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sexta-feira, 30 de junho de 2023

Entrevista ao Marechal Francisco Costa Gomes – Nasceu em Chaves 30-06-1914 - - O Presidente Português obreiro da democracia e pacifista : declarou-me que mais de metade dos cientistas do Mundo estão ocupados em meios de combate em vez de se empenharem com “os problemas da fome, do analfabetismo, do meio-ambiente e da saúde

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista  - Desde 1970  - A Honra e o Prazer de ter entrevistado em sua casa um Homem Valoroso, Generoso e Pacífico - Registo sonoro  dividido em dois videos - Mas há outros excertos que não me foi possível ainda recuperar


Foi o décimo-quinto Presidente da República Portuguesa, o segundo após a Revolução de 25 de Abril.  Natural de Chaves, 30 de Junho de 2014. Faleceu  em Lisboa, aos 77 anos, em 31 de Julho de 2001 - De família numerosa, de onze irmãos (dos quais três vão falecer antes de chegar à idade adulta), muito cedo Francisco da Costa Gomes fica órfão de pai, ainda antes de completar 8 anos. Após terminar a instrução primária, em Chaves, aos 10 anos entra no Colégio Militar, provavelmente falta de posses, para que possa aí prosseguir os estudos, prosseguindo a carreira de armas. Sobre a profissão militar o próprio diria mas tarde: «se pudesse não teria seguido.».

Entrevista -  Registo sonoro de uma antiga cassete - De entre as centenas de entrevistas e apontamentos, que ainda guardo no meu extenso arquivo em memórias de um repórter

Tenho pois  a honra e o prazer de editar o excerto de uma longa e  interessante entrevista, que me concedeu em sua casa, não obstante estar num período de convalescença, por razões de saúde  - "Sabe, que ainda ontem tive 40º graus de febre" - Confessava-me 

COSTA GOMES  - O MILITAR PACIFISTA

O paladino da paz –.Um dos militares mais pacifistas, que, após deixar a Presidência da Republica, não aceita ser  chamado a desempenhar qualquer cargo político, optando pelo  Conselho Mundial da Paz, como terreno de intervenção, seguindo, atentamente e com preocupação, o recrudescimento das armas convencionais e atómicas das duas grandes potências, que, ao invés de olharem mais para os problemas da saúde e das condições de vida das populações, gastam milhões em armas atómicas e convencionais.  –


RETIROU-SE DA POLITICA MILITAR PARA SE DEDICAR À PAZ MUNDIAL

JTM - O Sr. Marechal Costa Gomes é um homem retirado da cena política? É um homem que acompanha atentamente os problemas! Como vê a política: como interveniente ou como observador?

F.C.G. A política nacional vejo-a simplesmente como observador e um observador muito atento, porque, como tenho dedicado a maior do meu tempo, às questões internacionais, sobretudo àquelas que dependem da paz e do desarmamento, e, como isso me leva, muitas vezes, a conferências para fora do país e me obriga a um preparação, quando estou em Portugal, que me faz alhear um pouco da política do dia a dia do nosso país, é claro que eu estou mais a par daquilo que se julga que constitui hoje a política internacional e a situação internacional de propriamente da politica nacional.

JTM - Porquê essa preocupação?

F.C.G - Bom, a preocupação deriva de várias coisas:  em primeiro lugar do facto  de julgar que nós estamos realmente  de baixo da uma ameaça terrível que pode, de um momento para o outro destruir por completo a vida sobre este belo planeta, que é a Terra. É isso. Pode-se dizer  que as pessoas mais lúcidas e aquelas que se têm dedicado mais a este assunto, desde 54, desde o rebentamento da primeira bomba atómica, começaram a prever esta situação. Mas, não  há dúvida nenhuma, que, durante as duas primeiras décadas, praticamente o assunto da era atómica, foi completamente ignorado, as armas atómicas foram completamente ignoradas! Ninguém sabia nada  do que se passava, espacialmente nos países onde a luta começava a ter um cariz de competição muito forte, e, nos anos 70,  o mundo começou a ser surpreendido com a ideia de que, já havia nessa altura, armas suficientes para destruir várias vezes a humanidade.

