
As minhas primeiras tentativas da escalada ao Pico Cão Grande, ocorreram em meados de 1970 - Fui a primeira pessoa a escalar sozinho este majestoso pico. Dizia-se que o Cão Grande tinha feitiço e quem ousasse escalá-lo, ficava lá morto. Por isso, não constava que alguém tivesse ousado subir as suas paredes verticais. Eu achei que devia quebrar esse enguiço. Mas também por se me impor como um desafio desde o primeiro dia que fui trabalhar como empregado de mato para a Roça Ribeira Peixe - E que veio a tornar-se ainda mais intenso depois de abandonar aquela propriedade agrícola.
Impunha-se-me a sua conquista como uma espécie de desforra às humilhações de que fui alvo por parte da administração daquela roça e da Roça Uba-budo, pertencentes à mesma empresa: A companhia Agrícola Ultramarina.
O administrador mandara-me para ali de castigo a contar cacaueiros, numa área abandonada e infestada pela cobra-preta, pelo facto de me ter recusado a tratar os trabalhadores por tu e de forma autoritária, ao velho estilo colonial. Andava eu com um trabalhador cabo-verdiano: ele de caldeirinha na mão cheia de água de cal para marcar os cacaueiros que eu ia contado. Eu andava de galochas e ele descalço: um dia uma serpente picou-o e morreu no local. Nesse mesmo dia à noite abandonei a Roça.
O Sebastião, que residia numa pequena aldeia, próximo da ponte do Caué,, era quem me acompanhava até ao sopé de um dos flancos. Era caçador de porcos. E aproveitava para, com os seus cães, fazer as suas caçadas. seguidas de várias subidas solitárias, até que, em Outubro de 1975, na companhia de dois jovens e corajosos santomenses, conseguimos completar a subida.
.DEVIA SER DECLARADO PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE OU MONUMENTO NACIONAL - Tal como o Devils Tower National Monument - EUA
Finalmente a imagem da bandeira que foi estiada na crista de um dos picos mais singulares e difíceis da Terra. - Em homenagem aos desafios da serenidade e da coragem - O testemunho que faltava dar aos desconfiados e incrédulos - Foto registada na ponte do Caué, antes da expedição através da floresta, com a minha valorosa equipa de santomenses; Pires dos Santos e Constantino Bragança.. Não disponho das últimas imagens, visto ter abandonado a Ilha, dias depois para uma aventura maritima de canoa.. Não tendo, até hoje, podido recuperar esse e outro espólio.
DEPOIS DA ESCALADA COM A MINHA EQUIPA, HOUVE VÁRIAS EXPEDIÇÕES - MUNIDAS DE EQUIPAMENTOS QUE NÓS NÃO DISPUSEMOS - A escalada nas rochas - seja a nível das grandes alturas, tomando o nome de alpinismo, seja em que circunstância for, é um desrato nobre - Um dos desportos mais arriscados e difíceis do mundo, que não deve ser praticado por meros caprichos exibicionistas ou a titulo competitivo, senão como um desafio ou uma conquista humana às dificuldades impostas pela formações rochosas da natureza
Mas, pelos vistos, há quem o pratique exibindo conquitas sem as fazer É o caso do Pico Cão Grande - Fizeram escaladas no Pico Cão Pequeno, afirmando, depois , de que haviam escalado o Cão Grande. - Curiosamente, com este em pano de fundo, a que mais à frente me reportarei. Recebem apoios e têm que os justificar de qualquer forma . E, segundo apuramos, nalguns casos, pagando irrisórias importâncias a quem os ajuda a transportar as mochilas
As ilhas deviam promover este desporto. E todas as escaladas deviam ser devidamente autorizadas e acompanhadas por observadores para, em caso de acidentes, terem pronta assistência clinica. Veja-se o que se passa com a escaldado Evereste
Informação atualizada - 25/04/2022 Uma licença de escalada para o Everest custa US$ 11.000 (cerca de R$ 50.000, na cotação atual*), e no ano passado o Nepal faturou US$ 4,1 milhões com essas vendas. Por outro lado, o país gerou um total de apenas US$ 451.000 de vendas de licenças para seus outros sete picos acima de 26.000 pés/7.900 metros de altitude https://gooutside.com.br/permissoes-para-escalar-o-everest-despencam
O Pico Cão Grande, que se ergue no coração da floresta equatorial, ao sul da Ilha de São Tomé, não é apenas um gigantesco falo de pedra basáltica, é, indubitavelmente, uma das mais singulares maravilhas geológicas da terra: não tanto pela altitude mas pela forma e verticalidade.
Situado dentro dos limites do Parque Nacional Ôbó de São Tomé , mesmo assim, parece-me que seria importante declará-lo monumento nacional - tal como sucedera a outra enigmática formação rochosa - o Devils Tower National Monument, a Torre do Diabo, que se ergue no estado de Wyoming, EUA
Cada um com as suas peculiaridades, ambos de origem ígnea monolítica, infunde uma surpreendente beleza e mistério. Enquanto Devils Tower o tem o topo relativamente plano, o Cão Grande é uma rocha, quase pontiaguda de formada por um bloco maciço, vertical, escorregadio e escarpado –
Autêntico dedo gigantesco apontado aos céus!- que se destaca do coração da floresta mais densa e exuberante da zona meridional da ilha, próximo da linha do Equador, onde a queda pluviométrica oscila, entre 4500 a 5000mm anuais – Monólito de origem vulcânica com 663 metros de altitude, com um perímetro na base, talvez superior à superfície rochosa que se levanta aprumo, sobre o manto verde, que se calcula acima dos 300 m de altura - ou mais, conforme a vertente que se escalar - Algumas das suas escarpas, além de encobertas pela floresta, confundem-se com o próprio monte donde emerge, desnudam-se dele e vão quase até à linha das águas, que correm ou jorram junto dele, excedendo muito além das três centenas de metros calculados, que é possível medir em área livre e aberta.
Quem o vir de longe, seja da clareira da floresta, seja ao surgir da curva de uma estrada ou até a levantar-se à frente dos olhos, irrompendo no meio de uma pequena reta, não poderá deixar de sentir o pasmo de uma majestosa aparição, de ser tentado a contemplar, algo que parece divinizar toda a natureza selvagem envolvente – Qual gigantesca testemunha, simultaneamente, terrena e cósmica! Ou qual expressão genuína de um monumento, erguido da terra, aos céus!
Seja de que ângulo for, de perto ou mais afastado, o Cão Grande é único no seu género: não há conhecimento de semelhanças no Planeta.
A sua forma, quase esférica e pontiaguda, funciona como um portentoso para-raios! - Várias vezes vi esse espetáculo pirotécnico noturno da Roça Ribeira Peixe, quando ali trabalhava, como empregado de mato - Dizia-se lá: "Olha lá está o Cão Grande a ser bombardeado pela fuzilaria do diabo!!... - Não tarda a trovoada a vir por aí abaixo!...Curiosamente, mais das vezes, as nuvens faziam por lá a descarga e a chuva não atingia o terreiro da roça, que ficava ali junto ao mar - É, sem dúvida, a zona onde chove mais! - Em São Tomé há cinco micro-climas - Que vão desde os 300mm na cidade São Tomé, até aos 5000mm, onde se situa aquele pico.

