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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

(2) SÃO TOMÉ E A GUERRA DO BIAFRA: ESPIA “MATA HARI” OU A “MADAME DU CAPITAINE” - O ROCAMBOLESCO EPISÓDIO DUM PIDE DEBAIXO DA SUA CAMA NA POUSADA S. JERÓNIMO


Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

Jorge Trabulo Marques - Jornalista 


 Imagens de um dos aviões da famosa ponte aérea de auxilio do Biafra -  A descolar do Aeródromo de S. Tomé  -  registo de Jorge Trabulo Marques, autor deste blogue - Voos que fizeram história, e já com mais de 40 anos.

MULHER DE CAPITÃO FRANCÊS, USADA COMO ESPIA -  CÓPIA FIEL DA CÉLEBRE - a Mata Hari
 Não era bailarina de profissão mas não faltava aos bailes e nos convívios dos mercenários - exibindo o seu fulguroso charme.   Fiz-lhe algumas fotografias, mas não as tenho, um português, ali residente, ficou-me com todo o espólio e ainda não teve a gentileza de mo entregar até hoje,  agora tenho de me servir da sósia em cinema. - da Inesquecível Greta Garbo
ARRIBOU EM SÃO TOMÉ, DURANTE A PONTE-AÉREA SÃO TOMÉ-BIAFRA – E POR LÁ FICOU  - VIAJAVA COM FREQUÊNCIA PARA FRANÇA, MAS PASSAVA NA ILHA A MAIOR PARTE DO TEMPO, SOB O PRETEXTO DE NÃO SE DAR BEM COM O CLIMA EUROPEU

- UMA NOITE UM PIDE, ENTROU À SOCAPA NO SEU QUARTO, PÔS-SE DEBAIXO DA CAMA PARA ESPIAR MAS FOI SURPREENDIDO

Era conhecida por Madame do Senhor Capitão ou a  “Madame du  Capitaine”. Falava português com sotaque francês, acentuado, e, embora pretendesse passar discreta, acabava por dar nas vistas: ostentava jóias caríssimas, vestia elegantemente, e, por onde passasse, os perfumes caros que usava, dir-se-ia  ofuscarem os das mais perfumadas acácias, passando grande parte do tempo a bronzear-se na praia ou nas esplanadas a cavaquear com estrangeiros. E também para engatar alguns. Não se pode dizer que fizesse prostituição: entregava-se aos prazeres da carne, não por dinheiro,  pois via-se que não precisava, mas para recolher informações.

Naquela altura, a colónia portuguesa, transforma-se na única ponte de  solidariedade e de auxílio ao martirizado povo biafrense, pelo que, diariamente, além  do aeroporto se haver transformado numa porta de entradas e saídas, com aviões das mais diferentes nacionalidades a pousarem ou a descolarem, também a capital do pequeno território, era uma autêntica babel: desde freiras, padres, pastores, mercenários, negociantes de armas, espiões. jornalistas, era um movimento fora do habitual.  Durante o tempo em que se manteve a referida ponte,  os dias da pacatez e da monotonia, da pequena capital, pareciam já pertencer ao passado...

A MADAME E UM FOTÓGRAFO DA ANI - À NOITE E NO MOMENTO EM QUE AMBOS SE IAM DEITAR, A CAMA CEDEU E O PIDE, SENTINDO-SE APERTADO, SOLTOU GAZES  E ELA GRITOU - TODA A POUSADA DEU-SE CONTA DO ESCÂNDALO - MAS QUE ACABARIA POR SER ABAFADO

Quem me contou o episódio, com todos os pormenores,  foi o próprio fotógrafo: - o Gouveia.  Ocorreu na Pousada S. Jerónimo. Tinha um só piso e os quartos ficavam aos rés-vés da rua a curta distancia da praia,  pelo que era fácil lá entrar durante o dia. O Pide infiltrou-se lá, quando  as janelas ficavam abertas para arejar os quartos. 

Eles andavam desconfiados que ela usasse meios de comunicação com o exterior - E eu sei que não se enganavam. O fotógrafo apercebeu-se disso; viu lá os aparelhos e disse-me: “Estou convencido de que a Pide também já conhece os segredos da “Madame du Capitaine“! Espero que não me apanhem com ela. Senão ainda vamos os dois de cana!... Mandaram-me para S. Tomé para fotografar e não para me meter em sarilhos.

