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sábado, 9 de agosto de 2014

Cabo Verde - Património Histórico da Cidade Velha de Santiago em risco por via de construções clandestinas e do crescimento populacional acelerado e desordenado - Berço da cabo-verdianidade poderá vir a perder a classificação de Património da Humanidade, atribuída pela UNESCO em 2009. Alerta lançado por Alcides de Pina – Aumentou a esperança de vida mas também o salve-se quem puder.

SIZA VIEIRA CHAMADO PARA COORDENAR O PROJETO DE RECUPERAÇÃO DA CIDADE VELHA – AFINAL, DE QUE VALEU?

O Arquitecto, Álvaro Siza, e a sua equipa, foram chamados, para coordenar o projeto de recuperação da Cidade Velha, na ilha de Santiago, em Cabo Verde. O objetivo final era a  candidatura desta cidade a Património Mundial da UNESCO. 

Dizia-se, na altura, que todo este processo suscita na população local grandes expectativas quanto à melhoria das suas condições de vida – Alcançada a classificação, e então, agora? –Mais uma promoção sem resultados práticos  - E quem sabe senão para desviar os fundos para outros fins.


Falta de verbas para resolver os problemas de saneamento e construções irregulares na Cidade Velha, têm vindo a desfigurar o património arquitetónico histórico da mítica cidade-berço da cabo-verdianidade, colocando em risco a classificação que lhe foi atribuída há cinco anos. O alerta foi lançado, recentemente, pelo  vereador do Urbanismo da Ribeira Grande de Santiago, que chamou  a atenção  para o risco de a Cidade Velha perder o título de Património Mundial devido às construções ilegais existentes”

O vereador contou que o pior aconteceu no passado dia 2, "quando o presidente da Câmara, Manuel de Pina, foi vítima de tentativa de agressão por vários moradores, quando efetuava a apreensão de materiais destinados à uma construção clandestina"

MAIOR ESPERANÇA DE VIDA MAS PERSISTEM ELEVADAS ASSIMETRIAS E  NÚCLEOS DE POBREZA  EXTREMA

À semelhança do que tem acontecido, em S. Tomé e Príncipe, em que a população quase triplicou no seguimento da sua independência – nomeadamente devido a uma melhoria das condições sanitárias – o mesmo fenómeno se verificou também nas ilhas de Cabo Verde – O maior problema é o relacionado com a urbanização, com as barracas que se aglomeram  em volta dos maiores centros urbanos, que não obedecem a qualquer plano de ordenamento.

Em Portugal persiste a baixa de natalidade, pós 25 de Abril, com as aldeias e vilas a ficarem mais desertas, não obstante a melhoria das condições de saúde e de saneamento. Erradicaram-se núcleos de barracas mas não se erradicou a pobreza, bem pelo contrário – No mundo capitalista, nem é possível esperar-se outra coisa senão o galopar do desemprego, gravíssimas desigualdades sociais e,  nas antigas colónias africanas, em muitos aspetos, não ficam atrás do colonialismo branco.

Em  Cabo Verde, dizem as estatísticas que  “A esperança média de vida, que em 1975 rondava os 63 anos, atinge, em 2003, os 71 anos (67 para homens; 75 para as mulheres). A taxa de mortalidade infantil, que em 1975 rondava os 1100/00 nascimentos vivos, representava, em 2004, um valor de 200/00 (440/00 em 1990; 260/00 em 2000), valor inferior às taxas de outros países de categoria de rendimento semelhante.

A número de habitantes, estimado em 523.568 (Julho 2011 est.), com uma "taxa de crescimento da população, dependente dos fluxos migratórios, situou-se, no decénio 1990–2000 (data do último censo populacional), em cerca de 2,4%, valor que se manteve constante até 2005. De aí em diante prevê-se que a mesma estabilize em torno dos 1,9%. Os agregados familiares, em 2006, eram constituídos, em média, por 4,9 membros (5 no meio rural e 4,5 no meio urbano)Demografia de Cabo Verde 

PATRIMÓNIO DA CIDADE HISTÓRICO VANDALIZADO



Aumentou a esperança de vida mas também o salve-se quem puder.

"A situação é explosiva e se não forem tomadas as medidas necessárias podem ser registadas distúrbios ainda piores", alertou o vereador, que pediu uma intervenção do primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves.

Mesmo assim, persiste o otimismo do faz de conta Boa legislação, é certo, mas as leis mandam-se para as calendas, pois, se, por um lado, se lançam alertas, por outro, parece aceitar-se a situação  "Está completamente fora de questão perder o título de Património Mundial. Temos boa legislação, uma Curadoria, que é um órgão gestor, os sítios estão bem cuidados, há sinalização, a UNESCO apoiou fortemente o processo e a Cidade Velha está muito bem sedimentada a este aspeto", disse, na ocasião, Mário Lúcio Sousa.

