Por
Jorge Trabulo Marques - Jornalista – (Post atualizado) Páginas da História do Futebol de S. Tomé e
Príncipe e o vinculo que ainda hoje mantém com Portugal – Em
duas Ilhas por onde passam as cores dos principais clubes portugueses, sendo as
do Sporting as mais representativas, em três clubes . E, sobretudo, neste post, as memórias de
uma histórica coletividade desportiva que prestou um importante
contributo sócio-desportivo e cultural às suas ilhas e se assumiu, desde
a sua fundação, como um firme baluarte de resistência nacionalista
(1972) Sporting Club de São Tomé - Semana Ilustrada - JTM

Quando o dirigente sportinguista, Bruno de Carvalho, há relativamente pouco tempo, se deslocou a S. Tomé, sabia de antemão que, a sua estadia neste país de expressão portuguesa, ia encontrar calorosa receçao, isto, porque, nestas Ilhas, o Sporting Clube de Portugal é dos clubes portugueses com maior implantação popular, que, nem os tempos áureos o Benfica de Eusébio, logrou ultrapassar. .(23/04/2015Bruno de Carvalho: «Aproximação entre Sporting e São Tomé … Bruno de Carvalho anuncia cooperação)
.



Nenhum outro Clube, tanto o Benfica, como o Sporting (o F.C. do Porto), lograva os privilégios de que gozava o clube dos Lafonenses, com fortes influências nas arbitragens e nas estâncias oficiais desportivas – Nos meus 12 anos, em que vivi em São Tomé, pude testemunhar alguns desses escandalosos casos, um dos quais relatei na extinta revista angolana, Semana Ilustrada, em Novembro de 1972, cujo artigo, mais à frente, passo a reproduzir na íntegra.
(atualização) Em Março
de 2016 – o Grande Derby Sporting 0 – Benfica 1 – Em São Tomé, Benfiquistas
vibraram com a vitória dos Águias em Alvalade
Aurélio Martins, líder do MLSTP-PSD, com o Gelson Martins |
Benfiquistas de São Tomé vibraram com a vitória em Alvalade - Jogo
vivido ao rubro na esplanada do Hotel Avenida – Em noite de grande chuvada, na
capital, que provocou avarias no sinal de transmissão da TVS – Depois ainda
houve quem pudesse ver o jogo através do computador – via internet - Só vimos a
segunda parte (enquanto o sinal não foi interrompido)e já com o Benfica
adiantado no marcador por um golo de Mitroglou, aos 20 minutos mas deu para ver
o entusiasmo com que o jogo da noite foi vivido aqui na maravilhosa Ilha do
meio do Mundo, onde o futebol português é atentamente seguido e conta com
grandes entusiastas - Nomeadamente, do Benfica, Sporting e Porto

Futebol de S. Tomé e Príncipe e a sua ligação a Portugal –
Apesar de algumas feridas do tempo
colonial, de um modo geral, o futebol português – mas sobretudo as três
principais equipas – Sporting, Benfica e Porto - mesmo 40 anos depois da
descolonização – continua a suscitar um grande entusiasmo na população destas
ilhas, que seguem os relatos ou as transmissões televisivas, com grande
entusiasmo e são tema de comentários habituais. Contudo, o clube, com maiores tradições nas duas ilhas, é, indubitavelmente,
o Sporting, que ali conta com três coletividades com o seu nome.

OS BONS EXEMPLOS DÃO SEMPRE BONS FRUTOS

Atualmente existem em S. Tomé e Príncipe três coletividades sportinguistas as quais, pelo que me foi dado apurar, entroncam na mesma família sportinguista: o histórico Sporting Club de São Tomé, fundado em 1912, o qual, devido a algumas vicissitudes, desceu para o escalão de honra, mantendo a sua velha sede no mesmo local; O Sporting Clube do Príncipe sediado na pequena cidade Santo António, na Ilha do Príncipe, fundado no dia 6 de Fevereiro de 1915, sendo a filial nº 183 do Sporting Clube de Portugal.e o Sporting Clube da Praia Cruz, sediado junto à praia do mesmo nome, ou seja a equipa que mais se tem destacado desde há uns anos a esta parte, com maior número de títulos conquistados nas duas competições: no campeonato e Taça.
103 ANOS DE HISTÓRIA DO SPORTING CLUB DE SÃO TOMÉ

Em Fev. de 1953, o Governador Carlos Gorgulho, quis eliminar alguns dos seus atletas e associados, no campo de concentração de Fernão Dias - Em finais de Outubro de 1972, o sistema colonial, interrompeu o campeonato, a pretexto dos incidentes provocados num jogo com o Lafões, favorecendo, com esse procedimento, este clube, que era líder da classificação, negligenciando as verdadeiras causas, provocando um forte abalo psicológico nos seus dirigentes, treinador e massa associativa.
Mas comecemos pelo que é descrito, e profusamente documentado , em “O Nacionalismo
Politico São-Tomense”, por Carlos Espírito Santo:
“O Sporting Club de S.
Tomé foi um clube sócio-desportivo-cultural fundado na ilha de São Tomé, no ano
de 1912. A este propósito, Jorge Roma, em «A nossa vida desportiva» afirma:

