Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Informação e análise
ESPANHA - AINDA NÃO DESISTIU DE CONTINUAR A CONSPIRAR CONTRA A SUA ANTIGA COLÓNIA NO GOLFO DA GUINÉ

Mokuy queixou-se de as autoridades não
serem ouvidas nos fóruns internacionais.
"O meu país sempre foi
incompreendido, nunca nos ouviram, mas condenam-nos. Tenho de ir a todos os
fóruns do mundo, às Nações Unidas, aos organismos, para fazer ouvir a voz da
Guiné Equatorial", disse.
“Quero afirmar aqui, que, muito antes da entrada do meu país na CPLP, em
Junho de 2014, já o Governo da Guiné Equatorial, havia conseguido uma amnistia
temporal aos condenados à pena de morte” - Afirmações “Quero afirmar aqui, que, muito antes da entrada do meu país na CPLP, em
Junho de 2014, já o Governo da Guiné Equatorial, havia conseguido uma amnistia
temporal aos condenados à pena de morte”. afirmações e Alfonso Nsue Mokuy,
depois de recordar, que, para aqueles, que desconhecem a realidade, a Guiné Equatorial
foi descoberta, em 1472, pelo histórico e navegador português, Fernando Pó:
portanto, a nossa integração na CPLP, significa simplesmente o regresso ao
passado: Mais tarde, em 1778,passou a tomar parte da coroa espanhola, a troco
de um territórios na América do Sul. Daí passou a ser uma colónia espanhola até
ao dia 12 de Outubro de 1978
“Joaquim Chissano destaca efeitos positivos para povo da Guiné Equatorial após adesão à CPLP”


Chissano comentou que, nas visitas que tem realizado à Guiné Equatorial, tem observado "uma nova mentalidade, virada para o povo e para os direitos humanos".

"Costumavam importar tudo, ovos, leite, carne. Hoje já produzem no país", referiu, Joaquim Chissano, que defendia a entrada da Guiné Equatorial na CPLP, o que veio a ocorrer em julho de 2014, no culminar de um processo de vários anos, em que foi definido um roteiro de adesão que previa, entre outros pontos, o fim da pena de morte, a introdução do português como língua oficial e a ratificação dos estatutos da organização lusófona.

"Espero que o futuro possa melhorar na Guiné Equatorial, e se isso acontecer eu ficarei satisfeito porque era exatamente o que eu tinha em mente quando disse que era melhor acolher essa gente", assinalou Joaquim Chissano. Joaquim Chissano destaca efeitos positivos para povo da Guiné Equatorial Joaquim Chissano destaca efeitos positivos para povo da Guiné Equatorial
CONFERÊNCIA SURPREENDEU PELA
POSITIVA, ATÉ RECOLHEU MUITOS APLAUSOS – FACTO INÉDITO NO CORO
HABITUAL DAS ACUSAÇÕES ORQUESTRADAS PELA
COBIÇA DOS SEUS RECURSOS NATURAIS
"Há uma mudança de atitude" entre os governantes da Guiné Equatorial, país liderado desde 1979 por Teodoro Obiang Nguema, afirmou Chissano, em recente entrevista à Lusa, em Marraquexe, Marrocos.


Chissano comentou que, nas visitas que tem realizado à Guiné Equatorial, tem observado "uma nova mentalidade, virada para o povo e para os direitos humanos".
Antes, "eles, se calhar, esbanjavam dinheiro", referiu, numa alusão aos governantes, mas agora os recursos petrolíferos são aplicados "para produzir qualquer coisa para o povo, a nível de educação, saúde, infraestruturas, habitação".
Na agricultura têm também havido progressos, constatou o antigo chefe de Estado moçambicano.





Eu, que cheguei a
conhecer um dos mais sinistros cárceres de África, no regime deposto de
Francisco Macias Nguema, pelo seu sobrinho, o atual Presidente, Teodoro Obiang Nguema
Mbasogo, aproveitei a
oportunidade para ali expressar publicamente o meu testemunho e o meu
agradecimento, por, em Dezembro de 1975, na sua qualidade de comandante das Forças Armadas, me ter salvo do
enforcamento por suspeição de espionagem, quando ali aportei numa canoa, após
38 dias à deriva, depois de ter sido largado na Ilha de Ano Bom, por força das
tempestades, numa frustrada travessia do Atlântico
CORO DE ACUSAÇÕES COM ORIGENS E PROPÓSITOS BEM DEFINIDOS
E o mais paradoxal é que, quem entra no jogo das
habituais acusações, desconhece a realidade do país, nunca lá pôs os pés
- Este é, pois, um dos graves erros de que enfermam os media da atualidade, a
de replicar informações, mesmo sem as confirmar, tomando, como verdades
absolutas, tudo o que lhe é impingido, não importando de saber a origem e
o grau da sua credibilidade: quem faz mais ruido é que é o mais verdadeiro.
Alfonso Nsue Mokuy e Maria do Carmo Trovoada |
"Dizem que no meu país há uma
ditadura, que não há liberdades, que não há liberdade de expressão, de
movimento, que não se pode fazer política. Um país com um milhão e 14 mil
habitantes, tem 15 partidos políticos. Cada um é livre de fazer o que
quer", garantiu.
Um dos maiores produtores de petróleo na
África subsariana, a Guiné Equatorial tem grande parte da população na pobreza
e é acusada por diversas organizações da sociedade civil de violar direitos
humanos."
“A Guiné Equatorial deu uma aula sobre direitos humanos e a sala aplaudiu”
Neste video - 1ºParte da Conferência -

