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terça-feira, 15 de abril de 2025

NAUFRÁGIO DO TITANIC HÁ 113 ANOS – -Tributo poético de um náufrago sobrevivente de há 50 anos -.De quem viveu 38 dias e noites a fio o sufoco aflitivo das ondas às 1496 vidas que pareceram perdidas nas profundezas das gélidas águas

Jorge Trabulo Marques - Jornalista - e antigo navegador solitário em canoas


O naufrágio ocorreu na fatídica noite de 14 de Abril de 1912, durante sua viagem inaugural, entre Southampton, na Inglaterra, e Nova York, nos Estados Unidos, com 2208 pessoas a bordo. após o choque com um iceberg no Oceano Atlântico, afundando-se duas horas e quarenta minutos depois, já na madrugada do dia 15 de abril, provocando  a morte de 1 496, havendo quem registe 1517, transformando-o em um dos piores desastres da história da navegação




TAMBÉM EU FUI UM NÁUFRAGO

Náufragos do desespero!
das inumeráveis viagens inacabadas,
dos inarráveis rumos que foram traçados
e dramaticamente, riscados,
abruptamente destroçados, 
afundados no torvelinho das águas!..

Tal como vós, também um dia parti de um porto,
de um indistinto porto tracei meu rumo,
perdi-me, voguei errabundo, fui náufrago!...
Vivi todas as  sensações e emoções do mundo,
como só talvez as  viva intensamente 
quem se abra de corpo aberto
e coração fundido à pulsação
desse plangente limite,
viscoso, movediço, sorvente!
-  Na tumultuosa e erma vastidão! 




  Naufraguei!...
Vi-me ignorado  de toda a palavra,
irradiado do próprio sonho,
felizmente resisti  e sobrevivi!
Náufragos, irmãos meus!
Afinal, irmãos de todos os homens,
de todos os seres e de todas as coisas! 
Ricos ou pobres - O sufoco do mar não os distingue,
engole-os e traga-os a todos por igual.

Tal como vós, ó náufragos do Titanic,
 fiz do meu pequeno barco
não a mansão luxuosa 
mas o mesmo lar no grande mar!...
e, através das suas ondas,
rugidoras de presságios,
se não tive a  vossa sorte,
quantas vezes naveguei e aspirei,
em cada espuma,
em cada noite cerrada,
em erma bruma,
um perfume salgado de morte!...

Jorge Trabulo Marques


Perdida  nas brumas do  tempo e das trevas... 
Longe vai a noite centenária e impiedosa, sombria e mortal da tragédia!
Que atormentou e sepultou o mais luxuoso navio do mundo  - o lendário Titanic.
No seu percurso inaugural de Inglaterra à América.
A quatro dias de viagem, em águas calmas do Atlântico, muito  afastadas do  Ártico,  
mas subitamente transformadas em aragens de afrontosas ameaças e de arrepio!
Semeadas por  flutuantes e perigosos icebergues,
cujo brilho azulado a  noite ofusca sob límpido mas negro céu.
 Em latitudes onde a Primavera tarda, é fria 
e tem,  da cor da fuligem, o sinistro véu!
- Porém, eu, náufrago, sobrevivente
em atribulados mares de outras paragens,
por natural associação às longas horas
que por mim foram vividas,
ainda diviso, debaixo da treva e do assombro  da ímpia noite sideral
o perfil do luxuoso e imponente navio
que, sulcando o mar em imprudente marcha veloz, vai embater e raspar
nas gélidas arestas de  enorme bloco de gelo,
sofre duro rombo a estibordo, e, desamparado,
 perde-se para sempre e naufraga!
- Consequência de monstruoso temporal, casuais fatalidades ou flagelos inevitáveis?!..
 Oh, não,  nada o salvará!... Os caprichos do destino são incontornáveis,  
porém, mais graves e propensas serão ainda as ameaças,
quando, às adversidades,  ao incerto e obscuro,
se junta a  negligência, a vaidade e a insensatez!..
.