“MAIS DE METADE DOS CIENTISTAS  DO MUNDO OCUPADOS EM APERFEIÇOAR MEIOS DE COMBATE” – Em vez de se empenharem com “os problema    da fome, do analfabetismo, do meio-ambiente e  da saúde

JTM – Acha que ainda há uma grande tensão entre os dois blocos?

F.C.G. Eu julgo que ainda há uma grande tensão mais forte do que aquela que devia existir, porque há uma desconfiança mútua, não só  do ponto de vista político, com sob o aspeto militar, que inibe e que faz  com que não se possam adiantar e definir determinados assuntos com a lógica, e, sobretudo,  com a necessidade que os mesmos impõem. Veja, por exemplo,  este facto que agora se deu, ultimamente, insólito: pois,  estamos todos à espera que, de um momento para o outro, se possa assinar o acordo  que elimine os mísseis intermediários e os mísseis táticos  da europa. Pois bem, qual é a atitude que a Nato toma perante esta decisão? É que… sim, senhora …vamos acabar com os mísseis mas temos que reforçar as forças convencionais.

Ora, eu acho que esta atitude é uma atitude absolutamente negativa! O que nós precisamos não é de reforçar as forças convencionais  é de reduzir também as forças convencionais! Porque, um dos  maiores problemas que existem no Mundo – e sem a redução dos orçamentos militares, se não será possível resolvê-lo – é o problema    da fome, é o problema do analfabetismo, é o problema do meio-ambiente, o da saúde, enfim, são uma série de problemas  que realmente fazem com que, a maioria da população mundial, dia a dia, veja os seus problemas acrescidos, agudizados e não sinta que há uma luz, que não há uma pequena ação solidária  dos países – que os têm, que, no fundo, os têm assegurado – para melhorar esta esta situação.

Ora, esta situação só pode ser melhorada, diminuindo drasticamente as despesas militares, não só o que diz respeito aos orçamentos. Como também no que diz respeito à investigação científica. Porque, hoje, mais de metade dos cientistas no mundo, estão dedicadas a aperfeiçoar armas e aperfeiçoar  meios de combate, quando, realmente, a todas as pessoas bem intencionadas,  lhes parece que se deviam dedicar as era para o bem-estar  da Humanidade, e, portanto, pró  melhoramento das condições de vida de todos os Povos.

JTM – Acredita na possibilidade de um novo conflito à escala mundial?

F.C.G. -  Acredito! Não porque as pessoas o queiram! Podemos dizer que 90% da população mundial é contra um conflito à escalda mundial  - Mas, com o acumular de armas que existem no mundo e, com os pequenos conflitos locais, que ainda não conseguimos debelar e, outros que se podem desenvolver de um momento para o outro, como é, por exemplo, a situação do Golfo Pérsico, pois, uma destas situações, pode, sem querer, levar a um conflito mundial! E isso é extremamente perigoso, porque, as armas que depois se possuem, são de tal maneira potentes e de tal maneira poderosas, que, se elas forem empregues,  durante muito tempo, será o tempo suficiente  para aniquilar a vida sobre a Terra.




O PERÍODO QUENTE PÓS 25 DE ABRIL

JTM - Outra questão que eu gostaria que o Sr. Marechal recordasse – alguns anos já volvidos sobre aquele período da revolução: um período, naturalmente, muito confusão, como é que a esta distância, o Sr. Marechal. Os recordaria?

F.C.G. – Bom, eu acho que foi realmente um período muito confuso! Muito perturbado! A revolução fez-se, mas, claro, dadas as circunstâncias em que ela teve de se efetuar. Não houve uma preparação, sobretudo para se poder  transitar do regime  que havia para um outro, onde as liberdades e os direitos humanos, estavam salvaguardas e estavam em plena pujança, e isso deu como resultado, que, houve, de facto, durante os primeiros tempos – no primeiro Governo (em todos os governos mais ou menos provisórios – deficiências muito grandes, que, só o trabalho e só a boa vontade e dedicação  de muitos, conseguiram, não digo suprir, mas pelo menos atenuar.

“OTELO TEVE AS SUAS DEFICIÊNCIAS MAS, DE UMA MANEIRA GERAL, FOI UM ELEMENTO POSITIVO  E A REVOLUÇÃO DE ABRIL DEVE-LHE MUITO.