E, na verdade, foi justamente o que se passou: quem
esperava que, a abordagem deste delicado tema iria embaraçar o alto
representante de um dos países mais pequenos do Golfo da Guiné – mas um dos
mais ricos de África – justamente por este facto, um dos mais fustigados pela
orquestra dos media, com persistentes acusações de violações dos direitos
humanos, enganou-se
2ª Parte - Perguntas e Respostas
Por três razões. Porque o tema era "Democracia e Direitos Humanos na
Guiné Equatorial” e vários governos e observadores garantem que essas são,
justamente, duas coisas que não existem no país. Porque três anos depois
de ter entrado na CPLP, na cimeira de Díli de 2014,
comprometendo-se a abolir a pena de morte, a Guiné Equatorial não executou
ninguém, mas também não cumpriu o prometido. E porque
dois dias antes, em Guimarães, o mesmo ministro lançara para o debate público
um conceito novo: Malabo quer abolir a pena de morte, mas está à procura do
"modelo adequado". "O que é isso?", perguntavam alguns
diplomatas antes de o ministro chegar.
Por sugestão de um funcionário português que trabalha para as Nações Unidas
em Malabo, o Centro de Estudos de Direitos Humanos da Universidade do Minho
está a terminar um estudo comparativo sobre a pena de morte em vários países.
"Isso permitirá à Guiné Equatorial escolher o melhor modelo", disse o
ministro.
Esta parece ser a nova abordagem. Para surpresa de alguns convidados, o facto de Portugal ter reinstituído a pena de morte em 1916, depois de a ter abolido em 1867, foi um argumento usado duas vezes para provar "como a questão é complexa". Primeiro pelo embaixador do Brasil junto da CPLP, Gonçalo Mourão; a seguir pelo embaixador Tito Mba Ada, da Guiné Equatorial. "Todos os nossos países têm itinerários diversos. Alguns tivemos recaídas, restabelecendo-a em épocas recentes. Portugal, por exemplo, reinstalou a pena de morte em 1916 e só a aboliu 60 anos depois", começou por dizer o diplomata brasileiro. "No Brasil, foi abolida em 1889, mas reinstalada em 1937, foi abolida de novo em 1946 e estabelecida em 1969. E hoje ainda existe e está prevista para situações em que o país está em estado de guerra", disse, num tom apaziguador, antes de dar a palavra à estrela da sessão. "E a guerra, infelizmente, já é uma pena de morte." Mais tarde, Tito Mba Ada pegou na ponta: "Portugal teve a pena de morte durante muitos anos. A Guiné Equatorial não vai demorar tanto tempo!"
No fim da sua aula sobre o estado dos direitos humanos na Guiné Equatorial,
Alfonso Nsue Mokuy foi aplaudido repetidamente e elogiado ao microfone por
estudantes, activistas e pelo embaixador de Portugal junto da CPLP, Manuel
Santos, que disse que "Portugal não tem dúvidas de que a Guiné Equatorial
vai abolir a pena de morte".
Presidente da Guiné Equatorial gostava de ver o papa em Fátima
![]() |
Filho de Margaret thatcher liderou tentativa de Golpe |
"O meu Presidente, o meu Governo está disposto [a visitar Portugal]
quando o Governo português o convide", disse o terceiro
vice-primeiro-ministro da Guiné Equatorial, Alfonso Nsue Mokuy, que esta
quinta-feira participou numa conferência sobre direitos humanos e pena de morte
na Guiné Equatorial, na sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), em Lisboa.
Questionado pela Lusa se Obiang tenciona deslocar-se a Fátima por ocasião
da visita do papa, a 12 e 13 de maio, o ministro respondeu: "Se [esse
convite] coincidir com a visita do papa, muito melhor".
O Presidente da Guiné Equatorial, país que aderiu à CPLP em 2014, nunca
realizou uma visita oficial a Portugal e é conhecida a sua vontade de se
deslocar ao santuário de Fátima.
Em outubro passado, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa,
convidou os chefes de Estado e de Governo da Cimeira Ibero-Americana para que
visitem Fátima em maio próximo, por ocasião do centenário dos acontecimentos de
1917 na Cova da Iria.
Dias depois, na cimeira da CPLP em Brasília, Marcelo Rebelo de Sousa não
esclareceu se convidou o Presidente da Guiné Equatorial a visitar Fátima, mas
defendeu que impedir essa a visita a qualquer cidadão lusófono "seria
oposto à ideia de mobilidade" na CPLP. CPLP - Presidente da Guiné Equatorial gostava de ver o
papa em

COMO EU CONHECI A GUINÉ EQUATORIAL


OBIANG SALVOU-ME A VIDA - GRACIAS PRESIDENTE!
Conheci este homem há 42 anos - No dia 4 de Dezembro de 1975. Chama-se )Teodoro Obiang Nguema Mbasogo - É o Presidente da Guiné Equatorial. Salvou-me de ser condenado pelo seu tio, o auto-proclamado Presidente Vitalício Francisco Macias Nguema, que derrubaria em 3 de Agosto de 1979 -


