expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

domingo, 30 de junho de 2024

Marechal Francisco Costa Gomes –Nasceu , em Chaves, neste dia há 110 anos - Minha entrevista ao 10º Presidente Português obreiro da democracia e pacifista- Então já preocupado com ameaça que "de um momento para o outro pode destruir por completo a vida sobre este belo planeta, que é a Terra"- Palavras que dão ainda mais que pensar

                                     Jorge Trabulo Marques - Jornalista

Declarou-me que mais de metade dos cientistas do Mundo estão ocupados em meios de combate em vez de se empenharem com “os problemas    da fome, do analfabetismo, do meio-ambiente e  da saúde

Foi o décimo-quinto Presidente da República Portuguesa, o segundo após a Revolução de 25 de Abril.  Natural de Chaves, 30 de Junho de 2014. Faleceu  em Lisboa, aos 77 anos, em 31 de Julho de 2001 - De família numerosa, de onze irmãos (dos quais três vão falecer antes de chegar à idade adulta), muito cedo Francisco da Costa Gomes fica órfão de pai, ainda antes de completar 8 anos. Após terminar a instrução primária, em Chaves, aos 10 anos entra no Colégio Militar, provavelmente falta de posses, para que possa aí prosseguir os estudos, prosseguindo a carreira de armas. Sobre a profissão militar o próprio diria mas tarde: «se pudesse não teria seguido.».

Entrevista -  Registo sonoro de uma antiga cassete - De entre as centenas de entrevistas e apontamentos, que ainda guardo no meu extenso arquivo em memórias de um repórter

Tenho pois  a honra e o prazer de editar o excerto de uma longa e  interessante entrevista, que me concedeu em sua casa, não obstante estar num período de convalescença, por razões de saúde  - "Sabe, que ainda ontem tive 40º graus de febre" - Confessava-me 

COSTA GOMES  - O MILITAR PACIFISTA

O paladino da paz –.Um dos militares mais pacifistas, que, após deixar a Presidência da Republica, não aceita ser  chamado a desempenhar qualquer cargo político, optando pelo  Conselho Mundial da Paz, como terreno de intervenção, seguindo, atentamente e com preocupação, o recrudescimento das armas convencionais e atómicas das duas grandes potências, que, ao invés de olharem mais para os problemas da saúde e das condições de vida das populações, gastam milhões em armas atómicas e convencionais.  –


RETIROU-SE DA POLITICA MILITAR PARA SE DEDICAR À PAZ MUNDIAL

JTM - O Sr. Marechal Costa Gomes é um homem retirado da cena política? É um homem que acompanha atentamente os problemas! Como vê a política: como interveniente ou como observador?

F.C.G. A política nacional vejo-a simplesmente como observador e um observador muito atento, porque, como tenho dedicado a maior do meu tempo, às questões internacionais, sobretudo àquelas que dependem da paz e do desarmamento, e, como isso me leva, muitas vezes, a conferências para fora do país e me obriga a um preparação, quando estou em Portugal, que me faz alhear um pouco da política do dia a dia do nosso país, é claro que eu estou mais a par daquilo que se julga que constitui hoje a política internacional e a situação internacional de propriamente da politica nacional.

JTM - Porquê essa preocupação?

F.C.G - Bom, a preocupação deriva de várias coisas:  em primeiro lugar do facto  de julgar que nós estamos realmente  de baixo da uma ameaça terrível que pode, de um momento para o outro destruir por completo a vida sobre este belo planeta, que é a Terra. É isso. Pode-se dizer  que as pessoas mais lúcidas e aquelas que se têm dedicado mais a este assunto, desde 54, desde o rebentamento da primeira bomba atómica, começaram a prever esta situação. Mas, não  há dúvida nenhuma, que, durante as duas primeiras décadas, praticamente o assunto da era atómica, foi completamente ignorado, as armas atómicas foram completamente ignoradas! Ninguém sabia nada  do que se passava, espacialmente nos países onde a luta começava a ter um cariz de competição muito forte, e, nos anos 70,  o mundo começou a ser surpreendido com a ideia de que, já havia nessa altura, armas suficientes para destruir várias vezes a humanidade.

