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segunda-feira, 15 de junho de 2015

São Tomé - Sporting Clube da Praia Cruz - Sporting Clube do Príncipe e a briosa herança do Sporting Club de S. Tomé – Da coletividade, desportiva e cultural mais antiga das Ilhas do Equador, fundada há 103 anos - Que o colonialismo quis decepar: desde a prisão de atletas, simpatizantes e associados, por Carlos Gorgulho, no campo de concentração de Fernão Dias, em Fev de 1953, a grosseiros erros de arbitragem, perseguições de treinadores e dirigentes, a tentativas de afastar a equipa do campeonato - - Memórias a recordar quase sobre a data do 40ª aniversário da Independência - Apesar de tudo, o entusiasmo suscitado pelo futebol português continua a ser enorme




Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista – (Post atualizado)  Páginas da História do Futebol de S. Tomé e Príncipe  e o vinculo que ainda hoje  mantém com Portugal – Em duas Ilhas por onde passam as cores dos principais clubes portugueses, sendo as do Sporting as mais representativas, em três clubes .  E, sobretudo, neste post, as memórias de uma histórica  coletividade desportiva que prestou um importante contributo sócio-desportivo e cultural às suas ilhas e se  assumiu, desde a sua fundação, como um firme baluarte de resistência   nacionalista


(1972)  Sporting Club de São Tomé - Semana Ilustrada - JTM

Equipa do Sporting Club da Praia Cruz - Esta imagem e a seguinte,  ( da Bola)  foram extraídas da Web

Quando o  dirigente sportinguista, Bruno de Carvalho, há relativamente pouco tempo,  se deslocou a S. Tomé, sabia de antemão que, a sua estadia neste país de expressão portuguesa,  ia encontrar calorosa receçao, isto, porque, nestas Ilhas,  o Sporting Clube de Portugal é dos clubes portugueses com maior implantação popular, que, nem os tempos áureos o Benfica de Eusébio, logrou ultrapassar. .(23/04/2015Bruno de Carvalho: «Aproximação entre Sporting e São Tomé   Bruno de Carvalho anuncia cooperação)
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Atrás das  cores do lendário Sporting Club de São Tomé, que são as mesmas do Clube de Alvalade,  há todo um longo historial, que se estende por 103 anos, com páginas de glórias mas também de muitos sofrimentos -  De um  Clube que  tem, no seu passado, mártires em arbitrárias prisões, submetidos a brutais interrogatórios, herdando desde a sua fundação, em 1912, um profundo cariz nacionalista, usando a prata da casa, os melhores talentos genuinamente são-tomenses, que o poder colonial, procurou sempre ostracizar e eliminar, sob as mais diversas formas. Com as mais torpes e descaradas perseguições – até nas arbitragens dos jogos em que participava. 


Fomos testemunha em alguns desses casos, em favor de um Clube, de nome O Lafões Hoquei Clube, de forte cunho regionalista, fundado por colonos oriundos da região centro de Portugal, que era a colónia mais populosa em S. Tomé, sendo a formação da  equipa, constituída, maioritariamente,   por filhos de colonos ou por militares portugueses e dirigida por oficiais. 

Nenhum outro Clube, tanto o Benfica, como o Sporting (o F.C. do Porto), lograva os privilégios de que gozava o clube dos Lafonenses, com fortes influências nas arbitragens e nas estâncias oficiais desportivas Nos meus 12 anos, em que vivi em São Tomé, pude testemunhar alguns desses escandalosos casos, um dos quais relatei na extinta revista angolana, Semana Ilustrada, em Novembro  de 1972, cujo artigo, mais à frente, passo a reproduzir na íntegra.


(atualização) Em Março de 2016 – o Grande Derby Sporting 0 Benfica 1 – Em São Tomé, Benfiquistas vibraram com a vitória dos Águias em Alvalade




Aurélio Martins, líder do MLSTP-PSD, com o Gelson Martins
Benfiquistas de São Tomé vibraram com a vitória em Alvalade - Jogo vivido ao rubro na esplanada do Hotel Avenida – Em noite de grande chuvada, na capital, que provocou avarias no sinal de transmissão da TVS – Depois ainda houve quem pudesse ver o jogo através do computador – via internet - Só vimos a segunda parte (enquanto o sinal não foi interrompido)e já com o Benfica adiantado no marcador por um golo de Mitroglou, aos 20 minutos mas deu para ver o entusiasmo com que o jogo da noite foi vivido aqui na maravilhosa Ilha do meio do Mundo, onde o futebol português é atentamente seguido e conta com grandes entusiastas - Nomeadamente, do Benfica, Sporting e Porto

