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Visconde de Malanza com familiares e amigos |
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Barão de Água Izé |
Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador
Diz, Raul Brandão, em MEMÓRIAS, 1910 – Descrição inserida, em forma diarística, no contexto referente ao ambiente dos costumes, frívolos, corruptos e viciosos, que, nos finas do século XVIII e princípios do século XIX, caracterizavam a nobreza ou da gente que fingia de nobre , da ostentação da burguesia vaidosa e dos fidalgos hipócritas e ignorantes, que se movimentavam entre os salões de festas e bailes ou iam exibir-se nos camarins e corredores do Teatro S. Carlos, em Lisboa ou em Cascais, “ Alimentado a futilidade, o mexerico, a extravagância - Ambiente fútil e dissoluto que acabaria por contribuir para o descrédito e a queda da monarquia, com o assassinato de D. Carlos, a tiro de pistola, no Terreiro do Paço
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Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria |
“Jacinto Carneiro de Sousa, 1º Visconde de Malanza, (1845/1905), fidalgo cavaleiro da Casa Real, nasceu na Ilha do Príncipe, filho de João Maria de Sousa Almeida, 1º Barão de Água Izé. Em 1852 vem para Lisboa estudar no Colégio de Nossa Senhora da Conceição. Herda de seu pai em São Tomé, os prazos: Alto Douro e Monte Belo, casa-se com a sua sobrinha Dona Pascoela Correia de Almeida. O título “Malanza”, refere-se a um dos lugares mais agradáveis da Fazenda Porto Alegre, fundada por Jacinto Carneiro de Sousa no extremo meridional da ilha de S. Tomé. "http://grandmonde.blogspot.pt/2006/12/do-baro-de-gua-iz-ao-visconde-de.html
MAIS TARDE VOLTA A PORTUGAL MAS JÁ NÃO REGRESSA A SÃO TOMÉ
Ainda antes de
morrer: - "Os brancos ficaram-lhe com as roças, e as
propriedades de S. Tomé foram transferidas para uma sociedade por
cotas. É o que consta por aí, enquanto o negralhão estoira com uma pneumonia
dupla - e lá em casa se toca desaforadamente piano com as
janelas abertas de par em par”
Baía de Água Izé |
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Bisneto do Barão de Água Izé |
Pelos seus relevantes
serviços prestados na agricultura, havia recebido o título Visconde de Malanza
- Pelas mesmas razões, também já o seu pai, João Maria de Sousa Almeida,(12-03-1816
- 17.10.1869), havia sido distinguido como o 1º Barão de Água
Izé e Conselheiro do Reino - Era proprietário em S. Tomé e Príncipe e no
distrito de Benguela, assim como em Castelo do Sul e Alto Douro, O poeta
agricultor, a quem, em 1855, se ficou a dever a introdução a
cultura do Cacau em S. Tomé, importando-o da Ilha do Príncipe, para onde havia
sido levado do Brasil, pelo então Governador Manuel Ferreira Gomes A que
me referi neste site, em site - http://www.odisseiasnosmares.com/2016/04/barao-de-agua-ize-nasceu-ha-200-anos-12_81.html

VILA DE MALANZA -
O POVOADO QUE DEU TÍTULO A VISCONDE
Foi este
ousado agricultor quem lançou as bases da colonização ao sul e Sudoeste
da Ilha. E todas as terras, de floresta seculares, que por ali existiam sem
exploração alguma, foram transformadas em belas plantações, e foi dotada
toda esta região inculta de notáveis fazendas ou lindas quintas agrícolas ou
tropicais, que fazem o encanto de todas aqueles que as têm visitado.
E, na
fazenda Porto-Alegre, introduziu o nobre visconde melhoramentos excepcionais.
Montou
serrarias a vapor, construiu um caminho de ferro, lançou uma boa ponte sobre o
Malanza, preparou uma ampla piscina – a primeira da ilha de S. Tomé – e abriu
um campo de aclimatação, aonde trouxe as melhores plantas úteis tropicais.
(…) Não
havia na Ilha de S. Tomé meios de transportes fáceis e seguros, em volta da
ilha, lutando assim os novos agricultores estabelecidos ao Sul, com grandes
embaraços, e então adquiriu o belo vapor Malanza, oferecendo fácil e
rápida viagem aos que se dirigiam às fazendas, para as quais só podia aproveitar
a via marítima.