Otelo Saraiva de Carvalho, detido a 20 de Junho de 1984 pela Polícia Judiciária, no âmbito deste processo. Da FP, com uma pena de 18 anos .De recordar, que o principal operacional do Movimento das Forças Armadas. nunca assumiu a criação das FP-25 nem a militância no grupo. Do tempo total de pena cumpriu apenas cinco anos. Em entrevista, concedida há Lusa, em 2010, Otelo confessou que, no dia em que recebeu a notícia da criação deste partido revolucionário armado, a encarou com "apreensão e perturbação com a ideia". Otelo: FP-25 foram "choque grande e um prejuízo tota
  
JTM – Sr. Marechal. Uma das figuras muito conhecidas e, de grande interveniência, na revolução, é Otelo Saraiva de Carvalho, atualmente preso: como é que vê a prisão de Otelo Saraiva de Carvalho?

F.C.G – Eu, como tive ocasião de dizer no Tribunal,  só conheço regularmente, a ação do Tenente-Coronel Otelo, quando ele parte ou do Conselho da Revolução
, em que me esteve diretamente subordinado.  – No Concelho de Revolução, porque eu era o Presidente do Concelho de Revolução; no COPCON COPCON –, porque o COPOCON estava dependente  do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e eu acumulava as funções de Presidente da República e de Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Ora, nesse tempo, eu posso dizer-lhe que, Otelo teve as suas deficiências,  mas, de uma maneira geral, foi um elemento  positivo e a Revolução de 25 de Abril, deve-lhe muito.

Depois, do 25 de Novembro, praticamente nunca mais tive contactos  com Otelo, mas, daquilo que eu conheço, a forma como eu pus o problema no Tribunal,  eu julgo que o caráter , a   moral e a maneira de ser do Otelo, não são de molde a admitir que ele, direta ou indiretamente, tenha tomado parte em qualquer das ações terroristas.

Era bom que se visse, que se estudasse bem, as ações terroristas, não só a partir  de 1974 mas que se vissem bem as ações terroristas, entre 1975 e 1976, porque, realmente, nessa data houve muito terrorismo em Portugal!  - Terrorismo absolutamente escusado! Terrorismo que que visava, única e simplesmente,  o regulamento do status quo, então estabelecido, em que as pessoas, não hesitara em matar, em destruir, em fazer ações, que realmente todo o mundo hoje as condena, porque, felizmente, o terrorismo hoje está condenado internacionalmente de uma forma absoluta.

JTM – Portanto, em sua opinião, acha injusta a prisão de Otelo?

F.G.C – Não posso dizer que é injusta ou justa. Eu não sei as causas que levaram à prisão de Otelo. Penso que –  nisso acredito, acredito na Justiça Portuguesa -, que o juiz que fez o inquérito  e que promoveu a sua detenção, tinha as suas razões. Podem não ser razões que não sejam razões suficientemente fortes para justificar a prisão durante tanto tempo de Otelo.

Não há dúvida nenhuma é que, Otelo Saraiva de carvalho, tem, em toda a Europa,  uma data de pessoas importantes, sobretudo no campo jurídico, que o apoiam, que o defendem e que estão constantemente  a fazer diligências para a sua libertação.

A entrevista, que, honrosamente me concedeu, continuaria  com  ainda com várias perguntas, desde a sua próxima deslocação a Tóquio, no âmbito das conferências do Conselho Mundial da Paz,  assim como de como recordava as  funções que desempenhou, em Angola,  1970-72, como  comandante-chefe da Região Militar de Angola – Perguntei-lhe, que, tendo também estado,   como militar nesta ex-colónia,  no meu  tempo (1966) se constava que havia quem, dentro do Quartel general, passasse informações do MPLA – Costa Gomes, negou que, de sua parte, alguma vez tivesse tomado essa atitude, não passando de calúnias e de falsidades. Pena não puder reproduzir as suas palavras, visto,  no dia seguinte ter ido fazer uma entrevista ao Monsenhor Moreira das Neves, em sua casa, e, inadvertidamente,  ao usar a mesma cassete, apagado o resto da entrevista.  Contudo, ainda disponho de uma outra entrevista, esta feita no torno de uma conferência, em que ele também participara, que igualmente conto editar oportunamente em vídeo.