Ora, como a cama, era rasteira,  e  o Pide não calculara que a dita espia, pudesse ter visitas às tantas da noite, claro, acabou por apanhar um grande apertão nas costas, e, ela, pelos vistos, um valente susto.

O Gouveia, ao entrar no quarto, vendo-a, já toda nua, perfumada e pronta a  ser “consumida“,  atirou-se a ela que nem um leão esfomeado. Naquele momento, o Pide, sentindo-se atingido nas costas, soltou um traque e um ai dorido, seguido do desabafo: “Aí sua puta! E mais esse cabrão! que me partiram as costas!”- A reacção dela ainda foi maior: desatou a gritar: “Me violaram o quarto para me assaltaram! Socorro! Socorro!!” - Os gritos acordaram todos os hóspedes. Pouco depois, os corredores, enchiam-se de pijames para ver o que tinha acontecido. Mas já não viram o Pide: ele pusera-se imediatamente na alheta: abriu a janela e, saiu, precipitadamente rua fora, não querendo dar tempo que fosse reconhecido,  salta por onde havia entrado:  só que, agora, não com a descrição e a calma, com que ali se havia infiltrado. O caso ficou abafado - na rua ninguém se atreveu a falar do caso. A Madame optou por  ir hospedar-se na modesta Pensão Henriques, onde também o fotógrafo se encontrava hospedado. Pelos vistos, para grandes males, grandes remédios - E há males, que até nos arranjinhos, não só vêm por bem, como dão grandes jeitinhos!

Eu também estava ali hospedado – E, quando o fotojornalista, partiu para Lisboa, ela colou-se a mim. Mas, num dia em que ia entrar para o seu quarto, para nos envolvermos, em mais umas caricias,  o gerente, que já andava desconfiado da nossa  "marmelada", aparece ao fundo do corredor, com esta expressão: Sr. Jorge! A minha casa não é uma casa de prostituição! – E lá se foram outras oportunidades.





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SÃO TOMÉ, AUTÊNTICO CENTRO DE ESPIONAGEM INTERNACIONAL E DE MERCENÁRIOS – ENTRE OS QUAIS O FAMOSO Rolf Steiner.Remember Biafra
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 Conforme já tive oportunidade de me referir (em São Tomé e a Guerra do Biafra) http://canoasdomar.blogspot.com/2011/08/sao-tome-biafra-odisseia-dos-voos-de.html havia mercenários e espiões para as mais diversas tarefas e missões. Espiões disfarçados de turistas ou de repórteres que passavam relatórios dos horários do voos e os denunciavam aos ingleses (a BBC transmitiu várias noticias desse género) e também ao governo federal nigeriano ou então queriam recolher informações do terreno através de pilotos e mercenários, que frequentemente ali regressavam para se estenderam ao sol nas praias, a própria contra-espionagem francesa e alemã, americana e russa, que procurava baralhar e contraditar essas informações, negociantes de armas, jornalistas que chegavam de toda a parte(fotógrafos e operadores de imagem de cinema e televisão)contrabandistas    de dólares, proxenetas – e talvez até sabotadores: ou então como se  explica que dois caças não chegassem a a ser enviados para o Biafra, por falta das asas. Eu vi-os, mais tarde, depois do conflito, no Hangar do aeroporto. Vi gente dessa - conheci e privei pessoalmente com duas personagens dessa multifacetada fauna.  Vi, por várias vezes, um tal alemão Rolf Steiner, mercenaire  (sempre de camuflado e de boné na cabeça) com fama de ter atrás de si um currículo diabólico: militou na juventude hitleriana, ex-sargento da Legião Estrangeira na Argélia, com missões na Correia , Sudão  - onde houvesse necessidade de recrutamento de mercenários, lá estava  ele  à cabeça. E foi o que aconteceu também no Biafra. Tendo feito da  Ilha de São Tomé, o lugar de eleição para vários fins de semana ou  períodos mais prolongados  para descanso e lazer -  retemperar forças.




