Gonçalves decidiu pedir demissão do cargo de governador das ilhas de São Tomé e Príncipe, poucos dias depois da triunfante revolução militar portuguesa: 

«Foi com a maior surpresa que a população de S. Tomé e Príncipe, tornou conhecimento da imediata decisão do coronel João Cecílio Gonçalves, de se demitir de Governador desta Província, tanto mais que a continuidade da sua permanência já estava absolutamente assegurada pela Junta de Salvação Nacional, uma breve cerimónia de transmissão de poderes, a que apenas assistiram algumas entidades oficiais e pessoal do gabinete, jâ que a decisão foi repentina e não previamente anunciada, o coronel João Cecílio Gonçalves despediu-se com estas boas palavras à população, com as quais, simultaneamente, procurou justificar a sua resolução:

3º ano após a independência 
“Depois de recebida da Junta de Salvação Nacional a indicação de que continuava em exercício de funções, sábado passado, enviei hoje, às oito de manhã (dia 29) àquela Junta, o telegrama n.013 que assegurava a minha dedicada colaboração ao Movimento das Forças Armadas. Não estão pois de nenhum modo envolvidas na decisão que agora tomo, quaisquer impedimentos de consciência, nesta hora grave que a Nação atravessa, e em que precisa da colaboração de todos. Entendo porém, que a bem do interesse nacional, melhor será para a população de Província, que a nova forma de vida seja vincada de forma mais expressiva, pela saída de quem, anteriormente, tinha a função de governar.

Nestes termos faço a entrega do Governo da Província ao sr. Intendente Pinto de Souto, a quem desejo as maiores felicidades no seu desempenho. Despeço-me de todos com saudade, agradeço as horas magníficas que passei junto da população, que levo no coração, e desejo que o futuro traga as maiores felicidades que merece."
Foram, pois, nestes termos, breves e repletos de comoção, que o coronel Cecília Gonçalves, que ao longo de mais de dois anos tanto se interessou pelo progresso e bem estar destas duas Ilhas portuguesas do Golfo da Guiné e das suas gentes, se despediu.»661

Foram, pois, nestes termos, breves e repletos de comoção, que o coronel Cecílio Gonçalves, que ao longo de mais de dois anos tanto se interessou pelo progresso e bem estar destas duas Ilhas portuguesas do Golfo da Guiné e das suas gentes, se despediu.»661
Anote-se: tal demissão foi originada pelas divergências que ocorreram entre o governador João Cecílio Gonçalves e o comandante militar Ricardo Durão 662, que foi convidado pelo general António Spínola a desempenhar outras funções na capital portuguesa.

Os factos que tiveram lugar em São Tomé e Príncipe nos primeiros dias após o golpe militar dos capitães de Abril foram revelados pelo correspondente da Revista Semana Ilustrada, Jorge Trabulo Marques, jornalista português radicado há bastante tempo neste arquipélago  - (atrás referidos)
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