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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Ilhas das Pedras Tinhosas ao 15º dia – No mais importante berço de aves marinhas do Golfo da Guiné – Podia ter sido o primeiro Robinson Crusoe a aportar numa dessas pedras fantasmas mas era quase noite, ouvia-se uma enorme gritaria, receei ir de encontro às rochas e que pudesse ser atacado - E até devorado pelos piolhos

"Ilhas Tinhosas  - Classificadas como "o mais importante berço das aves marinhas no Golfo da Guiné"  - SANTUÁRIOS DE AVES E DE PEIXES - Estive lá tão perto, e, todavia, tão inacessecível àquele maravilhoso mundo! - Leia os pormenores neste post - mais à frente

(imagem Net)
Ilhéus das Tinhosas, eram assim designadas no tempo colonial – E, na verdade, não são ilhas mas pequenos ilhéus. Era para ali que geralmente se dirigia a traineira do Macôco. Único colono que trouxe as artes piscatórias da sua terra e que convivia com os pescadores das Ilhas, taco a taco.
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Pois, além de aves, também por lá havia bancos de ricos cardumes de peixes em redor das suas águas - O maior problema eram os tornados - De volta e meia, lá ia o pescado e  vidas!... E hoje?!... 

- Hoje, além dos tornados, há outras ameaças -  Já nem traineiras nem as canoas se safam “Na ilha do Príncipe os pescadores, estão preocupados com a falta de segurança no mar da Região. Tudo por causa da constante presença de navios de origem desconhecida ao largo da ilha «Sempre aparecem barcos que lançam redes e levam todo peixe. Pescadores da ilha do Príncipe vivem amedrontados ..A pirataria no Golfo da Guiné ameaça a soberania de São Tomé e Príncipe



(fotos da  nossa autoria - em S. Tomé)
Quem voasse de S. Tomé ao Príncipe, as "Tinhosas" eram as primeiras sentinelas que denunciavam a aproximação à princesa do Golfo da Guiné. 

E, se a rota aérea ou marítima, ainda for a mesma, certamente que é a surpreendente imagem com que se depara: a de dois enormes e solitários penedos!  - A Tinhosa Grande, a maior ilhota, com  55m. E a Tinhosa Pequena, mais a Norte, com um 64m de altitude, localizadas há 22 quilómetros da ilha do Príncipe

Dizia-se, naquele tempo, que, devido aos muitos bandos de aves que ali nidificavam, estavam cobertas de manchas brancas de guano., tendo chegado mesmo a falar-se da sua exploração para a composição de adubos – Mas ainda bem que não se cometeu esse atentado e permaneceram selvagens. 

Pedras Tinhosas  "o mais importante berço das aves marinhas no Golfo da Guiné"
(imagem da Net)
Apraz-me  saber que os Ilhéus das Pedras Tinhosas, da Ilha do Príncipe, têm sido objeto de estudo por vários biólogos internacionais, que  agora as classificam  como o principal berço das aves marinhas do Golfo da Guiné.– 


"As ilhas Tinhosas, são consideradas como o mais importante berço de nidificação de aves marinhas no Golfo da Guiné. «Estes dois ilhéus albergam as maiores colónias de várias espécies de aves marinhas do Golfo da Guiné», confirma o estudo que alimentou a candidatura do Príncipe como património mundial da Biosfera pela UNESCO.

(..) A ilha maior que compõe as tinhosas tem 20 hectares e a pequena tem 3 hectares. Espaço, privilegiado pelas aves marinhas do Golfo da Guiné, para se procriarem, mas não só. As Tinhosas, são também visitadas por outras espécies de aves marinhas como o rabo-de-palha-de-bico-vermelho Phaethon aethereus, atobá-grande Sula dactylatra, atobá-de-patas-vermelhas Sula sula e a fragata-de-Ascenção Fregata Aquila, assegura o trabalho de investigação da bióloga Esterline Matilde - Excerto Ilhas Tinhosas são o mais importante berço das aves

Não duvido minimamente da importância da sua biodiversidade - Pessoalmente pude testemunhar esse prodígio solitário, num dos 38 dias em que andei à deriva numa canoa, por aqueles mares – Pena ter sido ao escurecer – Pois, tão inesperada visão, acompanhada pelo  grito das aves, assustou-me mais de que me deslumbrou.