Costa Gomes morava na Av. João XXI, próximo do cruzamento da Av. de Roma, em Lisboa. Nessa tarde, que me recebeu, estava sozinho e, curiosamente, os móveis da sala, estavam todos cobertos com lençóis brancos, visto ir para obras, mais parecendo a enfermaria de um hospital. Mesmo assim, teve a gentileza de me receber, já que a entrevista havia sido marcada uns dias atrás e ele não quis faltar ao compromisso. - 


Militar sempre preocupado com a paz, de perfil civilista, indo ao pormenor de, sintomática e simbolicamente, restringir o uso da farda apenas às ocasiões em que tal lhe era exigido, é no entanto, na Guerra colonial, de entre os grandes cabos de guerra, o mais renitente em utilizar a força bélica em grandes e pequenas operações, e, paradoxalmente, o que mais êxito teve em termos operacionais e bélicos.

Costa Gomes foi, com uma antecedência assinalável, em 1961, o primeiro chefe militar a defender claramente que a solução para a guerra colonial era política e não militar, não obstante cumpriu com brilhantismo as suas funções como comandante militar da 2.ª Região Militar de Moçambique, entre 1965 e 1969 (primeiro, como segundo-comandante, depois, como comandante) e, seguidamente, como comandante da Região Militar de Angola.

Após o 28 de Setembro de 1974, com o afastamento do general Spínola, Costa Gomes é nomeado para a Presidência da República, onde lhe caberá a difícil missão de conciliador de partes em profunda desavença, com visões radicais do mundo, algumas verdadeiramente inconciliáveis. Levará sobre os seus ombros tudo quanto se irá passar até à crise de 25 de Novembro de 1975, onde lhe coube o papel capital de impedir a radicalização dos conflitos poupando o país a enfrentamentos violentos e uma possível guerra civil. Costa Gomes é considerado um dos principais obreiros da instauração da democracia em Portugal.



«A APRENDIZAGEM DA ARTE DA «PRUDÊNCIA»

“A figura que sai das páginas de Luís Nuno Rodrigues é a de um general renitente. Da obra ressalta, desde logo, que a carreira militar de Costa Gomes deriva não tanto de um gosto pelas armas, mas sobretudo de uma evolução imposta pelas necessidades materiais da família. Do Colégio Militar à Academia Militar, o percurso de Costa Gomes resulta de uma evolução natural imposta pelas condicionantes familiares. A carreira militar não satisfazia em pleno Costa Gomes, que acabou por frequentar a Universidade do Porto, aí concluindo a licenciatura em Ciências Matemáticas (1939-1944). Este facto não o impediu de percorrer, ainda jovem, um extraordinário caminho como militar, ganhando prestígio no meio castrense, não deixando, contudo, de evidenciar uma renitência: a renitência ao uso e ao abuso da violência. Para o futuro marechal Costa Gomes, a violência (a força armada) só devia ser aplicada enquanto fosse útil ao equilíbrio e à paz na sociedade. O uso excessivo da violência, assim como a utilização da violência de forma inútil, eram-lhe repugnantes.

Na lógica do marechal Costa Gomes, cabia aos militares dosear o uso da violência, tendo sempre como fim assegurar os objectivos de ordem e paz social. – Excerto Relações Internacionais (R:I) - O general «renitente»

 
Marechal  Francisco Costa Gomes -   Uma das grandes personalidades, militares e cívicas,  Membro da Junta de Salvação Nacional desde a madrugada de 26 de Abril, e, como chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas em 30 de Abril de 1974. O primeiro Presidente da República Portuguesa a discursar perante a Assembleia Geral das Nações Unidas - Em Janeiro de 1975 está presente na assinatura do Acordo de Alvor, entre o governo e os movimentos de libertação angolanos, relativo à independência de Angola. Depois de dar posse ao IV Governo Provisório, também chefiado por Vasco Gonçalves (25 de Março de 1975), preside à assinatura, em 11 de Abril de 1975, do primeiro pacto MFA-Partidos.

