Declarou-me que mais de metade dos cientistas do Mundo estão ocupados em meios de combate em vez de se empenharem com “os problemas da fome, do analfabetismo, do meio-ambiente e da saúde
Foi o décimo-quinto Presidente da República Portuguesa, o segundo após a Revolução de 25 de Abril.Natural de Chaves, 30 de Junho de 2014. Faleceu em Lisboa, aos 77 anos, em 31 de Julho de 2001 - De família numerosa, de onze irmãos (dos quais três vão falecer antes de chegar à idade adulta), muito cedo Francisco da Costa Gomes fica órfão de pai, ainda antes de completar 8 anos. Após terminar a instrução primária, em Chaves, aos 10 anos entra no Colégio Militar, provavelmente falta de posses, para que possa aí prosseguir os estudos, prosseguindo a carreira de armas. Sobre a profissão militar o próprio diria mas tarde: «se pudesse não teria seguido.».
Entrevista - Registo sonoro de uma antiga cassete - De entre as centenas de entrevistas e apontamentos, que ainda guardo no meu extenso arquivo em memórias de um repórter
Tenho pois a honra e o prazer de editar o excerto de uma longa e interessante entrevista, que me concedeu em sua casa, não obstante estar num período de convalescença, por razões de saúde - "Sabe, que ainda ontem tive 40º graus de febre" - Confessava-me
COSTA GOMES - O MILITAR PACIFISTA
O paladino da paz –.Um dos militares mais pacifistas, que, após deixar a Presidência da Republica, não aceita ser chamado a desempenhar qualquer cargo político, optando pelo Conselho Mundial da Paz, como terreno de intervenção, seguindo, atentamente e com preocupação, o recrudescimento das armas convencionais e atómicas das duas grandes potências, que, ao invés de olharem mais para os problemas da saúde e das condições de vida das populações, gastam milhões em armas atómicas e convencionais. –
RETIROU-SE DA POLITICA MILITAR PARA SE DEDICAR À PAZ MUNDIAL
JTM - O Sr. Marechal Costa Gomes é um homem retirado da cena política? É um homem que acompanha atentamente os problemas! Como vê a política: como interveniente ou como observador?
F.C.G. A política nacional vejo-a simplesmente como observador e um observador muito atento, porque, como tenho dedicado a maior do meu tempo, às questões internacionais, sobretudo àquelas que dependem da paz e do desarmamento, e, como isso me leva, muitas vezes, a conferências para fora do país e me obriga a um preparação, quando estou em Portugal, que me faz alhear um pouco da política do dia a dia do nosso país, é claro que eu estou mais a par daquilo que se julga que constitui hoje a política internacional e a situação internacional de propriamente da politica nacional.
JTM - Porquê essa preocupação?
F.C.G - Bom, a preocupação deriva de várias coisas: em primeiro lugar do facto de julgar que nós estamos realmente de baixo da uma ameaça terrível que pode, de um momento para o outro destruir por completo a vida sobre este belo planeta, que é a Terra. É isso. Pode-se dizer que as pessoas mais lúcidas e aquelas que se têm dedicado mais a este assunto, desde 54, desde o rebentamento da primeira bomba atómica, começaram a prever esta situação. Mas, não há dúvida nenhuma, que, durante as duas primeiras décadas, praticamente o assunto da era atómica, foi completamente ignorado, as armas atómicas foram completamente ignoradas! Ninguém sabia nada do que se passava, espacialmente nos países onde a luta começava a ter um cariz de competição muito forte, e, nos anos 70, o mundo começou a ser surpreendido com a ideia de que, já havia nessa altura, armas suficientes para destruir várias vezes a humanidade.
“MAIS DE METADE DOS CIENTISTAS DO MUNDO OCUPADOS EM APERFEIÇOAR MEIOS DE COMBATE” – Em vez de se empenharem com “os problema da fome, do analfabetismo, do meio-ambiente e da saúde
JTM – Acha que ainda há uma grande tensão entre os dois blocos?
