O contentor onde pude guardar o gravador e máq. fotog
Diário de Bordo– 1 É manhã do 20º dia. Já estou mais a Norte da Ilha de Fernando Pó, agora completamente descoberta. Portanto, estou aproximar-me da costa de África, mas ainda tenho um bocado a percorrer. O céu, a leste, apresenta-se bastante encoberto, e, do lado oeste, tem algumas nuvens, o que tudo indica que vai haver chuva. Pelo menos à noite. –Estas as minhas primeiras palavras, vertidas, de forma pausada e denotando um certo abatimento, para o meu diário de bordo, registadas num pequeno gravador, guardado da fúria das ondas, no meu baú, um ex-contentor do lixo
Diário de Bordo – 1 Esta noite apanhei uma ave que tinha pousado sobre mim. Tenho-a aqui para a depenar daqui a bocadito... - (Confesso que era o que mais me custava: sacrificar as avezinhas que me serviam de companhia - Além disso, eram só ossos. Mas a necessidade, assim me obrigava).
Como não chove, só estou a consumir água do mar!... Não sei a que distância me encontro de Fernando Pó. Sei que estou muito próximo (quem está perdido no mar, o que parece perto, nem sempre é o que parece).mas não me interessa ir para lá, de maneira nenhuma!... (e tinha razões para não aportar lá) Como tal, vou aqui a permanecer deitado no fundo da canoa.. – Mas por pouco tempo, as condições atmosféricas, agravar-se-iam e voltaria a ser balanceado ao sabor de mais uma tempestade.
A canoa, fotograficamente falando, talvez possa parecer-lhe um iate - Sim, de 60 cm de altura por 1 metro de largura. Um pedaço de um tronco escavado, mais ou menos comprido, com umas ligeiras coberturas laterais e uma pequena ponte à proa e à popa
SENSIVELMENTE A MEIO DA MANHÃ – DEPOIS DE UM TORNADO - Fazia o balanço do dia:
Diário de Bordo 2 – Hoje já tive muito trabalho!... De manhã cedo, estava muito próximo de Fernando Pó, entretanto, surgiu um tornado que me aproximou mais, depois afastou-me para Oeste!... Estou-me ainda a afastar!...Convenci-me que não tinha outra hipótese senão ir dar lá, mas felizmente que coloquei a vela e estou a afastar-me nitidamente da Ilha de Macias. Portanto, estou a dominar perfeitamente a minha canoa, depois de ter enfrentado mais um temporal!... Não foi muito violento, mas, enfim, deu-me algum trabalho. Neste momento, estou a dirigir-me para a Nigéria. Espero lá chegar hoje, com certeza.
Com a chuva, desta manhã, consegui arranjar mais provisões de água. Portanto, esta manhã, já me consolei com água doce, água das chuvas!...Estou mais satisfeito, pois já não tinha água nenhuma. Já estava a beber água do mar!... Enfim, tudo vai andando com um bocado de sorte, felizmente
Diário de Bordo 3 . As aves estão aqui a voar ao meu lado!... Sinceramente, agrada-me a cor desta água. Uma cor diferente!... Um azul límpido, transparente!...Tudo indica que não devo estar muito afastado da costa...
As aves continuam aqui a sobrevoar o mar ao meu lado e à minha frente. Parece que querem acompanhar a minha canoa!...Os peixes, todos acompanham o ritmo do seu andamento... Enfim, tudo parece ir pelo melhor caminho!... Ainda não vislumbrei contornos de terra, o que, aliás, é compreensível, visto que a costa é normalmente baixa e só quase se avista, quando se está sobre ela, mas não devo estar longe.
NOVO ATAQUE DE PERIGOSO TUBARÃO
Diário de Bordo 4 – Neste momento, a canoa voltou a ser investida por um grande tubarão!!... Já lhe dei umas tacadas com o remo e espero que ele me deixe em paz e se afaste!... É realmente um tubarão grande! Ele ainda anda aqui, talvez próximo da canoa!..
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Diário de Bordo 5 – Já vi aqui alguns paus!... São vestígios, normalmente de aproximação de terra. Mas a água mantém-se com a mesma cor... isto é, de um azul clarinho, embora com muita carneirada... Aguardemos, enfim, que a desejada praia chegue à vista.