Declarações inéditas de Francisco Costa Gomes, uma vez que,  da longa entrevista, que  honrosamente me concedeu, na qualidade de repórter da extinta Rádio Comercial RDP, apenas escassos minutos foram transmitidos. O  tema principal da minha deslocação a sua casa, versava sobre questões relacionadas com  o armamento atómico e convencional  das duas grandes potências e  o  papel do Marechal na Conferência Mundial da Paz, que, por agora, apenas reproduzo em texto .

E, de facto,  foi a propósito  destes assuntos, num tempo em que pareciam desanuviar-se algumas tensões, entre os dois blocos, que começaria por fazer as primeiras perguntas. Contudo, outros temas acabariam por ser abordados, nomeadamente, o que pensava do período quente pós 25 de Abril e da prisão de Otelo Saraiva de Carvalho  -   Conteúdo editado em vídeo. – Porém,  é minha intenção,  vir a editar,  no Youtube, também outra interessante entrevista, sobre este tema

 “Francisco da Costa Gomes toma posse como Presidente da República na sequência da renúncia de António de Spínola, a 30 de Setembro de 1974. Em pleno processo revolucionário terá de enfrentar situações de grande complexidade.

Nascido em Chaves, no seio de uma família numerosa, a sua infância é marcada pela morte do pai nas vésperas do seu 8.º aniversário. As dificuldades económicas da família levam a que, terminada a instrução primária, ingresse no Colégio Militar em Lisboa. A solução não lhe agrada, sobretudo devido ao afastamento da família.

Adicionar legenda
Com uma carreira militar brilhante, várias comissões de serviço nas colónias e estágios no Quartel-General da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), acabará por ser convidado, em Agosto de 1958, pelo ministro da Defesa, general Botelho Moniz, para o cargo de subsecretário de Estado do Exército. Começa assim uma carreira política que, depois de várias vicissitudes, o projectará ao mais alto cargo de Estado: a Presidência da República.

(…)Apesar da ambiguidade de que muitos o acusam, todos lhe reconhecem o mérito de ter conseguido evitar a guerra civil.

Ao ocupar a cadeira presidencial, uma das suas primeiras preocupações parece ser a de garantir a estabilidade, apesar da conjuntura revolucionária que se vive. Demonstra-o, primeiro, ao reconduzir Vasco Gonçalves para o cargo de chefe do governo (III Governo Provisório, em 1-10-1974). Depois, durante a viagem que efectua aos EUA onde procura não só estabelecer contactos com vista à cooperação entre os dois países, sobretudo económica, como também tranquilizar a comunidade internacional quanto ao rumo da transição portuguesa” – Excerto de . Biografia completa - Museu da Presidência da República


quarta-feira, 28 de junho de 2023

Poetiza Olinda Beja – Na IV Edição do Festival da Lusofonia, em Coimbra – Um certame de divulgação da gastronomia, música e cultura lusófona que decorreu de 23 a 25 de Junho na Praça de Cabo Verde (Bairro Norton de Matos).

                                                  Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

Olinda Beja, já tida como uma grande embaixatriz da cultura são-tomense, que, há dois anos, havia participado nas celebração do Solstício do Verão, no auditório municipal de V. Nova de Foz Côa e na freguesia de Chãs, junto ao monumental calendário pré-histórico alinhado com o pôr-do-sol do dia maior do ano, foi uma das presenças da 4ª Edição do Festival da Lusofonia, em Coimbra para declamar, dialogar, cantar poemas e falar de temas das Ilhas Verdes do Equador, onde nasceu em 1946, filha de mãe nativa, da então vila da Trindade e de pai português, do distrito de Viseu.


A cidade de Coimbra acolheu, entre sexta-feira e domingo, passado, o IV Festival Sons, saberes e Sabores da Lusofonia, com vista a promover a cultura e gastronomia dos países de língua oficial portuguesa no Parque Manuel Braga, na margem direita do Mondego.

Uma iniciativa da junta de freguesia de Santo António dos Olivais, que, em articulação com as associações representativas das comunidades imigrantes lusófonas em Coimbra, pela terceira vez promoveu a Edição do Festival da Lusofonia – Sons, Saberes e Sabores da Lusofonia, um certame de divulgação da gastronomia, música e cultura lusófona

Tendo a organização colocado à disposição dos visitantes Tendas de Sabores, um palco aberto à dança à música e às canções de além-mar e a Tenda dos Saberes (divulgação e apresentação de livros, conversas com autores e declamação de poemas.