“MAIS DE METADE DOS CIENTISTAS  DO MUNDO OCUPADOS EM APERFEIÇOAR MEIOS DE COMBATE” – Em vez de se empenharem com “os problema    da fome, do analfabetismo, do meio-ambiente e  da saúde

JTM – Acha que ainda há uma grande tensão entre os dois blocos?

F.C.G. Eu julgo que ainda há uma grande tensão mais forte do que aquela que devia existir, porque há uma desconfiança mútua, não só  do ponto de vista político, com sob o aspeto militar, que inibe e que faz  com que não se possam adiantar e definir determinados assuntos com a lógica, e, sobretudo,  com a necessidade que os mesmos impõem. Veja, por exemplo,  este facto que agora se deu, ultimamente, insólito: pois,  estamos todos à espera que, de um momento para o outro, se possa assinar o acordo  que elimine os mísseis intermediários e os mísseis táticos  da europa. Pois bem, qual é a atitude que a Nato toma perante esta decisão? É que… sim, senhora …vamos acabar com os mísseis mas temos que reforçar as forças convencionais.

Ora, eu acho que esta atitude é uma atitude absolutamente negativa! O que nós precisamos não é de reforçar as forças convencionais  é de reduzir também as forças convencionais! Porque, um dos  maiores problemas que existem no Mundo – e sem a redução dos orçamentos militares, se não será possível resolvê-lo – é o problema    da fome, é o problema do analfabetismo, é o problema do meio-ambiente, o da saúde, enfim, são uma série de problemas  que realmente fazem com que, a maioria da população mundial, dia a dia, veja os seus problemas acrescidos, agudizados e não sinta que há uma luz, que não há uma pequena ação solidária  dos países – que os têm, que, no fundo, os têm assegurado – para melhorar esta esta situação.

Ora, esta situação só pode ser melhorada, diminuindo drasticamente as despesas militares, não só o que diz respeito aos orçamentos. Como também no que diz respeito à investigação científica. Porque, hoje, mais de metade dos cientistas no mundo, estão dedicadas a aperfeiçoar armas e aperfeiçoar  meios de combate, quando, realmente, a todas as pessoas bem intencionadas,  lhes parece que se deviam dedicar as era para o bem-estar  da Humanidade, e, portanto, pró  melhoramento das condições de vida de todos os Povos.

JTM – Acredita na possibilidade de um novo conflito à escala mundial?

F.C.G. -  Acredito! Não porque as pessoas o queiram! Podemos dizer que 90% da população mundial é contra um conflito à escalda mundial  - Mas, com o acumular de armas que existem no mundo e, com os pequenos conflitos locais, que ainda não conseguimos debelar e, outros que se podem desenvolver de um momento para o outro, como é, por exemplo, a situação do Golfo Pérsico, pois, uma destas situações, pode, sem querer, levar a um conflito mundial! E isso é extremamente perigoso, porque, as armas que depois se possuem, são de tal maneira potentes e de tal maneira poderosas, que, se elas forem empregues,  durante muito tempo, será o tempo suficiente  para aniquilar a vida sobre a Terra.

.



O PERÍODO QUENTE PÓS 25 DE ABRIL

JTM - Outra questão que eu gostaria que o Sr. Marechal recordasse – alguns anos já volvidos sobre aquele período da revolução: um período, naturalmente, muito confusão, como é que a esta distância, o Sr. Marechal. Os recordaria?

F.C.G. – Bom, eu acho que foi realmente um período muito confuso! Muito perturbado! A revolução fez-se, mas, claro, dadas as circunstâncias em que ela teve de se efetuar. Não houve uma preparação, sobretudo para se poder  transitar do regime  que havia para um outro, onde as liberdades e os direitos humanos, estavam salvaguardas e estavam em plena pujança, e isso deu como resultado, que, houve, de facto, durante os primeiros tempos – no primeiro Governo (em todos os governos mais ou menos provisórios – deficiências muito grandes, que, só o trabalho e só a boa vontade e dedicação  de muitos, conseguiram, não digo suprir, mas pelo menos atenuar.

“OTELO TEVE AS SUAS DEFICIÊNCIAS MAS, DE UMA MANEIRA GERAL, FOI UM ELEMENTO POSITIVO  E A REVOLUÇÃO DE ABRIL DEVE-LHE MUITO.

