expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

São Tomé e Príncipe – Perdeu o Médico Guadalupe Ceita, antigo combatente da " Independência Total Cá Cuá Cu Povo Mêcê " –


JORGE TRABULO MARQUES - Jornalista

João Guadalupe Viegas de Ceita, mais conhecido no país por Dr. Guadalupe, foi a enterrar no último sábado 23 de Outubro. Após 92 anos de uma vida social e política preenchida por São Tomé e Príncipe, o funeral aconteceu no cemitério do Alto São João em São Tomé " Diz o Téla Nón.


Autor de “Memórias E Sonhos Perdidos” – Condecorado, em 2019 pelo Estado português com a “A Ordem da Liberdade”

Este era o grito na tarde daquele dia, lançado pelos irmãos Costa Alegre" Independência Total Cá Cuá Cu Povo Mêcê “Independência total é o que povo quer” – Tal como escrevi na revista Semana Ilustrada, de Angola, " o grito, vibrado em uníssono por largos milhares de santomenses, no seu dialeto, numa grandiosa manifestação organizada pela Associação Cívica Pró-Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe independência

A referida manifestação teve lugar no sábado à tarde. Principiou no Riboque, sede daquela Associação, foi engrossando à medida que ia percorrendo as principais ruas e avenidas, e terminou mais tarde no mesmo local num verdadeiro mar de gente, em calorosa exaltação de confiança e de apoio ao novo destino politico que o movimento de libertação destes territórios portugueses, com sede em Libreville, Gabão, pretende dar a estas terras e às suas populações” – excerto

O herói são-tomense, que, no dia 20 de março, foi distinguido no Salão Nobre da Embaixada de Portugal em São Tomé e Príncipe, com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade, partiu para a eternidade

A atribuição honorifica portuguesa é destinada a distinguir serviços relevantes prestados em defesa dos valores da civilização e da liberdade e em prol da dignificação do Homem.

Em 2015 lançou o livro “Memórias e Sonhos Perdidos de um Combatente pela Libertação e Progresso de São Tomé e Príncipe”. É ainda autor de vários ensaios e artigos relativos ao combate antipalúdico, publicados na Europa e nos Estados Unidos, tendo realizado conferências em Portugal, Estados Unidos da América e Moçambique.

João Guadalupe Viegas de Ceita, nasceu em São Tomé, a 4 de fevereiro de 1929, vindo a formar-se em medicina escritor e um dos heróis nacionais, sendo um dos cofundadores, reorganizadores e ideólogos do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP) e do projeto de um São Tomé e Príncipe independente.

Tal como é referido no seu prestigiado e vasto curriculo, " o Dr. Guadalupe de Ceita, está ligado à criação, em 1960, do Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe (CLSTP), que em 1972 contribuiu para o nascimento do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP).

Em 1973 concluiu a Licenciatura em Medicina, na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Fez estágio de Cirurgia no Congo e foi Diretor do Hospital Geral de Bata, na Guiné Equatorial. Durante a sua estada em Lisboa frequentou a Casa dos Estudantes do Império, onde conviveu com vários líderes de movimentos anticoloniais

Numa entrevista, concedidaâ WD, declarou  explicou como ingressou na luta pela independência nacional

GC: Quando completei o liceu, depois do quarto ano, vim de férias para São Tomé com o Miguel Trovoada. O Miguel Trovoada estudava Direito e eu Medicina. Em São Tomé encontramo-nos com Leonel Mário d’Alva, Filinto Costa Alegre e António Barreto Pires dos Santos (Oné). Reunimo-nos algumas vezes em Bobô-Forro e outras vezes em Boa Morte e conseguimos combinar que havíamos de lutar contra o colonialismo.

Ficou combinado que o Miguel Trovoada seguisse para África. Ele já tinha feito o primeiro ano do curso de Direito e estava a caminho do segundo ano. Eu já estava no quarto ano. Por isso, em vez de trocar os estudos por uma vida incerta, o melhor era acabar o curso de Medicina. Então eu voltei para Portugal e Miguel Trovoada seguiu para África. Mas logo que acabei o curso segui para África.