Naquela altura, a “Madame du Sir Capitaine”, embora desse nas vistas, ainda era encarada como uma turista. Só que, a “Madame”, aparentemente, parecia haver tomado o gosto  ao mar e ao sol bronzeador do equador e vai de ir e voltar, em períodos de três ou de seis meses. Dizia-me ela que se desabituara do frio da Europa e tinha necessidade de o trocar pelo clima equatorial. Ainda tomámos vários café, juntos  na mesma mesa e foi a explicação que  me chegou a dar. Embora mantendo um certo ar snobe, era afável e  comunicativa. E comigo até muito amável. Porém, a PIDE, seguia-a de perto e vigiava-a como o cão que fareja uma cadela de cio. Onde quer que se sentasse, lá estava um PIDE, perto da sua mesa - Sobretudo depois que a dita ponte aérea terminou e ela continuava a fazer a sua vida de turista rica. Tal como o Alemão, o Dr. Kraune, a que também já me referi. Só que este (pelo menos enquanto o arquipélago de S.Tomé e Príncipe não se tornou independente) soube disfarçar mais facilmente a sua permanência, sob a justificação de estar a fazer levantamentos turísticos para a RFA 
 
O Dr. Kraune dominava fluentemente o português e várias línguas. Era muito culto. E também tinha uma grande paixão pelo mar, tendo comprado um catamarã. Falei com ele muitas vezes, revelando-se sempre um bom amigo e um bom conversador. Além da minha companheira negra, o outro foi o cantor e navegador solitário francês, Antoine, a saberem (dias antes) da aventura que tencionava realizar de São Tomé à Nigéria*que***Antoine Biographie - A travers les âges*****-Antoine (chanteur) - Wikipédia


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- Estava de passagem numa viagem, creio que à volta do mundo. E tinha o veleiro atracado junto à ponte do cais da alfândega. Ofereceu-me a carta marítima (do Golfo da Guiné) a  que tem nas mãos, que se vê na imagem. Foram as únicas pessoas  que souberam  que eu  queria aventurar-me a tão arriscada  viagem – de São Tomé à  Nigéria – 13 dias, de alto mar, numa piroga nativa.

A experiência dos 3 dias ao Príncipe (embora atribulada mas coroada de sucesso) ainda era pouco demonstrativa para a teoria  que eu pretendia comprovar. Admirou-se por eu partir só com uma bússola. Respondi-lhe que, só assim, sem outros meios sofisticados, poderia defender a possibilidade das ilhas terem sido alcançadas por naturais da costa africana – Ofereceu-me então um frasco de vitaminas. “Leve estas vitaminas que, se sentir fraco,  o podem compensar com a falta de mantimentos. O  mar é imprevisível; pode perder-se!... Vêm os tornados e arrastam-no para qualquer parte!...No mar nunca  se sabe o que nos pode acontecer".
 
Agradeci-lhe a oferta. Vi que compreendia o meu desafio e até me encorajava. Mas, em boa verdade, a sua actividade sempre me intrigara e  me parecera algo enigmática. Julgo que a PIDE o controlava. Já que era frequente aparecerem um ou dois agentes nas mesas ao lado, quando  nos sentávamos  na esplanada do Rialto, junto à foz do Água Grande, ali de frente para a Baía. 

Aliás, eu também era seguido pelos PIDES, desde que fizera a travessia ao Príncipe, tendo sido preso e sujeito a duro interrogatório nas suas instalações por suspeita de me querer ir juntar aos “inimigos dos portugueses”, diziam eles, “que residiam no Gabão”. Estavam enganados. Não era essa a minha intenção. Mas se fosse lá parar (e eu ia mentalizado para  o que desse e viesse) não me importava de pedir ajuda fosse a quem fosse.  

Hoje acredito (tenho a convicção) de que o meu amigo alemão, já, naquela altura,  estava ao serviço da RFA - aceitando depois a missão de duplo espião: -  E julgo que foi essa a razão que o levou a  refugiar-se no Gabão, zarpando apressadamente, no seu barco, quando pressentiu que estava sob suspeita e que poderia ser preso, tendo, na ex-colónia francesa,  passado a  desempenhar as funções de conselheiro do Presidente Omar Bongo. Claro, que, para um espião de alto nível, nada melhor do que juntar-se à principal fonte de informações.
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A “Madame du Sir Capitaine”, já se havia apercebido que a polícia fascista a perseguia, tendo chegado a manifestar-me o seu incómodo na Pensão Henriques, onde viria a hospedar-se, depois da bronca na Pousada S. Jerónimo - e até para ficar mais próxima do seu principal engate - Depois do jantar, sentámo-nos, várias vezes, na mesma mesa, onde me fizera aquele desabafo. Eu já não trabalhava na Roça mas na Brigada de Fomento Agro Pecuário.  Ia jantar na sala ou na esplanada do restaurante daquela pensão. Era do género de mulher fatal que nunca descia da seu ar altivo de madame burguesa, mas capaz de saber utilizar o mais sofisticado arsenal - nomeadamente,  através de jogos de perfumes e de uma certa sensualidade corporal, em que parecia ser mestra e um olhar que podia passar rapidamente de angélico à da serpente que seduz e atrai as suas presas num simples relanço ou esticar de língua e logo directamente p'rá boca. 