Otelo Saraiva de Carvalho, detido a 20 de Junho de 1984 pela Polícia Judiciária, no âmbito deste processo. Da FP, com uma pena de 18 anos .De recordar, que o principal operacional do Movimento das Forças Armadas. nunca assumiu a criação das FP-25 nem a militância no grupo. Do tempo total de pena cumpriu apenas cinco anos. Em entrevista, concedida há Lusa, em 2010, Otelo confessou que, no dia em que recebeu a notícia da criação deste partido revolucionário armado, a encarou com "apreensão e perturbação com a ideia". Otelo: FP-25 foram "choque grande e um prejuízo tota
  
JTM – Sr. Marechal. Uma das figuras muito conhecidas e, de grande interveniência, na revolução, é Otelo Saraiva de Carvalho, atualmente preso: como é que vê a prisão de Otelo Saraiva de Carvalho?

F.C.G – Eu, como tive ocasião de dizer no Tribunal,  só conheço regularmente, a ação do Tenente-Coronel Otelo, quando ele parte ou do Conselho da Revolução
, em que me esteve diretamente subordinado.  – No Concelho de Revolução, porque eu era o Presidente do Concelho de Revolução; no COPCON COPCON –, porque o COPOCON estava dependente  do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e eu acumulava as funções de Presidente da República e de Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Ora, nesse tempo, eu posso dizer-lhe que, Otelo teve as suas deficiências,  mas, de uma maneira geral, foi um elemento  positivo e a Revolução de 25 de Abril, deve-lhe muito.

Depois, do 25 de Novembro, praticamente nunca mais tive contactos  com Otelo, mas, daquilo que eu conheço, a forma como eu pus o problema no Tribunal,  eu julgo que o caráter , a   moral e a maneira de ser do Otelo, não são de molde a admitir que ele, direta ou indiretamente, tenha tomado parte em qualquer das ações terroristas.

Era bom que se visse, que se estudasse bem, as ações terroristas, não só a partir  de 1974 mas que se vissem bem as ações terroristas, entre 1975 e 1976, porque, realmente, nessa data houve muito terrorismo em Portugal!  - Terrorismo absolutamente escusado! Terrorismo que que visava, única e simplesmente,  o regulamento do status quo, então estabelecido, em que as pessoas, não hesitara em matar, em destruir, em fazer ações, que realmente todo o mundo hoje as condena, porque, felizmente, o terrorismo hoje está condenado internacionalmente de uma forma absoluta.

JTM – Portanto, em sua opinião, acha injusta a prisão de Otelo?

F.G.C – Não posso dizer que é injusta ou justa. Eu não sei as causas que levaram à prisão de Otelo. Penso que –  nisso acredito, acredito na Justiça Portuguesa -, que o juiz que fez o inquérito  e que promoveu a sua detenção, tinha as suas razões. Podem não ser razões que não sejam razões suficientemente fortes para justificar a prisão durante tanto tempo de Otelo.

Não há dúvida nenhuma é que, Otelo Saraiva de carvalho, tem, em toda a Europa,  uma data de pessoas importantes, sobretudo no campo jurídico, que o apoiam, que o defendem e que estão constantemente  a fazer diligências para a sua libertação.

A entrevista, que, honrosamente me concedeu, continuaria  com  ainda com várias perguntas, desde a sua próxima deslocação a Tóquio, no âmbito das conferências do Conselho Mundial da Paz,  assim como de como recordava as  funções que desempenhou, em Angola,  1970-72, como  comandante-chefe da Região Militar de Angola – Perguntei-lhe, que, tendo também estado,   como militar nesta ex-colónia,  no meu  tempo (1966) se constava que havia quem, dentro do Quartel general, passasse informações do MPLA – Costa Gomes, negou que, de sua parte, alguma vez tivesse tomado essa atitude, não passando de calúnias e de falsidades. Pena não puder reproduzir as suas palavras, visto,  no dia seguinte ter ido fazer uma entrevista ao Monsenhor Moreira das Neves, em sua casa, e, inadvertidamente,  ao usar a mesma cassete, apagado o resto da entrevista.  Contudo, ainda disponho de uma outra entrevista, esta feita no torno de uma conferência, em que ele também participara, que igualmente conto editar oportunamente em vídeo.