O "número dois" do partido que Obiang, de 73 anos, fundou em 1986, defende que "nestes 36 anos, foi instaurado um sistema democrático inicialmente monopartidário, mas atualmente pluripartidário: na Guiné Equatorial convivem pelo menos 13 partidos da oposição, alguns dos quais muito críticos do sistema político vigente e do Presidente".
Depois de ter sido encarcerado numa das mais tenebrosas prisões de África, por ordens expressas do seu tio, o então jovem Obiang, confessava-se extremamente intrigado com o insólito desembarque clandestino de um português numa canoa e quis inquirir-me pessoalmente. A referida cadeia fora mandada construir no tempo colonial espanhol. Chamavam-lhe, naquela altura, a Cadeia Central e situava-se junto à Praia Negra, da cidade de Malabo, capital da Guiné Equatorial Tratava-se, efetivamente, da famigerada – Black Beach
Travessia - S. Tomé - Nigéria |
Quando um prisioneiro, ali dava entrada, era o sinal dado à sua família de que tinha de preparar o caixão para o ir buscar. Uns dias depois de ali ter sido encarcerado, fui conduzido ao edifício do Comando da Polícia e das Forças Armadas (aliás, contiguo à cadeia) onde se encontrava, Teodoro Obiang, sendo ele, então, o supremo comandante, que me mandou chamar ao seu gabinete - Foi o primeiro gesto de cortesia que eu encontrei a nível das autoridades policiais - Estou ainda hoje persuadido de que foi ele que me salvou de ser condenado.
"Durante o chamado "reinado do terror", o ditador macias Francisco Macías Nguema liderou quase um genocídio (...) Nos últimos anos de seu governo, a Guiné Equatorial, chegou mesmo a ser conhecida como a "Auschwitz da África" - In Malabo
"Guineans believed their first president had supernatural powers. Using the knowledge of witchcraft he inherited from his sorcerer father, President Francisco Macias Nguema built a huge collection of human skulls at his homestead to beat his subjects to submission" In FRANCISCO MACIAS NGUEMA. The mad man from Equatorial

"Guineans believed their first president had supernatural powers. Using the knowledge of witchcraft he inherited from his sorcerer father, President Francisco Macias Nguema built a huge collection of human skulls at his homestead to beat his subjects to submission" In FRANCISCO MACIAS NGUEMA. The mad man from Equatorial
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Canoa fundeada - Bioko |
OS FAMIGERADOS ANOS DE TERROR DE MACIAS NGUEMA
Nov - 1975 - OUVIA DA MINHA CELA NAUSEABUNDA, OS GRITOS LANCINANTES DE EXECUÇÕES E ESPANCAMENTOS – ONDE APENAS TINHA UMA LATA PARA FAZER AS NECESSIDADES E UM BANCO COMPRIDO PARA ME DEITAR

"Dizer Black Beach é dizer a morte. Quando um prisioneiro chega a essa prisão, sua família começa a preparar o caixão""
"A realidade de Black Beach é conhecida fora de
suas paredes. A Anistia Internacional elaborou vários relatórios alertando
sobre as condições terríveis da prisão e da existência de tortura e
assassinatos dentro, enquanto o Ministério das Relações Exteriores tenha
incluído na sua lista das piores prisões do mundo e, claro, aquele com o pior
reputação na África.
"Havia
todos os tipos de tortura. Eles penduravam os presos pelos tornozelos,
amarraram-los em posições improváveis, vencê-los sem aviso prévio e em qualquer
momento que eles queriam. Os guardas Black Beach tinham apenas a tarefa de
espancar os prisioneiros", Outro problema era a comida: muitos
prisioneiros morreram de fome. "E o cheiro. As células foram eram
tão estreitas que uma pessoa não se poderia esticar, estavam sempre no
escuro, e seu cheiro era muito forte, insuportável. Às vezes cheguei a
pensar em me matar."
A MENSAGEM SALVADORA DO MLSTP - com data de 27 de Setembro de 1975 - 67 dias depois haveria de me poupar a vida



Era o começo de um longo e exaustivo tormento . Encontrava-me no Atlântico Sul , em pleno mar alto, a 350 km da costa oeste do continente africano e 180 km a sudoeste da ilha de São Tomé. As chuvas constantes da primeira semana, com o horizonte sempre encoberto, impedir-me-iam de avistar São Tomé. Mais tarde avistei a Ilha do Príncipe e Ilhéu das Tinhosas, mas, a falta de remo adequado, não me permitiram a aproximação. Por fim, a 27 de Novembro, acostei numa praia de Bioko (ex-Fernando Pó) .Onde fui preso e encarcerado por suspeita de espionagem.

"MENSAGEM DO POVO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, PARA O POVO BRASILEIRO" - Que não chegou ao destino (dois meses após a independência) mas continua perfeitamente actualizada.