Proporcionando um programa apelativo e diversificado com o qual se pretendeu informalmente promover o convívio entre pessoas de origens diversas unidas por uma língua comum.

Olinda Beja, poeta e narradora de São Tomé e Príncipe, nascida em Guadalupe a 12 de fevereiro de 1946, filha de José de Beja Martins (português) e de Maria da Trindade Filipe (santomense. - Embora tendo partido adolescente para Portugal, nem por isso, nas suas veias, deixou de lhe correr a matriz das raízes da sua ancestralidade africana, genuinamente santomense, que tem surpreendentemente expressado, quer através dos seus belos versos, quer em prosa, nomeadamente na singularidade dos seus contos, traduzidos em várias línguas, revelando-se, por isso, desde há vários anos, uma verdadeira embaixatriz da cultura do seu pais de origem, tanto em récitas poéticas, como noutros eventos ou iniciativas, em que geralmente se faz acompanhar à viola e cântico por músicos santomenses


"Enviada por seu pai para  Portugal (Mangualde – Beira Alta) com quase 3 anos de idade, aqui estudou e obteve o Diploma Superior dos Altos Estudos Franceses da Alliance Française e, mais tarde, a Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas (Português/Francês), pela Universidade do Porto. Fez ainda o Curso de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa (LALP) pela Universidade Aberta além de ter feito, na Suíça (onde viveu e leccionou) vários outros cursos inerentes à sua actividade profissional e literária (professora do Ensino Secundário e escritora/contadora de histórias). https://pt.wikipedia.org/wiki/Olinda_Beja

OLINDA BEJA –  A Poesia e o Cântico comovente  da  mulher que tem as suas raízes na aldeia martirizada do Batepá, casa dos  seus avós maternos,  versos que sentem  e choram ainda as lágrimas dos dos que tombaram no fatídico massacre do Batepá


terça-feira, 27 de junho de 2023

São Tomé e Príncipe acolheu o Fórum da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal -É importante apoiar, incentivar e dar oportunidades de trabalho na agricultura aos jovens são-tomenses, que acabam os seus cursos e veem as principais empresas em mãos externas ao seu país - Desembarquei em S. Tomé, aos 18 anos para estagiar na roça Uba-budo, da Escola Agrícola de Santo Tirso, numa das grandes propriedades que eram então exploradas pelos turistas da Gravana - Os patrões que viviam refastelados na "metrópole" à custa dos explorados empregados-de-mato e da mão-de-obra escrava contratada e que apenas se deslocavam às ilhas no período mais suave e menos chuvoso

Jorge Trabulo Marques

TERRA LUXURIANTE E GENEROSA QUE PRODUZ TÃO BELOS FRUTOS E EM POUCO TEMPO  E AO LONGO DE TODO O ANO

Dizia Miques Joao e Elsa Garrido, há uns tempos, que "o investimento privado estrangeiro é sempre bem vindo, no entanto é preciso que seja responsável e sustentável, nada de alterar a paisagem natural.

“Não gosto que um empreendimento turístico seja erguido na zona da Lagoa Azul porque há sempre o risco de o proprietário desse hotel monopolizar toda esta área e vetar o acesso dos cidadãos a essa área.


Veja o caso do Hotel Pestana que não deveria estar no espaço ao lado do Palácio dos Congressos que foi profundamente alterado. Creio que esses empreendimentos devem ser erguidos no extremo norte, sul e interior do país para combater o desemprego nessas zonas do país e potenciar o desenvolvimento.

Refere a (STP-Press), que o Palácio dos Congressos acolheu na sexta-feira (23), o Fórum da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), sob o lema Qualidade, Inovação e Sustentabilidade Agro-alimentar.

O acto foi presidido pelo primeiro-ministro e chefe do Governo, Patrice Trovoada, em companhia do director-geral da associação, o engº Firmino Cordeiro, e contou com a participação de destacadas personalidades do ramo do agro-negócios, empresários, políticos, diplomatas, professores universitários e muitos convidados, entre portugueses e são-tomenses, com destaque para o antigo primeiro-ministro português e antigo presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso.  