sábado, 29 de junho de 2024

Roça Água Izé - 10ª Edição da Bienal das Artes e Cultura de São Tomé e Príncipe, a decorrer até ao dia 25 de Julho, com um mês de duração.- Ato inaugural teve a presença do Presidente Carlos Vila Nova - Roça visitada em Julho de 2015 pelo então Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, que recordamos

                                                      
Jorge Trabulo Marques - Jornalista -

Não perca neste post o vídeo de uma calorosa exibição de música e dança em julho de 2015 na antiga roça Roça Rio do Oiro  - Atual Agostinho Neto- E outro da visita do então Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, à Roça Água Izé –  Numa das próximas postagens recordarmos-lhe  outro interessante trabalho que dedicamos ao Barão de Água Izé -

A cerimónia de abertura foi presidida pelo Presidente da República, Carlos Vila Nova, que enalteceu a realização da Bienal, que,  segundo o Chefe do Estado “tem sido o maior evento alguma vez realizado no país”.

A dimensão e a grandeza da Bienal traduz-se hoje como um dos maiores eventos culturais e artísticos realizados em São Tomé e Príncipe”, considerou Carlos Vila Nova, defendendo o envolvimento de todos os são-tomenses para “perenizar a Bienal”.


A transformação da Roça Água Izé numa pequena cidade rural, é o principal desafio lançado na abertura do maior evento cultural de São Tomé e Príncipe, a X Bienal de Arte e Cultura.

Praia da Roça  Água Izé- O autor da imagem  em Março 2016

Música e danças de São Tomé e Príncipe – A Puíta mesclada de sons Angolanos, Cabo-Verdianos e Forros na Roça Agostinho Neto, antiga Roça Rio do Oiro – Exibição em Julho de 2015


Temos de encontrar uma forma para perenizar a Bienal, perenizá-la e fazendo como? Não pode ser apenas uma iniciativa de uns, de criadores, de fabricadores de ideias, mas, de todos nós”, afirmou o Presidente da República, Carlos Vila Nova .

Foi no secador de cacau de Água Izé que o Presidente da República Carlos Vila Nova declarou aberta a X Bienal Internacional de Arte e Cultura. Um espaço que no passado foi local de trabalho de santomenses, angolanos, moçambicanos, cabo-verdianos e também de portugueses. Gentes de várias origens que geraram “NÓS”, o lema da X Bienal 


Para o Chefe do Estado a perenizarão da Bienal ultrapassa a coragem e dedicação que já demonstraram os seus organizadores, sustentando que considera, como disse “uma tarefa de todos”.

Quanto à escolha do local, o Presidente da República congratulou-se com o facto de o epicentro ser a sede da antiga empresa agrícola de Água Izé. Carlos Vila Nova disse que a escolha do local merece uma atenção muito particular “para todos nós, pelo que a Roça Agua-Izé representa para São Tomé e Príncipe e para os são-tomenses, mas, sobretudo, pela perspectiva que esta Bienal abre para transformar essa roça numa microcidade rural”.

Com rasgados elogios às palavras do Presidente da República, João Carlos Silva disse que “quando o Chefe de Estado fala, ele diz o que lhe vai na alma, mas o que lhe vai na alma, felizmente, vai na alma de vários são-tomenses”, sublinhou

Julho de 2015 - Visita do então Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca à antiga Roça Água Izé  -Onde ainda persiste uma significativa comunidade cabo-verdiana Vivida com momentos de calorosa alegria e emoção


O autor destas linhas em 1964

Certo que vivem a alegria de sentirem livres e de, livremente, poderem  trabalhar por conta de outrem  ou  de, livremente,  explorarem  os frutos e a generosidade da terra, todavia, debatendo-se com imensas carências. 



Um homem do Povo: a sensibilidade de quem diz “Que o pobre não pode fazer política de rico – Foi este o mote da sua candidatura com o qual conquistou a confiança dos cidadãos das Ilhas e da diáspora.