Pelo telégrafo surgem avisos e alarmes vários
 a que  não se dá crédito. Aumenta-se até a velocidade
 para se apressar e festejar a chegada -.
Às 23h40, do dia 14 de Abril de 1912, com o navio a navegar  
a 640 km dos Grandes Bancos da Terra Nova,  "os vigias do mastro, 
Frederick Fleet e Reginald Lee, 
avistaram um iceberg bem em frente do navio". 
Quando o sino de alerta do alto toca três vezes a rebate, já é tarde!.
- Por isso, haverá maior culpado que a mente humana
quando  despreza e descura
as  hostis e adversas   forças da Natura?!..



 
Todavia, evoco o vosso sofrimento, ó lúgubre navio e lágrimas choradas!
Vivendo a incerteza  e angústia, ainda não sarada, daqueles meus longos e penosos dias,
 cujo lastro  tenho bem presente  na alma  ferida por longas e tormentosas noites de vigílias,
vejo-vos e  ouço-vos, corações atormentados! Escuto  os ais e os gritos aflitos,
as desolações que se afundam! -  Nitidamente descortino,
no tropel confuso da tragédia humana que vos enlutou,  
 e, sob a  capa da mais gélida e sideral atmosfera, 
o imenso poço que vos submergiu e afundou!
Ouço os vossos soluços e claramente  vos revejo e situo ó  almas  perdidas!  
Através da luz sombria que ficou  memorizada nos meus olhos, 
das muitas imagens que a minha retina em desvairadas tempestades fixou,
ainda consigo descobrir,  já engalfinhada  por mãos de terríveis  sacrilégios,
 a majestosa e  iluminada esfinge que vos transportava,  
agora enxague e ferida por  um dos enormes escolhos vítreos 
que boiavam soltos, que tragicamente a romperam e traíram
e que não tardará a desvanecer-se...
 - Qual sopro de vela que flutua acesa e depois se afunda e apaga

   
É noite de Lua Nova! Noite mais propensa 

ao surgimento dos indiscifráveis mistérios
 que, a  rompê-los ou a desvendá-los - Em redor 
não há claridade alguma. Não se enxerga nada.
- O mar é a imensa planície escura mas tranquila.
A noite é gélida mas aparentemente pacífica e calma.
Os habituais ventos que sopram em noites frias e aziagas, 
parece terem-se apaziguado  ou feito algumas tréguas - Não uivam!
Não há nevoeiros compactos, coalhados de densa maresia, que se enfiam
 pelas narinas, têm o sabor do sal, toldam ainda mais a vista e quase sufocam.
Quem espreitar pelas vigias, não descobrirá os brumosos  novelos que lembram fantasmas, 
as leitosas névoas ensanguentadas que ofuscam o sol poente ou antecedem as noites de agoiro, 
o tumulto das tempestuosas marés que tudo envolvem e arrastam.
O céu está descoberto e estrelado! Não há sinais 
de  cerrados tectos ou sinistras  e fúnebres abóbadas!
 Haverá, no entanto,  sortilégios, esconjuros  e temíveis perigos
de que  há noticia mas que se negligenciam e ignoram.




As eternas constelações aparentemente fixas,

fazem o seu giro no firmamento. O sol ilumina outros cantos da Terra 
e, quem vai no interior  do faustoso paquete, espera que, no dia seguinte,
volte acordar  sob a grande luz cósmica  - Esta volte a raiar do fundo das águas!
O céu é escuro mas não  espesso.  Prevalece, contudo,  o brilho rutilante das estrelas, 
que, por tão longínquas, vão manter-se indiferentes e alheias ao drama e ao infortúnio  
do mais tenebroso caleidoscópio, que, a horas nocturnas e malditas, caladas e surdas,
vai desenrolar-se sob a frieza do mais inesperado  e horrível presságio - Em cenário
desolador  e árido, que ondula rumorejante, quase silencioso, mas escuro e gelado!  