À margem do evento, realizou-se no sábado (24), uma feira gastronómica, na praça Yon Gato, com degustação de produtos de qualidade portugueses à base de lacticínios e transformados de carne e mel.

Na sua intervenção no dia de abertura, o primeiro-ministro são-tomense defendeu que é um imperativo que a juventude acredite na agricultura por ser um elemento central.

“É imperativo, sobretudo, num país como São Tomé e Príncipe, que a juventude acredite na agricultura… De facto, no nosso país, a agricultura é um elemento central, não só porque este sector primário emprega maioria da população, mas pelo facto de a agricultura estar ligada a certos números de elementos, segurança alimentar, exportações e até ao turismo”, afirmou o primeiro-ministro.

       A CRUA REALIDADE DAS ANTIGAS ROÇAS, QUE NÃO DEVE SER ESQUECIDA 




Praia do Uba-Budo - 2014

De facto,  as administrações das grandes propriedades agrícolas nunca valorizaram a mão-de-obra dos forros, dos filhos da terra. É verdade que nunca foram além de meros capatazes, excetuando alguns mulatos, filhos dos brancos administradores ou feitores gerais. 

Fala-se muito mas desconhece-se o essencial: que eram campos de escravatura. Trabalhei nesses feudos: na Roça Uba-Budo, na Roça Ribeira Peixe e na Roça Rio do Oiro 

Conheci bem a dureza da vida, nessas grandes propriedades, quer para os chamados serviçais, quer para os nativos que ali iam fazer os mesmos trabalhos, mas também para os empregados de mato, que eram igualmente escravizados, mal pagos e que apenas tinham direito à chamada graciosa, de quatro em quatro anos


Roça Rio do Oiro 1977 
2014

Na verdade,  não guardo da roça, as melhores recordações senão o facto de ter apenas 18 anos, ser um jovem  e da surpreendente beleza daquela paisagem, que todos os dias se me revelava, pese a humilhação a que era submetido desde a alvorada  até ao escurecer -  Pois não posso esquecer-me de como era difícil e dura a  vida na roça, tanto para os empregados de mato como para os trabalhadores - E foi esta a categoria que me foi dada, pelo Administrador da Roça Uba-Budo, quando fui para ali estagiar 


EXEMPLO A SEGEUIR - Esta enfiada de plantação  de ananases, é . da propriedade de Alberto da Graça do Espírito Santo Vasconcelos,  fazem-me lembrar os excelentes exemplares de uma plantação de ananases que o Engenheiro Salustino Graça do Espírito Santo,  tinha próximo da então Vila da Trindade, que tive o prazer de conhecer, tanto em sua vida, onde um dia um feliz acaso me levara, como depois da sua morte, quando era encarregado da Agropecuária do quartel (CTISTP), a cuja propriedade me desloquei, por várias vezes, com alguns soldados, sim, para ali, na maravilhosa pequena Roça S. Vicente, que legara, como um dos mais exemplares modelos da pequena agricultura familiar santomense, comprar alguns cestos de pés de ananases e algumas socas de bananeiras para as plantações que estava a efetuar naquele quartel






sábado, 24 de junho de 2023

TITANIC – Voltou a ser notícia - Como náufrago sobrevivente a minha singela e sentida homenagem às 1.514 vidas que morreram afogadas no dia 15 de abril de 1912,a bordo do navio Titanic – E, agora, às cinco pessoas que foram sufocadas a bordo do submarino Titan


Jorge Trabulo Marques - Recordo parte do texto poético que escrevi neste blogue em 2009 https://canoasdomar.blogspot.com/2009/09/titanic-homenagem-sentida-aos-que.html

Só o náufrago, o que sobrevive pode revelar o que é sentir a vida que a todo o instante pode desaparecer no marulho horrível das vagas do mar – Tive essa experiência, ao longo de 38 dias numa frágil piroga, graças a Deus sobrevivi https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/perdido-no-golfo-da-guine-33-dia.html

      AO MENOS QUE OS SEUS DESTROÇOS SEJAM RESGATADOS DO FUNDO DAS GÉLIDAS ÁGUAS PARA QUE O TEMPO NÃO APAGUE A MEMÓRIA DOS GRITOS DAQUELES QUE SE AFOGARAM A BORDO

Confirmou-se a tragédia que sufocou nas profundezas dos abismos a vida de todas as pessoas a bordo do submersível Titan, que desapareceu no último domingo (18) enquanto fazia uma expedição até o naufrágio do Titanic.

