Manuel Alegre, aquando do lançamento do
livro de poemas “Nada está escrito”, lamentava que a Troika viesse a Portugal dizer o que deve ou não
fazer. Infelizmente, de volta e meia aí estão os três “reis magos”
da nossa malfadada sorte.
Enquanto permanecermos no euro, a nossa independência continua seriamente ameaçada. O que podia ter sido uma oportunidade de uma europa solidária e
progressista, não passou de uma gigantesca fraude: com a esmagadora maioria dos
governos liberais a juntarem-se aos caprichos do capitalismo alemão e dos lobos do FMI,
não há salvação possível – Mas, face à crise que colocou mais
de um milhão de portugueses no desemprego e nas ruas da
amargura, há todavia uma esperança: o regresso ao mar. Não propriamente o das
caravelas quinhentistas, mas do aproveitamento dos imensos recursos da nossa costa
marítima - um novo caminho - Pena foi que a nossa frota pesqueira
tivesse sido desmantelada à custa de subsídios envenenados e de decisões políticas levianas e irrefletidas – O mal
está feito, a cura é complicada mas não é impossível dar-lhe a volta
"Para Jorge Marques, pelo Mar, que é o novo caminho” – Estas as palavras que nos autografou, seguidas de um abraço, no seu mais recente livro “Nada está escrito” – Por isso mesmo, compreende-se a enorme incerteza, angústia e aflição, dos portugueses apanhados desprevenidos e sem perspetivas de futuro – Assim sendo, resta-nos voltar ao mar, que é o novo caminho, diz Manuel Alegre. SEM PRECISARMOS DE
RETORNAR ÀS CARAVELAS - OS RECURSOS SÃO IMENSOS E ESTENDEM-SE AO LONGO DA NOSSA COSTA
Noutros
tempos, e sem os avanços náuticos que a ciência atualmente permite,
negligenciando as potencialidades que tínhamos à porta, desprezando os nossos
mares e os nossos campos, instigados pelo espírito de aventura e na mira das
riquezas fáceis, desbravámos mares nunca dantes navegados – Mas foi mais a
ambição de que o proveito económico . Não se pode dizer que
ficássemos ricos. E quem se aproveitou não foram os povos, mas uns poucos. No
plano cultural e espiritual, abstraindo os erros e o lado
opressivo dos colonialismo, resta-nos a satisfação de, com
a revolução de Abril, ao pormos fim a uma guerra que ceifava vidas e
recursos em Portugal e em África , termos
dado novos povos ao mundo, irmanados por uma língua comum, que atualmente
constituem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ou CPLP
Na mesinha de Manuel Alegre, vimos "Nada está escrito" – Publicado o ano passado, depois de, em 2008, ter editado "Nambuangongo Meu Amor".- Além de outros títulos, deparamos com a "Senhora das Tempestades", que já possuiamos desde o lançamento em 1978, tendo então fotografado o poeta - . Mas também era só dar meia dúzia de passos e procurar os livros nas prateleiras de stand ao lado.Havia muitas mais obras dos dois autores
Com efeito, Manuel Alegre é dos raros poetas que não se confina a escrever versos, simplesmente pelo prazer de os escrever, dando largas à sua verve poética, versejando e intelectualizando a palavra, mas para fazer da sua sensibilidade o eco, o testemunho, a voz combativa e interventiva, inconformada e esclarecida. A poesia empenhada em causas cívicas e políticas e também a expressão singular do género épico ao satírico, o sentimento profundoda “reflexão e meditação sobre o homem, a vida, a morte, a história, Deus, o mistério da própria poesia” – diz Vítor Aguiar e Silva, no prefácio do livro “Senhora das Tempestades”, editado em 1998, Obra que muito apreciamos, autografada então pelo poeta, em cujos poemas sentimos a emoção de muitos dos infinitos momentos que vivemos e sofremos ao longo das infinitas horas de noites e dias em que andamos perdido. Pois, segundo diz ainda Vitor Silva, “o poema que confere o título ao livro- Senhora das Tempestades - é uma longa, esplendorosa, solene e dramática ode na qual a persona lírica se dirige a essa misteriosa, terrível, formidanda e sortílega Senhora das Tempestades, cantando o espanto, a assombração, a angústia e o pavor da visitação da morte.”
Senhora das Tempestades
Senhora das tempestades e dos mistérios originais quando tu chegas a terra treme do lado esquerdo trazes o terremoto a assombração as conjunções fatais e as vozes negras da noite Senhora do meu espanto e do meu medo.
Senhora das marés vivas e das praias batidas pelo vento há uma lua do avesso quando chegas crepúsculos carregados de presságios e o lamento dos que morrem nos naufrágios Senhora das vozes negras.
Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma nasce uma estrela cadente de chegares e há um poema escrito em páginas nenhuma quando caminhas sobre as águas Senhora dos sete mares.
«Numa “Balada dos aflitos”, Manuel Alegre escreve que “este por certo não é tempo de poesia”. Não tem novas de pão e vinho para um povo assolado por uma crise económica, cultural e identitária, em que pouco mais pode ser do que poeta de um país de bandeira esfarrapada. Mas, neste reino, a quem tudo é recusado e onde tudo se avalia, diz Alegre, figura em que autor e sujeito poético voluntariamente se confundem, “talvez o poema traga um novo dia”. - Excerto de“Nada está escrito”, de Manuel Alegre |
Balada dos Aflitos
24-12-2011
Irmãos humanos tão desamparados a luz que nos guiava já não guia somos pessoas - dizeis - e não mercados este por certo não é tempo de poesia gostaria de vos dar outros recados com pão e vinho e menos mais valia.