Foi o nobre
Visconde o primeiro agricultor de S. Tomé que me navio próprio – no Yatche
Vá-Inhá - fez a travessia daquela ilha a Lisboa.
Por muitas
vezes, em terra e n mar, deu provas de grande coragem apresentando-se sempre
nos grandes perigos, com o maior sangue frio.
Nos
serviçais e trabalhadores tem amigos e é sempre dia de grande festa em
Porto-Alegre aquele que faz reunir todas as crianças. Mostra assim o vivo
interesse que nel desperta a população trabalhadora, distinguindo, com singular
afecto os que foram seus companheiros nos rudes trabalhos agrícolas, que
primeiros se fizeram nas fazendas de S. Miguel e Porto Alegre,
Contra a
praga dos ratos, que tão grande prejuízo causa à agricultura, mandou vir
do Instituto Pasteur, em julho de 1895, o veneno que mais se recomenda para o
destruir"
VOLTADA A
SUL E QUASE SOBRE A LINHA DO EQUADOR
NUM QUASE FIM
DE TARDE - Recordações de histórias do Pico Cão Grande, de caçadores
de porcos e de heróicas provas de sobrevivência de pescadores
No meu caso, ir ao Sul, 40 anos depois de meus olhos terem deixado de contemplar o Pico Cão Grande e toda a majestosa floresta do obó envolvente, impunha-se como que uma peregrinação sagrada e obrigatória – Mas eu ainda fui mais a sul, pois desloquei-me até à Vila Malanza, graças à cortesia de bons amigos - o português, Manuel Gonçalves e, posteriormente, do Coronel Victor Monteiro.
Há quem passe pela estrada a fora, que corta a pequena vila e se limite ao olhar as pessoas, as casas, as canoas da praia, mas talvez sem olhos de ver: tira foto, mesmo de dentro do carro e toca a girar - Com aquele olhar apressado do viajante de carro, que é geralmente dominado pela avidez da descoberta, mas, no fundo no que pensa é desbundar quilómetros, atrás de quilómetros, sem nunca se dar por satisfeito.
Não foi o meu caso: - pedi ao meu companheiro de viagem, que tinha alugado o jipe, que me deixasse ali para eu dar um saltinho até à praia para falar com os pescadores, enquanto ele ia até Porto Alegre, já que esse era o principal objetivo do seu roteiro.
E, por lá fiquei, não muito tempo, porque, no Equador, o dia começa cedo mas a tarde escoa-se rapidamente. Mas foi o tempo suficiente para ali passar uns momentos inesquecíveis, convivendo com velhos lobos do mar, caçadores de porcos e no meio de revoadas de alegres e risonhas crianças, trazendo à memórias as aventuras da minha escalda ao Pico Cão Grande e no mar – Veja o vídeo e verá como alegres e hospitaleiras são estas gentes do Malanza – De resto, cordialidade e simpatia, é apanágio de quem aqui nasceu e aprendeu a conviver com as mais deslumbrantes maravilhas da Natureza .
TANTO NAS ILHAS
VERDES DO EQUADOR, COMO DA CAPITAL DO REINO A CASCAIS – OS MESMO SURRIPIANÇO INSTITUÍDO PELOS
PARASITAS DO COSTUME
Naquela época, o
ambiente, de usurpação, que se verificava nas duas ilhas do império colonial
português, situadas no Golfo da Guiné, não era muito diferente
da vaidade e do parasitismo, ostentado em Lisboa, Sintra e Cascais,
que rodeava a família real, tal como demonstrarei mais adiante,
valendo-me de excertos do diário de Memórias, de Raul Brandão, bem de
outros elementos extraídos de um estudo de Carlos
Agostinho das Neves - S- Tomé e Principie - Na Segunda Metade do
Século XVIII
Março 1904 -
MEMÓRIAS – de Raul Brandão
Um dia foi
a Inglaterra e quis viajar como um príncipe branco: comprou um Yacht de luxo
para ir a S. Tomé: cinquenta contos. Na volta não havia carvão a bordo e
deitaram-se a queimar a madeira entalhada, os doirados do barco, as portas, os
salões, as molduras. E o preto sorria. Quando chegou a Lisboa vendeu
o barco por uma côdea.