7 de Novembro, 1975 - Ao 18ª dia, de facto, não tinha a menor dúvida: eu via perfeitamente os contornos de uma grande ilha – E só podia ser Bioko , antiga colónia espanhola, “descoberta” , em 1471, pelo navegador português, Fernando Pó - Pareceu-me que não estava muito longe desta ilha, e, talvez, se eu naquela tarde, erguesse a vela, possivelmente os ventos e as correntes me arrastassem para lá, mas tive medo que me prendessem e hesitei – Tendo, porém, acabado por ali acostar, 20 dias depois, ou seja, ao 38º dia, já no limiar da minha resistência física, onde fui tomado por espião, algemado e preso. Antes de transcrever o que registei no pequeno gravador, referente ao 18ºdia, vou aqui recordar o drama que ali vivi.
Na verdade, após ali ter ido parar, depois dos longos 38 dias de solidão no mar, muitos dos quais sem comida e bebendo água das chuvas ou água salgada, só vim a saber que era a Ilha de Bioko (ex-Fernando Pó), quando me pus a caminho pelo mato adentro, até à sede de uma Finca (roça). Ali fui bem recebido, porém, quando o sargento da Polícia chegou, tudo mudou de figura - Este desatou logo aos berros a incriminar o funcionário da Finca por me ter acolhido e dado de comer. Seus Traidores! Seus encobridores! - "Amanhã quero que se apresentem no meu gabinete! " mas o encarregado, acabou também por ir no mesmo jipe. Embora, já noite, obrigou-me a ir mostrar-lhe a canoa, que já estava toda desfeita pelo impacto das ondas na areia, e também dado o estado em que já se encontrava; então mais raivoso e desconfiado ficou, pensando que fosse eu que a tivesse destruído e queria saber onde eu tinha escondido as armas
(...) São quatro da manhã. À nossa frente sobressai uma mancha de luzes. Vejo que é um centro urbano.Tem aspeto de ser vila ou cidade (presumo que tenha sido Luba): "Que lugar é este? - indago."¿Por qué?! .. ¿Qué te importa saber eso! - Responde o chefe da polícia. Fica situado à beira-mar, e, pelos barcos pesqueiros que estão fundeados na baía que o ladeia, denota ser um razoável centro piscatório. Após algumas voltas pelas suas artérias, eis que o jipe abranda e sou imediatamente conduzido ao interior de um edifício. É uma esquadra, não tenho a menor dúvida. À porta está uma sentinela e a inscrição: Policia Nacional de Seguridad
Nove horas da manhã. A cela é aberta e somos acordados. Todos me olham estupefactos e surpresos. A minha surpresa também não é menor. Entre os meus companheiros de infortúnio há duas crianças, duas mulheres e quatro homens (trabalhadores nigerianos. As crianças são ainda de peito.Isto impressiona-me, meu Deus



A MENSAGEM SALVADORA DO MLSTP - com data de 27 de Setembro de 1975 - 67 dias depois haveria de me poupar a vida
A canoa foi carregada a bordo do pesqueiro Hornet, em 15 de Outubro, ao largo da Baía Ana de Chaves. No dia 18, de manhã, o pesqueiro fundeou ao largo da Ilha de Ano Bom- Próximo daquela que era a Ilha mais esquecida do Mundo. Apenas com uma ligaçãp anual com Bioko
Ao pôr do sol, inesperadamente, a canoa foi arreada por ordem do comandante, alegando que a canoa estorvava a pesca e que já não podia deixar-me na zona da grande corrente equatorial, que me arrastaria a oeste ao longo do oceano. Penso que, àquela hora, com a noite prestes a cair, o fez mais para me atemorizar e me convencer a desistir.
Ao pôr do sol, inesperadamente, a canoa foi arreada por ordem do comandante, alegando que a canoa estorvava a pesca e que já não podia deixar-me na zona da grande corrente equatorial, que me arrastaria a oeste ao longo do oceano. Penso que, àquela hora, com a noite prestes a cair, o fez mais para me atemorizar e me convencer a desistir.
Mas enganava-se: eu já havia enfrentado vários tornados, noites escuras e tempestuosas e, na minha mente, havia uma ideia longamente amadurecida e bem determinada: - Ir novamente ao encontro da imensidade atlântica! Ir ainda mais longe, custasse o que custasse!... Ninguém podia demover-me desse propósito e do significado que lhe pretendia atribuir. - Estando o mar calmo, não havendo vento, dada a proximidade da Ilha, havia pois o risco de poder ser assaltado... Praticamente, não consegui sair do mesmo sítio e sempre com os olhos na pequena ilha que tinha ali bem próximo, receoso que alguma canoa saísse de lá. Até porque as últimas palavras que ouvira do alto do convés, foram bem esclarecedoras: "escapa-te daqui o mais depressa que puderes, senão te roubam!!"... Já com as primeiras sombras do curto crepúsculo e após um giro em torno do horizonte, o referido barco aproximou-se de mim e voltou a carregar-me a piroga, prometendo largar-me no dia seguinte. Às tantas da noite, já com o pesqueiro de novo fundeado ao largo e envolvido por enorme agitação, varrido de proa à popa, pela já habitual tempestade noturna da época das chuvas, que o assolara já nas anteriores noites, sim, depois de muitos dos tripulantes virem junto de mim, tentando persuadir-me a ficar a bordo com eles ("Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!.." ) o imediato veio falar comigo para me apresentar na cabine do Comandante: quis dissuadir-me a desistir da viagem, convidando-me a trabalhar a bordo. Não tendo aceite a sua proposta, obrigou-me assinar um termo de responsabilidade.
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Junto a Ano Bom |
Na manhã seguinte, a "Yon Gato", é finalmente arreada ao largo de Annobón, com rumo de retorno a São Tomé - Mal o sol equatorial raiara, como que emergindo do fundo do vasto manto azul circular: à voz de "canoa ao mar"! Lá fui sozinho à minha vida, rumo ao Norte, munido apenas de uma simples bússola! Desiludido por não ter sido largado um pouco mais a sul e a oeste, lá parti, de regresso a São Tomé, pelo desconhecido oceano a fora, a pensar em refazer nova viagem e com o apoio marítimo de alguém que não me traísse! - . Após um dia de navegação normal, com vento pela popa e à vela - mas sempre perseguido por duas canoas para me roubarem os alimentos, dada a extrema penúria vivida naquela ilha - surge o inevitável temporal: um violento tornado, ao princípio da noite, vindo do sudeste, uma súbita rajada de vento seguida por uma enorme vaga, apanha-me desprevenido e ainda com a nova casca de noz, mal acabada de experimentar, solta-me o leme (que lhe adaptei - e só por milagre também eu não fui atirado, com a cana do leme, para o seio daquela escurissima confusão, que só a curtos espaços os relâmpagos iluminavam) deixa-me a piroga atravessada à vaga e desgovernada, varrendo-me os apetrechos e forçando-me alijar da maior parte de viveres para aliviar o lastro e não ir ao fundo


