expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

sábado, 28 de outubro de 2023

Chãs- aldeia e meus amados penhascos de granito – Peregrino me confesso pelas terras saudosas das minhas mais profundas raízes

 

   Jorge Trabulo Marques - Peregrino-da-Luz

Chãs- Nos arredores da minha aldeia venerando o Altíssimo

com os pés descalços nos meus saudosos penhascos de granito – Sim, peregrino me confesso pelo musgo das queridas pedras

das minhas mais longínquas, puras e ancestrais raízes

Sob um céu de cinza e chuvoso, abandonei hoje o bulício da cidade

Vindo de novo peregrinar e abraçar meus amados penhascos

À hora que escrevo estas linhas, lá fora há frio e cerração de trevas

Mas no silêncio do interior do rés-do-chão da minha casa,

interiorizado na mais completa espiritual intimidade

e sob o teto escuro dos mais altos e longínquos céus

sinto-me tranquilo, no mais absoluto repouso

longe do confuso ruido mediático conspurcado

ouvindo  calorosos e divinos coros sagrados

  



quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Centro Cultural Português em São Tomé - Onde expus em Julho 2015 que recordo – Foi hoje, pelas 17 horas, palco da abertura da VI Edição do Festival de Literatura de S. Tomé e Príncipe .

Jorge Trabulo Marques - Imagens da minha exposição em Julho de 2015 

 Neste evento da VI Edição do Festival, que hoje teve a sua abertura, é referido pelo jornal Téla Nón, que, para além do diálogo e convívio entre escritores na sessão de abertura, é proporcionada "a oportunidade de se poder assistir a peças de teatro, um espetáculo de dança contemporânea, obras cinematográficas da lusofonia e, participar em workshops de dança e teatro"

Referindo que o Festival de Literatura de São Tomé é organizado pelo Centro Cultural Português, em parceria com o Arte Institute, a União Nacional de Escritores de São Tomé e o Espaço Cacau, com o apoio do Grupo Pestana e do BISTP.

Recordo algumas imagens da minha exposição “Sobreviver no Mar dos Tornados, 38 dias à Deriva Numa Piroga” – “Experiência de vida única” que é “também a demonstração do querer humano sobre as adversidades” “davam um filme” – Palavras de Olinto Daio”, do então Ministro Educação, Cultura e Ciência,




Nestes últimos três dias, revivi tantas emoções, sim,  ao confrontar-me com as imagens das minhas aventuras, narrando alguns dos episódios, não só às várias personalidades, que me honraram com a sua presença, como também às muitas pessoas anónimas que me distinguiram com as suas palavras amigas, que outra expressão não me ocorre, senão a de começar por expressar  um profundo agradecimentos  a todos.

Passagens  do meu Diário gravado num pequeno gravador que foi preservado com a máquina fotográfica no interior de um caixote do lixo  contentor vulgar de plástico


Na verdade, há momentos que, por tão tormentosos e solitários na vasta imensidão oceânica,  são verdadeiras eternidades – Que o digam todos aqueles que passaram pela dramática e dificílima situação de náufragos. Outros, nunca o terão podido expressar, visto terem ficado sepultados para sempre no silêncio eterno do fundo dos  abismos submarinos. Pessoalmente, quis Deus ou o destino que fosse um dos  sobreviventes, de entre os milhares de vitimas, que, por esta ou por aquela razão,  anualmente, são tragados pela voragem dos oceanos e  pudesse transmitir o testemunho daquilo  que o engenho, a força de vontade e o querer humano, poderão lograr, face às maiores provações.



segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Odisseia em piroga no Golfo da Guiné - 23-10-1975 - Passei uma noite dificílima! tirando água permanentemente desta embarcação, que já não é uma canoa!... É uma banheira!...

Tenho a sensação de que não pertenço ao mundo donde vim: reconheço-me um excluído, um inútil - talvez o único elo . em que nele me reveja, seja  apenas o sentimento dos que sofrem a desesperança de nada terem. 

 

Jorge Trabulo Marques  - Já me referi a esta minha aventura marítima em postagens anteriores, neste blogue, nomeadamente em Novembro de 2019 -https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/34-dia-perdido-no-golfo-da-guine-nao.html Pelo que, é meu propósito, apenas reportar-me a todo o meu diário num livro que espero - o desejo desde há varios anos - vir a editar  - Pois, sendo jornalista,  não quero servir-me deste espaço, unicamente para uso da minha vida pessoal . Eu resisti e estou vivo, graças a Deus. Mas, nos dias que correm, há muita gente que está vivendo uma odisseia pior de que a minha. Poderei vir a editar mais alguns textos sobre esta minha dramática experiência mas não com carácter regular. Meu Bem-haja pela sua atenção. 