Manuel Alegre –Manuel Alegre nasceu em 1936 e estudou na Faculdade de Direito de Coimbra, onde participou activamente nas lutas académicas. Cumpriu o serviço militar na guerra colonial em Angola. Nessa altura, foi preso pela polícia política (PIDE) por se revoltar contra a guerra. Após o regresso exilou-se no norte de África, em Argel, onde desenvolveu actividades contra o regime de Salazar. Em 1974 regressou definitivamente a Portugal, demonstrando, nos vários cargos governamentais que tem desempenhado ao longo dos anos, uma intervenção fiel aos ideais da Liberdade.
A sua poesia foi e é um hino à Liberdade e, talvez seja por isso que é lembrada por muitos resistentes que lutaram contra a ditadura. É considerado o poeta mais cantado pelos músicos portugueses, designadamente Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Luís Cília, Manuel Freire, António Portugal, José Niza, António Bernardino, Alain Oulman, Amália Rodrigues, Janita Salomé e João Braga. - Excerto deCantar a Liberdade - Manuel Alegre - Instituto CamõesSobre a vida e obra de Manuel Alegre consulte:http://www.editorial-caminho.pt/lista_autores.asp?autor=135
TARDE CINZENTA
MAS SUAVE E CONVIDATIVA À BOA LEITURA E A SIMPÁTICOS CONVÍVIOS COM OS AUTORES - MANUELL ALEGRE E JOÃO DE MELO.
Voltámos ontem
à tarde à Feira do Livro: sem programa e sem qualquer informação dos poetas e
escritores que poderíamos encontrar por lá - A manhã começou fresca
e chuvosa, a tarde continuou cinzenta – sim, o Junho ainda não encarrilou,
antecipando-nos, em definitivo, os fulgores do tão desejado Verão – Mesmo assim,
fomos tentado a voltar àquela que é a maior mostra dos livros em Portugal. Na
verdade, não imaginávamos que, ao passarmos pelo espaço da Leya, íamos
deparar com Manuel Alegre, lado a lado com João de Melo – Cada um com alguns dos
seus livros sobre a mesa, junto à qual se sentavam. João de Melo, com a sua última obra Diva Miséria, além deOs Anos da Guerra; O Meu Mundo Não é Deste ReinoGente Feliz com Lágrimas -
João de Melo nasceu nos açores, em 1949, e
fez os seus estudos no continente . Licenciou-se em filologia Romântica
pela faculdade de letras e foi professor
nos ensinos secundário e superior. Reside nesta cidade desde de 1967, mas atualmente
vive e trabalha em Madrid.
Autor de vinde livros publicados ( ensaio, antologia,
poesia, romance e conto),algumas das suas obras de ficção valeram-lhe vários
prémios literários, nacionais e estrangeiros, e foram adaptadas para teatro e televisão,
estando traduzidas em cerca de uma dezena de país.
Salazar e o Poder.
Muito se tem escrito do ditador Salazar - O estudo de Fernando
Rosas, julgamos que é imperdível - Registámos umas breves declarações
acerca do seu livro Salazar e o Poder - A arte de saber durar, poucos momentos
antes de terminar a sessão de autógrafos
“Especializado
na história do Estado Novo, Fernando Rosas publica finalmente o livro que vai
ao cerne da questão fundamental acerca deste período: quais as verdadeiras
razões para que o regime salazarista durasse 48 anos (a mais longa ditadura da
Europa do século XX). Os leitores irão compreender que as explicações
simplistas, mais ou menos decorrentes do senso comum, são simultaneamente as
mais ideológicas e as menos esclarecedoras.http://www.imperdivel.net/617-salazar-e-o-poder.html
As Lições dos Descobrimentos – O que nos ensinam os empreendedores
da globalização.10 virtudes e 5 pecados da Expansão Portuguesa
No último dia da Feira
do Livro de Lisboa, pudemos conhecer dois excelentes investigadores, que, desde há alguns anos, vêm editando, em coautoria -- através de Centro Atlântico - edições
- um conjunto de obras de inegável
interesse histórico, cientifico, social e politico, vasculhando, nomeadamente,
o período dos descobrimentos portugueses. Um é o português, Jorge Nascimento
Rodrigues, colaborador do Expresso e coordenador do Centro Atlântico, o
outro, é o brasileiro Tassaleno Rodrigues,
docente universitário Aqui lhe deixamos
alguns dos títulos -
As lições dos Descobrimentos - O que nos ensinam os
empreendedores da globalização
A obra
procede ao levantamento das 10 virtudes e 5 pecados da Expansão Portuguesa e
constitui um manual rápido, baseado em histórias da nossa História, para os
empreendedores, os gestores, os quadros, os estudantes e todos aqueles que
pretendam ter uma estratégia e um projeto profissional e inovador num contexto
de crise. Aprender com a
‘Matriz’ de 10 Ingredientes do Sucesso da Expansão e evitar os 5 Erros
Estratégicos que foram cometidos – são as Lições das Descobertas.–
Excertohttps://www.ubi.pt/Noticia.aspx?id=3868
“Portugal
na Banca Rota” “O filme que aqui se conta, começa, bem longe no tempo, com o
Mestre de Aviz e a situação de quase-bancarrota a que o país chegou antes do
início do processo de Expansão, no início do século XV. Mas, oficialmente, o
primeiro incumprimento da dívida soberana só ocorreria em 1560; o último, no
final da monarquia, acabou com uma reestruturação da dívida cuja negociação
durou dez anos. Ao todo foram oito episódios que colocaram Portugal na galeria
dos países com maior número dedefaults até
ao final do século XIXhttp://www.centroatl.pt/titulos/desafios/bancarrota/
Portugal
- O Pioneiro da Globalização A
História não se engana: os Portugueses de Quatrocentos e Quinhentos, ao longo
de um processo evolutivo de mais de cem anos, foram os pioneiros na inovação
tecnológica e geoestratégica numa época de transição. Valeram-se do improviso
organizacional, de uma lógica incremental e de um pensamento «out-of-the-box».