Diário de Bordo 6 – Devem ser três e tal da tarde deste dia 20. Tive que tirar novamente a vela, pois o mar apresenta-se bastante cavado, não há vento e tornava-se bastante difícil velejar... Continuo, portanto, à deriva, já que não há outra solução. Com o leme (que lhe adaptei e perdi) , talvez pudesse fazer qualquer coisa. Tenho um remo tosco, uma coisa improvisada, que quase não serve para nada!.
Imagem registada num certo dia ao pôr do sol
Diário de Bordo 6 Agora deixaram-se de ver as aves, pelo menos aqui nas cercanias... Ainda não vislumbrei qualquer contorno da costa africana... É uma costa muito baixa!... Já da outra vez, quando cheguei à Nigéria, apenas a avistei a uma duas ou três milhas. Desta vez, com certeza, vai ser a mesma coisa....É difícil o equilíbrio na canoa. O mar está muito cavado, muito agitado!..
Tive que lançar hoje à água o peixe que tinha pescado ontem por já cheirar mal. Não foi preciso utilizá-lo porque tinha ainda o fígado do tubarão, que comi. Mas, se for necessário, pesca-se e come-se peixe. Por enquanto, ainda tenho alguma comida. Não é muita mas ainda há alguma!... Quanto a água, arranjei mais um pouco das chuvas, que, misturada com a do mar, resolve o problema.
Diário de Bordo 7 – Seguidamente, vou-me entreter a comer qualquer coisa. Tenho muita fome!... Realmente, o apetite é bastante!...
ARRASTADO POR VÁRIAS HORAS POR EXTENSO CARDUME – DESDE O MEIO DA TARDE PELA NOITE A DENTRO
Diário de Bordo 8 – Neste momento, grande cardume de peixes! Estou envolvido num grande cardume de peixes! É indescritível uma coisa destas!... Há-os por todos os lados! Formam uma verdadeira corrente!...Não sei que possa ser isto!... Peixes!... São peixes!... é um cardume!.. São cardumes! Fazem autênticas vagas! Eu não compreendo isto!... É uma coisa estranha! Absolutamente estranha! O mar ficou agitado! Completamente agitado com tanto peixe! A minha canoa continua a tombalear!... É uma coisa que eu não percebo! Nunca vi tal fenómeno!... Os peixes são em quantidades monstras!... Paus, também, entre os peixes!... Agora dirige-se novamente para cá!... Ah!... Não posso!... Agora tenho de tomar cuidado com a minha canoa!...
Diário de Bordo 9 – Este ruído que se ouve são as vagas produzidas pelo cardume!...Enorme!... Que tem uma extensão de mais de uma milha, talvez. É um fenómeno curioso este ruído (fervilhar) que continua a ouvir-se... Modificou a fisionomia do mar, completamente!... Faz vagas como se fosse uma tempestade! É uma coisa que nunca vi!... Estranho não haver aqui aves, porque normalmente há aves quando aparecem cardumes. O mar toma uma agitação de ondas de todo o tamanho!... Pequenas! Grandes!.. Todo em turbilhão! Num autêntico turbilhão!...
Diário de Bordo10 – Ainda estou no meio do cardume! O cardume voltou para trás e voltou a cercar-me!...Os tubarões devem estar a ter um belo prato!... Nem num tornado teria tantas dificuldades de me equilibrar de como agora!...Prolonga-se por uma área enormíssima!... A canoa tem maior velocidade! Simplesmente há vagas que a galgam! É realmente um espectáculo!... Parece que me quer levar a terra; não me larga!...
Diário de Bordo 11 – Já passou mais de uma hora sobre o seu aparecimento e eu já andei mais em distância do que se tivesse sido arrastado por um tornado. O seu maior comprimento está no sentido poente nascente e a sua largura no sentido Norte/Sul. Umas vezes descai para Norte outras vezes descai para Sul. E eu estou a ser arrastado a uma velocidade impressionante!...Verifico pela posição da Ilha de Fernando Pó... Não há dúvida nenhuma que parece que foi Deus que veio ajudar-me a sair deste lugar, porque, hoje, já fui retardado por aquele tornado de manhã!...Fui muito puxado para Sul!... Agora estou a ser puxado nitidamente para Norte!...Umas vezes estou no meio dele, outras fora dele!... É coisa esquisita mas curiosa ao mesmo tempo!... Parece que há uma divindade!... Há algo superior que me está ajudar!... O cardume parece que tem alma! tem vida!...É impressionante!... Tem vida o cardume!... Parece que os animais têm descrição!.