A Guarda Costeira americana confirmou na tarde de quinta-feira (22) que todos os cinco ocupantes da embarcação morreram após o que provavelmente foi uma "implosão catastrófica" do submersível, que pertencia à empresa OceanGate.


ERA ENTÃO UM ESBELTO E MODERNO NAVIO…HOJE NÃO É MAIS QUE UM DOS MUITOS DESTROÇOS QUE JAZEM E APODRECEM NO FUNDO DOS ABISMOS…

Grita-se aos gélidos céus! Implora-se  compaixão!

Ouvem-se gritos lancinantes! Ecos de vozes,aturdidas!

Vozes desesperadas, suplicando piedade às alturas, a Deus!

Almas aterrorizadas, aflitas, ante a negra e vasta imensidão!

Que o mar abafa, mergulha, envolve e afoga em negro turbilhão!


Cenário sideral! - Fantasmagórico! irreal!

Gélida e diluída imagem de aflição e tragédia! 

Escurissimamente  ondulante, indistinta, pavorosa e  informe!

Aquele magnífico navio - que à luz do dia - parecia glorificar...

Os mares e os céus!...É agora mero brinquedo partido e pique!

Massa gigante esquecida, vulto perdido, que se afunda e perde!

Grotesco e sombrio volume de ferros,rangendo num mar cruel! 

Tudo se confunde e dilui na mesma vertigem povoada de aflição e pavor! 

Imersa de tumulto, de  múltiplos rumores! - Sufocada de desespero e solidão!...

Em redor - nos gélidos mares! - corre e rumoreja, uma aragem solta de cinza e desamor!

Perpassada de terríveis presságios!... De lágrimas 

que se perdem lavadas de áspero gelo e sal!

Plangente e chorosa!... - De imenso abandono e esquecimento, 

horrivelmente  afogado e triste!

Nos vivos, paira o pesadelo sobre o mar! 

- O espelho da angustiosa aflição, desespero e morte! 

Dos corpos, que bóiam afogados à superfície das gélidas águas?!... 

Nem o menor vagido ou voz! Já não fazem parte deste mundo! 

- Afogaram-se!... Alguns vão rolando  ao fundo dos abismos!

São o vulto fugidio das liquidas sombras!

 - Cadáveres submersos! Nada mais  têm para contar


Cenário gélido e perturbador! - Oh  - e até os céus!

Dos mais altíssimos, indiferentes e  impiedosos céus !.. 

Donde ainda brilham escassas e  longínquos estrelas no infinito!

Do alto nada mais sobra ou resta que a sideral e surda mudez!

Embora - aqui e além -  sobre a imensa e negra vastidão ! 

Se rasguem, diluam  ou cerrem  abertas de estranhissima claridade!

A dissipar a escorrência espessa que rodopia  em negro  e gelado torvelinho! 

SOLIDÃO, O VAZIO E A MORTE!...

Para onde quer que se olhe, não há vivalma!

Ninguém acorre em socorro!... Nenhum farol se avista!…

Nem uma pontinha de luz se descobre!...

Até as estrelas, que, lá no alto,

costumam ser tão rutilantes, não brilham!

Parecem agora ainda mais longínquas, distantes!

- Estão apagadas, escondidas!... Sumiram-se!

E, mesmo os que sobrevivem e vogam à sorte,

para eles, até parece que já nada existe! 

- Senão o vazio, o abandono e a morte!.

Jorge Trabulo Marques



Parecem agora ainda mais longínquas, distantes!

- Estão apagadas, escondidas!... Sumiram-se!

E, mesmo os que sobrevivem e vogam à sorte,

para eles, até parece que já nada existe! 

- Senão o vazio, o abandono e a morte!.

Jorge Trabulo Marques