Souberam agarrar uma janela de oportunidade da História que não se repetiria.
Este livro demonstra, com base numa investigação científica, a originalidade
portuguesa.http://www.centroatl.pt/titulos/desafios/globalizacao/livro.html
Autores- Tessaleno Devezas, nascido em 1946, é
Professor Associado com Agregação na Universidade da Beira Interior. Licenciado
em Física, em 1969, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Jorge Nascimento
Rodrigues, nascido em 1952, é editor dos portaiswww.janelanaweb.com(lançado em 1995) ewww.gurusonline.tv(trilingue,
lançado em 2000) e do blogue de geopolíticahttp://geoscopio.tv(2006).
É colaborador do semanário português Expresso desde 1983 e coordenador da
Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão – Mais informação em https://www.ubi.pt/Noticia.aspx?id=3868
Outros autores com quem falámos:
Isabel do Carmo, autografava,
entre outros livros, -Pensar
Perder o Peso que Pesa” – A médica endocrinologista e diretora do serviço de
Endocrinologia do Hospital de Santa Maria, explica que não existe um peso ideal
e dá dicas para um regime saudável e adequado a cada pessoa. em Lisboa.perderopeso
António Balcão Vicente – O Templário D' El Rei - Por
entre os derradeiros ecos de uma cultura trovadoresca, Frei Arnaldo D'Eln,
Cavaleiro Templário, através de um longo processo na demanda do
autoconhecimento, estabelece a ponte entre Portugal e Aragão, dois reinos
separados por Leão e Castela, mas muito próximos no florescimento das
heterodoxias espirituais e de uma visão iniciática no quadro do Cristianismo.
Confidente de Reis e Príncipes do século XIII, modela destinos, sem conseguir
controlar o seu. Pel'"O Templário d'El-Rei" passam os sentimentos
mais profundos da alma humana, numa teia de traições e lealdades, de guerras e
ódios fratricidas, de amores e sonhos...António
Balcão Vicent
Maria LucíliaF. Meleiro - Dois casamentos, três funerais, dois
reis. No rescaldo das profundas convulsões que abalaram o século XIX português,
dois reinados de charneira e síntese se destacam. À sombra da Constituição, a
Monarquia vai sobrevivendo. O rei é a entidade suprapartidária que mantém a
coesão e o consenso entre as várias forças que se agitam no xadrez político. D.
Pedro V e D. Luís I encarnam duas formas distintas de exercer esse poder moderador,
a que não é estranha a personalidade do próprio rei. À volta destes soberanos
geraram-se vários mitos que persistiram até hoje. Uma investigação realizada a
partir de centenas de cartas, diários, anotações e reflexões, legadas à
posteridade por estes monarcas, permitem à autora reescrever a história,
arrancando as máscaras sob as quais fervilham tumultos inconfessáveis e as mais
secretas paixões. In Máscarasda Paixão
Livros da Edicare – As crianças
precisam de ler e de tocar os objetos – E o livro também pode ter essa
dupla função – Foi o que constatamos junto dos seus editores – Um casal feliz – E
que também estava satisfeito pelo êxito
das vendas – Consideram que “ Tal como uma criança precisa de provar várias
vezes um alimento para determinar se gosta ou não, até à sua aceitação, os
livros, as letras, a textura do papel e toda a mística envolvente e sedutora do
livro deve ser incentivada e apresentada à criança uma e outra vez.Edicare-
Horizontes Criativos
Acompanhe-me na visita que efetuei à
Feira do Livro de Lisboa - Há por lá "Histórias do Arco da Velha" E onde vi livros a todos os preços e para todos
os gostos - Com descontos nunca vistos - A crise tem destas coisas. Apesar
disso, pareceu-me melhor de que o ano passado - até pela mudança de calendário
e qualidade dos eventos - mesmo na leitura e diversão para crianças.
Não perca: tenho muito para lhe
contar e mostrar - Até para lhe recordar a entrevista que fiz a um famoso
burlão, que um dia pôs o Hospital de Santa Maria, em alvoroço e outra
entrevista a Miguel Sousa Tavares, em direto para a Rádio Comercial -RDP,
numa noite de Santo António, no Castelo de S. Jorge, que o fez desatar a rir -
sobretudo pela pergunta e pelo meu embaraço - No fim,
poderá ler ainda alguns excertos de um belíssimo conto infantil, que o
transporta a S.Tomé - E olhe que não só pode divertir e ser útil a miúdos como
a graúdos.
Mas a razão principal desta postagem - num site particularlmente voltado para os mares do Golfo da Guiné - tem mais a ver com as duas imagens ao lado - O resto - e é muito - , veio por natural acréscimo Pois bem; o livrinho que me supreendeu, chama-se: "Quem chama pela
Fada do Galo Preto? Aventuras de um galo com dentes" – E também de uma
fada, a que se juntou uma menina, algures em África – Esse algures, tem a ver
com a Ilha de S. Tomé. Com uma menina que sonhava com uma vida melhor – Que, ao
contrário das crianças que estragam os dentes em guloseimas, bolos, rebuçados e
batatas fritas, (sim, talvez porque também não tivessse outra alternativa) ela mantinha os dentes bonitos, livres dos monstros bacterianos,
visto dar preferência aos saborosos frutos tropicais da sua terra, entre os
quais, o mangustão, que existe no coração da Ilha, mais propriamente na Roça
Bombaim, onde foi introduzido por um português que veio de uma das colónias
portuguesas na Índia, como degradado.
Falei com a
autora, na Feira do livro de Lisboa, que me revelou o seu encantamento por São
Tomé, cujas recordações a inspiraram a escrever uma história infantil, dedicada
à menina Ito, com magnificas ilustrações da pintora Emídia Naval - E também fiquei a saber que as suas histórias são costrutivas: fazem voar a imaginação das crianças, são um deleite para o seu espírito mas também lhe transmitem ensinamentos e alguma pedagogia.