(imagens da construção da piroga)
Diário de Bordo12 – Louvado sejais meu Deus!... Será Deus que me mandou este cardume para me ajudar?!... Para me salvar?!...O cardume continua... é já noite!... E ele a fazer-sentir! Umas vezes descendo para Sul outras vezes avançando para Norte e a canoa deslizando... Agora, num movimento suave!...Há muitas ondas que às vezes tentam galgá-la, mas ao deleve! Vai até num movimento mais equilibrado. É curioso!... Há qualquer coisa de especial nisto...
FINALMENTE, LÁ CONSEGUI LIBERTAR-ME DO CARDUME, COLOCANDO A VELA
Diário de Bordo 13 - Neste momento, são cerca das dez horas da noite. Estou a navegar à vela. À minha retaguarda, a Sul, parece haver formação de uma tempestade qualquer. Depois de algumas horas, envolvido no cardume, lá consegui afastar-me, graças à ajuda da vela e do remo improvisado. Não é nada prático. É extremamente difícil navegar nestas condições. Estou com uma atenção muito grande na bússola, que tenho aqui à minha frente, porque isto tem que ter o máximo de exatidão a fim de me aproximar quanto antes!... Ao meu lado , tenho o rádio (pequeno transístor a pilhas) com o qual tenho escutado a Rádio Nacional de São Tomé e Príncipe...Com certeza que só poderei navegar mais uma hora porque as condições não são nada favoráveis.
Diário de Bordo 14 – Realmente é uma situação muito difícil esta em que me encontro agora empenhado. Para dar equilíbrio à canoa é um caso sério! É preciso um sacrifício enorme!... Ainda não comi mais nada...Estou cheio de fome!... Mas, efetivamente, quero libertar-me aqui disto, porque é uma chatice...Está para ali a formar-se um temporal à minha retaguarda, não me apanhe!...Mas, enfim, se me apanhar, ao menos seja em boa posição da canoa...Por vezes, é desfavorável..
VOGANDO À FLOR DO MAR, PERANTE UMA NOITE ESPLENDOROSA DE LUAR ...MAS POR POUCO TEMPO... HAVIA TEMPESTADE AO LARGO, QUE NÃO TARDARIA A FUSTIGAR-ME
Diário de Bordo 15 - A canoa ficou atravessada na corrente e agora é um caso sério para conseguir... Mas já está quase!... Os relâmpagos estão-se a ver... Portanto, é natural que, lá para a meia-noite, venha a ter aqui uma chuvazita... O mar está a ficar um pouco mais difícil. Até agora tenho navegado .Havia uma aragenzita e o mar estava calmo.
Há luar! O céu está descoberto, pelo menos aqui nesta zona... Lá um pouco mais para a leste é que há nuvens e uns relâmpagos. Deve estar a formar-se para ali uma trovoada, com certeza.
Vejo as estrelas perfeitamente... É muito agradável!...Mas era bom que tivesse o leme (ou o remo); prendia-o ou amarrava (a cana do leme) e navega de qualquer maneira... Assim, ando para aqui... desengonçado... É uma chatice... Enfim, vai-se fazendo o que se pode.
Há bocado o cardume deu-me que fazer.... Ah! mas também favoreceu, favoreceu!...Deu um bocado de andamento à canoa.... Oh santo Deus! Como é que eu consigo?!...Outra vez a atravessar-se!....
Ver a lua é agradável!... O pior é se vem para aí alguma chuvada!...Põe isto numa banheira!... Daqui a pouco vou fazer umas papitas com água do mar
""Diante de mim, a escuridão. A voragem que não tem cimo e que nem sequer tem margem"- Victor Hugo
Diário de Bordo16– Não sei que horas são neste momento. É noite do dia 20 para o dia 21. Acabei agora de apanhar uma chuvada!... Estive a tirar a água da canoa, porque estava toda alagada!...Está escuro! Muito escuro!... Não sei... mas devem ser aí uma duas da manhã...Estou aqui com uma lanterna... A canoa estava alagadíssima!... Portanto, neste momento, não me posso deitar... Tenho de estar a ver se a canoa seca um pouco... Mas a chuva continua a ameaçar! Continua a relampaguear e a trovejar! ... É o resto da noite de vigília!...
O mar, até ao momento em que choveu, estava muito agitado; agora já está mais calmo... É uma noite bastante chata, esta.... O trovão, lá longe!...Os relâmpagos... É aventura, propriamente dita.