 



Futebol de S. Tomé e Príncipe e a sua ligação a Portugal –


Apesar de algumas feridas do tempo colonial, de um modo geral, o futebol português – mas sobretudo as três principais equipas – Sporting, Benfica e Porto  - mesmo 40 anos depois da descolonização – continua a suscitar um grande entusiasmo na população destas ilhas, que seguem os relatos ou as transmissões  televisivas, com grande entusiasmo e são tema de  comentários habituais.  Contudo, o clube, com maiores tradições nas duas ilhas, é, indubitavelmente,  o Sporting, que ali conta com três coletividades com o seu nome.

OS BONS EXEMPLOS DÃO SEMPRE BONS FRUTOS

Sporting Clube do Príncipe - Foto (a cores) extraída da Web

Atualmente existem em S. Tomé e Príncipe três coletividades sportinguistas as quais, pelo que me foi dado apurar, entroncam na mesma família sportinguista: o histórico Sporting Club de São Tomé, fundado em 1912, o qual, devido a algumas vicissitudes, desceu para o escalão de honra, mantendo a sua velha sede no mesmo local;   O Sporting Clube do Príncipe sediado na pequena cidade Santo António, na Ilha do Príncipe, fundado no dia 6 de Fevereiro de 1915, sendo a filial nº 183 do Sporting Clube de Portugal.e o Sporting Clube da Praia Cruz, sediado junto à praia do mesmo nome, ou seja a equipa que mais se tem destacado desde há uns anos a esta parte, com maior número de títulos conquistados  nas duas competições: no campeonato e  Taça.

103 ANOS DE HISTÓRIA DO SPORTING CLUB DE SÃO TOMÉ

Quando o Sporting Club de S. Tomé, se filiou  com o nº 82 do Sporting Clube de Portugal, em 1939, já a sua coletividade existia há muitos  anos, ou seja, desde 1912  - Há quem confunda filiação com  fundação: daí haver no site da enciclopédia sportinguista, esse lapso: de que, o Sporting Club de S. Tomé. , foi fundado em 1939, quando o seu passado é bem mais antigo – De resto, assim o comprova, nalgumas páginas, o estudo do escritor, historiador e investigador, Carlos Espírito Santo, no seu livro: “O Nacionalismo São-Tomense”
 

Em Fev. de 1953, o Governador Carlos Gorgulho, quis eliminar alguns dos seus atletas e associados, no campo de concentração de Fernão Dias  - Em finais de Outubro de 1972, o sistema colonial, interrompeu o campeonato, a pretexto dos incidentes provocados num jogo com o Lafões, favorecendo, com esse procedimento,  este clube, que era líder da classificação,  negligenciando as verdadeiras causas,  provocando um forte abalo psicológico nos seus dirigentes, treinador e massa associativa. 

Mas  comecemos pelo que é descrito,  e profusamente documentado , em “O Nacionalismo Politico São-Tomense”, por Carlos Espírito Santo:

“O Sporting Club de S. Tomé foi um clube sócio-desportivo-cultural fundado na ilha de São Tomé, no ano de 1912. A este propósito, Jorge Roma, em «A nossa vida desportiva» afirma: 


«Nasceu o "Sporting" no ano de 1912. Um grupo de rapazes, alguns dos quais já falecidos e outros ausentes da Colónia, chefiados por Alfredo Menezes de Alva, Jorge Castelo David e outros, pensaram em organizar um "team" de futebol a que deram o nome de "Sport Club de S. Tomé". O "team" vinha sendo instruído pelos inglezes do Cabo Submarino, europeus e africanos. Foram estes homens que desinteressadamente nos ensinaram a dar pontapé na bola. Vínhamos a pouco e pouco praticando o desporto até que um dia, resolvemos pedir um desafio oficial ao "team" do Cabo, pedido que foi aceite prontamente. Marcado o dia para um domingo, dia da nossa estreia, comparecemos no antigo campo da Cadeia, onde tivemos um  “match" com o “team" dos inglezes africanos. Apezar de todos os esforços empregados pelos nossos adversários, não lhes foi possível derrotar-nos; empatamos o jogo.» 