Manhã parda e brumosa. Aguaceiros a pairar por tudo quanto é vastidão... O céu um espesso manto acinzentado!.. 
A incerteza a ganhar foros de domínio sobre a esperança. E a angústia a minar-me à alma.  Momento grave .De profundo vazio. Em que até o próprio Universo se me afigura morto, decompondo-se das suas formas, ante os poderes supremos dos elementos destruidores. 

Mais uma noite que não me dera descanso: chuva e vento. Praticamente desde que as trevas cobriram o mar. 


Procurei proteger-me com uma capa e uns plásticos, mas de pouco me serviu. A água caia-me de todos os lados. Se não era a que vinha do alto, era a que a franja das vagas se fazia saltar a cada instante. Depressa a canoa se transformou num autêntico charco. 


E então que dizer de mim?...Foi horrível!  Uma vez mais uma noite angustiante e horrível!  Aliás, as palavras que verti para o meu diário gravado,  não o desmentem. 

Diário - É já manhã do terceiro dia que me encontro sozinho, neste vasto Golfo da Guiné. 

Só vejo céu e mar!...Este mar escuro! De um azul profundo, escuro! Mais nada!...De vez em quando uma ou outra ave na procura de algum peixe. 

Passei uma noite dificílima! tirando agua permanentemente desta embarcação, que já não é uma canoa!... É uma banheira!...


Água por todos os lados! Estou completamente molhado. Encontro-me náufrago! Não tenho domínio na minha canoa! Perdi o leme. Algumas coisas também...  Até agora tenho mantido a serenidade, tenho-me quedado num autêntico mutismo...Não tenho dito palavras nenhumas, mas ao mesmo tempo tenho a sensação de que tudo aqui tem vida!...E que falo...Falo com tudo o que me rodeia na minha canoa. . . Todas as coisas que aqui tenho, tem formas de gente! de pessoas...Mas não falo.. 

 À força de contemplar o que me rodeava e os parcos objectos que me restavam na canoa, parecia-me encontrar em cada um deles um certo carácter, algo muito humano, uma certa fisionomia ou cumplicidade com o meu sofrimento. 

 Imagem da minha largada das Neves para a Baía Ana Chaves, S.Tomé - Sabia que me ia expor a enormes riscos   - e já os tinha vivido em anteriores travessias de S. Tomé ao Principe e de S. Tomé à Nigéria - mas estes pareciam-me prolongar-se por eternidades  

À força de contemplar o que me rodeava e os parcos objectos que me restavam na canoa, parecia-me encontrar em cada um deles um certo carácter, algo muito humano, uma certa fisionomia ou cumplicidade com o meu sofrimento. 

E,  às vezes, era tal a empatia que me dava vontade de me abrir ao meu silêncio e desabafar o que me ia na alma.  Na realidade, nada ali podia ter formas humanas, naquele deserto unicamente povoado de mar; o que eu desabafava para o meu gravador era tão só o excesso do meu silêncio: em que interiormente me escudava e da erma e estranha paisagem em torno de mim.

Diário - "Há um silêncio ameaçador!...Umas vezes há um silêncio. . .Outras vezes há vozes…que eu ouço não sei donde! . . .Nesta imensidão que existe em meu redor!...0 mar. o azul e o céu! 

Mas por que é que estou aqui?...  Afinal, porque?... Aqui?.. Afinal porque?... 

 Eu já não sei porque!... Por que o destino quis?!... Por que eu quis?!...Não sei...Há de ser o que o destino  quiser!...

 Sim, sentia-me demasiado insignificante perante tamanha grandeza, e, por isso desprovido dos meios mais elementares para a poder vencer, via-me assim como que entregue  às  mãos de um destino incerto.  Pois que segurança, que tranquilidade me poderia oferecer um simples pau escavado atirado para ali de qualquer modo à brutalidade das ondas?... Nenhuma. Absolutamente nenhuma. 

Respostas para todas as minhas dúvidas, por enquanto, ainda as não tinha. 

Entender a razão na sua amplitude real, porque ali me encontrava perdido, porque tao repentinamente me havia transformado naquela miséria ,eu que deixara a linda Ilha de São Tome, com tanta confiança, para já era ainda muito cedo para responder a tantas interrogações. Digamos, tudo se afigurava muito nubloso para o espírito. 

A surpresa fora demasiado grande. Além disso, assaltava-me, a todo o momento, aquilo a que vulgarmente os marinheiros chamam a angústia do material. A angústia e o receio de que a minha canoa não resistisse aos constantes embates das águas.

 E, se por um lado, subsistiam tais inquietações, quanto a fragilidade da minha embarcação ,por outro - e este talvez o pior aspeto - era a sensação de impotência para a Governar, ante aquele mar bravio. 

Até a chuva .A própria chuva não parava. 

 Aliás, estava-se no tempo dela: um período que naquelas latitudes se prolonga por nove meses. E em que os tao conhecidos tornados se podem desencadear a qualquer momento.