F.C.G. Eu julgo que ainda há uma grande tensão mais forte do que aquela que devia existir, porque há uma desconfiança mútua, não só do ponto de vista político, com sob o aspeto militar, que inibe e que faz com que não se possam adiantar e definir determinados assuntos com a lógica, e, sobretudo, com a necessidade que os mesmos impõem. Veja, por exemplo, este facto que agora se deu, ultimamente, insólito: pois, estamos todos à espera que, de um momento para o outro, se possa assinar o acordo que elimine os mísseis intermediários e os mísseis táticos da europa. Pois bem, qual é a atitude que a Nato toma perante esta decisão? É que… sim, senhora …vamos acabar com os mísseis mas temos que reforçar as forças convencionais.
Ora, eu acho que esta atitude é uma atitude absolutamente negativa! O que nós precisamos não é de reforçar as forças convencionais é de reduzir também as forças convencionais! Porque, um dos maiores problemas que existem no Mundo – e sem a redução dos orçamentos militares, se não será possível resolvê-lo – é o problema da fome, é o problema do analfabetismo, é o problema do meio-ambiente, o da saúde, enfim, são uma série de problemas que realmente fazem com que, a maioria da população mundial, dia a dia, veja os seus problemas acrescidos, agudizados e não sinta que há uma luz, que não há uma pequena ação solidária dos países – que os têm, que, no fundo, os têm assegurado – para melhorar esta esta situação.
Ora, esta situação só pode ser melhorada, diminuindo drasticamente as despesas militares, não só o que diz respeito aos orçamentos. Como também no que diz respeito à investigação científica. Porque, hoje, mais de metade dos cientistas no mundo, estão dedicadas a aperfeiçoar armas e aperfeiçoar meios de combate, quando, realmente, a todas as pessoas bem intencionadas, lhes parece que se deviam dedicar as era para o bem-estar da Humanidade, e, portanto, pró melhoramento das condições de vida de todos os Povos.
JTM – Acredita na possibilidade de um novo conflito à escala mundial?
F.C.G. - Acredito! Não porque as pessoas o queiram! Podemos dizer que 90% da população mundial é contra um conflito à escalda mundial - Mas, com o acumular de armas que existem no mundo e, com os pequenos conflitos locais, que ainda não conseguimos debelar e, outros que se podem desenvolver de um momento para o outro, como é, por exemplo, a situação do Golfo Pérsico, pois, uma destas situações, pode, sem querer, levar a um conflito mundial! E isso é extremamente perigoso, porque, as armas que depois se possuem, são de tal maneira potentes e de tal maneira poderosas, que, se elas forem empregues, durante muito tempo, será o tempo suficiente para aniquilar a vida sobre a Terra.
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O PERÍODO QUENTE PÓS 25 DE ABRIL
JTM - Outra questão que eu gostaria que o Sr. Marechal recordasse – alguns anos já volvidos sobre aquele período da revolução: um período, naturalmente, muito confusão, como é que a esta distância, o Sr. Marechal. Os recordaria?
F.C.G. – Bom, eu acho que foi realmente um período muito confuso! Muito perturbado! A revolução fez-se, mas, claro, dadas as circunstâncias em que ela teve de se efetuar. Não houve uma preparação, sobretudo para se poder transitar do regime que havia para um outro, onde as liberdades e os direitos humanos, estavam salvaguardas e estavam em plena pujança, e isso deu como resultado, que, houve, de facto, durante os primeiros tempos – no primeiro Governo (em todos os governos mais ou menos provisórios – deficiências muito grandes, que, só o trabalho e só a boa vontade e dedicação de muitos, conseguiram, não digo suprir, mas pelo menos atenuar.
“OTELO TEVE AS SUAS DEFICIÊNCIAS MAS, DE UMA MANEIRA GERAL, FOI UM ELEMENTO POSITIVO E A REVOLUÇÃO DE ABRIL DEVE-LHE MUITO.