 FANTASMAGÓRICA E RUIDOSA VISÃO  SOLITÁRIA DE UM OUTRO MUNDO!

Foi  pouco depois do  pôr do sol do 15º dia, que descobria um enorme penedo, terrivelmente solitário, recortando-se, a curta distância de mim, mas já o avistando um pouco a sul,  sobre a vastidão do mar,  quase aos resvés do horizonte. Passei  num dos lados e não me dei conta - Visto esvoaçarem aves por cima da minha cabeça e todos os lados.

Depois que uma violenta tempestade me fizera perder a maior parte dos mantimentos e apetrechos, tornava-se-me tremendamente difícil navegar com o auxilio de um remo improvisado. Mesmo assim, poderia ter-me aproximado mas hesitei.   - Não ocorreu porque  tive mais medo do penedo que do mar.  Receando que a canoa se despedaçasse de encontro às rochas  e que as aves me pudessem atacar.





Estranha visão! - Mal o sol começou  afundar-se a  oeste. 



Se ao menos lá descobrisse uma árvore ou uma sombra. Mas, no horizonte e a curta distância, só descobria um penedo rapado, terrivelmente solitário  e o ruído de muitos bandos de aves, que ainda continuavam a pousar, mesmo já com alguma penumbra, pelo que desisti de me aproximar.

Eu tinha conhecimento que era um santuário de aves e de piolhos. Que não havia outra fauna senão essa. A par de grossas manchas brancas de dejetos, algum mato rasteiro, ninhos por todos os lados, gritarias de aves nas falésias e por todo o maciço, a partir quase da linha da rebentação. 

 MAIS ASSUSTADO DE QUE DESLUMBRADO

Ainda me esforcei por me aproximar, com o remo improvisado, remando com imensa dificuldade e contra a corrente, que me  puxava para Norte -  Mas as  sombras já começavam  a cobrir o mar  e aquele vulto passava a assumir contornos ainda mais ruidosos e fantasmagóricos.

De facto, tal como refiro no registos gravados do meu diário, eu apercebera-me dos bandos de aves a sobrevoarem-me, o que me levou a pensar que não estivesse muito longe de terra.  

Porém, o fim de  tarde era de uma imensa calma e os meus olhos estavam imersos na paz e na serenidade, no  deslumbramento dos raios solares que se estendiam de oeste até mim. 

– Por isso, quando me dei conta do recorte daquele morro, quase ao revés do mar, muito a custo ainda dei algumas remadas na sua direcção, porém, às tantas,  fixando mais atentamente  os recortes petrificados  daquele fantasma, que cada vez mais enegreciam,  desisti,  deixando-me de novo  ir ao sabor da corrente,  que me arrastava para lugar incerto, envolvido pelas mesmas trevas e escuridão.

EXCERTOS DO DÁRIO DE BORDO - Dias 15 e 16 - Nos dias em que a canoa derivou na zona marítima da Ilha do Principe, que cheguei a supor que fosse Fernando Pó

Diário de Bordo 1- Hoje, 15º dia. Grande decepção!... Um barco cargueiro passa aqui ao meu lado ...Faço-lhe sinais vários de aproximação... mas não correspondeu!...     Não há dúvida nenhuma que tenho que contar apenas com os meus modestos recursos. Mais nada! 
 
Diário de Bordo 2- Devem ser neste momento, cerca das nove horas da manhã. Agora tenho a nítida sensação que  devo estar a aproximar-me da Ilha de Fernando Pó. (Bioko) - Ontem tive a impressão, depois de ter enfrentado um violento temporal, que estava próximo da Ilha do Príncipe. Mas não, foi ilusão...Agora há muito calor. Uma calmaria podre... Não há vento nenhum.