Uma visita à Feira do Livro, em Lisboa,
ainda a decorrer até ao dia 10, proporcionara-me agradáveis encontros – Com
antigos colegas de trabalho, em S. Tomé, que já não vai há talvez perto de 40
anos, - E também simpáticos diálogos com alguns escritores – Entre os quais, Daniel Sampaio, Pepatela, Ana Paula Almeida, Helena Osório, autora de vários livros infantis, um dos quais especialmente
dedicado a uma menina de S. Tomé, a cujo texto me vou referir mais adiante, bem como a outros autores. QUEM DIRIA! - 40 ANOS DEPOIS...
Na Sexta-feira e Sábado, desloquei-me
à Feira do Livro de Lisboa 2013 | no
Parque Eduardo VII. Como de costume, mais uma vez não resisti ao fascino dos
livros e da sua leitura. Excelente oportunidade para dialogar com livreiros e autores e se ampliar a
biblioteca pessoal - confesso que já não sei onde os arrumar os milhares de livros que tenho. E também para encontrar antigos colegas de trabalho, com os quais havia
trabalhado na Brigada de Fomento Agropecuária, no Potó Potó, em S. Tomé, que já os não via há quase 40 anos - Tal foi o caso do Eng. Agrário Renato Sena Martins,
natural de Cabo Verde, bem como sua esposa, a Engª Agrª. Maria
Adelina Martins, que deixara Lisboa, a sua cidade natal para um dia também
rumar, com o seu marido, até à longínqua e luxuriante ilha verde do equador –
Foi este amável casal que me reconheceu. E, de facto, não podia ter tido melhor
encontro para recordar aqueles tempos, já idos e já tão distantes, mas ainda
tão sensíveis à memória e ao coração. Obrigado amigos pela saudosa viagem
que me fizeram reviver. Estava eu, naquele momento, junto ao stand da editora “Esfera dos Livros”, para dois dedos de diálogo, com a Júlia Pinheiro, que ali autografava o seu primeiro livro “Não sei nada sobre o Amor”. Foi uma bela supresa. Espero nos voltarmos a encontrar.
QUEM É QUE NÃO CONHECE ESTE ROSTO! - OU OS ROSTOS DOS DOIS?!
A júlia - inconfundivel naquele seu sorrio aberto e galhofeiro - é uma estriante nas aventuras literárias. Mas já deu para ver que vai longe: experiência de ofício não lhe falta. Sim, ela que lida diariamente com os mais diversos episódios ou dramas humanos, não lhe faltam histórias de vidas. E de olhar as pessoas e as coisas, muito terra a terra. De "não nos empolgarmos com casos de paixões arrebatadoras, nem chorarmos com casamentos felizes" "NÃO SEI NADA SOBRE O AMOR" traça o retrato de uma sociedade e de um país ao longo de quase 70 anos de história, através do olhar de Maria Glória, a avó, Maria da Purificação, a
filha divorciada, Ana Clara, a neta mãe solteira, e Benedita, a bisneta, que,
apesar de todas as expectativas, não se casa com nenhum príncipe encantado".
Comprei a obra e, pelo que foi dado ler, a
leitura é fluente e arrasta-nos pelas suas páginas, como se estivemos descendo
o riacho, a que a autora alude. Pouco depois, chegava o marido Rui Pego, meu antigo
colega na Rádio Comercial – Já o não via há uns anos – Mais uma agradável surpresa que não estava no meu horizonte. De facto, motivos, neste certame, não faltam para uma tarde bem passada e bem ocupada.
ARQUIMEDES TAMBÉM ESTEVE NA FEIRA
Dei um giro pelo stand do alfarrabista Arquimedes,, que me prometera uma das raras obras do periodo colonial em S. Tomé - A mão d'obra em S. Thomé e Príncipe / Francisco Mantero. - Lisboa : Edição do Autor, 1910. - Tem lá mais na sua livararia mas na edição em francês e inglês - Quem se abeirar do seu stand, não dá por perdido o tempo: encontra sempre algo que procurava e não encontrava em parte alguma . Além disso, a preços sensatos - A mesma obra que me vendeu por 40 euros, o ano passado, houve quem me pedisse, 120. A lado, um colega do mesmo oficio, ao saber do dito livro, ofereceu-lhe 50 - Mas ele é um homem honrado e de palavra, cumpriu o prometido.
O JORNALSTA-ESCRITOR QUE PEGOU O DIABO POR UMA DAS MÃOS , AMARROU-O SEM RECORRER À FORQUILHA, COM UM SIMPLES SORRISO!
Comprei depois o “Anjo Branco", de José Rodrigues dos Santos – Mas, pelo que me apercebi, embora Anjo Branco, já vendesse 164.000 exemplares, não era a atração de momento, mas "A Mão do Diabo, que ele tinha à sua frente e que ia autografando de mão em mão, o tal livro que fez pontaria certeira, antevendo atual crise financeira e o desemprego, que, em Portugal, Mais de um milhão de portugueses não tem empregoE qual o professor que não se queixa? "A crise atingiu Tomás Noronha. Devido às medidas de austeridade, o historiador é despedido da faculdade e tem de se candidatar ao subsídio de desemprego. À porta do centro de emprego, Tomás é interpelado por um velho amigo do liceu perseguido por desconhecidos" In A
Mão do Diabo,
Mas, por agora, vai o Anjo Branco - Andava cheio de curiosidade de ler este romance, cujo enredo se passa na década
60, em Moçambique, altura em que também fui parar a S. Tomé. Uma das
personagens, é José Branco, o médico (creio que tem a ver com a vida de seu
pai) que tinha ido viver para uma remota aldeia, na qual, “confrontado com
inúmeros problemas sanitários, teve uma ideia revolucionária: cria o serviço
médico aéreo. Trata-se de um grosso volume de quase setecentas páginas mas vou
lê-lo, com muita atenção. Pois, José Rodrigues dos Santos, além de um notável
jornalista e escritor, é uma pessoa amável. Foi apenas o tempo para me
autografar o seu livro mas o bastante para nos transmitir a boa impressão
com que costuma apresentar-se na televisão . Vi que não hesita em confiar o seu
e-mail aos leitores – Está no livro – A forma direta de poder dialogar e
receber o eco de quem o lê.Há, no entanto, quem o faça através do editor.