Otelo Saraiva de Carvalho, detido a 20 de Junho de 1984 pela Polícia Judiciária, no âmbito deste processo. Da FP, com uma pena de 18 anos .De recordar, que o principal operacional do Movimento das Forças Armadas. nunca assumiu a criação das FP-25 nem a militância no grupo. Do tempo total de pena cumpriu apenas cinco anos. Em entrevista, concedida há Lusa, em 2010, Otelo confessou que, no dia em que recebeu a notícia da criação deste partido revolucionário armado, a encarou com "apreensão e perturbação com a ideia".Otelo: FP-25 foram "choque grande e um prejuízo tota
JTM – Sr. Marechal. Uma das figuras muito conhecidas e, de grande interveniência, na revolução, é Otelo Saraiva de Carvalho, atualmente preso: como é que vê a prisão de Otelo Saraiva de Carvalho?
F.C.G – Eu, como tive ocasião de dizer no Tribunal, só conheço regularmente, a ação do Tenente-Coronel Otelo, quando ele parte ou do Conselho da Revolução
, em que me esteve diretamente subordinado. – No Concelho de Revolução, porque eu era o Presidente do Concelho de Revolução; no COPCON COPCON –, porque o COPOCON estava dependente do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e eu acumulava as funções de Presidente da República e de Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Ora, nesse tempo, eu posso dizer-lhe que, Otelo teve as suas deficiências, mas, de uma maneira geral, foi um elemento positivo e a Revolução de 25 de Abril, deve-lhe muito.
Depois, do 25 de Novembro, praticamente nunca mais tive contactos com Otelo, mas, daquilo que eu conheço, a forma como eu pus o problema no Tribunal, eu julgo que o caráter , a moral e a maneira de ser do Otelo, não são de molde a admitir que ele, direta ou indiretamente, tenha tomado parte em qualquer das ações terroristas.
Era bom que se visse, que se estudasse bem, as ações terroristas, não só a partir de 1974 mas que se vissem bem as ações terroristas, entre 1975 e 1976, porque, realmente, nessa data houve muito terrorismo em Portugal! - Terrorismo absolutamente escusado! Terrorismo que que visava, única e simplesmente, o regulamento do status quo, então estabelecido, em que as pessoas, não hesitara em matar, em destruir, em fazer ações, que realmente todo o mundo hoje as condena, porque, felizmente, o terrorismo hoje está condenado internacionalmente de uma forma absoluta.
JTM – Portanto, em sua opinião, acha injusta a prisão de Otelo?
F.G.C – Não posso dizer que é injusta ou justa. Eu não sei as causas que levaram à prisão de Otelo. Penso que – nisso acredito, acredito na Justiça Portuguesa -, que o juiz que fez o inquérito e que promoveu a sua detenção, tinha as suas razões. Podem não ser razões que não sejam razões suficientemente fortes para justificar a prisão durante tanto tempo de Otelo.
Não há dúvida nenhuma é que, Otelo Saraiva de carvalho, tem, em toda a Europa, uma data de pessoas importantes, sobretudo no campo jurídico, que o apoiam, que o defendem e que estão constantemente a fazer diligências para a sua libertação.
A entrevista, que, honrosamente me concedeu, continuaria com ainda com várias perguntas, desde a sua próxima deslocação a Tóquio, no âmbito das conferências do Conselho Mundial da Paz, assim como de como recordava as funções que desempenhou, em Angola, 1970-72, como comandante-chefe da Região Militar de Angola – Perguntei-lhe, que, tendo também estado, como militar nesta ex-colónia, no meu tempo (1966) se constava que havia quem, dentro do Quartel general, passasse informações do MPLA – Costa Gomes, negou que, de sua parte, alguma vez tivesse tomado essa atitude, não passando de calúnias e de falsidades. Pena não puder reproduzir as suas palavras, visto, no dia seguinte ter ido fazer uma entrevista ao Monsenhor Moreira das Neves, em sua casa, e, inadvertidamente, ao usar a mesma cassete, apagado o resto da entrevista. Contudo, ainda disponho de uma outra entrevista, esta feita no torno de uma conferência, em que ele também participara, que igualmente conto editar oportunamente em vídeo.