Prossegue Jorge Roma no
referido texto:
«Decorridos anos, chegou
de Lisboa um conterrâneo nosso, conhecedor do" métier", o qual, tendo
apreciado a maneira como nós praticávamos o desporto, sugeriu-nos a ideia de
mudarmos o nome do nosso" team", passando para "Sporting Club de
S. Tomé", visto que naquela cidade existia um club intitulado "Sporting
Club de Portugal", que é o club dos leões. Ao princípio muito nos custou
aceitar a proposta, mas, porque achámos interessante a ideia sugerida e ainda
porque não queríamos cair no desagrado daquele nosso conterrâneo, aceitámos a
sugestão"

Quando João Jesus Bonfim
estava preso na Brigada de Fernão Dias, apareceu Gorgulho que acusou este
nativo de ter participado nas reuniões realizadas na sede do Sporting Club de
S. Tomé e nas quais planearam matar todos os brancos que residiam na referida
ilha e nomear o Eng. Salustino Graça governador
Ora, tal como frisa
Salustino Graça, Gorgulho «procurou eliminar toda e qualquer consciência
colectiva, com as tentativas de dissolução da Associação de Socorros Mútuos da
Trindade, da Caixa Económica e agora do Sporting Club», e porque não conseguiu
lograr êxito nesse intento, teve que desencadear a Guerra da Trindade para
erradicar da sociedade diversos grupos socioprofissionais»
PÁGINAS DA HISTÓRIA DE UM
BRIOSO CLUBE DESPORTIVO E CULTURAL – O SPORTING CLUB DE SÃO TOMÉ

O CAMPEONATO PROVINCIAL
DE FUTEBOL DE S. TOMÉ FOI INTERROMPIDO.
Segundo uma nota do
Conselho Provincial de Educação Física, difundida pelo Emissor Regional da Ilha,
em virtude dos incidentes registados no Estádio Sarmento Rodrigues, no passado
dia oito de Outubro, durante o encontro de futebol entre as equipas do Sporting
Clube de S. Tomé e Lafões Hóquei Club, o
Conselho Provincial de Educação Física, dada a gravidade da situação que afecta
as mais elementares normas desportivas,
deliberou, em sessão de 18 daquele mês, suspender o prosseguimento do
campeonato de S. Tomé, até conclusão do inquérito, que decorre já os seus trâmites naquele Organismo.

(Sede do Sporting no Principie - imagem de uma Viagem a S. Tomé e Príncipe: Abril 2007
O MÓBIL DA QUESTÃO
O que se passou então para que fosse tomada tão drástica decisão?
Quando terminou o
encontro (que acabou antes da hora regulamentar ) as cenas de indisciplina,
sucederam-se.”Em conclusão: uma tarde triste de futebol, que, ainda no dizer
daquele jornal , num jogo de futebol que pôs frente a frente duas equipas
dispostas a tudo, menos jogar futebol. in Voz. de S. Tomé- 1O/1O/72 - página desportiva.
Portanto, o que acabamos
de descrever, foi o móbil da questão, isto é o da suspensão do campeonato, cuja
decisão foi tomada dez dias depois pelo organismo máximo do desporto santomense,
o Conselho Provincial de Educação Física. Entretanto, antes que fosse tomada
tal decisão, outro caso haveria de surgir, que multo daria que falar
.
O SPORTING DE S. TOMÉ NÃO
COMPARECEU AO JOGO DA 18ª. JORNADA



A Direcção do Sporting, devido à série de ocorrências registadas naquele jogo, que, atendendo à pequenez do meio, tiveram a maior repercussão na sua massa associativa como nos próprios atletas, e receando que as mesmas tivessem implicações no jogo seguinte, entendeu, em devido tempo, dirigir um ofício à Associação Provincial de Futebol, pelo qual solicitava a suspensão das suas actividades desportivas enquanto não fosse instaurado um rigoroso inquérito sobre as ocorrências no jogo Sporting-Lafões.
E a verdade é que, embora o pedido de
inquérito fosse satisfeito, no que concerne ao adiamento do jogo ( conforme foi
pedido em segundo ofício ) não foi atendido,
Por seu turno, a rádio local, alheia, segundo
apuramos, do que se estava a passar, entre aquele Clube e a Associação,
continuou anunciando a
realização do jogo, Sporting-Andorinha.
Resultado: o público, o
habitual público que ocorre às partidas de futebol, como não fora avisado do
contrário, compareceu como de costume. Aguardou impaciente o início do jogo,
que, como dissemos, não se concretizou.
Perante isto, o público reagiu. Não
gostou. Comentou à sua
maneira. Ao seu belo prazer.
Por seu turno, a rádio local, alheia, segundo apuramos, do
que se estava a passar, entre aquele Clube e a Associação, continuou
anunciando a realização do jogo, Sporting-Andorinha. Resultado: o público, o habitual público que ocorre às partidas de
futebol, como não fora avisado do contrário, compareceu como de costume. Aguardou
impaciente o início do jogo, que, como dissemos, não se concretizou.
Perante isto, o público
reagiu. Não gostou. Comentou à sua
maneira. Ao seu belo prazer.