É o caso de Miguel Sousa Tavares - SERÁ QUE O SORRISO NÃO SE GASTA EM TANTOS AUTÓGRAFOS?!...
No dia anterior, também fui uma das centenas de
pessoas que se puseram na fila para lhe pedirem o autógrafo de “Madrugada
Suja”. "No princípio, há uma madrugada suja: uma noite de álcool de estudantes que acaba num pesadelo que vai perseguir os seus protagonistas durante anos. Depois, há uma aldeia do interior alentejano que se vai despovoando aos poucos, até restar apenas um avô e um neto".Não se enganou: há muitas aldeias fantasmas, não só no alentejo, como noutras paragens do país profundo: a Aldeia
do Colmealonde meu bisavô nasceu, foi desertificada à força pelo regime fascista. Mas eu estava ali, não tanto pelo autógrafo. Claro que me dá prazer
poder estar frente a frente com o autor de uma obra, e, como jornalista, até
pude ter o gosto de ser recebido em suas casas. Vergílio Ferreira, Fernando
Namora, Amália Rodrigues, José Gomes Ferreira, Oliveira Marques, Mons. Moreira das Neves, Carlos Villaret, Carlos Botelho, Alberto Abecacis Manzanares, Cupertino de Miranda, políticos, tais como Franco Nogueira, Adelino da
Palma Carlos, Costa Gomes e muitos outros escritores e figuras públicas - e até de ex-presidiários dos "melhores rapazes". Mas eu estava ali, não tanto pelo autógrafo mas para lhe manifestar a
minha admiração pelo seu extraordinário romance, “Equador”, que muito apreciei
– Até porque, embora o enredo se passe no princípio do século XX, fui ali encontrar
muito do ambiente, que ele descreve e que bastante me emocionou, dado o ter vivido no corpo e no espírito - Pois, o esclavagismo, a prepotência dos roceiros, não era apenas exercida sobre os marterizados negros mas também sobre os desgraçados empregados de mato.
NÃO RECEBE CORREIO POR E-MAIL DOS LEITORES.. - SÓ É CONTATÁVEL ATRAVÉS DA EDITORA: TALVEZ PELO RECEIO DE QUE ALGUM VIRUS INFORMÁTICO DEVASTADOR LHE FULMINE O COMPUTADOR - PELOS MENOS, UNS ORIGINAIS JÁ
LHE VOARAM Roubado computador de Sousa
Tavares que tinha obras originais ...
Disse-lhe que
tinha sido empregado de mato, na Roça Uba Budo (respondeu-me que não a chegara a conhecer), mas conhecera a Ribeira Peixe e Rio do Ouro, nas quais eu também havia
trabalhado. Como é compreensível, embora tivesse optado por me colocar na fila,
quando esta já dava sinais de ir terminar, claro, mesmo assim, não quis
abusar - Apenas era meu desejo exprimir-lhe o meu apreço.. Gosto dos seus
livros e tenho a certeza de que ele também gostaria de conhecer as minhas
histórias do mar e as minhas experiências na roça, em S. Tomé. Pedi-lhe o
e-mail para lhe indicar o linke de algumas postagens deste site. Respondeu-me
quepodia fazê-lo através da
editora, que é indicado no livro. Só que, à editora, tal como às redações,
chegam muitos e-mails: nuns, olha-se para o título, noutros, nem isso: é
clicar no rato e lá vai ele, até porque é das tais limpezas
higiénicas, some-se num ápice e nem poeira faz.
UM FUNCIONÁRIO AUTÓMATO E MUITO ROBÓTICO - Sentado ao
lado, estava um zeloso funcionário da editora, Clube do Autora quem me dirigi para lhe perguntar
como devia referenciar a mensagem, de modo a não correr o risco de ser apagada:
responde-me, em jeito de robô: ponha S. Tomé. E, virando-me as costas, alega: "Desculpe! Tenho de prestar
assistência ao autor". O que ele não queria era deixar de dar nas vistas - : sorria quando sorria MST; ficava sério, quando MST
ficava sério -Só não reparei se ele ao imitar os seus gestos, também se punha nos bicos dos pés. Coisa mais autómata, nunca vi.Mais um convencido a querer dar nas vistas só porque estava ao lado de uma vedeta - Foi substituir uma funcionária (editora?) que me pareceu ter feito melhor figura do que ele - E sem precisar de tanta comédia.
NOME DO CORREIO ELETRÓNICO SUPER-RESERVADO Sou jornalista: mostrei a MST o cartão a pensar que (sendo do mesmo ofício) me pudesse indicar o seu e-mail - para lhes mandar os links das minhas aventuras - se me visse nos tempos da RC, sabia quem eu era, mas já lá vão uns anos!... Pois,uma das coisas em que me esforcei, enquanto repórter na
R.C, foi transpor obstáculos, ser direto, encurtar distâncias e não ter que
primeiro implorar aos anjos para falar com Deus - Compreendo o seu cuidado em não o tornar público - os escritores de best sellers têm de ser muito profissionais - mas, além de leitor, como disse, também sou jornalista. Claro, longe de ser estrela MST! - Mas já fico satisfeito por ter atravessado mares em condições que outros não ousam.