Não perca neste post o vídeo de uma calorosa exibição de música e dança em
julho de 2015 na antiga roça Roça Rio do
Oiro - Atual Agostinho Neto- E outro da visita do então Presidente de
Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, à Roça Água Izé – Numa
das próximas postagens recordarmos-lhe outro interessante trabalho que dedicamos ao Barão de
Água Izé-
A cerimónia de abertura foi presidida pelo Presidente da República,
Carlos Vila Nova, que enalteceu a realização da Bienal, que, segundo o
Chefe do Estado “tem sido o maior evento alguma vez realizado no país”.
“A dimensão e a grandeza da Bienal traduz-se hoje como um dos maiores
eventos culturais e artísticos realizados em São Tomé e Príncipe”,
considerou Carlos Vila Nova, defendendo o envolvimento de todos os
são-tomenses para “perenizar a Bienal”.
A transformação da Roça Água Izé numa pequena cidade rural, é o principal desafio lançado na abertura do maior evento cultural de São Tomé e Príncipe, a X Bienal de Arte e Cultura.
Praia da Roça Água Izé- O autor da imagem em Março 2016
Música e danças de São
Tomé e Príncipe – A Puíta mesclada de sons Angolanos, Cabo-Verdianos e Forros
na Roça Agostinho Neto, antiga Roça Rio do Oiro – Exibição em Julho de 2015
“Temos de encontrar uma forma para perenizar a Bienal, perenizá-la e
fazendo como? Não pode ser apenas uma iniciativa de uns, de criadores,
de fabricadores de ideias, mas, de todos nós”, afirmou o Presidente da
República, Carlos Vila Nova .
Foi no secador de cacau de Água Izé que o Presidente da República Carlos Vila Nova declarou aberta a X Bienal Internacional de Arte e Cultura. Um espaço que no passado foi local de trabalho de santomenses, angolanos, moçambicanos, cabo-verdianos e também de portugueses. Gentes de várias origens que geraram “NÓS”, o lema da X Bienal.
Para o Chefe do Estado a perenizarão da Bienal ultrapassa a coragem e
dedicação que já demonstraram os seus organizadores, sustentando que
considera, como disse “uma tarefa de todos”.
Quanto à escolha do local, o Presidente da República congratulou-se
com o facto de o epicentro ser a sede da antiga empresa agrícola de Água
Izé. Carlos Vila Nova disse que a escolha do local merece uma atenção
muito particular “para todos nós, pelo que a Roça Agua-Izé representa
para São Tomé e Príncipe e para os são-tomenses, mas, sobretudo, pela
perspectiva que esta Bienal abre para transformar essa roça numa
microcidade rural”.
Com rasgados elogios às palavras do Presidente da República, João
Carlos Silva disse que “quando o Chefe de Estado fala, ele diz o que lhe
vai na alma, mas o que lhe vai na alma, felizmente, vai na alma de
vários são-tomenses”, sublinhou
Julho de 2015 - Visita do então Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca à antiga Roça Água Izé -Onde ainda persiste uma significativa comunidade cabo-verdiana Vivida com momentos de calorosa alegria e emoção
O autor destas linhas em 1964
Certo que vivem a alegria de sentirem livres e de, livremente, poderem trabalhar por conta de outrem ou de, livremente, explorarem os frutos e a generosidade da terra, todavia, debatendo-se com imensas carências.
Um homem do Povo: a sensibilidade de quem diz “Que o pobre não pode fazer política de rico – Foi este o mote da sua candidatura com o qual conquistou a confiança dos cidadãos das Ilhas e da diáspora.