Diário de Bordo17– Um pormenor que já ficava por dizer: é que eu reforcei as minhas provisões de água. Apanhei mais um bocado de água das chuvas para beber...Portanto, neste momento já não preciso de água do mar.
Artista João Canto e Castro.Imagens de 20-03-2011 Nasceu em Lisboa, a 06-11-1952 Meu abraço amigo de parabéns e votos que o seu aniversário, tenha sido um dia alegre e muito feliz. Ator, Violinista, Violetista, Humorista e Imitador- Que nos tem dado o prazer da sua presença em várias celebrações, desde 2011: nos Equinócios e solstícios nos Templos do Sol, Chãs- Foz Côa.- Pena que, um dos peregrinos, Jorge Castro Lopes, já nos tenha deixado.
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João Maria de Lemos do Canto e Castro, nasceu em Lisboa, em 6 de Novembro de 1952 Estudou no Colégio Moderno. Entre 1985 e 1989 estudou no Conservatório Nacional onde aprendeu viola de arco com o professor François Broos, que foi o introdutor deste instrumento em Portugal.
Cedo revelou os seus dotes de imitador. Inicialmente em ambiente familiar, na escola ou entre amigos pregava algumas partidas imitando vozes. Em 1969-1970, participou em festas de cariz solidário onde fazia imitações de várias personalidades conhecidas da época.
Cumpriu o serviço militar no Exército Português entre 1973 e 1974. Deu os primeiros espetáculos de imitações em diversos locais de Portugal, posteriormente com regularidade no "Velho Páteo de Santana", onde animou os serões do restaurante lisboeta.
Participou na apresentação e animação de inúmeras festas de Carnaval, de Passagem de Ano ou de outros eventos em diversos pontos do país.
Em junho de 1995 participou na Revista à Portuguesa "De Afonso Henriques a Mário Soares", de Filipe la Féria, no Teatro Politeama, imitando José Hermano Saraiva em locução. Participou também na Revista "A Grande Festa", de Francisco Nicholson.
Para além da sua longa carreira na rádio, televisão e teatro como imitador e cantor-imitador, entre eles "Humor de Perdição"; "Crime na Pensão Estrelinha"; "Minas e Armadilhas"; entre muitos outros.
Na área da publicidade, ao longo da sua carreira, tem emprestado a sua voz a diversos spots publicitários, quer para rádio, quer para televisão.
Paralelamente tem-se dedicado também à música como instrumentista de violino e viola de arco interpretando repertórios de Música Tradicional Portuguesa a Música Clássica. Neste âmbito tem colaborado em muitas e variadas formações, além de ter participado como instrumentista em vários espetáculos e na gravação de vários discos.
04-11-1975 -Diário de bordo 05-11-2023 - "Ontem, de facto, estive próximo da Ilha do Príncipe. Mais propriamente do Ilhéu das Tinhosas. Afastei-me... agora ando para aqui...Não há vento!... Calmarias!...Longe da terra!...Com falta de água,... Encontro-me muito, mesmo bastante, desanimado! Não perdi ainda à esperança de que hei-de chegar à terra... .Me hei-de salvar!...Mas, sinceramente. sinto-me muito saturado, muito saturado!
A situação e extremamente difícil! Ponho à vela...à canoa não obedece... Não há vento! Por outro lado, a falta do leme e ( e do remo) é que me provocou isto tudo!..
É uma situação delicada! Bastante mesmo! ,... Perdi, até o apetite de comer!... Alias eu tenho muita sede! Imensa sede!...Oxalá que chova!
Fim de tarde do 16º dia - Um dia bastante aborrecido!... Há bocadinho houve um tubarão que investiu contra a minha canoa!...
Andou aqui em volta dela!... Dando-lhe umas rabanadas violentas!... E só consegui afugentá-lo com auxílio do machim!... Estava a ver que me queria virar a canoa. Realmente foi uma situação bastante desesperada!...