Rodearam-no
mais brancos, apareceram-lhe mais brancos infatigáveis, pressurosos,
obsequiadores. E mais papel selado, mais contratos e procurações para assinar –
o enredo, a teia subtil em que o negralhão foi arrasado e envolvido,
o verdadeiro, o autêntico drama, enfim, do preto que quer ser branco… Se ele
tinha por acaso um sobressalto, falavam-lhe logo à vaidade ou davam-lhe
noticiam d’uma coisa que se chama o Código, a Lei, à Fórmula, e o preto, que
não compreendia e que se sentia feliz, submetia-se sem contestar, com uma
grande satisfação por fazer parte d’esta raça ilustre e respeitada de brancos,
por ser Visconde, por pertencer à Corte e à alta sociedade elegante.
….Antes de
morrer lá lhe deram o último golpe – de preto. Os brancos ficaram-lhe com as
roças, e as propriedades de S. Tomé foram transferidas
para uma sociedade por cotas. É o que consta por aí, enquanto o negralhão
estoira com uma pneumonia dupla - e lá em casa se toca
desaforadamente piano com as janelas abertas de par em par.
LUXO E DEVASSIDÃO
- DESDE A NOBREZA À CORTE - ONDE O VISCONDE SANTOMENSE SE FOI
METER....

"Cultivam
só o corpo diplomático e a religião; vestem bem, jogam bem, jogam muito,
dançam muito e bem, e flirtam na perfeição. Voltam ao
ostracismo algumas palavras que nós dizemos e que são possidónias como:
chávena, trem farmácia, carnaval, etc,etc,etc.Tratam-se todos por “você”;
alguns têm muita piada e usam todos um ar muito chateado (É da praxe
o calão). A “smart” diverte-se mas não sabe sorrir.
Esta
sociedade, que anda todos os dias nos jornais, vem do alto até
baixo, da aristocracia ao povo, forma uma lista infindável, tem um
cronista célebre, e pode ser vista
(...) A
sociedade lisboeta tinha dois pontos principais de contacto – Cascais e o
teatro de S. Carlos. Era aí que os ricos, ou os que aparentavam
impor-se a certa roda, que dificilmente os recebia
(…)Cascais, com
a adjacência dos Estoris, - diz-me um frequentador – era a corte da
intimidade , em robe-de-chambre, mais fáceis as relações, mais acessíveis e
amáveis, tu cá, tu lá. Quase toda a gente do rei, que ia para lá cedo por
meados de Setembro, cansados de Sintra nde D. Carlos, raro pernoitava, fugindo
a pretexto de tudo e de nada, á convivência da rainha e da Figueiró. A
separação do rei e da rainha, segundo me informaram , proviera de
uma certa dama, que lançou entre eles sizania. Conhecia ainda linda e elegante,
um pouco roliça, de olhos aveludados e lábios vermelhos: nos últimos anos engordara,
e banalizara-se. Tinha a fúria do domínio, e rodeava uma corte de
corte de gente em que ela mandava e da qual fazia parte um diplomata mais tarde
em evidência. Passava por ter relações anormais com a rainha… O marido, pouco
esperto, só tinha como ideal ser ministro plenipotenciário e par do reino.
Em Cascais,
não se vulgarizava. Saía a cavalo enquanto pôde montar . Tinha varizes nas
pernas – informou um dia o D. Afonso. (…) Dava as suas receções à
tarde, principalmente em véspera de festa, para serem apresentadas
pessoas que desejavam r aos bailes, e que em Cascais mais facilmente
obtinham o convite e apresentação indispensável (…)
O D Carlos
fazia vida higiénica de madrugada, tirava fotografias , pintava ligeiramente
algumas marinhas, sentindo o mar. Logo de manhã, saía de cavalo, com chuva ou
com sol ou ia à procura de senhoras que ele perseguia. Tivera, pelo menos um
ano, numa vila do Monte Estoril, uma amante, mas isso não o dispensava de
querer que o julgassem homem de boas fortunas. Escrevia a miúdo a
outras damas, em caligrafia disfarçada, cartas em prosa e em verso à mistura,
quase sempre em francês. Eram muito tolas. Vi algumas e podia ter guardado uma,
que rasguei. Serviam-se de alcoviteiros ilustres, que o faziam encontrado com
as mulheres que lhe agradavam. Outro chegou a dar um baile, para que
o rei conhecesse uma senhora da burguesia media de quem andou anos.