A NOITE DE SANTO ANTÓNIO EM QUE ENTREVISTEI MST NO CASTELO DE S. JORGE - APÓS O QUE SOLTOU UMA SONORA GARGALHADA
A entrevista decorreu na madrugada de Santo António. Vai fazer agora anos. - Estava eu no Castelo de S. Jorge a realizar a cobertura, em direto, para um programa noturno de Rui Castelar, na Rádio Comercial - Finais dos anos 80. Ao vê-lo ali, (pois, MST, era já das caras emblemáticas da RTP) eis-me a aproximar-me dele e a colocar-lhe o microfone.,quase sem pensar a que propósito. Mas quem foi apanhado de surpresa fui eu: sei que ele se riu da pergunta que lhe fiz (riu-se mesmo a sério, junto da pessoa amiga que o acompanhava, mas foi cortês, só se riu no fim!. Depois, vendo-o a ele a rir-se, ri-me eu de mim por lhe ter feito uma pergunta ridícula -Já não sei qual foi - Mas também devido à forma como enquadrei o inesperado apontamento. Nessa noite, alguém me convencera a beber mais um copito com uma sardinha assada no pão, e foi no que deu. (atualização)
Voltei à segunda sessão de autógrafos para comprar o Rio das Flores e ofereci a MST um exemplar da revista Tabu do semanário SOL náufrago por vontade própria -- Fi-lo por
uma única razão: por saber de antemão que ele vai gostar de conhecer essa
história, tal como eu gosto de ler os seus livro: simples reciprocidade. O BURLÃO QUE DIZIA TER MATÉRIA PRIMA PARA CENTENAS DE LIVROS - Fiz inúmeras entrevistas nas ruas de Lisboa para a Rádio Comercial - Num tempo em que não havia a confusão de estações que hoje há. E audiência podia não ficar atrás das televisões. Umas gravadas outras em direto. E com as mais diversas personagens , anónimas ou conhecidas . Recordo ainda outro dos curiosos episódios no Castelo de S. Jorge: com o célebre vigarista Mortinheira de Moura(que viria a figurar num livro que mais tarde publiquei nos Cadernos de Reportagem da Relógio d'Água, nomeadamente a entrevista que gravei em sua casa) um tal alfacinha que burlava ou roubava para se divertir e me confessava que a sua vida fazia uma livraria de histórias: - vendeu uma avioneta no aeroporto, várias estátuas, apartamentos que não eram dele, entre outras "façanhas" . Pôs em alvoroço o Hospital de Santa Maria: depois de se disfarçar de enfermeiro, roubou uma carteira a um médico e a seguir telefonou a dizer que andava por lá um larápio à solta. Fez a aposta de que entrava na embaixada americana, disfarçado de funcionário, tendo tirado o isqueiro do gabinete do embaixador O mesmo fez ao capitão de uma curveta, fundeada no Tejo. Um dia contratou cinco camionetas e vai de as mandar carregar as batatas de um vagão, em Santa Apolónia - Estes apenas alguns casos. - Entrevistei-o em sua casa (para o gravador) e em direto no Castelo de S. Jorge e de manhã, numa altura em que andava fugido à PJ - Só não disse o local onde a mesma decorria.
RELÓGIO D'ÁGUA - MARCA DE QUALIDADE INALTERÁVEL, TAL COMO O ÓMEGA SUIÇO! - A MONTRA A DAR AS HORAS DA MAIS FINA FLOR DE FICÇÃO E POESIA MUNDIAIS!
Ainda na tarde de sexta, passei pelos standes da RelógioD'Água - Vários stands e muito por onde escolher - Os melhores livros de todos os tempos. - Onde há mais uva de que parra. Comprei "O Prelúdio" poético de William Wordsworth e Moby Dick de Herman Melville; "Poemas" de A.C. Swinburne; "Sexta-Feira ou os Limbos do Pacífico - Boas obras e a preços muito simpáticos. Os autores são sempre contemplados com uma gracinha - bons descontos. Não vi lá o Francisco Vale, mas estava lá o filho, que não desmerece o pai. Editora esta que me deu a oportunidade de publicarQuando mato alguém fico um bocado deprimidoEsteve duas semanas no 2º lugar do TOP de vendas,
seguida da Rosa de Humberto Eco, está esgotada - Foi o primeiro trabalho literário no interior das prisões portugesas. FEIRA DE LIVROS - MAS ONDE TAMBÉM NÃO FALTAM DIVERSÕES, CAFÉS, GELADOS, FARTURAS, COMIDAS, VINHOS E CERVEJAS
Não há
evento onde não esteja a cerveja representada - E lá estava, ocupando o centro do
parque com preguiceiras para que o álcool fosse bem digerido. Até porque é indispensável alcoolizar a cabeça e gasificar as barriguinhas. É por isso que, depois dos vinte, há
muita barriga avantajada. Mas vá lá que, um pouco mais abaixo, havia uma prova
de vinhos do Tejo - Ou não é verdade que um bom tinto, com peso conta e medida,
além de bom digestivo e das suas propriedades antioxidantes, dá trabalho a
mais de um milhão de portugueses? - Então porque só chamam os gases da cevada
fermentada para apoiar a seleção nacional?!...Qual o preconceito?!..O que é que se exporta mais é vinho ou cerveja?..
VALE A PENA LÁ VOLTAR Voltei, no dia seguinte ao Parque Eduardo
VII – Era o dia mundial da criança. E constatei que havia ali muita brincadeira
cultural para a miudagem. As aldeias morrem por falta de nascimentos, e, nas
vilas e cidades, o panorama também não é muito animador – No entanto, face a
tantos eventos, dedicados à pequenada, a impressão era de que, afinal, a vida
ainda se vai renovando, pese a grave crise dos novos tempos LÍDIA JORGE - A TERNURA DE SER INTELIGENTE, SIMPLES, OBSERVADORA E DIRETA
Sabia que ia ali estar Lídia Jorge
para autografar o seu última livro,
A Noite das Mulheres Cantoras“ « A
Noite das Mulheres Cantoras é um romance exemplar tanto na representação das
relações sociais entre as personagens quanto na vertente histórica. […]
funciona como um poderoso aguilhão da memória pessoal, que certamente encantará
os leitores.» Sem
dúvida, mais uma obra magistral de uma das maiores escritoras portuguesas da
atualidade. – Quis aproveitar a ocasião de comprar o livro e de a
cumprimentar – É uma escritora, cuja obra e pessoa, muito admiro.