- Lá foram mandados ao mar três bidões de água potável e as latas de conserva oferecidas a bordo do Hornet. Apressei-me a enrolar a vela e a colocar o mastro (suplente) de través para lhe conferir alguma estabilidade e a lançar o 4º bidão de plástico, meio de água, preso a uma corda para fazer de âncora flutuante de modo a forçá-la a estar de proa à vaga.. O colchão insuflável, coloquei-o à proa com a lanterna, sobre o estrado) para o que desse e viesse, sim, era a única boia que dispunha e eu não sabia ainda muito bem como a canoa iria resistir e se comportar.. Escusado será dizer que a noite fora pavorosa!...Não há palavras para a descrever..De manhã improvisei um remo com um barrote e uns bocados que arranquei da cobertura, junto à popa..Sim, nunca cruzei os braços, nunca me dei por vencido: foram infinitos os momentos em que a vida esteve sempre presa por um fio. Mas havia que lutar.




"A recente independência nacional de S. Tomé e Príncipe, e a consequente libertação do nosso povo do domínio colonial português, reforça a afinidade dum passado histórico comum com o Povo Brasileiro, e daí, a razão de ser de uma irmandade que importa reviver, sempre que possível, para se reforçar" -
Assim, aproveitando a travessia atlântica do camarada Jorge Trabulo Marques, que servindo-se de uma simples canoa, vai percorrer o mar, de S. Tomé ao Brasil, evocando a rota por que, na era retrógrada, os escravos eram conduzidos para as plantações da cana do açúcar, o povo de S. Tomé e Príncipe, representado pela sua vanguarda revolucionária, o MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE (MLSTP), saúda fraternal e calorosamente, o povo irmão do Brasil" - Excerto
No dia 3 de Dezembro de 1975, quatro anos antes de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, ascender ao poder., havia-me chamado ao seu gabinete para saber a razão pela qual me havia metido num "canuco" e desembarcado ilegalmente numa das praias, pois o seu tio suspeitava que eu fosse um espião ao serviço do imperialismo americano para recolher secretamente informações e me juntar aos inimigos do povo - Claro, que na cabeça de Macias, não encaixava a ideia de que um europeu pudesse meter-se numa piroga para fazer uma aventura, que não fosse a de ter sido largado (nas proximidades) por um qualquer navio de guerra inimigo do seu regime.
Se não se desse a circunstância de possuir uma mensagem do MLSTP ao Povo Brasileiro, mas sobretudo graças à generosa e humanitária compreensão de seu sobrinho, Teodoro Obiang, sim, dificilmente teria escapado ao fuzilamento. Mesmo quando fui libertado, o seu sobrinho autorizara-me a permanecer na Ilha e até a aceitar o convite (que me havia feito o seu Comissário) para trabalhar nas fincas, dado ser técnico agrícola e ter experiências das roças. E ele gostar "muito do trabalho que os portugueses, ali haviam desenvolvido nas fincas" - Só que, o ditador Macias, continuava desconfiado e ordenou a minha imediata expulsão - Estava autorizado a sair mas não podia permanecer
No passaporte ficaria escrito que tinha quinze dias para partir de qualquer fronteira, mas não foi isso que sucedeu. E a minha sorte foi que nesse dia havia o avião da Ibéria, quando não teria que sair a nado - O pior é que ninguém queria pagar-me a viagem. E o avião não podia levantar voo sem mim. Foi um dilema para o comandante, que só foi resolvido duas horas depois da hora prevista da partida - Mas isso dá outra história.
CONFIRMARAM-SE OS MEUS RECEIOS PARA NÃO APORTAR NAQUELA ILHA