 De resto, naqueles mares equatoriais, o tempo e mesmo assim: chuvadas, tornados, calmarias entrecortadas com tempestades ou agueceiros. Dificilmente, passa um dia, que não se verifiquem as condições atmosféricas mais bruscas e variáveis. 

A canoa ia, por isso, transformada num charco. 

Primeiro, fora a chuva diluviana da noite tempestuosa, que não parara no dia seguinte, nem na noite que lhe sucedeu. Agora, ao terceiro dia, tanto de manhã, como durante a tarde, era praticamente à copia fiel de um tempo agitado e cinzento que não me dava um minuto de descanso. 

Por isso, os banhos inoportunos por sobre a minha roupa, por sobre o meu corpo, eram uma constante, que fisicamente me desgastavam e, em consequência, me causavam um permanente mal-estar, as vezes muito próximo do desanimo. 

Que imagem, então a minha, meu Deus!...E como todas as minhas coisas andavam por ali mo deus dará, sobre o fundo daquele tronco escavado! ...É donde até exalava um cheiro  fétido devido a frutos já apodrecidos e a odores do meu corpo Que, por causa da humidade e da água salgada, se ia cobrindo de chagas nalgumas partes. 

Ah!...Não o esqueço!...Não esqueço tais horas! 

Dário – “Na minha canoa reina o caos...eu sou o caos!  Não sou ninguém, não sou nada! ...Absolutamente nada!...E,como tal não me devo preocupar com coisa alguma... 

Vejo apenas uma imensidão de água! Uma vastidão de oceano…Vejo toda esta força quase que a tentar tragar-me, engolir-me! No entanto, este nada! este ninguém! mantém-se aqui nesta fragilidade!.. Que ameaça ser engolida todo o momento!..


A ameaça não se consumava e ambos, eu e a minha canoa, 1á íamos resistindo.  Umas vezes talvez por piedade do mar ,mas outras não... Era o instante... A centelha a brilhar-=me no fundo da minha alma, apontar-me uma réstia de esperança.

  Como tudo pode mudar num brevíssimo instante!...

 Como a fraqueza de um momento incerto se pode transformar em poderosa defesa. 

Oscilando da súbita fragilidade à firme solidez. 

 Sim. Sinto-me fraco e forte. Falo no vazio. Num misto de plenitude de vazio. Na pobreza e na abundância de mim.  Pelo meu olhar irradio, absorto, dilatado até  à amplidão, à  infinitude dos espaços, perpassam, em catadupa, imagens  de vertigem e destruição. 

Sei que bastaria uma vaga, uma única vaga mais furtiva - e eu estou sempre, sempre, à mercê dessa vaga - e seria o fim num abrir e fechar de olhos, desapareceria. 

Sim, tenho a absoluta certeza de que imediatamente seria tragado na sua sempre agitada amalgama, dissolvido pelo nada. 

Sinto que o mundo já não e o mesmo .Nem o céu que nunca como agora me pareceu tão   vazio. Nem mesmo o próprio ar que respiro, que, por tão carregado de humidade e daquele trago acre de sal, me dilata as narinas, entra-me em lufadas pela garganta, enche-me o peito, mas quase me sufoca 

Entretanto, vivo. É  o que importa! 

Sou triste e glorioso no meu infinito abandono. 

Tenho a sensação de que não pertenço ao mundo donde vim: reconheço-me um excluído, um inútil - talvez o único elo . em que nele me reveja, seja  apenas o sentimento dos que sofrem a desesperança de nada terem. 

E esses são aos milhares. Estendem-se, talvez, por muitos milhões pelo mundo inteiro. 

 Penso neles, obviamente. Vivo a meias com e incerteza, com a angústia e com o sofrimento, tal como todos quantos, vivem no mais absoluto desprezo e abandono.

Por isso, nesta viagem errante, ao sobrepor-me a dança louca das vagas, o meu pensamento não podia senão distanciar-se ainda mais de mim e aproximar-me, naturalmente, e todos os aflitos, de todos os abandonados ou perdidos pela mesma desgraça e infortúnio - porventura, também num reforço de auto-convencimento de que, apesar da gravidade do momento, nem tudo estivesse perdido. 

 Diário - Náufragos!!...Se esta  gravação um dia for escutada, mantende à calma!.. Nunca desmoralizai!,... Nunca  percais a confiança.

Palavras breves, mas muito sentidas e prenhes de significado, que registei para o gravador, pouco mais ou menos a meio da tarde.  De um dia que, embora pesado e batido de chuva e vento, lá se ia arrastando, hora atras de hora, com um mar sempre muito solto e cavado. 

 E, pelos vistos, sempre a piorar. Pois, se a manha fora de aguaceiros, com uma chuva miudinha, mas persistente, a tarde hão se perspectivava melhor. Sim, antes crescia em abandono: 

Diário -  "Não ouço nada!...Não vejo nada! Agora nem uma ave sequer!..” 