 FUNDOS DA UNESCO DISPONÍVEIS – NÃO SE PEDEM OU  SÃO DESVIADOS?!...

A Cidade Velha comemorou no passado dia 26 de junho cinco anos sua elevação à categoria de Património Mundial da Humanidade, mas a classificação da UNESCO é atribuída  no sentido da sua preservação e não apenas para figurar como  simples título honorífico . 

Pelos vistos, a culpa não é somente  “devido às construções clandestinas que proliferem pelo sítio histórico cabo-verdiano”, mas também por outros desmazelos. "Se depois de cinco anos ainda não vimos as verbas disponibilizadas para resolver os problemas graves de saneamento e construções irregulares na Cidade Velha, estas responsabilidades são do primeiro-ministro, porque conhece de A à Z todos os problemas", prosseguiu Alcides de Pina..Cidade Velha corre risco de perder título de Património 

O programa da Unesco, cataloga, nomeia e conserva locais de excecional importância cultural ou natural para o património comum da humanidade. Sob certas condições, os lugares listados podem obter fundos do Fundo do Patrimônio Mundial.” – E então qual a razão pelas quais não são canalizados os fundos a que tem direito?!... Será que são desviados para os fins que não os da sua preservação?!... A acontecer, não seria caso inédito nos tempos que correm.  

Sim, os tempos vão de vento em popa para o  liberalismo selvagem e da anarquia irresponsável, em favor do imediatismo ou do negócio fácil – Nada resiste à sofreguidão do individualismo egoísta – Desde o mais baixo serventuário ao mais alto açambarcador ou à extrema pobreza que luta pela sobrevivência e por um teto onde se abrigar– É o caso da mítica cidade velha de Santiago, em Cabo Verde, que também não escapa a um certo vandalismo individualista. 

Enquanto, em Portugal,  nalguns subúrbios das grandes cidades se arrasam barracas, onde os mais desfavorecidos, mesmo assim, deixados à sua sorte,  poderiam encontrar um teto de abrigo, uma vez que a construção social acaba por ser desviada para contemplar alguns privilegiados,  permitindo-se que  os grandes grupos imobiliários deem  azo à sua ganância desmedida, pois, já na histórica e lendária Cidade Velha de Santiago, em Cabo Verde, o que sucede, com o vandalismo do património histórico dos bens do Estado, da construção clandestina a esmo, não será tanto por via das grandes construções, mas  talvez mais pela falta de espaços  para uma população que viu aumentar a sua esperança de vida e que se fixa nos maiores centros urbanos do litoral.

CABO VERDE  - POBREZA DE RECURSOS NATURAIS E O AUMENTO DA POPULAÇÃO - FATORES GERADORES  DE BAIRROS  CLANDESTINOS, INSALUBRES E DESORDENADOS

Ao arquipélago de Cabo Verde, já não basta a diversidade dos  riscos naturais de natureza climática, por via da sua situação geográfica e insularidade, nomeadamente a  acentuada aridez e a endémica falta de chuvas, com riscos que oscilam entre a forte irregularidade nas precipitações, à erosão acelerada provocada por enormes inundações de tempestades tropicais.

Diz um estudo de docentes das Universidade de Coimbra e de Cabo Verde –que “A população das principais cidades, principalmente da capital (Praia), tem sofrido um crescimento muito acelerado nos últimos anos, albergando atualmente cerca de 27% da população nacional. Este crescimento tem sido fomentado tanto pelos fluxos migratórios internos (êxodo rural e migração das restantes ilhas) como externos, provenientes dos países vizinhos da África Ocidental. O ritmo acelerado do crescimento populacional na capital não tem sido acompanhado por políticas e/ou programas habitacionais capazes de dar uma resposta eficaz à procura de habitação. Consequência disso é a proliferação de bairros espontâneos nos subúrbios da capital, bairros em que as construções surgem da noite para o dia, sem obedecer a qualquer tipo de planeamento e sem dotação de infraestruturas básicas .]Crescimento urbano espontâneo e riscos naturais na cidade da Praia 

CABO VERDE COLONIAL ENVIOU – A TROCO DE QUASE NADA - MILHARES DOS SEUS BRAÇOS PARA SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

A escassez de recursos naturais (solos pobres, áridos e secos) desde há muito fizeram com que a emigração se convertesse  na única alternativa  para o sacrificado povo destas ilhas – Constituída por uma população oriunda  da mestiçagem entre colonos europeus e escravos africanos, a qual  acabaria por se fundir  numa única entidade, o crioulo – Mas, também ,  as causas da sua pobreza, muito por culta do regime colonial, que mais não fizera de que se aproveitar dessa situação para explorar a sua mão-de-obra.