7 de Novembro, 1975 - Ao 18ª dia, de facto, não tinha a menor dúvida: eu via perfeitamente os contornos de uma grande ilha – E só podia ser Bioko , antiga colónia espanhola, “descoberta” , em 1471, pelo navegador português, Fernando Pó - Pareceu-me que não estava muito longe desta ilha, e, talvez, se eu naquela tarde, erguesse a vela, possivelmente os ventos e as correntes me arrastassem para lá, mas tive medo que me prendessem e hesitei – Tendo, porém, acabado por ali acostar, 20 dias depois, ou seja, ao 38º dia, já no limiar da minha resistência física, onde fui tomado por espião, algemado e preso. Antes de transcrever o que registei no pequeno gravador, referente ao 18ºdia, vou aqui recordar o drama que ali vivi.
De regresso à Finca, forçou-me a manter-me de pé, a ficar em sentido, frente a uma secretária, durante várias horas: às vezes eu caía, pois eu mal podia andar, quanto mais estar de pé, mas ele imediatamente me puxava pelos cabelos ou berrava - Ponha-se de pé! Respeite a autoridade!! - E lá tinha eu que apelar às forças que me restavam, durante o tempo em que durou o longo e exaustivo interrogatório e revistou minuciosamente os poucos trapos que me restavam. Ainda hoje me custa a crer como não me confiscou os rolos e as cassetes -
- Eis algumas passagens do pesadelo vivido naquela ilha, descrito mais tarde: "Serão 10 horas da noite, chega finalmente o esperado carro da polícia. Dentro dele saem dois indivíduos que imediatamente se dirigem para o interior da casa onde me encontro. Entram e limitam-se apenas a dar as boas noites num tom frio e meramente formal. Não estendem as mãos a quem quer que seja.Mostram-se sisudos e com ar de muita importância.Não vêm fardados. Têm, apenas, sobre o bolso da camisa a esfinge do Presidente Macias.Mas o seu aspeto não ilude ninguém.Têm modos duros e a sua presença provoca um certo ar intimidativo e de gravidade nos circunstantes, que .subitamente param de falar e se entreolham como que alarmados. Os que estão sentados têm que se levantar. (...) Reina um ambiente de severa circunspeção. Tudo leva a crer que se vai proceder a uma espécie de julgamento sumário. Sou olhado com manifesta suspeita e desconfiança. Como se acaso se tratasse de um perigoso criminoso.(...)
Sobre a mesa está a relação das minhas coisas e toda a minha documentação pessoal. Começam as primeiras inquirições. Um deles, que presumo ser o chefe, deita-me uma vez mais um olhar severo e principia a mexer na papelada que tem à sua frente. Analisa-a e revolve-a várias vezes, depois volta-se para mim: Que atrevimento foi o teu de vires aqui espionar a nossa ilha?!!...Que barco te largou?!!...Que abuso foi o teu de entrares clandestinamente na República da Guiné Equatorial?!!...Não sabes que te podemos matar?!!...Ou não tens consciência da gravidade do crime que cometestes?!...Vá! Responde!!...
Chefe! Não cometi crime nenhum! Não venho espionar a vossa Ilha.Sou um náufrago!... (...) Não vê que estou com o corpo fraco; já há muitos dias que não como nada e necessitava que me prestassem a vossa assistência, fossem misericordiosos para comigo ou me levassem para um hospital.-Não mintas!! Não sejas fingido e mentiroso!!!...Daqui a bocado, já te digo onde é o hospital.
A relação das minhas coisas já havia sido conferida e descriminada pela Comissão Administrativa da finca, estava tudo anotado. No entanto, ele faz questão de conferir tudo.As cassetes são escutadas uma por uma. Os meus papéis, inspecionados até ao mais ínfimo pormenor. Faz anotações sobre anotações. Verificando que faltam algumas coisas(que havia oferecido aos trabalhadores da finca),ordena ao encarregado que quer o resto das coisas e a presença de todos os indivíduos que as aceitaram.
(...)Passa já da meia-noite. Todos se encontram já deitados em suas casas. São acordados e obrigados a comparecerem, com o blusão de oleado, a lanterna, duas camisolas e os bidões de plástico. (...) Seus canalhas!! Seus encobridores!... Seus patifes!. Seus traidores! À manhã, pelas 9 horas,quero-os no meu gabinete!"
(...) São quatro da manhã. À nossa frente sobressai uma mancha de luzes. Vejo que é um centro urbano.Tem aspeto de ser vila ou cidade (presumo que tenha sido Luba): "Que lugar é este? - indago."¿Por qué?! .. ¿Qué te importa saber eso! - Responde o chefe da polícia. Fica situado à beira-mar, e, pelos barcos pesqueiros que estão fundeados na baía que o ladeia, denota ser um razoável centro piscatório. Após algumas voltas pelas suas artérias, eis que o jipe abranda e sou imediatamente conduzido ao interior de um edifício. É uma esquadra, não tenho a menor dúvida. À porta está uma sentinela e a inscrição: Policia Nacional de Seguridad