Nenhuma voz me acalentava a esperança,  De vez em quando, levantava a cabeça e lançava uma olhadela rápida e desconfiada a toda a volta de mim, com a sensação de que alguém me chamava. Mas não: eram apenas vozes do próprio soar do mar - algo que, por vezes, se assemelhava a uma espécie de vagos vagidos humanos, mas que afinal nenhuma relação se poderia estabelecer com qualquer tipo de vozes ou sons que viessem dos confins do horizonte.

Na verdade o que eu ouvia era o eco mais vibrátil da minha imaginação exacerbada. Pois nada que se assemelhasse a terra estaria ali, com certeza, perto de mim. 

Naquele vasto descampado, agitado e vazio, o único elo que possivelmente poderia estabelecer só se fosse com a voz de Deus. 

E, no fundo de mim, era ate isso que eu buscava  O supremo instante. O apelo do absoluto. |.

Diário - “Eu não sou um crente, mas...tenho a convicção que deve haver qualquer forca misteriosa, qualquer forca sobrenatural que nos protege!...Pois, quando não, esta água, esta imensidão  do oceano, já me tinha tragado!!...Porque as ondas são alterosas!! Sao altas!!...E eu sinto-me aqui perdido no meio delas! 

 O mar continua a ameaçar engolir-me! mas não o faz não sei porque!...Porque eu não sou nada! Já não sou ninguém!...Não sou absolutamente ninguém 

Andam aqui tubarões a volta dá canoa...que andarão eles a fazer?! ...Que querem eles?!... 

Vultos enormes, escuros, compridos e com formas bem definidas, movimentavam-se sem parança, por baixo, dos lados e a roda da canoa. Eram os temíveis tubarões com a sua barbatana dorsal a  rasgar, como uma permanente ameaça a superfície das águas. 

Já me eram familiares de outras viagens; no entanto, devido às  condições em que ali me encontrava, de modo algum os achava bem-vindos!...E a sua curiosidade intrigava-me. E então com aquele mar!... 

“Diário – O  mar cada vez esta mais agitado, mais cavado, mais alto!...Eu continuo a olhar o horizonte...  O céu carregado, sombrio...cheio de nuvens!  Quando a almejada terra?!...Quando um barco salvador?!...É o terceiro dia...Até quando continuarei assim!...  Não estou desesperado! ...Estou saturado deste caos! 

Ah! que insegurança eu sinto!...Sinto uma insegurança muito grande! ...Sinto que de um momento para o outro... 

Mas talvez as forcas sobrenaturais me mantenham aqui...  Não sei .se esta gravação será escutada!...Gostaria de deixar aqui uma palavra amiga a todos quantos me ajudaram acreditaram em mim...porem o destino e a sorte não quis...” 

Mais um dia no fim. O Sol desce no ocaso.

Tarde de cinza  Mar estanhado!...Canoa minúscula!..

  E como sou grande, afinal!... 

Afinal, quisera a minha sorte ou meu destino, soltar-me de todas as amarras da vida vulgar.  E lançar-me ao sabor das aguas e do vento!...  Que melhor cenário que este para me encontrar a sós com o infinito poder de Deus?!... 

Sim, no fundo a vida e realmente um mistério!  Um mistério que nos liga ao Criador.    E. então, com aquele mar?!...

 


domingo, 22 de outubro de 2023

Algures no Golfo da Guiné... - 22-10-1975 - 2º dia à deriva numa canoa...Não sei para onde vou. . . Impossível pedir qualquer socorro!...Eu neste momento sou um náufrago..! Só me resta contar com a sorte... Ou com à Providencia Divina!


  

Jorge Trabulo Marques - Navegador solitário nas canoas de S. Tomé: 1ªde S. Tomé ao Príncipe - 3 dias;2ª  de S. Tomé à Nigéria 13; 3ª De Ano Bom a Bioko 38 dias, além da capital  a Anambô, o primeiro teste  - Este é o segundo dia do meu drama marítimo, vivido há 48 anos, com mais 36 dias ainda pela frente  - Aqui lhe recordo com passagens do meu diário gravado e de algumas imagens da modesta máquina fotográfica que pude guardar no interior de um vulgar caixote do lixo - de plástico.                                              


Algures perdido no imenso Golfo da Guiné... - 22-10-1975 - 2º dia dos 38 a percorrer à deriva numa canoa...Não sei para onde vou. . . Impossível pedir qualquer socorro!...Eu neste momento sou um náufrago..! Só me resta contar com a sorte... Ou com à Providencia Divina! - Vou ao sabor das tempestades ou das calmarias. Seja nas mais cerradas trevas da noite ou da mais escaldante luz equatorial do dia . Ladeado pela barbatana em riste da presença de constantes tubarões e à flor da superfície de um tumultuoso e abissal sorvedouro sem margens a perder-se-me de vista pelo diluído círculo em meu redor

Vou para onde à canoa quiser. Isto é, vou para onde o mar e os ventos me levarem...” -Todavia, cruzar os braços, isso nunca!.. Sim, porque a esperança, para mim, seria a última coisa a morrer.