Prossegue Jorge Roma no referido texto:


«Decorridos anos, chegou de Lisboa um conterrâneo nosso, conhecedor do" métier", o qual, tendo apreciado a maneira como nós praticávamos o desporto, sugeriu-nos a ideia de mudarmos o nome do nosso" team", passando para "Sporting Club de S. Tomé", visto que naquela cidade existia um club intitulado "Sporting Club de Portugal", que é o club dos leões. Ao princípio muito nos custou aceitar a proposta, mas, porque achámos interessante a ideia sugerida e ainda porque não queríamos cair no desagrado daquele nosso conterrâneo, aceitámos a sugestão" 


Além da secção desportiva, o Sporting também funcionou como um espaço sociocultural de grande relevo, organizando festas, marchas populares e representações teatrais. Era sem dúvida um local privilegiado pelos funcionários, trabalhadores e estudantes de São Tomé, tendo sido, por esta razão, mencionado por Carlos Gorgulho durante a Guerra da Trindade, desencadeada por este governador contra a população nativa, como um dos sítios onde tinham lugar reuniões secretas dos nacionalistas-conspiradores. 


Gorgulho nutria «forte» antipatia pelo Sporting Club, de que José Rodrigues Pedronho era presidente. A prová-lo está o facto de ter ido assistir, imbuído de malévolos propósitos, no dia 31 de Janeiro de 1953, no Cinema Império, a um espectáculo promovido pela secção teatral do Sporting Club de S. Tomé, em continuação dos festejos comemorativos do XXV aniversário da fundação deste clube. Foi exibida a comédia Duas Gatas, tendo sido os desempenhos de Costa Alegre, Óscar Santos, João Bonfim, Quintero Aguiar, Rosa Aguiar e Odete Jordão bastante satisfatórios. Pouco depois de ter estalado a Guerra da Trindade o governador mandou prender, não só José Rodrigues Pedronho mas igualmente todos este actores, com excepção das senhoras. 


Quando João Jesus Bonfim estava preso na Brigada de Fernão Dias, apareceu Gorgulho que acusou este nativo de ter participado nas reuniões realizadas na sede do Sporting Club de S. Tomé e nas quais planearam matar todos os brancos que residiam na referida ilha e nomear o Eng. Salustino Graça governador


Ora, tal como frisa Salustino Graça, Gorgulho «procurou eliminar toda e qualquer consciência colectiva, com as tentativas de dissolução da Associação de Socorros Mútuos da Trindade, da Caixa Económica e agora do Sporting Club», e porque não conseguiu lograr êxito nesse intento, teve que desencadear a Guerra da Trindade para erradicar da sociedade diversos grupos socioprofissionais»

PÁGINAS DA HISTÓRIA DE UM BRIOSO CLUBE DESPORTIVO E CULTURAL – O  SPORTING CLUB DE SÃO TOMÉ

A BRONCA – Este o título que dávamos a um extenso artigo, publicado na  edição de 1- a 8 de Novembro  de 1972, da revista Semana Ilustrada, de Luanda,  com entrevistas ao então presidente do Sporting Club de S. Tomé, Tomé Agostinho das Neves e ao seu Treinador, Raúl Wagner.

O CAMPEONATO PROVINCIAL DE FUTEBOL DE S. TOMÉ FOI INTERROMPIDO. 

Segundo uma nota do Conselho Provincial de Educação Física, difundida pelo Emissor Regional da Ilha, em virtude dos incidentes registados no Estádio Sarmento Rodrigues, no passado dia oito de Outubro, durante o encontro de futebol entre as equipas do Sporting Clube de S. Tomé e  Lafões Hóquei Club, o Conselho Provincial de Educação Física, dada a gravidade da situação que afecta as mais  elementares normas desportivas, deliberou, em sessão de 18 daquele mês, suspender o prosseguimento do campeonato de S. Tomé, até conclusão do inquérito, que decorre já  os seus trâmites naquele Organismo. 




(Sede do Sporting no Principie - imagem de uma  Viagem a S. Tomé e Príncipe: Abril 2007



O MÓBIL DA QUESTÃO


O que se passou então para que fosse tomada tão drástica decisão? 

A decisão, conforme aponta a referida nota, advém pois de lamentáveis incidentes que tiveram lugar durante  o Jogo,  Sporting-Lafões, no encontro da 17ª jornada a contar para o Campeonato Provincial. Tudo começou, segundo apurámos, pois não nos foi dado assistir a esse jogo,  do trabalho do árbitro, que pela crítica  local é considerado “o grande culpado de tudo, porque não soube a     tempo e horas refrear os ânimos, expulsando os prevaricadores, jogadores, que os houve de parte a parte.
Quando terminou o encontro (que acabou antes da hora regulamentar ) as cenas de indisciplina, sucederam-se.”Em conclusão: uma tarde triste de futebol, que, ainda no dizer daquele jornal , num jogo de futebol que pôs frente a frente duas equipas dispostas a tudo, menos jogar futebol.  in Voz. de S. Tomé- 1O/1O/72 - página desportiva.