Jorge Carlos Fonseca é a imagem que facilmente se confunde com o rosto simples e ao mesmo tempo sentida e sofrida do homem do Povo: sobretudo quando vai ao seu encontro em mangas de camisa e a sua roupa não contrasta com o do cidadão comum: pelo contrário, é um dos seus: no falar do seu dialeto, no vestir, no abraçar, no beijar, no sentir, até na exuberância do momento de alegria ou da lágrima que escapa quando o coração cede ao sentimento e às imensas saudades da sua amada ilha – Tudo isso lhe vimos numa das visitas em que acompanhámos a Água Izé - antiga roça colonial - Mais pormenores desta visita em https://canoasdomar.blogspot.com/2015/07/s-tome-presidente-da-cabo-verde-jorge.html
2014 Jorge Trabulo Marques - Empregado de mato e capataz dos jardins da cidade - Nov de 1963 - 1966 - Fui militar, - em Angola e S. Tomé - tendo sido aqui encarregado da Agro-Pecuária do quartel. Depois trabalhei na Missão de Inquérito Agricola e na BFAP, como polinizador de cacau e de baunilha e apicultor - Na sequência da descrição da minha primeira aventura de canoa de S. Tomé ao Principe para a revista angolana Semana Ilustrada, acabei por ser conrrespondente desta semanário em S. Tomé e por trabalhar como operador de Rádio no ERSTP - Desde então enveredei pelo jornalismo e fotojornalismo.
Almoço no mato Roça Uba-Budo1963
Roça Rio do Oiro 1977
Refere o jornal Téla Nón, que "a embaixada de Angola em São Tomé e Príncipe tem um programa para revigorar os valores culturais santomenses de origem angolana. É com este propósito que a comunidade de Agostinho Neto recebeu novos equipamentos para reconstruir o grupo de puíta.
Jorgina Baessa, uma das habitantes de Agostinho Neto disse ao Téla Nón que a Puíta da Roça desapareceu há muitos anos. No entanto, com o apoio da embaixada de Angola, os jovens da comunidade vão ser treinados pelos mais velhos, para o som da Puíta voltar a aquecer o terreiro de Agostinho Neto.https://www.telanon.info/cultura/2024/06/24/44787/roca-agostinho-neto-volta-a-ter-puita/
A VIDA ESCRAVA NAS ROÇAS - Pena é que não fossem salvaguadadas as suas instalações e preservado e incentivado o seu cultivo.
Fui menino escravo aos 12 anos nas velhas mercearias de Lisboa, um sem
abrigo, e, em 1963, trabalhei nesses feudos: Conheci bem a dureza da vida, nessas grandes propriedades, quer para os chamados serviçais, quer para os nativos que ali iam fazer os mesmos trabalhos, mas também para os empregados de mato, que eram igualmente escravizados, mal pagos e que apenas tinham direito à chamada graciosa, de quatro em quatro anos
De facto, as administrações das grandes propriedades agrícolas nunca valorizaram a mão-de-obra dos forros, dos filhos da terra. É verdade que nunca foram além de meros capatazes, excetuando alguns mulatos, filhos dos brancos administradores ou feitores gerais.
Roça Agostinho Neto - 2014 - Ex-Rio do Oiro
Puíta é uma dança tradicional de São Tomé e Príncipe, originária de Angola. Foi trazida pelos escravos angolanos e animava as noites nas senzalas das roças.
Era um dos géneros musicais, a par dos batuques moçambicanos e das mornas e coladeiras cabo-verdianas, que entoavam o terreiro das senzalas, sobretudo nas noites de sábado para domingo, visto nos demais dias da semana, depois do toque de silêncio da sineta, não ser autorizada qualquer manifestação sonora.
Escutei esses sons, acompanhados de vozes, mais fazendo verter lágrimas chorosas e de saudade, de que propriamente , expressões de alegres diversões.