Diário "Encontro-me neste momento, algures... pelo imenso Golfo da Guiné...Não tenho leme para orientar a minha canoa no meio de um mar agitado, bastante ameaçador!". - Sim, do leme que lhe adaptei na popa, que saltara com a vaga que invadira a canoa na tempestade e também desprovido do único remo que trazia a bordo e, navegar com o remo que improvisei, é muito difícil e penoso.

"Não sei para onde vou... Possivelmente para o Gabão... Pois, para S. Tomé, não vejo qualquer hipótese...

"Governar um canoa sem remo (perdi-o na noite da tempestade) Estou à mercê de todas as contingências... Espero, todavia, chegar à lugar seguro.

Esperar!...Sim, esperar!...Restava-me saber esperar!... Ah! e saber esperar, numa incerteza tao grande, quão difícil me era, meu Deus!... " -

Mesmo assim, estas as palavras possíveis, no meu diário gravado (protegido num contentor de plástico, igual aos do lixo com a máquina fotográfica) depois de uma noite bem longa e tormentosa e de uma manhã e parte da tarde, não menos agitadas, chuvosas e sombrias.

Embora já um pouco recomposto daquelas horas dramáticas da noite da tempestade, sentia-me, no entanto, numa espécie de profundo abandono, de algum torpor, se bem que enlevado num misto de serenidade, de fé e de confiança.

Deitado no fundo da canoa, com o dia quase a finar-se, o sol a espalhar alguns raios de ouro sobre o azul escuro das águas, calma e pausadamente, por fim, lá ganhei então mais coragem, desprendendo-me do profundo silêncio e mutismo, em que vinha, a que me remetera, e comecei então por falar para o pequeno gravador, umas escassas palavras, que , de ora avante , me iria servir de mudo confidente ao longo das boas e mais horas.

E, para trás, ficavam, pois, momentos bem difíceis, de que eu não me esqueceria de recordar.

Diário " -Ao fim de doze horas de bom velejamento, acontece o mau tempo!... Surge um tornado!... Tenho necessidade de fazer algumas manobras melindrosas. ...Nesse entretempo perco o leme ... E a partir daí fico completamente a deriva!....No meio de um mar agitadíssimo!...

Pensei a todo o momento que à canoa se voltaria, que eu já não tinha qualquer hipótese de salvação!... Mas eu não perdi à calma!... Não perdi à esperança e fui remediando à situação da maneira que me era possível… De imediato procurei arranjar um pequeno salva-vidas, construído com umas travessas de madeira, que retirei do fundo da canoa, e um colchão pneumático.

Eu sabia que isso não me chegava, mas a canoa, voltada, também não me oferecia quaisquer condições de salvação...

Foi uma noite ventosa, pesada e muito triste...

Apesar disso, da situação ser muito dura e melindrosa, nem um murmúrio. . .nem uma palavra balbuciei!… Mantive à serenidade!...

E aqui me encontro, já ao fim da tarde deste dia, depois de um dia...vagueando à deriva... vagueando sem rumo!"

Impossível parar, voltar para trás ou pedir qualquer socorro. Comunicar com um barco, com um porto, com o mundo exterior, só se fosse em pensamento: quanto muito, podia ouvir qualquer estacão de rádio, de S. Tomé ou de um país da vizinha costa africana, através de um modesto transístor de pilhas - mas tal possibilidade, de momento, era coisa em que nem sequer pensava.

E, afinal, para quê ouvir vozes de um mundo do qual, de algum modo, me julgava já não pertencer!...Na verdade, era ainda muito cedo para ganhar tal disposição.

Todavia, cruzar os braços, isso nunca, era coisa à que não me rendia. Sim, porque a esperança, para mim, seria a última coisa a morrer.

Diário - "Fiz aqui uma serie de improvisações para tentar remediar a situação, mas de maneira alguma chegam para colmatar a falta do leme. Eu sem leme (que lhe adaptei sem remo) não posso navegar, não posso velejar, não posso dar rumo à canoa. Ando aqui ao sabor dos ventos!...Ao sabor das correntes!

Não vejo absolutamente ninguém em meu redor… Só vejo mar! Um mar profundo, azul! Um azul escuro!

O céu mais ou menos descoberto, com algumas partes muito nublado… Há um silêncio!...Apenas se ouve o murmúrio das vagas...

Parece-me que tal...que tais impressões apenas se podem ouvir, se podem aperceber numa situação como à minha…

Eu neste momento sou um náufrago! Um autêntico náufrago!... Já não tenho domínio de mim...Vou para onde à canoa quiser...Isto é, vou para onde o mar e os ventos me levarem...”