Sim, mas passe a imodéstia, o meu olhar também não lhe ficava atrás. Em fixidez e  a bailar. Ainda hoje o faço e à velocidade que eu quiser de canto a canto. Eu tinha desenvolvido a dança do olhar com algumas das mais experimentadas mestras de feitiçaria - exímias no bom ou no mau olhado.Foi logo em criança, com as bruxas (as filhas da Estrela da Manhã ou do Anjo da Luz), que se reuniam de noite às sextas feiras e em determinados dias do ano no velho solar do Vale Cheiroso (também conhecido por Vale Cheínho) num culto secreto ao Deus Cornudo, às horas em que aquela estrela se levantava no horizonte.



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Ainda hoje gosto de por lá deambular com as minhas túnicas. Nessas horas tardias  da alta madrugada, quando eu e as minhas simpáticas irmãs e mais os outros rapazes da minha idade (cada uma levava o seu miúdo, é claro, sem os nossos pais saberem), depois de transpormos o enorme portal (que se vê na imagem) do vetusto solar em ruínas  e nos reunirmos no centro  do largo terreiro, ao despontar Vénus não víamos apenas o símbolo do esplendor e do encantamento sobre a noite,  mas uma Vénus Brilhante, anunciadora da aurora , uma verdadeira estrela brilhantemente a tremeluzir!... .Que espectáculo mais sedutor!... Que noites magnificas!...

 Que saudades!...Mais as suas danças, em que todos nos envolvíamos,  com os braços estendidos em rodopio, até cairmos e rebolarmos no chão de tontos e elas de tontas.... Num louco frenesim a raiar a alucinação, a que se seguiam uns golos do sangue de galo, então sacrificado e ainda quente, que bebíamos de uma malga. Eram velhas mas alegres e arribadas!... Vinham de várias aldeias para se juntarem nos rituais dos seus sabbahts... Tempos e noites de magia e mistérios que não voltam mais!... Foram maravilhosas e tiveram o condão de  exercerem em mim um grande fascínio pela noite - Talvez não tivesse ido sozinho para o mar, se não tivesse passado por essa singular experiência. O ambiente nocturno e em plenas trevas tempestuosas - para um homem solitário numa piroga à flor do mar,  que não esteja minimamente familiarizado com a noite, é algo que o deixa assombrado  e o esmaga.

- .Ah, mas eu estava a falar do olhar da Madame!.. - e é isso que eu quero aqui sobretudo abordar - esse, era inigualável!... Quando queria e olhava mais fixamente - era mais  fulminante do que as cobras! Mais certeiro que o das serpentes mais perigosas!... Tipo ave devoradora! Era de uma destreza  implacável! ...Devia ter aprendido a táctica nalguma escola de  espias ou de espiões. De autêntica comilona!...Capaz de tragar alguém dos pés à cabeça, num só leve mexer de lábios e fixidez de olhar. Oportunidade de me apanhar, ainda chegou a estar iminente...Porém, algo  na hora veio desfazer o enlevo e perturbar-me a entrada no seu quarto. Era o dono da pensão que nos vira levantar juntos da mesa e, desconfiado, subia as escadas à nossa esteira. Mas depois desisti. Sabia que dificilmente podia concorrer com quem tinha mais tempo disponível. E dinheiro para estar ao nível das suas exigências na mesa.  Ele falava fluentemente francês e, mal a via afastar-se dos convívios com os estrangeiros, ia logo atrás dela, todo assolapado.Ela imediatamente correspondia, pois era da maneira que os PIDES a deixavam mais em paz.  Era fotógrafo (pago por Lisboa) e dispunha de todo o tempo no mundo e não tinha horários  para cumprir. E levou a melhor. Confessou-me, uma certa vez: ”Não sei porque motivo os senhores PIDES me não largam! Até na praia  vêm espreitar meu rabo.”  Ela conhecia-os, como, de resto, toda agente:  - numa cidade pequena, todos se conhecem. Além disso, eles vestiam farda branca e usavam o crachá, quer no desembarque dos navios, quer na recepção dos passageiros no aeroporto. E, muitas vezes, até se viam fardados nas esplanadas, em animadas tertúlias. Mas, quando queriam seguir alguém (e fizeram-no permanentemente, a Mário Soares, durante o tempo em que  ali esteve exilado), sabiam bem como fazê-lo: “Este cabrão quer ser Presidente da República mas vai ser presidente quando as galinhas tiverem dentes!” - Ouvi esta expressão de um PIDE a outro PIDE, no momento que, o Dr. Mário Soares e o Sr. Aprízio Malveiro, se sentavam na mesma esplanada do Rialto. Eu estava numa das mesas e ouvi perfeitamente o arrufo pidesco