Inicialmente na Roça Uba-Budo, depois na Roça Ribeira Peixe, para onde fui mandado de castigo a contar caqueiros por me ter recusado a tratar por tu e ao velho estilo colonial, os trabalhadores. E, ainda antes do serviço militar,na Roça Rio do Oiro, atual Roça Agostinho Neto
Roça Uba-Budo – S. Tomé - Com o “moleque” da administração colonial
Filhos de angolanos, de pais forçados ao trabalho escravo
REGISTO EM VIDEO NUM CASUAL ENCONTRO EM JULHO DE 2015 - Coms primos José Abel e Manuel Lomba Capito. Abel COM OS PRIMOS - FILHOS DE PAIS ANGOLANOS - Mas já nascidos em S. Tomé – Na antiga roça Rio do Ouro, atual Agostinho Neto, a maior das propriedades agrícolas, pertencente à Sociedade Agrícola Vale Flor, onde, em 1965, também conheci a dureza desses tempos, como empregado de mato - Pena que hoje as suas instalações estejam irreconhecíveis e os seus heróicos residentes a passarem por tão difíceis privações
Praia do Uba-Budo - 2014
2014
Estas algumas das palavras de um relatório da Curadoria dos Serviços e Colonos: - “Tenho observado ultimamente que por parte de alguns patrões, se vem cometendo um abuso grave que consiste em castigar ou com serviços pesados ou com agressões serviçais que capturados como fugidos são enviados para as propriedades, depois de punidos e admoestados na Curadoria, ou ainda depois de regressarem às roças quando aqui veem apresentar qualquer reclamação.-
… o patrão que der uma bofetada num indígena pode ser punido pelo artº 346º ( do Código Trabalho dos Indígenas) mas tanto este castigo como as palmatoadas, que não causem doença e nem provoquem impossibilidade de trabalho, dadas com sentimento paternal, por motivos atendíveis, são vistos com reserva pela autoridade
De volta à Roça, em 2014, depois de ali ter trabalhado em 1963- E alguns meses de 64
Uba Budo - Praia - 1964
Oh! o meu passado que não volta mas ressurge intacto na minha memória. Aqueles dias de permanente descoberta nas Roças Uba-Budo, Ribeira Peixe e Rio do Ouro - Eu pouco menos era de que outro escravo, todavia, a beleza do mato?!.. - Uma maravilha inigualável!... Eu tinha 18 anos e partira da minha aldeia para ali fazer um estágio como Agente Rural, que frequentei na Escola Agrícola de Santo Tirso; tudo para mim era novo e me fascinava!... Não havia uma encosta ou uma grota que fosse igual à outra! Os cacauzais repletos de frutos de todas as cores, desde o tronco às pernadas e aquelas árvores exóticas enormes, que lhes serviam de sombra, que eu não descansei enquanto não lhe conheci todos os seus nomes - Depois havia ainda as matabalas e outras herbáceas com as folhas pintalgadas e até ananases bravios que nasciam por entre o capim verde. De volta e meia dava duas machinadas num cacho de bananeira e metia-o numa velha cova aberta de cacaueiro, dois dias depois, todas as bananas estavam maduras e amarelinhas, que consolo! - Reacendiam de aromas e de cheiro!
Os serviçais, ao terminarem as empreitadas das capinas, da apanha ou quebra do cacau ou da sulfatagem, eram obrigados apanhar umas quantas ratazanas que tinham de apresentar antes de largarem - a maior praga do cacau - , mas, alguns, à falta de proteínas, até as levavam para casa, como se fossem pequenos coelhos - E só depois, os infelizes, eram autorizados a voltar à senzala - Mas, o empregado de mato (sempre de machim na mão), lá ficava a vaguear por aqueles frondosos caminhos das plantações até quase ao pôr-do-sol. Só depois regressava ao terreiro e ao chalé. Mata-bichava e almoçava da marmita que o muleque lhe tinha ido levar, confecionado pela samú negra - A minha tinha o dobro da minha idade!