Mora no mesmo edifício, onde também morava o escritor Vergílio Ferreira – Teve
a amabilidade de me receber também em sua casa, de me ter prefaciado o catálogo
de uma exposição fotográfica AO LADO DO FILHO AMADO
Posteriormente, teve ainda a gentileza de me
escrever um interessante texto para um livro a publicar, com fotos de minha
autoria, poemas de António Ramos Rosa e também outro contributo literário
de Oliveira Marques, que me ofereceu, uns anos antes da sua morte. O meu azar
foi ter batido a portas erradas – Uma editora, perdeu-me os textos, fui forçado
a tirar-lhe as fotografias, a outra, depois de alguns anos de inexplicável
demora, dei-lhe um prazo, não o tendo cumprido, retirei-lhe o projeto.
Depois disso, desinteressei-me. Falámos sobre o
assunto. Pedi-lhe a sua colaboração. Entusiasmou-me. Vamos lá ver...Ainda no
espaço da Leya, pude fotografar e falar com vários autores. Claro,
não me era possível comprar os livros de todos, mas comprei ainda o romance de
Inês Pedrosa, “DENTRO DE TI VER O MAR” "A história de três mulheres desobedientes e de como cada uma delas encontra a sua própria voz".Gostei do título, pois fez-me lembrar o
sentimento de liberdade que sentia, quando me confrontei, sozinho, ao longo de
vários dias e noites no oceano.” A referida obra é
classificada, por Agustina Bessa Luís, como “um esplendor que nos surpreende” –
Avaliar pelo que já li, foi de facto a sensação que tive.
A CRISE TORNA A VIDA TÃO CHATA! VALE A PENA SORRIR
Naquela tarde, pude dar um abraço a Mário Zambujal, - até parece que a idade não passa por ele, agora envolvido também no JornalSéniorO autor dos Bons Malandros, lá estva com as suas Dama de Espadas – Crónica dos Loucos Amantes, de Mário Zambujal, o escritor que ao longo dos anos tem conquistado várias gerações de leitores é uma obra singular sobre as conturbadas relações entre homens e mulheres, - Sim, foi uma peregrinação proveitosa - Nuns casos, só quase de passagem, noutros mais estreitos e afetuosos, convivi, dialoguei e fotografei vários autores - Entre os quais também, Helena Sacacura Cabral - Amorosa na escrita e em pessoa: tenho já vários livros de sua autoria, que adoro. Estive ainda na sessão de
autógrafos da atriz Lídia Franco, tradutora de UM HINO À VIDA, de Eric-Emmanuel
Schmitt. Simpática e afável, Expansiva e bem humorada, como sempre. Um
belo encontro com uma atriz que, tal como é referido na contra capa pelo
autor, gosta de “falar de coisas complicadas em palavras simples, aquecer
o coração, dar sentido à vida” .
O POETA QUE JÁ FOI CRÍTICO - AGORA ESCREVE E É EDITOR
Passei depois junto
às edições da editorial Minerva, onde se encontrava, o seu editor literário
para autografar Palmadas e Rebuçados. Não conhecia o autor mas fiquei a
saber que já tivera um programa, sobre poesia, na Rádio Renascença, há uns
anos e que não é noviço nestas coisas da escrita. Foram momentos muito
animados. Não pude comprar o livro (pois o stand não dispunha de multibanco)
mas fiquei com imensa curiosidade pela sua obra.
“Osvaldo enfeitiçador de cobras e lagartos»
Já mesmo quando me ia embora, deparo com uma
animação para crianças – Tratava-se do “Osvaldo enfeitiçador de cobras e
lagartos» da autora Helena Osório, apresentado pela ator Joaquim
Nicolau - Sem dúvida, um ator talentoso. Faz divertir os
miúdos e os graúdos. Ao passar naquele espaço infantil, não me era
possível ficar indiferente. Pude depois falar com ele e também conhecer a
autora Helena Osória, que me pareceu uma mulher extraordinária, uma escritora
amorosa e de uma grande sensibilidade – Estava longe de imaginar que me ia
surpreender com um tão maravilhoso livro infantil, inspirado numas férias que
passara em S. Tomé.
A HISTÓRIA DE UMA
MENINA QUE SONHAVA COM UMA VIDA MELHOR
“A partir de uma breve introdução sobre a
lenda algo fantasiada do galo de Barcelos, representativo de Portugal (e até da
Galiza, pelo milagre de Santiago de Compustela que se descreve), Helena Osório
parte para os contos da fada dos dentes que se preocupa com a higiene oral dos
mais novos. O galo acompanha a fada em todas as aventuras e ganha mesmo dentes
para sentir a importância de os bem tratar e para poder ensinar às crianças e
jovens o que fazer para prevenir cáries e outros problemas. Entretanto, algures
em África, uma menina perde dentes de leite e chama pela fada para os trocar
por ouro. Os três viajam até à terra do galo onde a menina entra pela primeira
vez no consultório de um estomatologista e fica fascinada com um menino que tem
cócegas nos dentes e se ri muito enquanto está a ser tratado"
Vou tomar a liberdade, de seguidamente,
transcrever alguns excertos das duas primeiras páginas..
“Era uma vez, EM ÁFRICA, UMA MENINA
QUE SONHAVA COM UMA VIDA MELHOR...