Portanto, o que acabamos de descrever, foi o móbil da questão, isto é o da suspensão do campeonato, cuja decisão foi tomada dez dias depois pelo organismo máximo do desporto santomense, o Conselho Provincial de Educação Física. Entretanto, antes que fosse tomada tal decisão, outro caso haveria de surgir, que multo daria que falar
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O SPORTING DE S. TOMÉ NÃO COMPARECEU AO JOGO DA 18ª. JORNADA

Por tanto, foi isto o que aconteceu no decurso do jogo Sporting-Lafões. No domingo imediato, algo mais haveria  de suceder. O Sporting Club de S. Tomé não compareceu, ao jogo que tinha de efectuar com o Andorinha Sport Club para a 18ª jornada do Campeonato   Provincial. O caso troou como uma bomba no meio futebolístico local e de certa maneira na massa desportiva em geral. Comentários vários teceram-se de imediato em torno daquela colectividade. O Sporting era o  clube que estava na berlinda. Era o alvo. O grande atingido, mesmo pela crítica Adeptos e simpatizantes do popular clube também conjecturavam as mais díspares ideias de não comparecimento da sua equipa no Sarmento Rodrigues. Os outros os não adeptos e simpatizantes, esses, então, é que não poupavam o Clube em nada. O Sporting não compareceu. O Sporting é isto, o Sporting é aquilo. Ou foi por isto ou por aqueloutro motivo. Em suma: o Sporting era o grande réu. E afinal de contas não era assim, como veremos adiante 







A Direcção do Sporting, devido à série de ocorrências registadas naquele jogo, que, atendendo à pequenez do meio, tiveram a maior repercussão na sua massa associativa como nos próprios atletas, e receando que as mesmas  tivessem implicações  no jogo seguinte, entendeu, em devido tempo, dirigir um ofício à Associação Provincial de Futebol, pelo qual solicitava a suspensão das suas actividades desportivas enquanto não fosse instaurado um rigoroso inquérito sobre  as ocorrências no jogo Sporting-Lafões. 


E a verdade é que, embora o pedido de inquérito fosse satisfeito, no que concerne ao adiamento do jogo ( conforme foi pedido em segundo ofício ) não foi atendido, 

Por seu turno,  a rádio local, alheia, segundo apuramos, do que se estava a passar, entre aquele Clube e a Associação, continuou anunciando  a realização do jogo,  Sporting-Andorinha. Resultado: o público,  o habitual público que ocorre às partidas de futebol, como não fora avisado do contrário, compareceu como de costume. Aguardou impaciente o início do jogo, que, como dissemos, não se concretizou.

Perante isto, o público reagiu. Não gostou. Comentou  à sua maneira. Ao seu belo prazer.
Por seu turno,  a rádio local, alheia, segundo apuramos, do que se estava a passar, entre aquele Clube e a Associação, continuou anunciando  a realização do jogo,  Sporting-Andorinha. Resultado: o público,  o habitual público que ocorre às partidas de futebol, como não fora avisado do contrário, compareceu como de costume. Aguardou impaciente o início do jogo, que, como dissemos, não se concretizou.

Perante isto, o público reagiu. Não gostou. Comentou  à sua maneira. Ao seu belo prazer.

Se era ou não possível à Associação Provincial de Futebol atender ao pedido do Sporting, isto é adiar o jogo, não sabemos perfeitamente Porém duma coisa estamos certos, pois nos informaram os homens do Sporting, que em 15 de Agosto do corrente ano foi pelo mesmo Clube solicitado aquela  Associação o adiamento do jogo desse dia para 19, sendo o pedido atendido. Será por as circunstâncias e os motivos serem outros?  Parece que é o que se pretende fazer crer. De qualquer maneira houve um erro. Por sinal até muito grande· Não ser enviado qualquer comunicado aos órgãos de informação, neste caso, especialmente, ao Emissor Regional, de que o jogo não se realizaria. Evitava-se assim, deste modo que o público comparecesse ao Estádio Sarmento Rodrigues e tivesse ficado com uma ideia completamente diferente da que ficou, mais recrudescida ainda pelos comentários que injustamente e por ignorância da realidade, lhe foram movidos. 