Há pouco tive a sorte de pescar outro tubarão!....Pelos vistos, peixes aqui há muitos e até se podem pescar à mão e a machim, se for preciso..


Diário de Bordo 3 - De noite, a dada altura, fui surpreendido por ruídos estranhos dos golfinhos, que andavam aqui a voltear a canoa (às cambalhotas por cima dela) e de um lado para o outro. É curioso, porque deixavam um rasto luminoso e exprimiam uns grunhidos!... Por um lado, aquilo pareceu-me simpático, mas, por outro, atemorizou-me. Depois dei umas apitadelas e consegui afastá-los.

  Diário de Bordo 8 - Há uma serenidade!... Só se vê mar!... Absolutamente mar!... Mar e mais nada!... A minha canoa a vaguear, a vaguear!...

Eu não si onde estou!... Não sei!... Mas não estou desesperado!... Não perdi a confiança!... estou emocionado, com certeza!...Mas continuo confiante!...Realmente, o homem!... Eu acho que o homem é nestas circunstâncias que ele se superioriza a si próprio!... O seu espírito se enaltece!...

Há qualquer coisa de místico!....Ontem! no meio daquelas ondas!... Alterosas!!...De vez em quando, uma ou outra entrava  com alguma água, dentro da minha canoa!... Eu sentia-me ao mesmo tempo pequeno e gigante!... Pequeno!...   No meio de tanta grandeza!.... E gigante!... por vencer tamanha força!...

Diário de Bordo 9 - Os peixes, aqui ao lado; de vez em quando a saltar!... Pois, são decorridos 15 dias e tal, que me encontro nestas circunstâncias, vivendo numa autêntica banheira, a que eu, pomposamente, dei o nome de hotel.

Eu posso!... Eu sinto-me capaz  de fazer  uma viagem muito grande!... Evidentemente que tenho de ir bem preparado, com alimentos e água!... A canoa tem de oferecer outra segurança. Porque, esta canoa, de facto, não está bem construída!... Não está muito mal mas já está com rombos; está um bocadinho torta...Ela não ficou equilibrada... Enfim, estou convencido de que, com uma boa canoa, com boa alimentação e água, sou capaz de ir muito longe. Sinto-me encorajado!... E com velas boas. Velas quadrangulares!...Porque, estas velas rectangulares, não se adaptam à canoa.

Diário de Bordo  10 - Pois... não sei!... Não sei!... Estou longe de tudo!... Longe das vistas de toda a gente!... Perdido nesta imensidão!... É de facto uma imensidão!... Eu, se caísse aqui, não me salvaria!....


Ninguém! Absolutamente ninguém!... Ainda não perdi a confiança... Eu, acima de tudo, acredito em algo... Algo superior a mim... Há uma força qualquer que nos protege, de certeza absoluta!.... Porque, se assim não fosse, estou convencido que não estaria aqui!... Porque eu tenho vencido muitas dificuldades!... Imensas!... Eu, ontem parecia não seu o quê no meio daquela fúria!... Fúria autêntica!... Indescritível!... O vento!...As vagas alterosas!... O mar parecia engolir-me a cada momento!... Eu não teria salvação nenhuma se a canoa se virasse!... Eu continuei!...
Diário de Bordo 12 - Apenas a presença de aves, aqui perto e de peixes, aqui debaixo da canoa.... Peixes de todas as espécies são a minha companhia... Nesta serenidade!...Nesta calmaria!...Não sei se isto é prologo para mais uns momentos como os de ontem....O mar é assim!... Umas vezes sereno, outras furioso!

Diário de Bordo 13 -  Fim de tarde do 15º dia. Estou a ouvir o Duro Ouro Negro (Muxima) através da Rádio Nacional de São Tomé e Príncipe. Uma tarde serena!... Mas, no horizonte, ao longe, nuvens carregadas, nuvens escuras!....Ameaçam chuva!...

