
Por outro lado, esta noticia fez-me
imediatamente recordar a memória de Manuel Roque, um dos mais bem sucedidos
exemplos de humanismo e de conivência social, junto das populações nativas e de
sucesso económico na atividade comercial e industrial das Ilhas.
QUEM SAI AOS SEUS NÃO
DEGENERA.


Tal pai, tal filho: o mesmo sorriso, a mesma expressão facial: de quem em vida, fora um extraordinário exemplo, humano e social, de engenho, determinação e humildade, tanto no arrojo empreendedor, como no modo de estar na vida.
Quando deixei, São Tomé, em Outubro de 1975, com o objetivo de atravessar o oceano numa canoa, ele ainda era rapaz – Quando ali voltei, em 20 de Outubro do ano passado, 39 anos depois, sim, de seu filho, já vagamente me recordava. Porém, bastou um encontro fortuito para facilmente o reconhecer - Mais elegante e menos forte mas era a imagem, a expressão parecidíssima de seu pai, o Sr. Manuel Roque .
Quis um feliz acaso, que, ao passar junto de uns antigos estaleiros, situados de fronte à Baía Ana de Chaves - já ao fim da tarde e quase sobre a hora do fecho - , a minha curiosidade me levasse a dar uma espreitadela lá para dentro: pois é justamente aí que vou encontrar José Manuel Roque, que acabo por fotografar já após fechar o portão.
No breve e cordial diálogo encetado, recorda-me seu pai, os artigos que publique na revista Semana Ilustrada, acerca da sua atividade, cuja imagem e excertos do texto, aproveito para aqui citar e com muito prazer
Sim, e faço-o com muito gosto, porque, José Manuel Roque, pelo que logo me apercebi, é, realmente, um caso exemplar do filho que sabe honrar os ensinamentos e a memória de seu pai - Do português, simples, de origem humilde, que, além de ter sido um magnifico exemplo de tenacidade, de integração social, de sucesso pessoal, soube também honrar a sua língua e o nome de Portugal – Contrariamente, ao autoritarismo do modelo colonial prosseguido nas Roças.

Um dia, muito conturbado: pois, nessa mesma manhã, também os empregados, feitores gerais e administradores das roças, vendo os paióis esvaziados das armas, que lhe haviam sido retiradas por elementos ativistas, depois de abandonarem muitas dessas propriedades agrícolas, invadiram o Palácio do Governador, atual Palácio Presidencial, insultando o coronel Pires Veloso - Estando por ali perto, na esplanada do Palmar, como jornalista, a observar os acontecimentos, só não fiu linchado e assassinado por milagre - Mas esse é um episódio para contar noutro contexto.
Em boa verdade, muito poucos são os nomes anónimos, que, por este ou
aquele exemplo das suas vidas, não mereciam figurar no rol das grandes personagens
históricas. Pois, mas a vida é assim mesmo: na vida há um tempo para tudo, e
cada tempo, tem as suas recordações – Por exemplo, quem hoje se recorda de
Manuel Roque ou da Casa Manuel Roque, não serão, com certeza, as atuais gerações mas as do seu tempo –
E muitas foram: quer de santomenses, quer de portugueses, ali residentes -
Pois, para quem não se lembre, aí está bem viva a memória, espelhada por
seu filho, José Manuel Roque.
QUEM ERA MANUEL ROQUE? - Respondo com alguns excertos do relato que publiquei na Revista Semana Ilustrada, de Luanda, em Outubro de 1973 - Recordando as suas origens, humildes, a sua
integração e ascensão comercial e empresarial:
Mas no espírito de
Manuel Roque havia de facto uma ânsia enorme de trabalhar, de independência e
de construir ele próprio o seu futuro, no qual sempre confiou e depositou as
melhores esperanças, não obstante as dificuldades e os sacrifícios a que teve
de se submeter. Assim, e ainda durante esse primeiro período da sua vida, conseguiu fazer parte de uma
organização de transportes marítimos. A Sociedade Sagres· Ld - Constituída
pelos já falecidos João Mota e Eduardo Castela que havia de fundar a actual firma
Eduardo Çastela Ld. Anos depois, desligou-se dessa sociedade e foi motorista de
praça, na altura em que pouco mais havia de que cinco ou seis carros de aluguer
na nossa cidade.
Entretanto, ainda
no desempenho da sua profissão, criou uma agência comercial, na qual trabalhou
essencialmente representações. Sempre animado por um forte desejo de ser alguém na vida, o. negócio começa a
entusiasmá-lo. Com alguns fundos apurados na agência de representações, e algum dinheiro
anteriormente economizado, Manuel Roque lança-se a partir de então, abertamente, na atividade
comercial. Simultaneamente instala uma cervejaria e logo· a seguir uma
mercearia. Depois seria a caminhada cada
vez mais arrojada e ampla, até, que, em 1954, passou a dedicar- se totalmente
ao ramo do comércio. Em 1958 fundou, então a sua principal casa comercial e
dois anos depois adquiriu a Casa de Gonçalves Dias.
Manuel Roque é
portanto, actualmente, um próspero comerciante
da praça santomense. Mas nem por isso deixa de ser sempre o mesmo homem:
simples; modesto e trabalhador .É das pessoas que prefere mais a obra às
palavras. E dos que gosta mais de fazer, de construir, de que dizer que vai
fazer isto ou aquilo ou obter esta ou aquela coisa. As pessoas quando se dão conta,
já ele tem mais uma casa, uma vivenda ou
fábrica construída (ele está em vias de
ter três ,como veremos a seguir). Quase não se sabe qual a sua pr6xuna ideia, a
não ser alguns dos seus qualificados empregados, nos quais deposita a maior
confiança , mas nunca perdendo o sentido da sua inteira independência.

UM VERDADEIRO
COMPLEXO INDUSTRIAL

FÁBRICA DE
EXTRACÇÃO DE ÓLEOS

Fazem parte, como
dissemos, de um verdadeiro complexo industrial, devidamente murado. Lá dentro
ficam Localizadas , em sequência, as três unidades fabris. Numa cobertura mais
recente está a fábrica de· extração de óleos. Sob essa cobertura, desenhava-se
à nossa vista, como de surpresa , mal se
transpõe as meias paredes que a protegem, todo um equipamento pleno de qualidade e automatismo.
(…) “Como
complemento a esta fábrica, há ainda a considerar a secção de carpintaria, onde se procede à aparelhagem
e moldagem das respectivas caixas para acondicionamento dos sabões, Nela, igualmente
tivemos oportunidade de verificar que os seus artífices são uns verdadeiros mestres
À excepção do
encarregado da fábrica de óleos' o restante pessoal que ali trabalha nas mais
diversas ocupações, é toda da ilha, o que é mais um forte contributo para o preenchimento
e valorização da mão-de-obra local· . - Excertos - Por Jorge Trabulo Marques
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