Jorge Carlos Fonseca é a imagem que facilmente se confunde com o rosto simples e ao mesmo tempo sentida e sofrida do homem do Povo: sobretudo quando vai ao seu encontro em mangas de camisa e a sua roupa não contrasta com o do cidadão comum: pelo contrário,   é um dos seus: no falar do seu dialeto, no vestir, no abraçar, no beijar, no sentir, até na exuberância do momento de alegria ou da lágrima que escapa quando o coração cede ao sentimento e às imensas saudades da sua amada ilha – Tudo isso lhe vimos numa das visitas em que acompanhámos  a Água Izé - antiga roça colonial - Mais pormenores desta visita em  https://canoasdomar.blogspot.com/2015/07/s-tome-presidente-da-cabo-verde-jorge.html

terça-feira, 25 de junho de 2024

S. Tomé – Puíta a música dos escravos angolanos nas roças – Embaixada de Angola quer revigorar essa tradição musical na Roça Agostinho Neto, antiga Roça Rio do Oiro, onde também fui empregado de mato-escravo. Pois ambos trabalhávamos juntos e conhecíamos a rudeza de subir e descer as grotas, chovesse ou fizesse sol.

                                                 Videos com entrevistas a antigos trabalhadores

2014
Jorge Trabulo Marques - Empregado de mato e capataz dos jardins da cidade - Nov de 1963 - 1966 -   Fui militar, - em Angola e S. Tomé -  tendo sido aqui encarregado da Agro-Pecuária do quartel. Depois trabalhei na Missão de Inquérito Agricola e  na  BFAP, como polinizador de cacau e de baunilha e  apicultor -  Na sequência da descrição da minha primeira aventura de canoa de S. Tomé ao Principe  para a revista angolana Semana Ilustrada, acabei  por ser conrrespondente desta semanário em S. Tomé e  por  trabalhar como  operador de Rádio no ERSTP   - Desde então enveredei pelo jornalismo e fotojornalismo.

Almoço no mato Roça Uba-Budo1963

Roça Rio do Oiro 1977 

Refere o jornal Téla Nón, que "a embaixada de Angola em São Tomé e Príncipe tem um programa para revigorar os valores culturais santomenses de origem angolana.  É com este propósito que a comunidade de Agostinho Neto recebeu novos equipamentos para reconstruir o grupo de puíta.

Jorgina Baessa, uma das habitantes de Agostinho Neto disse ao Téla Nón que a Puíta da Roça desapareceu há muitos anos. No entanto, com o apoio da embaixada de Angola, os jovens da comunidade vão ser treinados pelos mais velhos, para o som da Puíta voltar a aquecer o terreiro de Agostinho Neto.  https://www.telanon.info/cultura/2024/06/24/44787/roca-agostinho-neto-volta-a-ter-puita/

A VIDA ESCRAVA NAS ROÇAS - Pena é que não fossem salvaguadadas as suas instalações e preservado e incentivado o seu cultivo.

Fui menino escravo aos 12 anos nas velhas mercearias de Lisboa, um sem abrigo, e, em 1963, trabalhei nesses feudos: Conheci bem a dureza da vida, nessas grandes propriedades, quer para os chamados serviçais, quer para os nativos que ali iam fazer os mesmos trabalhos, mas também para os empregados de mato, que eram igualmente escravizados, mal pagos e que apenas tinham direito à chamada graciosa, de quatro em quatro anos

De facto,  as administrações das grandes propriedades agrícolas nunca valorizaram a mão-de-obra dos forros, dos filhos da terra. É verdade que nunca foram além de meros capatazes, excetuando alguns mulatos, filhos dos brancos administradores ou feitores gerais. 

Roça Agostinho Neto - 2014 - Ex-Rio do Oiro

Puíta é uma dança tradicional de São Tomé e Príncipe, originária de Angola. Foi trazida pelos escravos angolanos e animava as noites nas senzalas das roças.

Era um dos géneros musicais, a par dos batuques moçambicanos e das mornas e coladeiras cabo-verdianas, que entoavam o terreiro das senzalas, sobretudo nas noites de sábado para domingo, visto nos demais dias da semana, depois do toque de silêncio da sineta, não ser autorizada qualquer manifestação sonora.

Escutei esses sons, acompanhados de vozes, mais fazendo verter lágrimas chorosas e de saudade, de que propriamente , expressões de alegres  diversões.