Entro para o gabinete do chefe da esquadra, para onde também são encaminhadas as minhas coisas.Fico de pé frente à sua secretária. Momentos depois manda-me descalçar, passam-me as mãos pelos bolsos e ordena que seja conduzido a uma cela.Aberta a porta, sou empurrado de rampelão lá para dentro.Entorpeço e caio.No chão estão algumas pessoas deitadas que não vejo. Debruço-me e tacteio para tentar descobrir um espaço onde possa deitar-me.Mas só toco em corpos, quase amontoados, estendidos lado a lado como se fossem sardinhas enlatadas.De pé não consigo ficar porque me sinto demasiado fatigado.Necessito de dormir de qualquer maneira nem que seja sobre espinhos.Por fim,lá me deito.De lado e com as costas voltadas para a parede.No chão apenas uma esteira a separar a frieza do cimento.Mesmo assim adormeço que nem uma pedra.
Nove horas da manhã. A cela é aberta e somos acordados. Todos me olham estupefactos e surpresos. A minha surpresa também não é menor. Entre os meus companheiros de infortúnio há duas crianças, duas mulheres e quatro homens (trabalhadores nigerianos. As crianças são ainda de peito.Isto impressiona-me, meu Deus
Ainda no período dessa manhã, meteram-me numa carrinha, que fazia de transporte público, ladeado por dois polícias armados de metralhadoras, os quais, após ter chegado a Malabo, me conduziriam à cadeia da morte - Mal transpus o portão, vi logo que estava metido num grande sarilho. O ambiente era de facto sinistro. Ouvi logo gritos de prisioneiros a serem inquiridos e torturados. Os dois policias (que, de resto, até tinham sido simpáticos, tendo-me até comprado umas bananas pelo caminho, por se terem sensibilizado com o meu estado de fraqueza) quando me entregaram aos carcereiros, foi como se me tivessem lançado às feras: agarraram-me pelos braços e levaram-me aos empurrões até à cela, visto eu mal poder andar - e ainda para mais algemado. Aberta a porta de ferro, fui de novo empurrado: as algemas só mais tarde mas retiraram, tendo entretanto urinado nas calças: ou seja, só me desalgemaram depois de ter sido submetido a mais um longo e exaustivo interrogatório, após o que voltaram a encarcerar-me na dita cela de alta segurança, de reduzidíssimas dimensões, na qual dispunha apenas de um balde para as necessidades e de um banco para me deitar, que não tinha mais de metro e meio de comprimento. Mesmo assim eu era um felizardo: a maioria das celas, só se fosse a esteira que o próprio condenado levasse.
PIOR DE QUE CELA, AUTÊNTICA LIXEIRA DE RATOS E DE CHEIROS NAUSEABUNDOS
Quem fornecia a comida aos prisioneiros, eram os familiares. Lá dentro não havia cozinhas nem refeitórios. Ao lado da minha cela, situava-se a casa de banho dos guardas prisionais, que me mandava um pivete insuportável, mas que eu não podia utilizar. Havia baratas e percevejos por todos os lados. As ratazanas entravam na minha cela, chegavam a passear-se por cima de mim e a morder-me nos dedos dos pés, quando me deitava - Por vezes no chão, pois não conseguia estender-me e segurar-me no banco. Também nem sequer dispunha de uma torneira ou de um lavatório. Para beber um copo de água tinha de o implorar aos guardas, que só mo levavam quando lhes apetecesse. Por outro lado, também tinha de levar com o cheiro das minhas fezes, pois, só de manhã eram recolhidas. Como se não bastasse o estado de desnutrição, que quase me arruinara, tinha agora que levar com os suores e cheiros do meu corpo, pois não tinha onde me lavar. Daí que, quem ali desse entrada, não tardasse a que, ao fim de alguns dias, tivesse a sensação de que, em vez do prisioneiro se sentir um ser humano, se identificasse como um pária e ficasse assim mais propenso a aceitar a condenação como um castigo justo e inevitável. Felizmente, nunca me deixei abater, porque, as adversidades do mar, me haviam preparado para todo o tido de dificuldades, no entanto, a passagem por aquela prisão (breve é certo) constitui uma marca negra nas minhas recordações da Guiné Equatorial e na minha vida.
MAS QUE MAL TERIA FEITO EU, PARA, APÓS OS 38 DIAS DE SOFRIMENTO NO ALTO MAR, DAR ENTRADA NUM PRESIDIO DOS CONDENADOS À MORTE?!... - CHEGUEI MESMO A PENSAR SE NÃO TERIA VALIDO MAIS A PENA TER FICADO NA BARRIGA DE UM TUBARÃO.