Caué - 1964
Na verdade, não guardo da roça, as melhores recordações senão o facto de ter apenas 18 anos, ser um jovem e da surpreendente beleza daquela paisagem, que todos os dias se me revelava, pese a humilhação a que era submetido desde a alvorada até ao escurecer - Pois não posso esquecer-me de como era difícil e dura a vida na roça, tanto para os empregados de mato como para os trabalhadores - E foi esta a categoria que me foi dada, pelo Administrador da Roça Uba-Budo, quando fui para ali estagiar
Roça Uba-Budo-2014
A DIFÍCIL VIDA NAS ROÇAS DE MÁ MEMÓRIA - Para a maioria dos que ainda nelas resistem - sobretudo, de origem cabo-verdiana, com o coração ruído de saudades das suas queridas ilhas, a situação, em que se encontram, atualmente, não é boa, mas verdade é que, para quem ali trabalhou, como eu, esses enormes feudos coloniais, trazem também lembranças de febres palustres e rosários de humilhações, de muitos sacrifícios e adversidades
Uba-Budo 1963
Desembarquei, em S. Tomé, a bordo do navio Uige, em Novembro de
1963 para fazer o meu estágio de Agente Técnico
Agrícola, da Escola Agrícola Conde S. Bento, em Santo Tirso - Não tendo condições,
devido à forma desprezível como ali eram encarados os técnicos, por indivíduos
que ascendiam apenas à custa dos anos de serviço e de uma certa
brutalidade; acabei por concluí-lo na tropa, quando ali fui encarregado do
sector da Messe dos Oficiais e da Agropecuária
do quartel .
Com os fulgores da independência, as roças foram nacionalizadas, porém,
como, as suas instalações, careciam de
arranjos periódicos de conservação, depressa passaram a ruínas e a
mato. Agora, naquelas que não foram privatizadas, cada um vai
plantando e colhendo o que pode para a sobrevivência pessoal ou familiar.
Videos da sessão da calorosa sessão evocativa, abrilhantada pela poesia de Carlos Nascimento; do poeta santomense, Francisco Tenreiro e do poeta Manuel Pires Daniel
O dia maior no Hemisfério Norte, foi celebrado no Stonehenge Português, com momentos de poesia luso-santomense, em Chãs de Foz Côa – Concelho de dois patrimónios da Humanidade. Mas espera-se que possa vir a merecer ainda um terceiro, quando esta maravilha pré-histórica, for contemplada com atenção que merece e também devidamente reconhecida.
Herança arqueológica, composta por alinhamentos sagrados com todas as estações do ano, que se ergue, entre o antigo termo de Longroiva e de Muxagata, a que, as inquirições de Dom Dinis, aludem, como o templo de Izeda, em louvor da deusa Isis, a deusa do sol, adorada primeiramente pelos egípcios e cujo culto se propagou por outros pontos do mundo.
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Esta extraordinária imagem, configurando uma gigantesca esfera terrestre ou a esplendorosa configuração de um enorme globo solar, fica na vertente de uma antigo castro – o ponto mais alto deste vasto maciço rochoso. Foi registada, pela primeira vez, às 20.45 horas do dia 21 de Junho de 2003. Todos os anos, por esta altura, o sol, ao pousar no horizonte, projeta os seus raios em perfeito alinhamento com a sua crista e o centro do círculo votivo, situado no enfiamento a uns metros a oriente. Assinalando a entrada do Verão e proporcionado um verdadeiro posto de observação astronómico.
Neste vídeo, a alegria e espontaneidade de como Carlos Nascimento, abrilhantou a cerimónia evocativa, junto ao antiquíssimo e sagrado altar da Pedra do Solstício, calendário pré-histórico, configurando uma gigantesca esfera terrestre ou a esplendorosa configuração de um enorme globo solar alinhado com o pôr-do-sol do primeiro dia do Verão, que se ergue na vertente castreja do maciço dos Tambores, aldeia de Chãs,
Diz Luís Osório, no prefácio: – «Carlos Nascimento é um livro. Quando o conhecemos, quando o ouvimos ou abraçamos, sabemos que esconde uma biblioteca de palavras, desenhos e sons. Torna-se assim ainda mais interessante passear pela pureza das verdades absolutas na premissa de que aquilo que estamos a ler é um prolongamento do seu corpo, das suas falhas, dos seus sonhos.