A canoa "São Tome - Yon Gato" - nome em homenagem a um dos primeiros heróis da resistência colonial) a bem dizer, era mais um madeiro ou destroço como os demais que de vez em aquando avistava à superfície das vagas. O seu curso era agora simplesmente o dos ventos e das correntes. É nesse incerto rumo, nessa dolorosa espera… Só me restava contar com à sorte... Ou com à Providencia Divina.

Não sabia onde estava. Tinha à sensação de estar ali e ao mesmo tempo em parte alguma.... Longe do mundo a que pertencia, mas, tal existência, já não passava de um mero exercício de imaginação.

Era, pois, um náufrago, e eu já me apercebera disso. Claramente, nitidamente.... Tinha a perfeita consciência do meu grande abandono.

Diário - O mar ameaça a cada momento tragar à minha canoa! Todavia, eu mantenho a minha serenidade!....Eu acho que um náufrago… deve, acima de tudo, nunca perder as esperanças!

Eu fiz tudo que pude e tinha de fazer, sem me precipitar… A situação tem sido muito melindrosa, bastante. Oxalá eu chegue à bom destino. . .

O vento começa a soprar agora com mais intensidade... ouve-se o murmúrio das vagas... há um silêncio... Uma solidão!... Apenas entrecortada pelo marulhar das vagas.  

São os elementos da natureza em fúria... O vento…O mar!...

Sinto ao mesmo tempo uma sensação de abandono, de esquecimento!... Ninguém sabe onde estou... Talvez todos me julguem à caminho do Brasil... Mas eu estou aqui perdido neste vasto Golfo da Guiné… Perdido!... Entregue ao meu próprio destino!...

Se a canoa se virar, ninguém me pode valer. . . Ninguém!

Os tubarões de vez em quando volteiam em meu redor…

Esta canoa não se apresenta muito bem concebida; além de deixar entrar a água, não tem estabilidade nenhuma… Eu se tentasse à travessia com esta canoa, estou certo que não chegaria ao fim!... Balanceia bastante!... Pelos vistos em questões de canoa, desta vez tive pouca sorte.

Espero que esta gravação um dia venha à ser ouvida… Espero que sim... .Espero.. Tenho muita esperança...

Não sei o que mais dizer... Estou aqui, dentro de um espaço estreitíssimo, todo em desordem… Onde se respira uma autêntica anarquia… Onde há odores até desagradáveis devido a restos de comida que se espalharam... (e até das necessidades que não pude verter borda fora) .... E há um contraste!.... Entre o espaço que me limita e o espaço que me rodeia... Um verdadeiro contraste!..."

 


sábado, 21 de outubro de 2023

Odisseia nos mares do Golfo da Guiné - Tempestade assombrosa! - Neste dia, à noite, em 21-10-1975, depois de largar da Ilha de Ano Bom, estava eu, sozinho, enfrentando uma violenta tempestade, a bordo de uma piroga


De repente o mau tempo piorava. O vento começava a soprar furiosamente e o céu e o mar, de tão escuros, formavam um só corpo.. Tumultuoso e sombrio! – Penso que me salvei por milagre. Tinha pela frente 38 longos dias até acostar na Ilha de Bioko, Guiné Equatorial. Revivo hoje essa longa e tormentosa noite com os meus olhos toldados de lágrimas.