Naquela altura, o pior que me poderia acontecer era acostar em qualquer ponto da Guiné Equatorial, ou nalguma das suas Ilhas ou no continente. Eu sempre pensei que os maiores riscos, não eram tanto as dificuldades no mar, mas a grande incerteza das condições em que poderia ser recebido onde fosse aportar. Quando fiz a viagem de São Tomé à Nigéria, depois de 13 dias solitários no mar, eu não fui maltratado mas não me livrei de ter sido privado da minha liberdade durante 17 dias, após o que me repatriaram para Portugal - Na viagem dos três dias de São Tomé ao príncipe, fui preso e espancado pela PIDE - Ó sorte macaca! Que no mar me protegeste e em terra me abandonaste!
"QUE ATREVIMENTO É ESSE!!" - QUASE ME IAM MATANDO QUANDO HASTEEI A BANDEIRA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
Na viagem à Nigéria, levei as duas bandeiras: a de São Tomé e Príncipe e a de Portugal Mas, nesta viagem, apenas levei o pavilhão do jovem país independente aonde regressei sem um centavo na algibeira, onde encontrei todo o apoio que precisei para mandar construir a canoa e para a aparelhar.- Sim, e donde parti para grande aventura. No meu cárcere, em Bioko, um de dia resolvi hastear a Bandeira Nacional de São Tomé e Príncipe, - Quando o carcereiro, que, de volta e meia vinha espreitar a minha cela, topou, mas que heresia!... Foi buscar imediatamente a chave da cela e, ao entrar lá dentro, deu-me um empurrão contra a parede, e, ao mesmo tempo que agarrava nela e a amachucava, levando-a, berrava: Su mercenário! ¿Qué descaro!! Qué falta de vergüenza!! - Não posso dizer que fosse agredido fisicamente, mas humilhado e submetido a uma incerteza psicológica terrível. É que, após ter dado entrada naquele maldito presídio de condenados à pena capital, contava sempre com o pior: de resto, os presidiários que me visitaram pela janela e me levaram comida, avisam-me logo, com esta pergunta: "És político?!..- A que eu respondi: "Não!" Diz um deles: "Então talvez te safes. Mas não digas mal do Presidente, senão... podem decapitar-te!
Na manhã do dia 3 de Dezembro, quando menos esperava, um carcereiro chegou à porta da minha cela e disse-me que tinha de me levar ao Senhor Alto Comissário da Polícia - E foi por intermédio dele que fui conduzido ao gabinete do então supremo comandante das policias e das forças armadas, que me recebeu, inicialmente de forma austera e desconfiada, após o que, ao sentar-se na sua cadeira de vime(enquanto eu permanecendo sempre de pé e à sua frente) o fez de forma mais descontraída e simpática: "que se passa contigo?!... Porque te meteste num canuco e que vieste aqui fazer?!" - Bom, lá tive que voltar a repetir o que já havida dito várias vezes, que não era espião e as razões pelas quais me havia metido na canoa e ido ali parar - Mas quando o vi soltar uma gargalhada e pedir-me para que lhe contasse mais alguns pormenores dos meus longos dias no mar, disse cá para os meus botões: este é dos meus!... Estou a ver que está a gostar da minha aventura. Por volta do meio-dia, depois de me ouvir, ordenava ao Comissário para me soltarem.
POUCOS DIAS DE CATIVEIRO, MAS AUTÊNTICAS ETERNIDADES - QUEM NÃO RECEBESSE COMIDA DO EXTERIOR, MORRIA DE FOME
A cadeia não fornecia alimentação: tinham de ser os familiares. Nos primeiros três dias, quem me passou alguma comida (massa de mandioca, regada com óleo de palma, que mais das vezes a vomitava para a lata das necessidades, pois eu estava magríssimo e, o meu estômago, já não estava habituado a comer alimentos sólidos, há muitos dias), sim, quem me deu alguma comida, foram os próprios condenados, que trepavam curiosos à minha janela gradeada, durante o curto recreio que dispunham, num átrio para a qual a minha cela estava voltada. Creio que, naquela altura, devia ser o único europeu preso. Agora, depois que houve por lá uma tentativa fracassada de Golpe de Estado, em Março de 2004, estão lá presos alguns dos implicados. Mas nada que se compare às tenebrosas condições daqueles tempos.
Nos dias seguintes, passei a receber uma cestinha, com frutos e outros alimentos, por parte do barbeiro do Presidente Nguema, um amável são-tomense, que era também o representante diplomático e que ali tinha ido a seu mando para recolher informações a meu respeito - E, se não fosse o facto de ter comigo uma mensagem autenticada pelo MLSTP, que lhe entreguei para a mostrar a Nguema, dificilmente de lá sairia vivo - A mensagem destinava-se a saudar o Povo Brasileiro, viagem que não consegui realizar, pelo facto do comandante do pesqueiro americano se ter recusado a deixar-me na corrente equatorial, mas junto à Ilha de ANO BOM, onde os ventos e as correntes tomavam a direção Norte, tendo, nessa mesma noite, sido surpreendido por um violento tornado, que me fez perder a maior parte dos alimentos e apetrechos
Quem entrasse naquela cadeia, entrava para a lista da morte.
Eu bem me apercebi dos gritos lancinantes e de terror dos pobres infelizes, que, depois da meia noite, eram executados, não pelas balas (que isso fazia demasiado barulho e ficava caro, pois, naquela altura, o petróleo, ainda não tinha ali feito jorrar milhões de dólares, sendo então considerado o país mais oprimido e miserável de África) mas por garrotes de asfixiamento!. Dessa sina, felizmente, lá me safei, graças a Teodoro Obiang - Quando ele veio a Lisboa, por ocasião de uma Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que decorreu no Centro Cultural de Belém, eu dirige-me lá para lhe agradecer pessoalmente o seu gesto. Estou convencido, que, por vontade do seu tio, eu era fuzilado, dado o estado demência e de paranóia, como Macias dirigia o seu país. Bastava-lhe sonhar que um ministro o queria trair, para o mandar logo matar.
Não é seguro que aquela minha hesitação, ao 18º dia, fosse a causa de eu vir a ter que enfrentar mais duas dezenas de dias de um longo e penoso calvário, quando, afinal, tinha ali a Ilha à vista. Fosse como fosse, levar-me-ia a ser balanceado pelos tornados para todos os quadrantes, que, sobretudo na época das chuvas – fustigam aquela turbulenta zona do Golfo da Guiné, logrando apenas ali aportar após uma exaustiva luta de sobrevivência – E, ironia das ironias, supondo tratar-se de algum pacifico recanto da costa africana. Mas era realmente Bioko, conhecida, naquele tempo, por Ilha do Paraíso nas Mãos do Diabo.
DÉCIMO OITAVO DIA – MAIS UM BARCO PASSOU A ESCASSA DISTÂNCIA DA MINHA CANOA E ME IGNOROU
Diário de Bordo 1 - Hoje perfaz 18 dias que ando na canoa “São Tome” (Yon Gato) . Estou próximo da Ilha de Fernando Pó. Vejo-a perfeitamente. Estou a evitar, tudo por tudo, para não ir dar lá. Aliás, se pusesse a vela, o vento arrastar-me-ia, inevitavelmente. Também as correntes me estão a puxar na mesma direção. Vejo lá um barco próximo. Estou aí a umas 15 milhas, possivelmente.
De noite, não choveu mas o mar esteve muito agitado. E eu tive de estar muito atento para evitar ser abalroado por algum barco ou para ver se me aproximava de terra - Dada a extensão deste post, os pormenores, relativos ao 18º dia, foram transcritos para a postagem seguinte NÁUFRAGO - 18ª DIA
Com interesse: .Portugueses desenham nova capital da Guiné -
NEO-COLONISMO NÃO DESARMA - AS ILHAS DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE TAMBÉM ERAM O ALVO DA GULA NEOCOLONIALISTA
"O Sunday Times de Joannesburgo noticiou (...) a tentativa dum golpe de estado em Guiné Equatorial era só uma parte dum plano maior para tomada de poder neste país, em São Tomé e Príncipe e Príncipe e no DR Congo". São Tomé alvo de ataque por Espanha?
Mais uma vez, as potências externas em vez de contribuírem para o desenvolvimento do processo democrático dos países africanos, optarem pelos jogos de poder. Foi assim que começou a guerra do Biafra. Muitos dos mercenários, que tomaram parte no fracassado Golpe de Estado, encontram-se ainda detidos na prisão da Praia Negra, conhecida Black Beach prison
"Convém enfatizar que a avaliação do governo de Obiang não pode ser feita, como pretendem alguns, comparando-os com os 11 anos de governo de seu tio, Francisco Macías Nguema, primeiro presidente do país centro-africano, logo após sua independência da Espanha, em 1968. A sangrenta ditadura de Macías foi de um horror e de uma crueldade indescritíveis"....Guiné Equatorial, apreciada pelo petróleo e criticada pela ditadura
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