Eu, que sozinho voguei sob noites equatoriais povoadas de assombro e trevas

e habituei  meus olhos e  meu  instinto 
a ver o  que as sombras e nevoeiros nocturnos ocultam ou encobrem,
mesmo à distância do espaço e do tempo,
claramente ainda diviso  o pronúncio sinistro das mais trágicas horas de luto!... 
 Distingo o perfil  inconfundível de esbelto  e moderno navio - O seu  vulto!
Através dele  o casco e as  linhas aprimoradas que lentamente se afundam e suspiram, 
que lentamente soçobram e  asfixiam,  que lentamente mergulham, vergam e se  revolvem
na líquida massa negra azulada, movediça, ondulada e informe,

coalhada de pedaços de gelo do mesmo icebergue, que depois de lhe deferir 
duro golpe fatal, ali mesmo o vai sepultar!... Com idêntica crueldade e gélido  brilho 
ao que espelham as mortuárias águas!... O mesmo que é reflectido
do sideral firmamento, no qual as estrelas continuam silenciosas mas rutilam.

 

Vejo-o e distingo-o, como se aquela noite de tragédia 
se  fixasse no éter para sempre,
perpetuada  na atmosfera vítrea  da amortalhada imensidade! 
Espelhada no rosto dos astros - No calendário programado 
dos grandes naufrágios do mar ! - Afrontosa crueldade
marítima, cuja hora idêntica ainda hoje perpassa
clarissima pela minha mente, 
tantas vezes a vivi e a revivo
 desde a infância na memória!

EVOCAÇÃO COMPLETA  EM   MEMORY OF THE TITANIC  WRECK - A Singela Homenagem de quem viveu o sufoco aflitivo das ondas




Completam-se hoje 113 anos que  o navio Titanic se afundou. O navio na noite de 14 de Abril de 1912 chocou contra um ‘iceberg’ e desapareceu na madrugada do dia 15. Estavam a bordo 2207 pessoas onde apenas 706 sobreviveram
O Titanic media 270 metros de comprimento, 53 de altura e um peso de quase 50.000 toneladas, capaz de navegar a uma velocidade máxima de 22,5 nós, a cerca de 25 quilômetros por hora. Foi capitaneado por Edward Smith, um experiente marinheiro da White Star que já havia pilotado o Olympic, um navio similar ao Titanic.
 A viagem inaugural foi no dia 10 de Abril onde partiu de Southampton, em Inglaterra, rumo a Nova Iorque. Quatro dias depois, perto da ilha de Terra Nova, no Canadá, o Titanic choca contra um ‘iceberg’. 

Na noite de 14 de abril o navio é “rasgado” a estibordo por um bloco de gelo. No dia 15, desaparece. - Os destroços do Titanic foram encontrados em Setembro de 1985 pela expedição franco-americana chefiada por Robert Ballard, a 3797 metros de profundidade.

Destroços do Titanic condenados a  desaparecer no fundo dos abismos – Em 2012, um estudo dizia que, dentro de 14 anos, a corrosão provocada por uma  bactéria estava  a consumir os restos do navio a uma velocidade fora do normal

SÓ QUEM CONHECE NOS OLHOS O TERROR DA VIOLÊNCIA DO  MAR OU  O SUFOCO  E A AFRONTA DAS ÁGUAS SALGADAS,  NA  GARGANTA, PODERÁ AVALIAR QUÃO DUROS SÃO OS MOMENTOS DÉ AGONIA OU DE INCERTEZA

Passei por essa terrível experiência, na minha travessia, a bordo de  uma minúscula e frágil piroga de S. Tomé à Ilha do Príncipe, na noite em que , ao adormecer a canoa me precipitou  na amalgama de uma rodopiante negra  massa líquida.

Posteriormente fiz outras aventuras,  de S. Tomé à Nigéria, em 12 dias, - E, ainda nesse mesmo ano, a tentativa da  travessia da Ilha de Ano Bom ao Brasil,  junto à qual fui largado de um pesqueiro americano, que me conduzira, desde S. Tomé  até às suas proximidades,  para apanhar a grande corrente equatorial. e que acabaria por se saldar em 38 longos dias, grande parte dos quais ao sabor das correntes e dos ventos.