DW África: Naquela altura a comunicação era ainda difícil. No entanto, conseguiam viajar e participar em reuniões. Não era perseguido pela PIDE, a polícia política portuguesa?

GC: Eu tinha o meu nome oficial, Oné tinha o seu nome, Medeiros tinha o seu nome. Quando viajássemos seriam presos, segundo Barreto Pires. A PIDE tinha os nossos nomes, mas nunca conseguiram prender-nos porque não viajamos para os paises com os quais a polícia política portuguesa tinha relações.


DW África: Qual foi o momento mais conturbado durante a luta de libertação de São Tomé e Príncipe? Foi na Guiné Equatorial ou no Gana?

GC: Foi em 1966 quando deram o golpe contra Kwame Nkrumah no Gana. Todos aqueles que tinham relações com a Frente de Liberação de Moçambique (FRELIMO) e com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) tinham representantes no Gana. A África do Sul e a Namíbia também tinham os seus representantes.

E quando se deu o golpe correram com todos, tiveram que deixar o Gana. Subiu ao poder um indivíduo que estava contra Nkrumah e que não queria ver nacionalistas no Gana. Então fui para o Togo, onde estive um ano, e depois fui para o Congo, onde fiquei três anos.

DW África: Encontraram apoio suficiente no Congo?


GC: Encontramos apoio atraves do MPLA de Agostinho Neto. Fomos para a China e para Coreia como visitantes políticos. Estivemos na Conferência de Roma. Três anos depois houve outro golpe e tivemos que sair outra vez.

DW África: Foi na Guiné Equatorial que ocorreu o congresso de transformação do Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe (CLSTP) em Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP). O Presidente da Guiné Equatorial na altura tinha algum receio desta reunião? E que motivos levaram a que o congresso, que previa a presença de cerca de 300 pessoas, ficasse confinado a oito pessoas?

GC: Portugal tinha ameaçado os países africanos. Aqueles que dessem apoio seriam atacados. Talvez por isso ele tenha recusado a realização do nosso congresso na ilha e preferido o continente. Entretanto, quando fizemos o congresso éramos apenas oito, entre os quais Miguel Trovoada, Oné, Pinto da Costa e José Fret Lau Chong. O congresso foi feito numa casa e à porta fechada. E Pinto da Costa foi eleito secretário-geral.

DW África: Qual era a ligação que havia entre o CLSTP e os outros movimentos nacionalistas africanos?

GC: Tínhamos boas relações com o MPLA e com a FRELIMO, mas sobretudo com o Gabão.

W África: Manuel Pinto da Costa foi eleito para o cargo de secretário-geral do CLSTP por ser uma figura de consenso na altura?

GC: Eu não queria aceitar. Como não aceitei, ninguém votou em mim. José Fret Lau Chong teve dois votos. Ele votou em si próprio e eu votei nele. Éramos apenas oito. Aquelas centenas de são-tomenses da Guiné Equatorial com quem tinha vivido três anos estavam à minha espera e a reunião, mas não fizemos isso. Pinto da Costa é que foi eleito. Em 300 e tal votos, ele teve oito.

DW África: Recorda-se de algum episódio relevante que, para si, marcou a luta pela independência nacional?

GC: Um homem como eu, que fundou o Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe, que percorreu o mundo falando em nome de São Tomé, que reuniu o CLSTP na Guiné Equatorial, e não me quiseram deixar entrar em São Tomé. Foi um episódio lamentável.

Pinto da Costa disse que eu e os outros podíamos fazer parte do partido. Mas eu disse para comigo: se Gastão d’Alva Torres, que defendeu a nossa tese e foi chefe da delegação no Acordo de Argel [assinado em 25 de agosto de 19741 em Argel, pelos representantes de Portugal e do PAIGC, movimento de libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde], não pode voltar a ingressar no Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, eu também não. Foi assim que deixei de fazer parte do MLSTP/PSD.