 !
Diário de Bordo  14 - Neste momento, eu sinto-me tranquilo. Sinto-me sossegado... Vamos lá a ver como será a noite...Vamos lá a ver se tenho uma surpresa, como a que tive a noite passada!... Às tantas, um grupo de toninhas, começaram a voltear a canoa!... Pareciam  autênticos foguetes, deixando um rasto luminoso por baixo, por cima e em todas as direcções!... Exprimindo uns grunhidos muito estranhos!... Achei aquilo interessante, mas, por outro lado, também senti algum receio que caíssem na canoa e a partissem.

Diário de Bordo  15 - Pois tenho tudo arreado... A canoa, enfim, aos solavancos, tomboleando ao sabor da corrente. Uma corrente que se faz sentir, evidentemente, ouvindo Muxima-ai-oé!... É realmente, uma canção africana que eu gosto muito de ouvir.
Diário de Bordo  16 - Não há dúvida nenhuma... O mar é cheio de beleza!..... Umas vezes ameaçador!...Outras vezes belo! Maravilhoso!... De plenitude!...De alegria e de paz!...
Há uma serenidade em tudo o que vejo aqui... E há vida!... Há a luta dos peixes pela sobrevivência!... Luta mais feroz, talvez que a dos homens!...

Diário de Bordo 17 - Pois é já ao anoitecer... A  canoa com uma coberta, faz-me lembrar, não sei o quê... Uma espécie de junco chinês!...

Diário de Bordo  17 - Parece-me que tenho ali a costa de África !...O céu está agora carregado para lá...Deve estar a chover, com certeza, porque as nuvens  estão para lá a descarregar chuva!.... Mas ainda estou muito longe.... Vejo, lá longe!... A umas 20 milhas, contornos de Fernando Pó... (era, afinal, ainda a ilha do Príncipe)

 (...)
Diário de Bordo 19 - São cerca das 10 horas da noite. O ruído que se ouve são as vagas a baterem  constantemente e arrastarem-me!...Neste momento, não tenho qualquer vela içada...Estou aqui deitado numa espécie de caixão!...
- Excertos
16º DIA

 Já são dezasseis dias passados que me encontro numa canoa, em pleno Golfo da Guiné. Devem ser três horas da tarde. Sinceramente, encontro-me muito desiludido! Muito desanimado!..Cheio de sede!... Não tenho praticamente água!..

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Ontem, de facto, estive próximo da Ilha do Príncipe. Mais propriamente, do Ilhéu das Tinhosas. Afastei-me... agora ando para aqui!... Não há vento. Há uma calmaria!...Longe de terra, com falta de água!...
Encontro-me  muito desanimado!... Não perdi ainda a esperança de que hei-de chegar a terra... Hei-de me salvar!...Mas, sinceramente, sinto-me muito saturado, muito saturado!... 

A situação é extremamente difícil!... Ponho a vela e canoa não obedece... Não há vento!...Por outro lado, a falta do leme (que lhe adaptei e a perda do remo) é que provocou isto tudo!... É uma situação delicada! Bastante, mesmo!...Perdi até o apetite de comer!... Aliás, eu tenho muita sede! Imensa sede!.. Oxalá que chova!


Fim de tarde do 16º dia. Um dia bastante aborrecido!... Há bocadinho, houve um tubarão que investiu contra a minha canoa! Andou aqui em volta dela, dando-lhe rabanadas violentas e só consegui afugentá-lo com o auxílio do machim!... Estava a ver que me queria virar a canoa... Realmente foi uma situação bastante desesperada.

Mais tarde, voltaria a ser atacado por um outro tubarão enorme e da mesma espécie. Mas só daria duas voltas; à segunda, esperei-o.num dos bordos e deferi-lhe um golpe com o machim, tendo-o afastado - Desesperado, propriamente, nunca estive. Nem com ataques de tubarões, nem com tempestades. Mas também não vejo outras palavras para descrever, certas situações dramáticas.

Excertos do dário de Bordo

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