Inicialmente na Roça Uba-Budo, depois na Roça Ribeira Peixe, para onde fui mandado de castigo a contar caqueiros por me ter recusado a tratar por tu e ao velho estilo colonial, os trabalhadores. E, ainda antes do serviço militar,na Roça Rio do Oiro, atual Roça Agostinho Neto   


                            

 Roça Uba-Budo – S. Tomé - Com o “moleque” da administração colonial
                                              Filhos de angolanos, de pais forçados ao trabalho escravo


REGISTO EM VIDEO NUM CASUAL ENCONTRO  EM JULHO DE 2015 - Coms primos José Abel e Manuel Lomba Capito. Abel COM OS PRIMOS - FILHOS  DE PAIS ANGOLANOS - Mas já nascidos em S. Tomé – Na antiga roça Rio do Ouro, atual Agostinho Neto, a maior das propriedades agrícolas, pertencente à Sociedade Agrícola Vale Flor, onde, em 1965,  também conheci a dureza desses tempos,  como empregado de mato  - Pena que hoje as suas instalações estejam irreconhecíveis e os seus heróicos residentes a passarem por tão difíceis privações 
                               
Praia do Uba-Budo - 2014

2014 

Estas algumas das palavras de um relatório da Curadoria dos Serviços e Colonos: - “Tenho observado ultimamente que por parte de alguns patrões, se vem cometendo um abuso grave que consiste em castigar ou com serviços pesados ou com agressões serviçais que capturados como fugidos são enviados para as propriedades, depois de punidos e admoestados na Curadoria, ou ainda depois de regressarem às roças quando aqui veem apresentar qualquer reclamação.-

 … o patrão que der uma bofetada num indígena pode ser punido pelo artº 346º ( do Código Trabalho dos Indígenas) mas tanto este castigo como as palmatoadas, que não causem doença e nem provoquem  impossibilidade de trabalho, dadas com sentimento paternal, por motivos atendíveis, são vistos com reserva pela autoridade


De volta à Roça, em 2014, depois de ali  ter trabalhado em 1963- E alguns meses de 64


Uba Budo - Praia - 1964
Oh! o meu passado que não volta 
mas ressurge intacto na minha memória.
Aqueles dias de permanente descoberta 

nas Roças Uba-Budo, Ribeira Peixe e Rio do Ouro 
- Eu pouco menos era de que outro escravo, 
todavia, a beleza do mato?!..  - Uma maravilha inigualável!...
Eu tinha 18 anos e partira da minha aldeia
 para  ali fazer um estágio como Agente Rural,

 que frequentei na Escola Agrícola de Santo Tirso;
 tudo para mim era novo e me fascinava!... 

 
Não havia uma encosta ou uma grota que fosse igual à outra!
Os cacauzais repletos de frutos de todas as cores, desde o tronco às pernadas
 e aquelas árvores exóticas enormes, que lhes serviam de sombra,
 que eu não descansei enquanto não lhe conheci 
todos os seus nomes - Depois havia ainda as matabalas 
e outras herbáceas com as folhas pintalgadas e até ananases bravios
que nasciam por entre o capim verde. De volta e meia dava duas machinadas
num cacho de bananeira e metia-o numa velha cova aberta de cacaueiro,
 dois dias depois, todas as bananas estavam maduras e amarelinhas, que consolo! 
- Reacendiam de aromas e de cheiro!
Os serviçais, ao terminarem as  empreitadas das capinas, 
da apanha ou quebra do cacau ou da sulfatagem, eram obrigados
apanhar  umas quantas ratazanas que tinham de apresentar antes de largarem  
- a maior praga do cacau - , mas, alguns,  à falta de proteínas, 
até as levavam para casa, como se fossem pequenos coelhos
- E só depois, os infelizes, eram autorizados a  voltar  à senzala 
- Mas, o  empregado de mato (sempre de machim na mão), lá ficava 
a vaguear por aqueles frondosos caminhos das plantações 
até quase ao pôr-do-sol. Só depois regressava
ao terreiro e ao chalé. Mata-bichava e almoçava da marmita
que o muleque lhe tinha ido levar,  confecionado
pela samú negra - A minha tinha o dobro da minha idade!