Comboio a Vapor é de uma enorme simplicidade, sempre o mais difícil estado a que podemos aspirar. A simplicidade que procura em cada palavra, uma depuração que obriga à escolha criteriosa de cada letra, de cada ideia
Celebração evocativa das ancestrais tradições, dos povos que habitaram estes penhascos e nele cultuaram os seus deuses, a qual contou com a presença de um grupo peregrinos e do convidado especial, o artista Carlos Nascimento.
A manhã e a tarde foi de céu muito nublado e de constante instabilidade, mas, pelos vistos, a sorte protege os audazes e os bons devotos.
Não vimos o disco solar a despedir-se sobre a crista do monumental calendário solar, como sucede quando o horizonte está descoberto e limpo, senão alguns maravilhosos lampejos, já depois dele começar afundar-se por detrás das colinas que se estendem no lato da outra margem do fertilíssimo vale da Ribeira Centeeira. No entanto, mesmo assim, pudemos fazer a festa sem chuva e com momentos de muita alegria e poesia.
O meu abraço amigo a todos quantos nos deram o prazer da sua colaboração e participação. Nomeadamente da presença do artista, Carlos Nascimento e da sua querida esposa, a Clô. Além de António Lourenço, bem como José Lebreiro e Pedro Daniel, que se fez acompanhar com tão amáveis e sorridentes rostos familiares, podemos contar também com um pequeno grupo de adolescentes sorrisos da nossa aldeia, assim como da presença de um casal e seu amado filho, vindos de Celorico da Beira e do Fausto Domingues, assim como do nosso amigo santomense, de longa data, Ilídio Sacramento e sua querida esposa, que nos deu o prazer de ler uns belos versos do poeta Francisco Tenreiro.
Sacramento e sua querida esposa, que nos deu o prazer de ler uns belos versos do poeta Francisco Tenreiro.
O santomense, Ilídio Sacramento, que colaborou como mecânico na chamada ponte aérea humanitária São Tomé-Biafra, de julho de 1968 até janeiro de 1970, foi um dos participantes, com a sua esposa, na celebração do Solstício do Verão, tendo lido um belo poema de José Francisco Tenreiro, tido como uma das figuras de maior destaque na cultura e na história de São Tomé e Príncipe no século XX, considerado como a voz da mestiçagem, da negritude e da africanidade,
Poeta Manuel Pires Daniel - Já não está entre nós mas continuará vivo no nosso pensamento - Ele que também foi um dos peregrinos nos templos do Sol . Dois dos poemas de sua autoria, lidos por José Lebreiro e pela neta.
Deixou-nos, em 22 de Janeiro de 2021 – Foi uma das vitimas da Convid 19 - Natural de Meda, tendo residido, desde há vários anos, em V.N. de Foz Côa, onde fez grande parte da sua vida - Advogado, escritor, jornalista, poeta, dramaturgo, autor de 40 peças de teatro, nomeadamente para crianças, 20 das quais ainda inéditas - Espírito solidário e associativo, de sensibilidade relevante, em associações de solidariedade social, nomeadamente no Lar da Santa Casa da Misericórdia e na Associação Humanitária dos bombeiros de Foz Côa na qual foi seu Presidente da Assembleia Geral, 20 anos, desde 1979 a 1999
Profundo estudioso, um homem de cultura, tendo dedicado muitos anos da sua vida à função pública e à vida autárquica, cujos olhos, desde há alguns anos, tinham deixado de ver a luz do dia, despediu-se da vida aos 86 anos