Em África, o dia faz-se cedo e a
tarde anoitece depressa, antes das seis. Toda a família se deita, ainda o
vermelho de sol se destaca no riscado azul petróleo de um céu a pedir
noite, porque o calor obriga a despertar de madrugada e porque não há
televisão. As crianças pedem aos pais para deixarem as portadas abertas,
contando as estrelas e levando-as para os seus sonhos. Quando as estrelas não
se fazem rogadas e entram com a brisa morna para lhe acariciarem os
cabelos emaranhados negros, até a natureza se ri, o calor fica mais fresco e os
lábios carnudos das crianças desenham um coração vermelho, como se o sonho
ganhasse sabor a mangustão. Mangustão?
Ito acaba de perder dois dentes que coloca
debaixo da almofada, esperando ansiosa pela fada chegada da fada dos
dentes que os vai trocar por papitas de ouro. A menina credita, seriamente, que
a fada existe- como não duvida que esta a vem ajudar a ter uma vida melhor do
que aquela passada na sua ilha, situada no meio do Golfo da Guiné, mesmo em
cima da linha do Equador. É que, para as crianças, os dentes são um tesouro!
Ito está ansiosa com uma visita tão
importante. Ousa percorrer a casa de madeira , às escuras, orientada pela luz
ténue dos lampiões celestes – a qual entra filtrada às riscas, por portadas em
ripas, que não sabem abafar o bater das ondas aos pés da aldeia dos pescadores.
Os enormes olhos negros são faróis na escuridão. Negros na mistura de todas as
cores, como as penas do galo que Ito ainda não conhece.
A menina crê que a fada dos dentes vive na
estrela mais brilhante do seu céu e segreda-lhe desejos. Só não sabe que é
amiga do galo, nem tão pouco conhece tal terra portuguesa. Gosta tanto dos
dentes de leite que pede à estrela para estes deixarem de cair. Claro que é um
gosto irreal, porque todos temos de perder os primeiros dentes, para dar lugar
a outros mais fortes e duradouros.
Quando adormece, a fada da estrela –
sempre com o galo pendurado na tiara da fada princesa -, entra nos seus
sonhos e fala-lhe assim:
- Ito, acorda! A noite está linda, vamos
passear!
O galo canta, a menina desperta e arregala
os olhos vermelhos de sono. Um vulto muito branco, de faces coradas, , e
cabelos de ouro, caindo em cascata, debruça-se sobre o seu corpo mais
pequenino, aninhado e quase nu. Salta. O galo bate as asas e a menina apanha um
susto tremendo.
- Socorro! Um espírito!
. Calma, Ito! Somos amigas! Vim buscar os
dentes debaixo da almofada.
- Fa-fada dos den-te-tes?
- Sim, a fada dos dentes e o amigo do galo
preto. Sabes quem somos. Falamos em pensamento... –diz, intrigando a menina. –
Não queres que te caiam os dentes, mas todos temos dois conjuntos de dentes:
primeiro nascem os de leite que se devem cuidar bem, pois reservam o espaço para
os dentes permanentes que têm de durar toda a vida. Toma!
A fada estende o punho fechado à menina
que o agarra e o abre, apressadamente. A mão da fada espreguiça-se em
forma de estrela do mar e, na palma da osga transparente, brilham duas grandes
pepitas de ouro (uma por cada dente).
- Aqui tens! É uma troca justa. Os teus
dentes valem ouro por os tratares tão bem.
- Como sabes que os trato bem?
- Leio sorrisos...
Ito agarra as pepitas numa só mão
que fecha com força, temendo que o galo as trinque por se assemelharem aos
grãos de milho. Mas os galos não têm dentes, nunca viu dentes nos galos nem
asas que os façam voar para muito longe. A fada dá uma gargalhada que
ecoa no infinito e se desfaz nos trambolhões das ondas (a gargalhada, claro).
- Não tenhas receio de perder as
papitas. Não uso pozinhos de PERLIMPIMPIM
(...) - É verdade que vives numa estrela?
- Vivemos. Eu sou uma estrela que dá
esperança e luz. O mesmo acontece com o galo. Não conheces a lenda?
A menina encolhe os ombros.
O galo é o símbolo de um país longínquo,
Portugal – continua a fada, exibindo o amigo na mão como se fosse um falcão
magnífico. – Acreditas-te que vínhamos e trago-te ouro. Queres uma vida melhor?
- Como sabe?
- Leio pensamentos.
(...) - Leio que escovas bem os
dentes, pelo menos duas vezes por dia
- É bruxa?
- Bruxa boa! Adivinho porque não tens
monstros na placa bacteriana que vivem na boca e enfraquecem os dentes...
Galo preto! Estás dispensado!
E o galo canta agora numa língua diferente
da portuguesa, a língua de um galo.
- Monstros? –assusta-se a menina.
O galo dá um salto na cabeça da fada, que
é o seu melhor poleiro, e logo salta para o chão que debica alegremente.
- Sim, monstros na tua boca e na de outros
meninos se não lavarem bem os dentes e se comerem mais guloseimas e batatas
fritas de que legumes e fruta.
- Pois, não é o meu caso. As minhas
guloseimas são fruta de que gosto comer á beira-mar e, de preferência,
lavada com água salgada: banana, fruta pão, matabala. canja-maga, abacaxi,
abacate, jaca, papaia, safu, cola e MAGUSTÃO!
- Concordo. Mangustão é um fruto duro do
qual se comem apenas os gamos brancos em torno do caroço. Hum! Sabe bem
(diz de olhos fechados, imaginando-se a saboreá-los).As únicas árvores de
mangustão existem no centro da Ilha de São Tomé.
- Por isso, os teus dentes são brilhantes!
É necessário comer menos alimentos à base de açúcar e de amido, porque se
colam aos dentes e fazem crescer os monstros na placa bacteriana.