TROCA DE IMPRESSÕES COM O
PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DO SPORTING CLUBE
DE S. TOMÉ SR. TOMÉ AGOSTINHO DAS NEVES
Que haverá então com a
equipa do Sporting de S. Tomé? Que motivos a levaram a não comparecer para a
disputa do seu último jogo do campeonato?..

O Sporting, na
terça-feira, 10 de Outubro, enviou urna carta à Associação Provincial de
Futebol, pela qual pediu a abertura de
um Inquérito a fim de se apurar o
responsável por tudo quanto aconteceu. E na qual se disse que, “enquanto durar
o inquérito e não for garantida ao nosso Clube, uma actuação, no futuro,
imparcial da equipa de arbitragem, a equipa do
Sporting não participa em quaisquer provas”. Isto, claro, no intuito de
evitar mais dissabores, além daqueles que se passaram, pois alguns atletas negaram
a sua colaboração, e como se sabe é indispensável.

Em carta do 13/10/72, o Sporting pediu à A.P.F. de S. Tomé, a complacência na aplicação da pena, porquanto se estava envidando esforços no sentido de persuadir os atletas a darem, como de costume, a sua colaboração, acabando por informar a mesma Associação que os Jogadores têm ainda os ânimos exaltados e a moral muito abalada, pelo que se rogava à A. P. F. o adiamento do jogo do próximo domingo, isto ê ( Sporting-Andorinha ) marcado para o dia 15. do corrente, até à resolução do inquérito.
Queremos que fique bem
esclarecido que o Sporting Clube de S. Tomé, não pediu a sua desistência do
campeonato, mas sim uma alteração do calendário, o que era da competência da
Associação.


E já que você está
disposto a ouvir-me mais um pouco, queremos que fique também bem expresso, que o
autor do programa “Desporto é Tema”, o
nosso amigo Carlos Cardoso, fez referências pouco abonatórias ao Sporting, Clube de tradições nesta Província, sem procurar saber como as
coisas se passaram".
ENTREVISTA COM O
TREINADOR DO SPORTING CLUB DE S. TOMÉ -
SR. RAÚL WAGNER


Ao Lafões, pelo contrário, líder do
Campeonato, interessava-lhe sobremaneira para uma maior consolidação do título.
E, sinceramente, o jogo foi uma coisa que me desiludiu, pois nunca esperei tal
incidente com a equipa do Latões.
E isto não é só porque a
equipa do Lafões tem no seu conjunto muitos rapazes com quem eu me dou muito
bem, mas também por ser uma equipa com quem a “claque” do meu clube simpatiza.
O jogo foi correndo e, já
anteriormente, na primeira volta, o encontro com o Lafões deu uma certa
“barraca”, na medida em que o árbitro marcou um livre e que até certo não
concordamos e ainda hoje não acreditamos que tenha existido. E, mesmo, houve um
árbitro do Provincial, que agora faz parta da equipa que escolhe os árbitros
para os encontros, que me confessou que nunca podia ter existido aquele livre
que ele marcou. O Sporting perdeu esse jogo. O Lafões ganhou-o.


Não tomou medidas e o jogo, entretanto, tomou um aspecto em que
ele foi obrigado a acabá-lo antes do seu termo regulamentar. Mas os factos que
se passaram depois do jogo, lá fora, muito embora não seja eu o individuo para
neste caso responder pelo Sporting, que é
Direcção, o Sporting não está implicado nesses acontecimentos. É uma
opinião totalmente errada, que o Sporting não se apresentou ao jogo com o
Andorinha por este ou aquele motivo, mas pelos factos que se passaram dentro do
rectângulo, e determinaram que o Sporting escrevesse à Associação pedindo um
rigoroso inquérito.


Dizem que o desporto é
uma escola de virtudes, mas um individuo acaba por sofrer vexames, pois as
pessoas que têm direito a tomar medidas não as tomam na altura precisa, depois
vão buscar-se outras razões totalmente diferentes para justificar certas
atitudes. Porque as razões das coisas não estão assim à superfície; é preciso
entrar-se dentro do facto.
Até agora e perante tal
estado de coisas, não me sinto com força nenhuma, nem eu nem os meus rapazes.
Mas enfim, pode ser que o próprio tempo venha a resolver tudo.”
Oxalá que sim. São os
nossos votos. - Jorge Trabulo Marques
Um comentário :
Jorge Trabulo Marques, boa noite. Parabéns por publicar informação desportiva relativa a São Tomé e Príncipe, onde estive de Junho de 1964 a Junho de 1966 a cumprir serviço militar, tendo a oportunidade de jogar futebol, futebol de 50 e hóquei patins mo Sport São Tomé e Benfica. Parafraseando o saudoso Carlos Pinhão, direi: Ai que saudades, ai, ai... Abração.
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