expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Escritor Jorge Amado – Lisboa, 1988 - Em desacordo com o acordo: “os acordos ortográficos feitos até hoje, têm resultado em nada!... E porquê?... Não atendem aos interesses, à realidade da língua falada e escrita nos diversos países (..) como escritor, não me atinge em nada…


Por Jorge Trabulo Marques -  Jornalista e Investigador -  Poderá também ouvir o registo da entrevista sobre Glauber Rocha e do seu livro Sumiço de Santa, em http://www.odisseiasnosmares.com/2016/05/jorge-amado-os-filmes-de-glauber-rocha.html


Lisboa, 1988 – Jorge Amado:  

"Eu não sou um apaixonado pela unidade ortográfica. Eu acho, como não há uma unidade literária de todos os elementos que formam as diversas nações, eu não vejo porquê esta tendência de unidade ortográfica compreende?...Porque, se vocês dizem facto, não podem escrever como nós escrevemos fato. O fato para vocês é uma peça de roupa e facto é  um acontecimento, não é!.” – palavras do um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros,  numa entrevista que me concedeu, na qualidade de repórter da então Rádio Comercial-RDP, acerca do Congresso de Escritores Portugueses, que decorreu naquele ano, em Lisboa


Com obras publicadas em 55 países e vertida para 49 idiomas - Biografia | Fundação Casa de Jorge Amado





PORTUGAL - ROTA OBRIGATÓRIA DAS VIAGENS DE JORGE AMADO


Depois do 25 de Abril. Jorge Amado, deslocou-se várias vezes a Portugal: vindo, nomeadamente, de Paris, onde passava algumas temporadas, sobretudo na década de 80, numa fase, literáriamente,  ainda muito ativa – Não era que gostasse mais de viver na Europa de que no Brasil; o motivo não era esse mas a falta de privacidade e o necessário isolamento, que não conseguia encontrar na sua cidade natal, onde era constantemente solicitado     - Nascido em Tabuna,  a 10 de Agosto de 1912, Estado da Baía, e, em cujas terras,  havia também de falecer:  Em Salvador, 6 de Agosto de 2001

Confessou-me que adorava o nosso país:   deliciar-se com a sua gastronomia, admirava o artesanato do Minho  (nomeadamente o da cerâmica),  as belezas naturais, o nosso sol,  nosso clima, a simpatia das nossas gentes, onde contava com  bons amigos, alguns dos quais, fonte de inspiração, como personagens nas suas obras: é o caso, por exemplo, de Nuno Lima de Carvalho, diretor da Galeria de Arte do casino Estoril

Tanto ele, como Zélia Gattai, sua esposa, deram-me o prazer de me concederem várias entrevistas, que aguardo no meu arquivo. Uma das quais feita por ocasião do Congresso de Escritores Portugueses, em 1988 (creio que o 2º), ou seja, dois anos antes da assinatura do então já  polémico acordo ortográfico – Obviamente, que o tema não deixou de vir à baila,  gerando acaloradas discussões, tal como, de resto, ainda hoje continua a suscitar, agora sobre uma data em que termina o  período de transição.. e entra definitivamente em vigor,  depois de adiado, há 3 anos, pela  presidente Dilma Roussef , Polêmico, o Novo Acordo Ortográfico só entrará em vigor em 2016

Naturalmente, que, ao entrevistar Jorge Amado,  temas como a língua portuguesa e a questão do acordo ortográfico, eram das tais perguntas incontornáveis, logo para começar  – E, assim, decorreu a entrevista: - Encetado o diálogo, muitas outras perguntas se seguiram. 


O  objetivo deste acordo é  do  de “criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa. Foi assinado por representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe em Lisboa, em 16 de Dezembro de 1990.1 Depois de recuperar a independência, Timor-Leste aderiu ao Acordo em 2004. O processo negocial que resultou no Acordo contou com a presença de uma delegação de observadores da Galiza" Acordo Ortográfico de 1990 


JORGE AMADO E GLAUBER ROCHA





“Ele estava recolhido em Sintra, trabalhando, num projeto de um filme (…) Infelizmente, neste momento, ele está enfermo: com uma pneumonia, que o levou ao leito, ao hospital, mas todos nós, seus amigos, seus admiradores, que o queremos, que o admiramos, que o amamos, enormemente, esperamos que, dentro em pouco, ele retomará o seu trabalho de cineasta e de intelectual, de brasileiro que é, um amigo dos portugueses” -

Entrevista concedida por Jorge Amado, em 6 de Agosto de 1981, a escassos dias do seu aniversário e da morte do seu grande amigo, o cineasta, Glauber Rocha, um dos cineastas mais notáveis do chamado Cinema Novo Brasileiro, iniciado no começo dos anos 60. – Esta entrevista, feita no dia em que se completavam 36 anos sobre o lançamento da bomba atómica sobre Hiroxima, assunto que também é colocado ao escritor Jorge Amado, foi transmitida na então Rádio Comercial – RDP e escutada por Glauber, então enfermo no Hospital da CUF, a quem telefonei, dando-lhe conhecimento, a pedido de Fernando Namora, com o fim de lhe dar ânimo.