Canoa ao mar! Canoa ao mar!... Escapa-te daqui o mais depressa que puderes, senão te roubam!!" Este o último grito do comandante
"Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco” - Estas a palavras que escutei de alguns tripulantes – Mas eu optei por recusar o convite do comandante do pesqueiro, de ficar a bordo a trabalhar e lançar-me na aventura, pois era este o meu propósito quando, em S. Tomé, se comprometeu a largar-me a sul da Ilha de ano Bom na corrente equatorial, através da qual poderia tomar o rumo em direção ao Brasil pela rota dos escravos .
Optei pelo regresso a S. Tomé pelo braço da chamada corrente de Benguela, que, naquela zona do Golfo da Guiné, se subdivide: um dos braços volve a Oeste e outro mantém a mesma direção a Norte
Após ter sido largado na Ilha de Ano Bom, a 180 Km a sul de S. Tomé, pelo pesqueiro Hornet e depois de uma manhã e uma tarde de excelente navegação à vela, de ventos de popa e correntes, eis que sou surpreendido por uma violenta tempestade tropical, que começara a formar-se a sul
Naquele meu primeiro dia, eu apenas me preocupava com as duas pequenas canoas, que, mal viram arrear a minha canoa do pesqueiro, não mais largaram de me perseguir, cada uma ostentado, de quando em quando, uma zagaia, pronta a furar-me e a furtarem-me os mantimentos, visto, naquela altura, a ilha estar quase votada ao esquecimento pelo regime ditatorial de Francisco Macias e apenas dispor uma ligação por ano
Tanto assim, que, quando o barco fundeou ao largo, muitos dos pescadores treparam até ao convés, não apenas para venderem frutos da terra, como para pedir medicamentos, roupas e implorar outros auxílios. Naquele grupo de desesperados, havia um único europeu, um sacerdote, que também para ali foi transportado num pequeno bote para pedir alguns apoios
Eu, pessoalmente, troquei algumas latas de conservas por cocos e bananas, que muito jeito me haveriam de dar nos primeiros dias de naufrágio.
E LÁ IA SOZINHO ORIENTADO PELOS ASTROS
Porém, com o céu a norte, coroado por um azul celeste noturno, completamente limpo e estrelado, eu apenas me fixava numa das estrelas, que era aquela que deveria seguir pelo indicado pela agulha de uma simples bússola, tomando esse rumo, não me preocupando muito com as ameaças que viriam a surpreender-me, quando um enorme vagalhão me fez saltar o tosco leme , que adaptei à popa da canoa, a invadiu e só não a virou, porque, imediatamente corri pela canoa fora para arrear as velas dos dois toscos mastros e os colocar de través de modo a evitar que se pudesse voltar. Ao mesmo tempo, que lancei dois bidões de água potável borda fora, assim como a maior parte dos alimentos para que, a canoa, depois invadida por um enorme vaga, não se afundasse.
NOITE SOMBRIA E TUMULTUOSA
Relâmpagos rasgavam fulgurantemente o negrume da noite e, com o ressoar dos trovões, davam ao ambiente um aspeto verdadeiramente sinistro e ameaçador.
Súbita e inesperadamente achei-me envolvido por um autêntico sorvedouro, indescritível! Cristas brancas rebentavam em todas as direções.
De facto, a ameaça era bem visível para qualquer ponto que volvesse o olhar. O pronúncio de que algo me estava reservado desenhava-se, sucessivamente, com estranha nitidez. E não tardou. que a fúria do vento, aos clarões dos relâmpagos, ao estrepito dos trovões, sucedesse a chuva: uma chuva verdadeiramente diluviana, crepitando em grossas torrentes à minha volta, enquanto o mar avançava, não parava de avançar, vindo em vagas alterosas, vagas enormes, que se elevavam, como vultos negros, vindo em direção da minha frágil embarcação, desfazendo-se, por vezes, em névoas de espuma, ou vergastando-a, sacudindo-a, atirando-a, furtiva e violentamente de um lado para o outro.
Meu Deus! Quem me visse, que imagem mais medonha e triste!
Ia num completo pingão, ensopado em agua das chuvas e em agua do mar!
Vista toldada pela que me era atirada à cara ou me escorria pelos cabelos, lá ia, no entanto, desafiando o desconhecido, firmando-me, obstinadamente, à pequena vara do leme, tentando o impossível: Navegar, navegar, na esperança - mas oh . vã esperança! - de que, à custa da velocidade imprimida pela vela à todo o pano, pudesse vencer os vultos e continuar a sobrepor-me aos tumultuosos remoinhos que se agitavam furiosamente em torno de mim.
Chuva. Mar! Negridão!!...
Frágil, solta, como uma ave louca, subindo e descendo, a ondulante paisagem negra e liquida, a canoa la se ia comportando, mais parecendo voar, voar, do que rendida a uma vela, sulcando as águas, e navegar.
Porem, já num voo demasiado louco, vertiginoso, para manter, por muito tempo, o impacto à mesma bravura, ante o choque, afrontoso, e o galopar das vagas.
Ameaçava, pois, adornar.
E se ela dava sinais de alguma fraqueza, o meu cérebro ainda muito mais vacilava. Sentia-me invadir por uma espécie de vertigem mortal, tal à atração que todos aqueles remoinhos e trevas em movimento exerciam sobre mim.
Por baixo, era o abismo sem fundo.
Na verdade, eu não pensava nisso, nem em todos os perigos em derredor. Ia demasiado preso ao andamento imposto pelo vento.
E foi pena que não tivesse obedecido ao instinto e, contrariamente, me deixasse levar pela vertigem, pela cegueira. No mar as imprudências pagam-se caras. E à coragem - tal como alguém escreveu - "não e uma loucura; é uma tenacidade refletida."
Mas, por causa do meu grande desapontamento com o pesqueiro que não me largara na corrente equatorial, e, assim, com à pressa de chegar a São Tomé e tentar nova sorte, descurei um cuidado fundamental: mal o vento começou à soprar e o tempo piorou, nessa altura, devia ter substituído à vela grande, com que navegava, pôr uma mais pequenina, a chamada vela de tempo, e pôr-me ao leme de capa, como costuma dizer-se em gíria marítima.
Agora era já demasiado tarde. Quando um enorme vagalhão à encheu de agua ( que só por milagre não me varreu no seu torvelinho ), eu abandonei à cana do leme e corri para enrolar ao mastro, sim ,nessa altura, só não se voltou, totalmente, porque a minha estrelinha, la no céu, no céu donde não vinha uma réstia de luz, mesmo assim terá assomado por entre a escuridão e a opacidade das trevas e não me abandonado à fúria dos elementos
Nesse momento, o leme saltou e à canoa ficou atravessada à vaga.
Vendo claramente o perigo em que me encontrava, nem um instante perdi.
Com à energia que o desespero ou o espírito de salvação poderão dar, não só não enrolei a vela ao tosco mastro (um dos paus cortados no mato ).,.como imediatamente o amarrei, transversalmente, sobre à canoa, por forma à garantir-lhe algum equilíbrio.
Nesse entretempo, bidões de água, viveres, parte das coisas perderam-se e algumas também foram lançadas ao mar, por recear que, com o seu peso, quando o interior se transformou numa autentica banheira balançante ,as ondas a adornassem definitivamente.
Escusado seria dizer que, por entre tantas ameaças, não continuaria a lutar ou que ficaria inativo: nessa altura, já o meu cérebro trabalhava a cem por cento e o espírito de engenho, de improvisação, funcionava em pleno.
Apesar da escuridão, da pavorosa agitação que parecia envolver-me, tragar-me, em suma - engolir-me, dissolver-me no meio daquele escarcéu, não cruzei os braços, não me rendi a tão assustadora evidencia: fiz muitas. coisas: por exemplo, para alem de balanceiros, feitos com o mastro e dois barrotes que arranquei da cobertura lateral, larguei um dos bidões de plástico, amarrado à uma corda, para funcionar como uma espécie de ancora flutuante. Qualquer marinheiro sabe em que circunstancias deve ser largada e qual à sua função
Todavia, a noite não foi fácil. Não foi nada fácil, meu Deus! E que longa, longa, torrentosa e cheia de ameaças e de incertezas não foi uma tal noitel!l...
No dia seguinte, ao alvorecer, improvisaria ainda um remo, valendo-me igualmente de alguns bocados da cobertura .
Mas de pouco me iria à ajudar: navegava com ele algumas horas mas depois, devido ao enorme esforço, cansava-me e acabava por ficar de novo atravessada à vaga.
A bem dizer, estava irremediavelmente condenado à vogar à deriva, sujeitando-me, por isso, aos constantes choques do mar
Rolando, rolando, como um madeiro .Rolando nas trevas da noite, ou sob o sol abrasador do Is. E foi esse o meu destino nos 38 longos e difíceis dias que se sucederam.
Da situação que passei a viver, penso que poderão falar as palavras que registei para o meu diário de bordo — um pequeno gravador que felizmente consegui preservar no interior do meu baú - o caixote de plástico. E é com base na transcrição em muitos desses comoventes excertos com que agora volto como que à empreender essa minha inesquecível aventura até acostar no dia 27 de Dezembro, no recanto da costa da costa de BoKoKo. na Ilha de Bioko, Guiné Equatorial, onde começaria outra aventura, numa das prisões mais famigeradas de África e talvez do mundo.