Caué - 1964

Na verdade,  não guardo da roça, as melhores recordações senão o facto de ter apenas 18 anos, ser um jovem  e da surpreendente beleza daquela paisagem, que todos os dias se me revelava, pese a humilhação a que era submetido desde a alvorada  até ao escurecer -  Pois não posso esquecer-me de como era difícil e dura a  vida na roça, tanto para os empregados de mato como para os trabalhadores - E foi esta a categoria que me foi dada, pelo Administrador da Roça Uba-Budo, quando fui para ali estagiar 
Roça Uba-Budo-2014

A DIFÍCIL VIDA NAS ROÇAS DE MÁ MEMÓRIA  - Para a maioria dos que ainda nelas resistem - sobretudo, de origem cabo-verdiana, com o coração ruído de saudades  das suas queridas ilhas, a situação, em que se encontram, atualmente, não é boa, mas  verdade é que, para quem ali trabalhou, como eu,  esses enormes feudos coloniais, trazem também lembranças de febres palustres e  rosários de humilhações, de muitos sacrifícios e  adversidades 



Uba-Budo 1963



Desembarquei, em S. Tomé, a bordo do navio Uige, em Novembro de 1963 para fazer o meu estágio 
de Agente Técnico Agrícola, da Escola Agrícola Conde S. Bento, em Santo Tirso - Não tendo condições, devido à forma desprezível como ali eram encarados os técnicos, por indivíduos que ascendiam apenas à custa dos anos de serviço  e de uma certa brutalidade; acabei por concluí-lo na tropa, quando ali fui encarregado do sector da  Messe dos Oficiais e da  Agropecuária do quartel .

Com os fulgores da  independência, as roças foram nacionalizadas, porém, como,  as suas instalações, careciam de arranjos  periódicos de conservação, depressa passaram a ruínas e a mato.  Agora, naquelas que não foram privatizadas, cada um vai plantando e colhendo o que pode para a sobrevivência pessoal ou familiar. 

 


domingo, 23 de junho de 2024

SOLSTÍCIO DO VERÃO 20-06-2024 – No STONEHENGE PORTUGUÊS – Celebrado sob o lema Paz na Terra e Fim da Guerra, com poemas do “COMBOIO A VAPOR” – Livro do artista plástico e poeta Carlos Nascimento. inteiramente dedicado a todos quantos sofrem com as guerras, em particular ao POVO UCRANIANO. -Além da leitura da poesia de Manuel Pires Daniel e do poeta santomense Francisco José Tenreiro

                                               Jorge Trabulo Marques - Jornalista

Videos da sessão  da calorosa sessão evocativa, abrilhantada pela  poesia de Carlos Nascimento;  do poeta santomense, Francisco Tenreiro e do poeta Manuel Pires Daniel



O dia maior no Hemisfério Norte, foi celebrado no Stonehenge Português, com momentos de poesia luso-santomense, em Chãs de Foz Côa – Concelho de dois patrimónios da Humanidade. Mas espera-se que possa vir a merecer ainda um terceiro, quando esta maravilha pré-histórica, for contemplada com atenção que merece e também devidamente reconhecida.



Herança arqueológica, composta por alinhamentos sagrados com todas as estações do ano, que se ergue, entre o antigo termo de Longroiva e de Muxagata, a que, as inquirições de Dom Dinis, aludem, como o templo de Izeda, em louvor da deusa Isis, a deusa do sol, adorada primeiramente pelos egípcios e cujo culto se propagou por outros pontos do mundo.

.
Esta extraordinária imagem, configurando uma gigantesca esfera terrestre ou a esplendorosa configuração de um enorme globo solar, fica na vertente de uma antigo castro – o ponto mais alto deste vasto maciço rochoso. Foi registada, pela primeira vez, às 20.45 horas do dia 21 de Junho de 2003. Todos os anos, por esta altura, o sol, ao pousar no horizonte, projeta os seus raios em perfeito alinhamento com a sua crista e o centro do círculo votivo, situado no enfiamento a uns metros a oriente. Assinalando a entrada do Verão e proporcionado um verdadeiro posto de observação astronómico.