Iam ao
Sporting Clube, mais conhecido pela Parada, jogar o ténis. Não havia escolha
nos parceiros. O almirante Capelo, o explorador, ficava com o sobretudo do rei
no braço, enquanto ele jogava. D. Carlos era um tímido, falava pouco. Numa
olhava de frente: os seus pequenos olhos evitavam sempre os dos outros
A Parada
era a capital do reino de Cascais. Ali se reunia a flor da aristocracia e
o ingresso não era fácil.. como sócio. Só nos últimos tempos é que o Tompson, a
quem chamavam moço fidalgo, facilitou a entrada . Aos domingos davam-se
salsifrés à noite, e todos os anos um grande baile, a que assistia o rei, que
distribuía os parceiros e dançavam uma contradança. A rainha, se ia, não se
demorava. Nos dias da semana , poucas pessoas lá estavam , preferindo os
casinos à beira-mar, principalmente o Estoril.

O rei mal
recebia os ministros, de que se desfazia logo que lhe era possível.
Não se demoravam em Cascais, não os convidava para assistir sequer, às
partidas. Teve d’uma vez com o Soveral. Não lhe conheci nenhum outro.
(…) Em
Cascais era difícil chegar a vias de facto com uma mulher. Meio pequeno,
coscuvilheiro, maldoso, maldizente. Não se falava senão nesta ou
naquela , em escândalos, repetindo-se os ditos de ouvido para ouvido ou
acentuando-se as infâmias. A. M… foi apanhada no pinhal numa atitude
equívoca… A. S…. faz namoro descarado ao rei… Mas as coisas
arranjavam-se para Lisboa. Vinham ao dentista, às compras, etc. A forçada e
grande intimidade estabelecida, de manha na praia , à tarde na Boca
do Inferno , onde toda a agente ia , apesar do vento e da poeira, na Parada ou
à boquinha da noite no passeio Maria Pia, junto à cidadela onde às vezes fazia
uma ventania infernal, à noite nos casinos ou nalguma partida de
bridge, a vida quase em comum e os namoros travados , no ar do mar que
desequilibrava os nervos e torna os amores exigentes, fizeram tecer muitas
aventuras escandalosas. Um ainda fugiu a tempo com a mulher, que, já
madura, esteve em vésperas de cair… Nunca mais voltou a Cascais.
As ceias
nos bailes eram pugnas. Vi isto até no Paço. Uma descendente de D. João IV,
via-a eu agarrar-se a um bufete, com unhas e dentes. Em certas
casas, as ceias nunca chegavam. Uma madrugada, num baile do M…chegou a
iniciar-se a luta… A alta sociedade era, em regra, pelintra. As
grandes famílias tinham gasto as fortunas, e muitas não queriam, ou não podiam,
dar bailes. Só tinham dívidas. Não era possível deixar de ir a S.
Carlos e de satisfazer outras exigências . Havia-os com atrizes com
dezasseis anos de assinatura… Fora o Palmela e poucos mais, não recebiam porque
de todo não podiam. E, se o faziam, era sem cerimónia. Não havia dinheiro! Não
havia dinheiro!

Havia
mancebias antigas e tão respeitáveis , com o casamento, assim, por exemplo, F…
e F… Já ninguém convidava uma sem o outro.
Quer que
também lhe fale da gente que fingia de nobre , da burguesia vaidosa e que fazia
mexerico para ser convidada? A mulher de um grande industrial conseguiu entrar
na casa de um fidalgo, onde ia toda a gente, da grande e da baixa. Convidou-a
para o jantar, para o teatro e nadava contente como um cuco. Um dia não a
convidou mais. Chorou. Isto foi-me afirmado por uma amiga que o viu.
Era uma dama, muito linda, com um soberbo colo, mas com o cérebro de uma arara.