Não deixe de ler - Este impressionante relato do drama vivido por corajosos pilotos portugueses, de que aqui lhe deixamos uns breves excertos  – “Em Julho de 1969 o seguinte pessoal ex-FAP foi contratado pela Biafra Air Force para operar uma esquadra de T-6G.
- Pilotos: Gil Pinto de Sousa (P1/62), Artur Alves Pereira (P1/62), José Eduardo Peralta (P1/62), Armando Cró Brás (P2/62) e mais tarde (Outubro) José Manuel Ferreira da Cunha Pignatelli (P2/62). - Mecânicos: Faustino Borralho e Jorge Câncio.
As condições salariais dos pilotos eram: salário base de US$ 1.000/mês enquanto fora do Biafra e US$ 3.000/mês quando no teatro de operações. Um prémio extra era pago por cada missão de combate variando o valor com o tipo de objectivo e resultado alcançado. Por cada voo de translado os pilotos recebiam um prémio de US$ 1.000.

(...) Em Setembro de 1969 os primeiros quatro T-6G foram testados em voo e, logo após transportados por via marítima para Bissau. Estes viriam a ser os únicos aviões a sair de Tires com destino ao Biafra

(…) Na segunda metade de Outubro de 1969, Alves Pereira, Pinto de Sousa e Pignatelli descolaram da Costa do Marfim com destino ao Biafra. Alves Pereira descreve o voo: O Borralho e o Câncio foram à frente, combinamos a noite para eles estarem no controle e descolamos de Abidjan, destino Uli, ETA ao anoitecer. O meu plano de rota era directo a Tokardi, já no Ghana, sobrevoar a “banheira”, deixando o Togo e o Daomé à esquerda e apontar à foz do Niger numa zona pantanosa chamada Escravos. Se já fosse de noite e visse o rio, o que sucedeu, virava para norte, sintonizava o BCN de Uli, virava para Leste e já estava em Uli. Veio o azar quando o rio ficou coberto de estratos baixos e eu, sem querer, me desviei para oeste e comecei a levar com as primeiras anti-aéreas. “Pirei-me” novamente para leste, motor em “iddle” desci para 2.000 pés, e sintonizei o BCN que entrou. Apontei para lá e o “blackout” era total. Pedi em inglês e português para me acenderem as luzes e ligeiramente à minha esquerda, em frente, aproximadamente às “10 horas” apareceu a pista. Ninguém falava na frequência e eu também não. A cerca de 400’, estava eu na final, apagaram as luzes todas e toca a borregar. É claro que comecei logo a berrar em inglês e português para acenderem as luzes outra vez. Fui dar a volta e só pedi a Deus para não perder a pista. Acenderam a pista e eu aterrei. O avião foi logo empurrado à mão e protegido, enfiaram-me num “bunker” e só ouvia berrar “air raid! air raid!” Era verdade. O “Intruder” (DC-3 “bombardeiro” da NAF) estava a bombardear Uli quando aterrei. O Zé aterrou mais tarde. Já eu desesperava quando ouvi o ruído do T-6. Gritei “liguem as luzes! Liguem as luzes” e ele lá aterrou.

Gil Pinto de Sousa teve menos sorte. A meio caminho a ADF do seu avião ficou inoperativa e, voando unicamente navegação estimada, foi-lhe impossível achar Uli. Gil ficou totalmente perdido e quando o motor parou por falta de combustível, saltou de pára-quedas. Gil caiu em território nigeriano, 200 km a sul de Keffi. No dia seguinte foi visto por uma mulher nativa e denunciado à policia local que poucas horas depois o prendeu. 


(…) Fui para a prisão em Fevereiro de 1970, não fui lá maltratado, mas os meses passados na C.I.D., antes de seguir para a prisão, foram terríveis, pois era constantemente ameaçado, inclusive com a morte. O Governo Português da altura não tinha possibilidades de me ajudar.” Mais pormenores emna guerra do biafra - clube de especialistas do ab4







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