 Tratando-se da época das chuvas, altura em que se registam as grandes tempestades, deu-se o facto do pesqueiro,  por duas vezes, ter sido  assolado por violentos temporais. Face a tais ocorrências, o comandante do Barco chamou-me à câmara do comando e convidou-me a trabalhar a bordo e abandonar a canoa: tendo recusado, não tive outra alternativa senão de ser descido, por um dos guindastes,  com a canoa para o mar,

Só que, no ponto onde fui largado,  quer os ventos como as correntes, em vez de me levarem para a Oeste, puxavam-me para  Norte. Vendo que já havia canoas que se aproximavam de mim  para se apoderarem do meus mantimentos,  nao tive outra alternativa, senão navegar nessa direção, com vista a regressar a S. Tomé e tentar a travessia noutra oportunidade,  sob pena de ser roubado, dadas as extremas carências que então ali se observavam, naquela que então era a ilha mais abandonado do mundo, com apenas uma ligação anual com o resto da Guiné Equatorial,


Então sob o  reinado de terror de Francisco Macias Nguema, que chegou a tecer elogios públicos a Hitler, forçando  a fuga de um terço da .população, tendo sido apeado através de um golpe de Estado, em 3 de Agosto de 1979, pelo  sobrinho Teodoro Obiang,  atual   do presidenteTeodoro Obiang Nguema Mbasogo, 

 Ano-Bom, uma pequena ilha e província da Guiné Equatorial, localizada no Atlântico Sul, a 350 km da costa oeste do continente africano e 180 km a sudoeste da ilha de São Tomé (São Tomé e Príncipe - A ilha constitui a pequena Província de Annobón, uma das sete províncias da Guiné Equatorial. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ano-Bom

Nesse medo dia, e em plena noite, as condições climatéricas agravaram-se: um tornado, vindo do sul, fez-me alijar da maior parte dos alimentos e  água potável, perder o remo principal e um leme, que lhe havia adaptado, além de outros objectos, deixando-me a canoa,praticamente desgovernado .Na manhã seguinte, improvisei um remo, com pedaços da cobertura e de um barrote, mesmo assim, era-me extremamente difícil navegar 

 O que então se passou, desde aquela horrível noite, é inimaginável para quem nunca tenha vivido  tão difícil provação  - Parcialmente já  foi descrito neste site, através dos registos que pude fazer para um gravador e de várias fotografias, graças a um contentor de plástico onde pude salvaguardar o diário gravado e os registos fotográficos. 
 Dia 34º  - Deitado no fundo da canoa...Não tenho comida... Sinto uma grande dureza no estômago - Este o titulo da postagem, que pode ser lida, com a indicação de outros linkes em  Dia 34º - Deitado no fundo da canoa...Não tenho comida... Sinto uma grande dureza no estômago

Então sob o  reinado de terror de Francisco Macias Nguema – da independência, em 1968, a sua derrubada, em 1979, que  forçou a fuga de um terço da .população e ficou conhecido de maneira polêmica por ter elogiado publicamente a figura de Adolf Hitler, que, o golpe de Estado em Guiné Equatorial uem 3 de agosto de 1979, logorou afastar pelo  sobrinho, atual   do presidenteTeodoro Obiang Nguema Mbasogo,



A fraqueza é imensa e deixa-me bastante debilitado. Tenho-me mantido num profundo silêncio - Foi um  dos dias em que não meti nada à boca e  falei muito pouco para o meu gravador.

 Somente ao fim da tarde, tive a coragem de abrir o meu baú (um contentor de plástico do lixo), onde o preservo da violência do mar e senti vontade de dizer algumas palavras.  Remeti-me a um profundo e resignado mutismo: sem lágrimas mas também sem nenhuma alegria. Sem desespero mas possuído de uma enorme angustia a perturbar-me a alma.  Com o sentimento de um enorme desconforto, em todos os aspetos: sem poder dormir, cheio de fome e no meio de um mar bravio, fortemente batido pelas vagas.




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