Aí fica o
quadro levemente esboçado por um frequentador de Cascais. Tudo isto
é frívolo e trágico. Lembremo-nos que desta maledicência, dos ditos destas
bocas que sorriem, da ninharia e do encanto, se gerou parte da
atmosfera donde devia sair o descrédito da rainha e do assassinato
do rei.
(…) A
politica portuguesa chegara a estar apenas nas mãos e
dependente da vontade dos chefes. O José Luciano dizia – O meu partido não é que me
leva ao poder -sou eu que levo o meu partido ao poder (…) Alguém
jamais se filiou jamais num destes partidos por principio, por
ideal? Ou foi por interesse, e, mais simplesmente, por simpatias pessoais
EM S. TOMÉ E
PRINCIPIE - "OS CONFLITOS SOCIAIS"
Por outro lado, o
desejo de um rápido enriquecimento levava os governadores e seus subalternos a
efectuar roubos, chantagens, extorsões, vendas de cargos e a colocar os seus
amigos e parentes em lugares cimeiros da fazenda real, tudo executado sob um
clima de terror e de torturas. No limiar da década de cinquenta, o
ouvidor-geral, Cristóvão Alves de Azevedo Osório, era acusado por um morador de
não ter limites nas suas ambições, por efectuar prisões arbitrárias, substituir
os oficiais de acordo com os seus interesses, estimular um motim dos padres e
extorquir escravos aos moradores, que depois remetia para as suas fazendas no
Brasil
.
O governador
Azambuja, para dar satisfação às suas paixões, não hesitava em mandar prender
os próprios oficiais, acorrentando-os na fortaleza sem qualquer acusação. E
para que fossem soltos, mandava-lhes rascunhos de petições que deviam assinar,
em que se declaravam culpados de certos delitos. Perseguiu violentamente uma
viúva por esta ter recusado o casamento de sua filha com um sobrinho seu,
chegando a mandar prendê-la durante doze dias, bem como muitos dos seus
escravos
Também Varela
Barca se queixara à rainha, de que apesar de ter absolvido um réu e ter
notificado o facto ao sargento-mor, o governador mandara-o açoitar publicamente
(39). Era tal o clima de terror que o governador Leote infundia, tanto aos
eclesiásticos como aos oficiais civis e militares, que ninguém se sentia seguro
nos seus cargos. Mandava · prender e degredar os oficiais superiores, acção que
chegou a praticar com o prefeito dos capuchinhos italianos
Acusavam-se os
pretos e mestiços de levarem uma vida dissoluta e preguiçosa e, imitando-os,
também assim procediam os escravos. A maior parte dos senhores não saia da
cidade, deixando a cultura das suas terras a cargo dos escravos, e-sempre que
algum senhor mais cuidadoso os obrigasse a trabalhar, fugiam para o interior
das ilhas. Também os degredados que ali permaneciam eram de pouca utilidade
visto não terem levado consigo as suas ferramentas de trabalho. Na opinião de
Caetano de Mesquita faltavam brancos que reduzissem os escravos à obediência e
fizessem trabalhar os forros
Já na década de
cinquenta, descreviam-se as ilhas como em estado de profunda convulsão e
completa ruína. Nem a igreja constituía excepção (43). A câmara, o capitão-mor
e os principais moradores do Príncipe estavam em tal liberdade, que se
recusaram a obedecer às autoridades ainda sediadas em S. Tomé. Chegaram mesmo a
ajustar retirarem-se da povoação para as suas roças quando o ouvidor se
deslocasse ao Príncipe a fim de lhe não permitirem o exercício do seu.
cargo
.
Para Frei
Boaventura de Veneza, prefeito dos capuchinhos italianos, as acções do
governador Azambuja tinham sido mais um acto despótico que sensato, uma vez
que, para impôr os seus objectivos mandara destruir as plantações dos forros e tomar-lhes
as suas criações à força, bem como queimar muitas casas, nas quais arderam
numerosas imagens de Cristo
Em todo o processo
de conflitualidade que se vivia em S. Tomé e Príncipe na 2.ª metade do séc.
XVIII, merece especial relevo o que opunha os habitantes de diferentes raças.
Na base desses conflitos estavam, a maior parte das vezes, as disputas por
cargos de maior importância" - Excerto - Carlos Agostinho das Neves
- In S. Tomé e Pirncipe - Na Segunda Metade do Século XVIII
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