"This is one of the highest needle-shaped "volcanic plug" peaks on Earth (300 m), perhaps even more impressive than the Devils Tower in Wyoming (386 m), as it rises above the landscape in an equally unexpected and even bluntly obscene way. It is however more difficult to photograph than Devils Tower: its top is often hidden by clouds or precipitation, not to mention that it's harder to get to the tiny country of São Tomé and Principe (though I'm sure it's worth the effort).
The Dark Tower by Stephen King have been inspired by Pico Cão Grande? This “volcanic plug” is in Obo National Park in the tiny island country of São Tomé and Principe off the coast of Africa. Photographs of this tower are hard to take because the top is usually in the clouds, but you’ll find some good ones at Dark Roasted Blend. Link. - In The Dark Tower: Found!


The heavy mist and humidity over the surrounding jungle (the rainfall varies between 4500 mm to 5000 mm per year) adds to the mystery and the foreboding feeling of the Great Dog Peak, as its rocky presence rises and darkly glistens Pico Cão Grande - Neatorama



- Se a corda rebentasse ou uma cavilha se desprendesse (e era tudo tão improvisado e tão artesanal) estatelávamo-nos imediatamente no sopé. Talvez amortecidos pelas copas da floresta que o cercam, mas apenas o tempo para a queda ser ainda mais horrível: de tomarmos consciência da morte que nos esperava sobre os blocos de basalto em redor - Numa das escaladas, o meu companheiro, que seguia uns metros acima, só teve tempo de me dizer: pedra!!! E eu encostar a cabeça à rocha. Ainda me tocou na orelha. Ele, foi menos feliz: uma lasca que se desprendeu apanhou-lhe o pulso, fez-lhe um grande golpe - Ainda hoje me custa a crer como ele se aguentou e não cedeu à queda.

