Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Reunião de antigos comerciantes
Falar da Casa Ayres
Beirão, em S.
Tomé, é já uma lenda: é quase o mesmo que, associá-la ao famoso
Licor Beirão “O licor de Portugal». Que
marcou a história da publicidade em Portugal. O «Beirão de quem todos
gostam" – Cujos cartazes, colocados em grandes painéis, no alto das
colinas ou dos montes, chegaram a ser
proibidos pela Junta Autónoma das
Estradas, sob o pretexto que a publicidade distraía os condutores e causava
acidentes – Sim, esse ainda é hoje o licor mais conhecido e mais vendido, em
Portugal, e para o estrangeiro. Tudo
graças a esta simples expressão, recordada numa entrevista ao DN, por um dos
filhos, dita ao seu pai: “Houve um professor primário aqui na Lousã que lhe
disse: «Oh Carranca, não é o beirão de quem todos gostam, é o beirão de que
todos gostam, o "que" refere-se a coisas e o "quem"
refere-se a pessoas». E ele respondeu: «Mas é isso mesmo que eu quero, que se
refira a pessoas! Dn 27/01/2012- O dono do licor mais irreverente de Portugal

Ayres Beirão |
Neto de Ayres Beirão |
Ora bem, aí está um
exemplo que podia perfeitamente ajustar-se à vida do lendário Ayres Beirão – O comerciante mais popular do século XX em S. Tomé, no período colonial - O português, natural de Freixeda do Torrão,
uma pequena aldeia do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo,
que, ainda muito novo, havia de deixar com destino à Ilha de S. Tomé – Quando eu
cheguei, a esta ilha, em 1963, já ele ia entrado na idade, já então existia uma
casa, mesmo no centro da cidade, com o seu nome – E que ainda hoje é uma
referência no comércio local. Mesmo depois das várias vicissitudes, com que se
deparou, nos anos seguintes pós a independência, tanto
ele como, depois, os filhos que tomaram o leme do “barco” na gerência e atender os clientes por detrás ou à frente do comprido balcão de madeira.
Um dos filhos com a esposa |
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Casa Beirão |
Era o velho Beirão de quem toda
a gente simpatizava. Pai de sete filhos – e vários netos. Que todo o colono, não ignorava. E todo o santomense
conhecia – até porque também falava o seu dialeto.

O comerciante, altura mediana, que usava suspensórios, porque os suspensórios são sempre
mais confortáveis que o cinto e aos gordinhos os suspensórios ficam sempre
muito bem - Era das tais figuras, carismáticas,
afável mas ao mesmo tempo muito prático, de quem não gosta de perder tempo inutilmente
e conta os trocados até ao último centavo: quem falasse com ele, mesmo que uma só vez, jamais lhe esquecia
o andar, a expressão, a singular maneira de ser e de conviver. Tinha sempre um sorriso para toda a gente, entre
o sério, perscrutador e o tolerante, mesmo
para os caloteiros, que não lhe pagassem a venda a fiado - Ele teria apreendido, certamente, na filosofia simples de uma família rural, que a vida é uma corrida
passageira, que se perdem mais energias, quando uma pessoa se zanga, de que pôr
a chatice ou contrariedade, de lado e
passar adiante. Que eu me
recorde, nunca o vi discutir com ninguém. No seu rosto, nunca desaparecia a afável
ironia ou a boa disposição.
Dois dos filhos, com o neto ao centro |
Todos os seus filhos (mestiços) se destacaram na sociedade santomense ou optaram por ir para Portugal: desde o ensino à atividade empresarial.
– José Beirão, Alice Beirão, Aníbal
Beirão, Ricardina Beirão, Augusta Beirão, Margarida Beirão.
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Comerciantes na FIL - Em Lisboa |

A terminar, uma palavra
amiga e de parabéns aos filhos e netos, dessa inconfundível família, que mantém viva a memória de quem lhe deu a razão de ser – E porque não também um aceno de evocação àquela avozinha,
cujo retrato lá continuava na parede, de seu nome Maria Augusta Carrapatoso, de Freixeda, mãe de Ayres Beirão.
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