TROCA DE IMPRESSÕES COM O PRESIDENTE DA DIRECÇÃO  DO SPORTING CLUBE DE S. TOMÉ SR. TOMÉ AGOSTINHO DAS NEVES

Que haverá então com a equipa do Sporting de S. Tomé? Que motivos a levaram a não comparecer para a disputa do seu último jogo do campeonato?.. 

O seu Presidente prontamente nos elucidou, dando-nos as cópias dos ofícios havidos entre este clube  e a Associação, para que deste modo o esclarecimento ainda fosse mais completo. Eis a sua opinião:   “No jogo realizado em 8 do corrente, entre as equipas do Sporting e Lafões, tudo correu mal,  a meu ver, desde os jogadores ao árbitro, que não teve pulso suficiente para reprimir ou então estava actuando com parcialidade 


O Sporting, na terça-feira, 10 de Outubro, enviou urna carta à Associação Provincial de Futebol, pela qual pediu a  abertura de um Inquérito a fim de se  apurar o responsável por tudo quanto aconteceu. E na qual se disse que, “enquanto durar o inquérito e não for garantida ao nosso Clube, uma actuação, no futuro, imparcial da equipa de arbitragem, a equipa do  Sporting não participa em quaisquer provas”. Isto, claro, no intuito de evitar mais dissabores, além daqueles que se passaram, pois alguns atletas negaram a sua colaboração, e como se sabe é indispensável.


Foi-nos respondido pela Associação da Província de Futebol , pela sua carta de 11 do corrente, de que havia ordenado a abertura do inquérito.



Em carta do 13/10/72, o Sporting pediu à A.P.F. de S. Tomé, a complacência na aplicação da pena, porquanto se estava envidando esforços no sentido de persuadir os atletas a darem, como de costume, a sua colaboração, acabando por informar a mesma Associação que os Jogadores têm ainda  os ânimos exaltados e a moral muito abalada, pelo que se rogava  à A. P. F. o adiamento do jogo do próximo domingo, isto ê ( Sporting-Andorinha ) marcado para o dia 15. do corrente, até à resolução do inquérito.

Queremos que fique bem esclarecido que o Sporting Clube de S. Tomé, não pediu a sua desistência do campeonato, mas sim uma alteração do calendário, o que era da competência da Associação. 


Mais importante, o que desejo frisar  é forma, como a A.P.F. encarou as nossas cartas, não dando conhecimento em devido tempo ao Emissor Regional, do pedido do Sporting no sentido de se adiar o jogo, evitando assim que o público fosse para o Estádio para assistir a um desafio de futebol, que ela Associação sabia de antemão que não se havia de realizar. Confesso que a atitude  da A.P.F. caiu mal, no meu espírito, porque podia classificar-se de um propósito,



E já que você está disposto a ouvir-me mais um pouco,  queremos que fique também bem expresso, que o autor do programa “Desporto  é Tema”, o nosso amigo Carlos Cardoso, fez referências pouco abonatórias ao Sporting,  Clube de tradições  nesta Província, sem procurar saber como as coisas se passaram". 

ENTREVISTA COM O TREINADOR DO SPORTING CLUB DE S. TOMÉ  - SR. RAÚL WAGNER


Seguidamente procuramos o treinador da equipa do Sporting Club de S. Tomé, Sr. Raúl Wagner, com quem igualmente trocamos impressões sobre o assunto. E com ele falámos durante alguns momentos. Momentos que, além das suas palavras, nos disseram bem do seu descontentamento, mesmo até desencorajamento, do falatório que se tem gerado em torno da sua equipa; inculpando os seus atletas de certas coisas e atitudes que estão muito longe dos propósitos que os animam. O desporto pelo desporto. No qual todos, desde dirigentes, treinador e  atletas, sem qualquer interesse monetário, que não seja apenas o de servir o seu Sporting de alma e coração. Raúl Wagner, mostrou-se um homem desiludido, com a série de injustiças e incompreensões de que tem sido alvo a sua equipa, Um homem disposto quase que a abandonar  o seu papel, as funções que, com tanto carinho e devoção, desde há alguns anos vem desenvolvendo. Eis as suas palavras, que começam também precisamente com a lembrança, péssimo claro, do jogo, Lafões Sporting. 


“O Sporting pouco interesse tinha no jogo em causa, na medida em que tinha a sua posição mais ou menos definida na tabela classificativa.