As roças de S. Tomé e Príncipe foram regadas pelo suor e lágrimas de sangue de milhares de cabo-verdianos. Pessoalmente pude ainda testemunhar essa escravidão, quando, nos finais de 1963, para ali fui fazer o estágio do curso de Agente Rural, frequentado na Escola Agrícola de Santo Tirso – Os tempos atribulados que passei nas roças Uba-Budo e Ribeira Peixe da Companhia Agrícola Ultramarina e   na Roça Rio do Ouro da Sociedade Agrícola Vale-Flor, deram-me a dimensão bastante desse tipo de esclavagismo. 

Sim, pude assistir a essa tirania e humilhação, em que o empregado de mato era obrigado a tratar  o trabalhador de forma prepotente e abusiva. Muitos dos colonos nem sequer a instrução primária tinham senão a seu favor o fato da cor da pele, com menos instrução de que, por exemplo, alguns contratados cabo-verdianos-

HISTÓRICA CIDADE VELHA. UM LEGADO DE SÉCULOS

"É também a toponímia do que foi a antiga Cidade da Ribeira Grande, que foi capital do arquipélago de Cabo Verde"... Descoberta pelo navegador português Diogo Gomes em 1460, foi António da Noli, italiano então ao serviço da coroa portuguesa, que deu início ao povoamento da localidade, dois anos mais tarde."

"Primeira capital do arquipélago de Cabo Verde, até 1770,  situada a a 15 km a oeste da Praia, na costa, foi a primeira cidade construída pelos europeus nos trópicos e primeira capital de Cabo Verde, quando era chamada de Ribeira Grande. Mudou de nome para evitar ambiguidade com uma povoação de outra ilha (Ribeira Grande na Ilha de Santo Antão). A cidade nasceu e desenvolveu-se por conta do tráfico negreiro."

"A cidade foi porto de parada de dois grandes navegadores: Vasco da Gama, em 1497, a caminho da Índia, e Cristóvão Colombo, em 1498, na sua terceira viagem para as Américas."

NUNO REBOCHO – RADICADO EM CABO VERDE HÁ UMA DÉCADA TEM SIDO UM PROFUNDO ESTUDIOSO  DA CIDADE VELHA

Nuno  Rebocho, jornalista poeta, escritor, andarilho, nascido em Moçambique, e, logo, pois, pelas suas raízes, um grande apaixonado por  África, radicado em Cabo Verde, há uma década, após longa permanência em Portugal, onde, durante cinco anos,  conheceu os cárceres do Forte de Peniche, pela sua atividade sindicalista e ativista, tendo, após o 25 de Abril, exercido o cargo  de chefe de redacção da RDP-2, além de várias colaborações e funções na imprensa, desde jornais a revistas, rádio e televisão, até ao de redator da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira –

"Participou activamente na luta contra a Estado Novo de Salazar, chegando a ser preso durante cinco anos, por motivos políticos, na cadeia do Forte de Peniche Wikipédia

A Irmandade dos Homens Pretos de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Ribeira Grande de Santiago – afinal,  diz Nuno Rebocho, “Em contrário do mencionado em livros e documentos diversos (vg. “A importância histórica de Cidade Velha”, Daniel A. Pereira, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 2004 e “Cidade Velha – Sítio Histórico, Séc. XV”, PROIMTUR), a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos não pode ter sido mandada construir pela Irmandade dos Homens Pretos de Ribeira Grande, a ter-se em conta a vetustez do monumento (1).

Igreja de Nossa Senhora do Rosário
O templo foi erguido em 1493, segundo alguns autores - ou em 1495, segundo outros -, sendo a igreja mais antiga hoje existente em Cabo Verde e a sul do trópico de Câncer, feita em pedra especialmente vinda de Portugal, ostentando uma capela com teto manuelino, ogival (o único no continente africano) e possuindo restos da original azulejaria de fabrico português. Não se trata da igreja mais antiga construída em África: a mais antiga foi a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que inicialmente se chamou do Espírito Santo, que terá sido erguida em 1466 ou 1470, mas dela não existem hoje quaisquer vestígios – foi construída em pedra solta e barro, portanto menos rica e sólida, com baixela e alfaias de ouro e outras riquezas paramentais e religiosas (que foram pilhadas e algumas transferidas para a cidade da Praia), recebendo inicialmente algumas das pedras tumulares de famílias nobres e possidentes de Ribeira Grande de Santiago (portanto de origem reinol) observáveis na Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Ao que se sabe, a nobreza reinol e algumas famílias “pardas” (crioulas) disputavam nestas igrejas, e mais tarde na Sé, o lugar de sepultamento.



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