expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Em São Tomé há 58 anos – Jorge Vacas, um dos portugueses mais antigos na Ilha - Admirável exemplo de convivência e de reintegração no novo país - Ainda vende panos a retalho e à moda antiga.

Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista


No dia 12 de Julho do corrente ano, S. Tomé e Príncipe, completa 40 anos da sua independência. Uma data histórica, que o Povo destas maravilhosas Ilhas vai recordar e festejar. Até agora, com os seus altos e baixos, com as suas conquistas e adversidades. Com muito esforço e sacrifício. E também com muitas alegrias. Pois bem,  esse mês,  é também a data em que, Jorge Vacas,  há 58 anos,  desembarcava, ao largo da Baía Ana de Chaves.   É dos escassos portugueses – atual luso-santomense – que não virou as costas aos novos desafios . Um dos mais louváveis exemplos de integração. Que acreditou no futuro do jovem país, que soube sempre respeitar as pessoas e integrar-se – Pois,  também ele foi um dos explorados no tempo colonial


Em São Tomé, quem não conhece Jorge Vacas?!...  Aquela expressão afável e sorridente, que lhe é inata, quer na vida pessoal, quer na sua atividade comercial. Proprietário da casa Luís & Fonseca, Lda, , situada no coração da cidade, uma das poucas lojas do período colonial, que resistiu a ventos e a marés - Uma das mais antigas e populares, onde ainda se vende tecido a retalho, adequada aos gostos e às possibilidades dos  santomenses. Embarcou no navio Pátria, que  partiu de Lisboa, no dia 6 de Julho de 1957 às 11 horas da manhã, do Cais de Alcântara.
Natural do Vale,  uma pequena aldeia do concelho de Mação. Tinha 14 anos. Era ainda um rapaz, filho de uma família humilde. Com ele,  pouco mais de um pequeno farnel e um punhado de sonhos. Vinha trabalhar para a loja do seu tio, a troco de quase uma esmola – Aos domingos, ele e um grupo de amigos, demandam os recantos da costa da ilha, onde as águas marulham em rolos de alvura de espuma, entre um azul celeste que se estende mar fora e pelo infinito e um verde luxuriante que sobe quase abruptamente pelas encostas, não tanto pelo gosto de nadar à superfície (para isso havia praias mais acessíveis e menos arriscadas) mas para mergulhos  de caça-submarina. Não apenas por desporto mas também como  forma de arranjarem mais uns trocados, com a venda de peixe.
Quer os empregados do mato, quer do comércio, ganhavam muito mal – O colonialismo abrangia também muitos portugueses, não se confinava apenas aos negros, atingia também muitos brancos, que sentiam na pele o acinte da exploração.  
Entretanto, dá-se o 25 de Abril, e, muitos portugueses começam a regressar a Portugal.– Um deles foi o seu tio, que, não querendo continuar,   propõe a venda da loja ao sobrinho – Jorge, aceita o desafio. Dá-se depois a independência, e a debandada dos colonos é quase geral.. Porém, um dos poucos que entendeu que devia continuar, é justamente o homem, que ali chegara à Ilha, ainda rapaz. Sempre se deu bem com o santomenses, achava que não tinha razões para recear o futuro, e não voltou costas a esta maravilhosa terra, que, adotou como segunda pátria, tendo já adquirido a dupla nacionalidade.
Reencontrei-me com ele, em Outubro passado, aquando da minha estadia em S. Tomé, 39 anos depois. E, de facto, foi com muito prazer que entrei na sua loja para o cumprimentar, reencontrar-me com um dos meus compatriotas, com quem muitas vezes dialoguei e me cruzei, com quem dava gosto conversar.  E foi justamente a mesma impressão que agora ali sentia. A mesma franqueza, a mesma frontalidade, expressão cordial e simpática. Os anos deixam as suas marcas no rosto mas, pelo que me apercebi, tornam ainda mais firmes, os espíritos determinados e corajosos, as pessoas generosas e humanas, possuídas de bom  carácter,  que cultivam  valores de convivência e de fraternidade.  Que sofreram na pele as agruras da vida, que aprenderam a resistir às mais diferentes adversidades.
Jorge é um desses magníficos exemplos. De convivência pacifica, de simplicidade e de reintegração num pais que abraçou como seu.    A sua postura, perante os santomenses, foi sempre igual. quer  no tempo em que foi modesto empregado  de balcão, quer na qualidade de empresário.
Sim, foi das pessoas com quem tive muito gosto em me reencontrar. Mostrou-me o bilhete da viagem no Pátria, que lhe custou 1500$00, muito dinheiro para quele tempo, que ainda guarda nos cadernos  da suas recordações Disse-me que estava a escrever um livro, e, pelo que me apercebi, talento literário não lhe falta, pois  até me leu algumas belas páginas, nomeadamente, passadas a bordo daquele velho paquete. O que lhe falta é tempo – diz - para o concluir: devido  aos afazeres profissionais. Mas oxalá não desista e arranje um tempinho para o acabar.


HISTÓRIA - A notícia não é de agora mas vale a pena recordar
São Tomé: Victor Monteiro assume protagonismo na defesa dos cidadãos  dos PALOP

''É necessário lembrar, que, à data da independência, nem todos cidadãos portugueses eram colonos. Não deixaram o país. Alguns continuam aqui e estão aqui. Vivem connosco, como por exemplo, sr. Victor Fotuoso, Jorge Vacas e não só [...].''. _ Defendia Victor Monteiro Agência Noticiosa STP-PRESS

2 comentários :

António Manuel Martins Silva disse...

Grande Jorge! Um abraço para ti, aqui dos Vales. Tó Manel

canoasdomar disse...

Um grande abraço por tão amáveis palavras