ROCHEDOS DAS TINHOSAS A SUL DA ILHA DO PRINCIPE - SANTUÁRIOS POVOADOS POR BANDOS DE GRITARIA DE AVES - Estive lá tão perto, e, todavia, tão inacessível me foi aportar de piroga naquele maravilhoso e fantasmagórico mundo das ILHAS TINHOSAS ! - O mais importante santuário de aves marinhas do Golfo da Guiné - Algumas vinham pousar na minha canoa - Estive lá, muito próximo, ao 15º Dia dos meus 38 dias numa piroga, em Nov de 1975 - . E, todavia, tão inacessível me foi poder aproximar-me daqueles inóspitos e misteriosos rochedos
Podia ter sido o primeiro Robinson Crusoé a lá aportar, mas já se tinha posto o sol, a noite caía pesada e escura: o crepúsculo no Equador é muito rápido; quando a silhueta da Tinhosa Grande, se me desenhou no horizonte, já uma cortina pálida e desmaiada, cobria o céu e o mar - E, à medida, que, com o remo improvisado, me ia dirigindo para lã, cada vez mais sonante e ruidosa era a enorme gritaria dos milhares de bandos de aves, que ali costumam pernoitar e nidificar.
Acabei por desistir, receando que pudesse ser lançado pelas ondas contra as rochas, ou mesmo que, ao lá pernoitar, pudesse vir a ser devorado pelos piolhos, que deverão existir nas sucessivas camadas de excrementos, que matizam toda a superfície rochosa.
Pois, além de aves, também por lá existem bancos de ricos cardumes de peixes em redor das suas águas - O maior problema são os inesperados tornados, que colocam em risco a vida dos pescadores das canoas - E +, por vezes, até dos barcos que fazem a ligação entre S. Tomé e Príncipe
Mas, atualmente, além dos tornados, há outras ameaças - Já nem traineiras nem as canoas se safam “Na ilha do Príncipe os pescadores, estão preocupados com a falta de segurança no mar da Região. Tudo por causa da constante presença de navios de origem desconhecida ao largo da ilha «Sempre aparecem barcos que lançam redes e levam todo peixe, referem noticias
Apraz-me saber que os Ilhéus das Pedras Tinhosas, da Ilha do Príncipe, têm sido objeto de estudo por vários biólogos internacionais, que agora as classificam como o principal berço das aves marinhas do Golfo da Guiné.–
"As ilhas Tinhosas, são constituídas por dois Ilhéus. A Tinhosa Grande e a Tinhosa Pequena, erguem-se a cerca de 20 Km a sul da Ilha do Príncipe - São consideradas como o mais importante berço de nidificação de aves marinhas no Golfo da Guiné. «Estes dois ilhéus albergam as maiores colónias de várias espécies de aves marinhas do Golfo da Guiné», confirma o estudo que alimentou a candidatura do Príncipe como património mundial da Biosfera pela UNESCO.
EXCERTOS DO DÁRIO DE BORDO - Dia 15 - 04-11-1975
No dia 4 de Nov de 1975, andava eu perdido há 15 dias a bordo de uma frágil piroga – Na tarde em que, ao ouvir a rádio Nacional de S. Tomé e Príncipe, de um modesto transístor de pilhas, que preservava num contentor do lixo, com o gravador e a máquina fotográfica, pude escutar a Voz de Paco Bandeira e Duo Oiro Negro e também cheguei a cantar um poema que fiz alusivo ao meu nascimento e outras canções que aprendi na minha adolescência - Em mais um longo dia de ansiedade
Diário de Bordo - Hoje, 15º dia. Grande deceção!... Um barco cargueiro passa aqui ao meu lado ...Faço-lhe sinais vários de aproximação... mas não correspondeu!... Não há dúvida nenhuma que tenho que contar apenas com os meus modestos recursos. Mais nada!
Diário de Bordo - Devem ser neste momento, cerca das nove horas da manhã. Agora tenho a nítida sensação que devo estar a aproximar-me da Ilha de Fernando Pó. (Bioko) - Ontem tive a impressão, depois de ter enfrentado um violento temporal, que estava próximo da Ilha do Príncipe. Mas não, foi ilusão...Agora há muito calor. Uma calmaria podre... Não há vento nenhum.
Há pouco tive a sorte de pescar outro tubarão!....Pelos vistos, peixes aqui há muitos e até se podem pescar à mão e a machim, se for preciso..
Diário de Bordo - De noite, a dada altura, fui surpreendido por ruídos estranhos dos golfinhos, que andavam aqui a voltear a canoa (às cambalhotas por cima dela) e de um lado para o outro. É curioso, porque deixavam um rasto luminoso e exprimiam uns grunhidos!... Por um lado, aquilo pareceu-me simpático, mas, por outro, atemorizou-me. Depois dei umas apitadelas e consegui afastá-los.
Diário de Bordo - Há uma serenidade!... Só se vê mar!... Absolutamente mar!... Mar e mais nada!... A minha canoa a vaguear, a vaguear!...