Jorge Trabulo Marques – Jorge Amado, falou de irmão: irmão no sentido de grande amizade, é isso que quer dizer?
Jorge Amado – Sim, Veja: nós somos baianos, brasileiros ambos, escritores, intelectuais, pois que, Glauber é um grande escritor! Um admirável escritor! … Eu conheço-o, quase desde menino!... Eu vi quando ele começou o seu trabalho de cineasta, sei quanto o cinema brasileiro lhe deve: grande figura do nosso cinema


 MAIS PORMENORES EM  da entrevista sobre Glauber Rocha e do seu livro Sumiço de Santa, em http://www.odisseiasnosmares.com/2016/05/jorge-amado-os-filmes-de-glauber-rocha.html

JORGE AMADO NÃO CHEGOU APAIXONAR-SE PELO ACORDO ORTOGRÁFICO -

Como é compreensível, a linguagem é um fenómeno vivo e evolutivo. Se assim não fosse, o mundo era uma babel de dialetos primários. E, na verdade, quanto mais pessoas falarem a mesma língua mais essa língua evolui e ganha importância no contexto das nações. Saudamos a sua entrada em vigor – aliás, já o adotámos, há algum tempo – Há, porém,        quem tenha opinião contrária - perfeitamente respeitável. Era também essa  a posição de Jorge Amado, que, antes do acordo assinado, já discordava dele.

CONGRESSO DE ESCRITORES DE LÍNGUA PORTUGUESA, COM PARTICIPAÇÕES QUE SE ESTENDIAM DESDE DA EUROPA., GOLFO DA GUINÉ, ÁFRICA, AMÉRICA E OCEANIA.

Jorge Amado - Eu não estou apaixonado pela unidade ortográfica. Eu acho, como não há uma unidade literária de todos os elementos que formam as diversas nações, eu não vejo porquê esta tendência de unidade  ortográfica, compreende?...Porque, se vocês dizem facto, não podem escrever como nós escrevemos fato. O fato para vocês é uma peça de roupa e facto é que é um acontecimento.. Então,  não vejo  porquê essa ansiedade de fazer uma ortografia que será sempre artificial.

JTM – Mas, perante as instâncias internacionais, nos congressos, por vezes a língua portuguesa é um pouco esquecida ou marginalizada!,,Não acha importante que houvesse uma acordo que desse alguma unidade?..

JA -  É possível… Se bem que eu pense   que a língua portuguesa não é discriminada por isso. Eu acho que a importância da língua portuguesa, que é uma língua muito importante, falada por uma enorme quantidade de milhões, centenas de milhões de pessoas, uma língua na qual se desenrola uma vida de países importantes, uma língua que projeta literaturas igualmente importantes,  eu acho que a sua importância, a sua presença no mundo se tornará mais sensível na proporção, que é economicamente, que os nossos países pesem  na  vida mundial,  pelo que a ortografia é secundária..
.
Em todo o caso, o argumento que você dá é um argumento que tem certo peso..


JTM – Nomeadamente na UNESCO onde o Português tem sido posto, de algum modo, de lado, por falta dessa unidade. Em que interpretam o português falado de uma maneira, o português falado aqui, em Portugal, de outra… Isso tem dado, a que, em certos congressos internacionais, português não seja utilizado como língua oficial…
JA – Eu não sei… É possível… Eu não vou diminuir o peso do seu argumento que é válido… Porém, o que eu noto, que os acordos ortográficos feitos até hoje, têm resultado em nada!... E porquê?... Não  atendem aos interesses, à realidade da língua falada e escrita nos diversos países, me parece…

JM – Acha que os especialistas se esquecem de contatar os escritores ou ter outros contactos, enfim, de outra ordem!... Evitando, assim, polémicas desnecessárias.
..
JA – Eu não sei!... Não estou tão a par que pudesse ser.... Como lhe digo,  pessoalmente, o acordo, como escritor, não me atinge em nada…. Eu continuo a escrever. Inclusive, na minha vida de escritor, que é bastante longa – é quase  60 anos de trabalho de escritor, eu vi tanta ortografia, quando eu comecei a escerver com dois “pês”, com dois mm, de forma que o que, o  posso dizer é que eu não sei nada de ortografia!... cada vez eu sei menos, porque cada vez é mais complicado




PORTUGAL - ROTA OBRIGATÓRIA DAS VIAGENS DE JORGE AMADO


2ª  PARTE DA ENTREVISTA A JORGE AMADO PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA –LUSO BRASILEIRA – 2ª parte - Nesta segunda parte: fala do  seu livro Sumiço de Santa: uma história de feitiçaria, que só podia ocorrer na Baía,  com personagens portuguesas; refugia-se em Paris, porque “é difícil para mim poder escrever no Brasil”, onde “tenho muito pouca privacidade e  pouco tempo livre” – Situação no Brasil: A divida externa é imensa!... É a maior do mundo!... Uma inflação terrível!... “; Os valores materiais,  pertencem a uma minora muito pequena da população!... 

"A Amazónia sofre os atentados desde que ela existe!... Desde que os portugueses, lá chegaram…”  “Agora, o que eu acho é que, cabe a nós brasileiros, decidir sobre a Amazónia!..”  Da Gastronomia Portuguesa: “Chego aqui… começo a comer… Faço um esforço para emagrecer!... Mas não é possível!...” De  Fernando Namora:  “um grande amigo de Jorge Amado: uma perda muito grande para a língua portuguesa!”... Da condenação por irão a  Salman Rushdie– É a forma mais violenta, que houve, até hoje no mundo!.. Você escreve um livro e o Chefe de Estado!... Decreta que ele deve ser morto e oferece uma quantia enorme em dinheiro para o assassinar!... É uma coisa, nunca vista!... Você tem a impressão. Que, de repente, o mundo, andou para trás!...”  Sou contra qualquer espécie de censura: “ Tive os meus livros proibidos! E queimados em praça pública!... Em Portugal, os meus livros, durante anos e anos, não puderam ser publicados, aqui… E eram vendidos às escondidas!.. E no Brasil, também!... “ – Jorge Trabulo Marques – Jornalista






Nenhum comentário :