 Ao Lafões, pelo contrário, líder do Campeonato, interessava-lhe sobremaneira para uma maior consolidação do título. E, sinceramente, o jogo foi uma coisa que me desiludiu, pois nunca esperei tal incidente com a equipa do Latões. 


E isto não é só porque a equipa do Lafões tem no seu conjunto muitos rapazes com quem eu me dou muito bem, mas também por ser uma equipa com quem a “claque” do meu clube simpatiza. 


O jogo foi correndo e, já anteriormente, na primeira volta, o encontro com o Lafões deu uma certa “barraca”, na medida em que o árbitro marcou um livre e que até certo não concordamos e ainda hoje não acreditamos que tenha existido. E, mesmo, houve um árbitro do Provincial, que agora faz parta da equipa que escolhe os árbitros para os encontros, que me confessou que nunca podia ter existido aquele livre que ele marcou. O Sporting perdeu esse jogo. O Lafões ganhou-o. 

Enfim, fomos andando esperando que o jogo da segunda volta fosse melhor e mais correcto possível, que o juiz da partida tivesse outro comportamento, em relação  à equipa do Sporting, pois o que nós pretendíamos era praticar futebol, na medida em que as nossas aspirações ao título, já estão postas de lado, e portanto, estávamos convencidos que o Jogo seria bonito. Porém, isso não aconteceu, e não aconteceu porque tivemos um árbitro que não esteve à altura. Eu não vou frisar somente o aspecto 'futebolístico, porque apesar de tudo ainda não me sinto suficiente senhor daquilo, pois eu posso ser um fervoroso religioso, ir à igreja há  muitos anos e não saber bem da religião, como posso estar a praticar, futebol durante muito tempo e não saber realmente as coisas de futebol. Mas outros problemas surgiram a que o árbitro não soube pôr termo naquela altura. Se logo que as palavras que chegaram a ser proferidas dentro do campo, tivesse tomado medidas, podiam trazer muito menos consequências. 

Não tomou medidas e o jogo, entretanto, tomou um aspecto em que ele foi obrigado a acabá-lo antes do seu termo regulamentar. Mas os factos que se passaram depois do jogo, lá fora, muito embora não seja eu o individuo para neste caso responder pelo Sporting, que é  Direcção, o Sporting não está implicado nesses acontecimentos. É uma opinião totalmente errada, que o Sporting não se apresentou ao jogo com o Andorinha por este ou aquele motivo, mas pelos factos que se passaram dentro do rectângulo, e determinaram que o Sporting escrevesse à Associação pedindo um rigoroso inquérito. 


Não alinhámos no domingo passado, porque os Jogadores, em face dos insultos que receberam no campo e, dentro daquela atmosfera em que a coisa se processou, muitos não querem jogar, e  por causa disso, para que se evitasse qualquer outra coisa ou má interpretação,  o Sporting, em devida altura, escreveu à Associação pedindo um rigoroso inquérito. Até que durasse o mesmo o Sporting suspendia as suas actividades  desportivas pelo que não havia razão para que surgissem reparos no programa “Desporto é Tema”, nem que o Emissor  falasse do Jogo, na medida em que a Provincial foi informada na  altura própria para evitar outras consequências. E esse pedido não foi tomado em consideração, porque surgiu depois o jogo marcado e sem qualquer adiação. 


Dizem que o desporto é uma escola de virtudes, mas um individuo acaba por sofrer vexames, pois as pessoas que têm direito a tomar medidas não as tomam na altura precisa, depois vão buscar-se outras razões totalmente diferentes para justificar certas atitudes. Porque as razões das coisas não estão assim à superfície; é preciso entrar-se dentro do facto.



Até agora e perante tal estado de coisas, não me sinto com força nenhuma, nem eu nem os meus rapazes. Mas enfim, pode ser que o próprio tempo venha a resolver tudo.”


Oxalá que sim. São os nossos votos.  -   Jorge Trabulo Marques 




Um comentário :

ALBERTO HELDER disse...

Jorge Trabulo Marques, boa noite. Parabéns por publicar informação desportiva relativa a São Tomé e Príncipe, onde estive de Junho de 1964 a Junho de 1966 a cumprir serviço militar, tendo a oportunidade de jogar futebol, futebol de 50 e hóquei patins mo Sport São Tomé e Benfica. Parafraseando o saudoso Carlos Pinhão, direi: Ai que saudades, ai, ai... Abração.