Neste vídeo, a alegria e espontaneidade de como Carlos Nascimento, abrilhantou a cerimónia evocativa, junto ao antiquíssimo e sagrado altar da Pedra do Solstício, calendário pré-histórico, configurando uma gigantesca esfera terrestre ou a esplendorosa configuração de um enorme globo solar alinhado com o pôr-do-sol do primeiro dia do Verão, que se ergue na vertente castreja do maciço dos Tambores, aldeia de Chãs,

Diz Luís Osório, no prefácio:  – «Carlos Nascimento é um livro. Quando o conhecemos, quando o ouvimos ou abraçamos, sabemos que esconde uma biblioteca de palavras, desenhos e sons. Torna-se assim ainda mais interessante passear pela pureza das verdades absolutas na premissa de que aquilo que estamos a ler é um prolongamento do seu corpo, das suas falhas, dos seus sonhos.

Comboio a Vapor é de uma enorme simplicidade, sempre o mais difícil estado a que podemos aspirar. A simplicidade que procura em cada palavra, uma depuração que obriga à escolha criteriosa de cada letra, de cada ideia




Celebração evocativa das ancestrais tradições, dos povos que habitaram estes penhascos e nele cultuaram os seus deuses, a qual contou com a presença de um grupo peregrinos e do convidado especial, o artista Carlos Nascimento.

A manhã e a tarde foi de céu muito nublado e de constante instabilidade, mas, pelos vistos, a sorte protege os audazes e os bons devotos.

Não vimos o disco solar a despedir-se sobre a crista do monumental calendário solar, como sucede quando o horizonte está descoberto e limpo, senão alguns maravilhosos lampejos, já depois dele começar afundar-se por detrás das colinas que se estendem no lato da outra margem do fertilíssimo vale da Ribeira Centeeira. No entanto, mesmo assim, pudemos fazer a festa sem chuva e com momentos de muita alegria e poesia.

O meu abraço amigo a todos quantos nos deram o prazer da sua colaboração e participação. Nomeadamente da presença do artista, Carlos Nascimento e da sua querida esposa, a Clô. Além de António Lourenço, bem como José Lebreiro e Pedro Daniel, que se fez acompanhar com tão amáveis e sorridentes rostos familiares, podemos contar também com um pequeno grupo de adolescentes sorrisos da nossa aldeia, assim como da presença de um casal e seu amado filho, vindos de Celorico da Beira e do Fausto Domingues, assim como do nosso amigo santomense, de longa data, Ilídio Sacramento e sua querida esposa, que nos deu o prazer de ler uns belos versos do poeta Francisco Tenreiro.

Sacramento e sua querida esposa, que nos deu o prazer de ler uns belos versos do poeta Francisco Tenreiro.



O santomense, Ilídio Sacramento, que colaborou como mecânico na chamada ponte aérea humanitária  São Tomé-Biafra, de  julho de 1968 até janeiro de 1970,  foi um dos participantes, com a sua esposa, na celebração do Solstício do Verão, tendo lido um belo poema de  José Francisco Tenreiro,  tido como uma das figuras de maior destaque na cultura e na história de São Tomé e Príncipe no século XX, considerado  como a  voz da mestiçagem, da negritude e da africanidade,








Poeta Manuel Pires Daniel - Já não está entre nós mas continuará vivo no nosso pensamento - Ele que também foi um dos peregrinos nos templos do Sol  . Dois dos poemas  de sua autoria,  lidos  por José Lebreiro e pela neta.

Deixou-nos,  em 22 de Janeiro de 2021 – Foi uma das vitimas da Convid 19 - Natural de Meda, tendo residido, desde há vários anos, em V.N. de Foz Côa, onde fez grande parte da sua vida - Advogado, escritor, jornalista, poeta, dramaturgo, autor de 40 peças de teatro, nomeadamente para crianças, 20 das quais ainda inéditas - Espírito solidário e associativo, de sensibilidade relevante, em associações de solidariedade social, nomeadamente no Lar da Santa Casa da Misericórdia e na Associação Humanitária dos bombeiros de Foz Côa na qual foi seu Presidente da Assembleia Geral, 20 anos, desde 1979 a 1999

Profundo estudioso, um homem de cultura, tendo dedicado muitos anos da sua vida à função pública e à vida autárquica, cujos olhos, desde há alguns anos, tinham deixado de ver a luz do dia, despediu-se da vida aos 86 anos