ANO-BOM — a ilha mais pequena, mais isolada e mais meridional do Golfo da Guiné.Oficialmente chamada Annobón, faz parte da República da Guiné

Equatorial. Localiza-se no Golfo da Guiné, 100 milhas náuticas (186 km) a sul da Ilha de São Tomé e a 190 milhas náuticas (350 km) da costa do Gabão. A ilha tem 17,5 km² e pouco mais de 5.000 habitantes. A sua capital é San Antonio de Palé (em português Santo António da Praia).

Ano-Bom foi descoberta pela frota do navegador português Fernando Pó (ou Fernão do Pó) no 1.º de janeiro de 1472. Devido ao dia, foi-lhe dado o nome de Ano-Bom como sinónimo de ano novo. Ficou sob domínio português até 1778, quando se tornou uma possessão espanhola, em conjunto com outros territórios do Golfo da Guiné, por troca com territórios na América do Sul.

Em 1968 a Guiné Espanhola tornou-se independente sob o nome de Guiné Equatorial. Durante a ditadura de Macías Nguema a ilha de Ano-Bom foi por algum tempo chamada Pagalú.

A Ilha de Ano-Bom foi povoada principalmente por angolanos, santomenses e portugueses. Devido a essa herança, a língua mais falada na ilha é um crioulo português chamado fá d'Ambô ("fala de Ano-Bom"). No entanto, o idioma espanhol é a língua oficial da administração pública e ensino, tal como no resto do país. Com a adesão da Guiné Equatorial à CPLP, a língua portuguesa ganhou também um estatuto oficial. Contudo, a principal ligação do país à lusofonia é o crioulo de base lexical portuguesa falado na ilha de Ano-Bom.