Eu não si onde estou!... Não sei!... Mas não estou desesperado!... Não perdi a confiança!... estou emocionado, com certeza!...Mas continuo confiante!...Realmente, o homem!... Eu acho que o homem é nestas circunstâncias que ele se superioriza a si próprio!... O seu espírito se enaltece!...
Há qualquer coisa de místico!....Ontem! no meio daquelas ondas!... Alterosas!!...De vez em quando, uma ou outra entrava com alguma água, dentro da minha canoa!... Eu sentia-me ao mesmo tempo pequeno e gigante!... Pequeno!... No meio de tanta grandeza!.... E gigante!... por vencer tamanha força!...
Diário de Bordo - Os peixes, aqui ao lado; de vez em quando a saltar!... Pois, são decorridos 15 dias e tal, que me encontro nestas circunstâncias, vivendo numa autêntica banheira, a que eu, pomposamente, dei o nome de hotel.
Diário de Bordo - Pois... não sei!... Não sei!... Estou longe de tudo!... Longe das vistas de toda a gente!... Perdido nesta imensidão!... É de facto uma imensidão!... Eu, se caísse aqui, não me salvaria!....
Ninguém! Absolutamente ninguém!... Ainda não perdi a confiança... Eu, acima de tudo, acredito em algo... Algo superior a mim... Há uma força qualquer que nos protege, de certeza absoluta!.... Porque, se assim não fosse, estou convencido que não estaria aqui!... Porque eu tenho vencido muitas dificuldades!... Imensas!... Eu, ontem parecia não seu o quê no meio daquela fúria!... Fúria autêntica!... Indescritível!... O vento!...As vagas alterosas!... O mar parecia engolir-me a cada momento!... Eu não teria salvação nenhuma se a canoa se virasse!... Eu continuei!...
Diário de Bordo - Apenas a presença de aves, aqui perto e de peixes, aqui debaixo da canoa.... Peixes de todas as espécies são a minha companhia... Nesta serenidade!...Nesta calmaria!...Não sei se isto é prologo para mais uns momentos como os de ontem....O mar é assim!... Umas vezes sereno, outras furioso!
Ontem, de facto, estive próximo da Ilha do Príncipe. Mais propriamente, do Ilhéu das Tinhosas. Afastei-me... agora ando para aqui!... Não há vento. Há uma calmaria!...Longe de terra, com falta de água!...
Encontro-me muito desanimado!... Não perdi ainda a esperança de que hei-de chegar a terra... Hei-de me salvar!...Mas, sinceramente, sinto-me muito saturado, muito saturado!..
(....) De noite., a dada altura, fui surpreendido por ruídos estranhos dos golfinhos, que andavam ali a voltear a canoa de um lado para o outro… É curioso porque deixavam um rasto luminoso e exprimiam uns grunhidos! Por um lado, aquilo pareceu-me simpático, mas, por outro, atemorizou-me. Depois dei umas apitadelas e consegui afasta-los.
É uma hora da tarde do 15º dia .Estou à escutar Rádio Nacional de São Tome e Príncipe. Está um calor abrasador!,...Uma calmaria muito grande!.. Não há praticamente vento! O que pode ser mau sinal, porque, quando assim o tempo está calmo, normalmente segue-se um temporal violento!...De tempestade!...De ventos fortes…
Apetecia-me realmente beber água. Já tenho pouca. E tomar um banho fresco… Sim, mas é impossível neste mar.,..há muitos tubarões em volta, muita fauna marinha que não me convém nada visitar...
Mas o céu esta totalmente descoberto. O mar de um azul muito claro. Há por aqui algumas aves que andam à voar procura de peixes... É eu sempre na mira ver de terra
( canta Paco bandeira )
Esta foi a voz de Paco Bandeira que acabei de escutar, bastante emocionado!...Pois ainda continuo esperando que chegue à praia!... Neste momento, a contrastar com ontem...ontem! Era pavoroso! O mar estava agitadíssimo!...Ondas alterosa: mais de dez metros, pareciam engolir à cada instante a canoa!.. .Hoje não!... Hoje o mar esta chão! Sereno!...Não há vento...Eu queria velejar um bocadinho mas não há vento.
A água que tenho já é pouca. Mas tenho esperança que hei-de chegar à terra o mais depressa possível. Se é como julgo estar aqui na Baia de Biafra, portanto próximo de Fernando Pó. é natural que me aproxime da costa africana, talvez da Nigéria.