DW África: O que levou ao afastamento de Hugo de Menezes Tomás Medeiros na luta de libertação nacional?

GC: Eu e o Hugo Menezes percorremos o Gana e o Togo. Quando chegamos ao Congo, o MPLA ia para Frente Leste e ele decidiu ir também. Mais tarde, quando ele chegou à Guiné Equatorial, já tínhamos realizado o congresso sem a participação dele. Então, foi-se embora e nunca mais voltou.

DW África: A resolução da Assembleia Geral da ONU das Nações Unidas, que a 14 de novembro de 1972 reconheceu a legitimidade da luta armada em África contra Portugal, ou o Acordo de Argel: qual teve mais peso na independência de São Tomé e Príncipe?

GC: Foi o Acordo de Argel, assinado a 26 de novembro de 1974. Esta é que foi a data histórica principal, porque foi o Acordo de Argel que reconheceu a independência nacional.

DW África: Como é que se explica o rápido declínio socioeconómico de São Tomé e Príncipe nos primeiros 15 anos após a independência?

GC: Um exemplo só: eu percorri São Tomé e Príncipe com o MEP, o Programa de Erradicação do Paludismo, e vi tudo transformado em mata. São Tomé tinha cacau por todos os cantos antes da independência, basta dizer isso. E não se falava disso. São Tomé transformou-se num país independente com possibilidades de singrar, mas não singrou e nós ficamos nessa situação.

DW África: Sente alguma mágoa em relação a isto?

GC: Eu só tenho mágoa de uma coisa: não ter podido transformar São Tomé e Príncipe. Eu, Guadalupe de Ceita, transformava São Tomé.

A partir de 1980, na qualidade de Coordenador Geral de Medicina, trabalhou ativamente no Programa de Erradicação do Paludismo, tendo sido Diretor da Luta Antipalúdica da Região Subsaariana e membro do Painel dos 23 Paludólogos da Organização Mundial de Saúde (OMS). https://www.dw.com/pt-002/guadalupe-de-ceita-lamenta-n%C3%A3o-ter-podido-transformar-s%C3%A3o-tom%C3%A9/a-18008000

COMENTÁRIOS 

Ayres Menezes 25 de Outubro de 2021 at 13:24

De facto o povo de Santome está de luto pela perda do grande patriota, revolucionário, médico chefe de família. O Dr Guadalupe muito amigo dos meus pais desde de Portugal dos anos 50 e posteriormente em Ghana no tempo de
Kuami Nkrumah, onde criaram a CLSTP. Neste comité faziam parte dentre outros o Dr. Guadalupe de Ceita,o Onet, Dr. Hugo José Azancot de Menezes, Dr. Tomás Medeiros. A sua actividade para além da médecina, emitiam programas radiofónicas na rádio de Ghana. Com o golpe de estado que demoveu o presidente Nkrumah tivemos que fugir para o Togo e posteriormente reencontramos-nos no Congo Brazzaville. Este grande patriota honesto coerente e que deu tudo para sua pátria merece por nós o respeito , admiração. Que seu exemplo de patriotismo sirva de referência para a nação.

Guiducha -26 de Outubro de 2021 at 22:41

Concordo plenamente. Tenho como projeto esclarecer ponto por ponto os detalhes da HISTÔRIA de STP, que muitos já tentam DETURPAR pensando que deixarão os nomes deles na glória…deixarão sim, mas como vilãos que foram ,são e serão sempre, pois que a USURPAÇÄO de títulos , de mentirosos e falsos fundadores do partido para a independência de STP, os RANCOROSOS e golpistas criminosos, prontos a tudo e até mesmo de assaltarem o PODER por megalomania, vão ser bem SUBLINHADOS pelas catástrofes e prejuízos que levaram e instalaram em STP pelas suas ambições DESMEDIDAS.- Excertos de comentários expressos no Téla Nón https://www.telanon.info/politica/2021/10/25/35497/stp-perdeu-um-combatente-pela-liberdade-da-patria/

 


Nenhum comentário :