QUEM SOMOS NÓS?”- Pergunta o escritor
Albertino Bragança, num interessante artigo de opinião, publicado no Jornal
Téla Nón – Pois, antes de tomarmos a liberdade de transcrever alguns ecertos, aqui
oferecemos ao leitor, um caso exemplar de quem tem enfrentado as voltas e adversidades da vida,
de forma laboriosa e bem sucedida, cioso do seu passado
O santomense, Manuel Vera Cruz, mais conhecido por Manuel
Torneador,é, de facto, um fantástico
exemplo de espírito inventivo, criador e laborioso, mas também de generosidade
e de simplicidade:torneiro de profissão
mas também o administrador da sua oficina, autêntica escola de artes e de ofícios,
que, desde há vários anos, têm proporcionado,
não só gerando empregos locais, como, também,
permitindo a aprendizagem a muitos dos
seus conterrâneos, os quais, graças à excelente experiência, ali adquirida, puderam
encontrar
trabalho, muito apreciado e reconhecido, nos vários países por onde emigraram
se estabeleceram ou empregaram.
Tive o prazer de conhecer a sua oficina, em Maio passado e de
com ele trocar um amistoso e franco diálogo, na companhia do cineasta Pedro
Paiva, e até de recordarmos experiências, as minhas, de navegador solitário nos mares e, as
dele, nas andanças da sua vida, tendo ficado encantado com as suas revelações: sem
dúvida, de um admirável artífice e inventor!
De um genuíno santomense, humilde mas que bem pode orgulhar-se da sua
identidade,que, cedo
despertou para o gosto das artes: em
criança, com os pedaços de madeira e de
troncos das árvores, com os quais aprendeu a construir os seus brinquedos, e,
até com os filmes que pôde ver, que, segundo me confessou, lhe despertaram a
imaginação e o gosto inventivo e curioso: desde objetos voadoresao próprio elevador da sua oficina,
Quem procure os seus ofícios, na cidade de S. Tomé, seja para
resolver problemas de motos, de automóveis ou de outras viaturas e qualquer outro
problema elétricoou mecânico, saberá,
naturalmente, que, o Manuel Torneador, com os seus técnicos e - auxiliares que ali vão estagiar - encontrará, prontamente, a solução adequada
QUEM SOMOS NÓS?”- Do Jornal Téla Nón
É
uma questão que toca sempre na alma de muitos são-tomenses. A perda dos valores
identitários, faz ecoar constantemente esta pergunta na mente dos cidadãos. Num
artigo sustentado por factos históricos devidamente comprovados, o escritor
Albertino Bragança, convida os são-tomenses a se redescobrirem, ou a se
encontrarem consigo mesmos. A estratificação social de São Tomé e Príncipe, no
fundo, o nascimento da nação são-tomense, domina a primeira parte do “Quem
somos nós”.
I PARTE
Após quarenta e quatro anos de independência nacional, S. Tomé e
Príncipe debate-se com alguns problemas estruturais de reconhecida gravidade,
que vêm retirando aos santomenses a possibilidade de uma vida à altura das suas
aspirações à data histórica de 12 de Julho de 1975.
Delinearam-se projectos, arquitectaram-se planos, proliferaram
os estudos de diagnóstico e os programas de governo, empenhou-se a classe
política na procura das soluções mais susceptíveis de evitar o fosso em que o
país se ia progressivamente afundando, sem que de tal esforço se tenha chegado
a resultados palpáveis.
Por tudo isso, uma pergunta se impõe: será que tal insucesso se
deve apenas à escassez de recursos com que o país tradicionalmente se confronta
ou existe algo mais a perturbar a via do desenvolvimento sustentado do nosso
país, que é, ao fim e ao cabo, o que todos almejamos?
Não será que, face aos condicionalismos atrás citados, se torna
premente abordar as questões de fundo que se colocam à nossa identidade
enquanto comunidade específica inserida no mundo, de modo a viabilizar o nosso
percurso colectivo pelos caminhos do futuro?
Albertino Bragança - Jornal Téla Nón
Por isso me abalancei a escrever o presente texto, de modo a com
ele contribuir para uma melhor elucidação dos santomenses sobre as suas origens
e os factores que conformam a sua identidade, não na perspectiva de nos atermos
passivamente aos mesmos, antes para, conhecendo-nos a nós mesmos, podermos
lobrigar os verdadeiros caminhos conducentes ao consenso indispensável ao nosso
desenvolvimento.
Trata-se, pois, de partilhar convosco algumas ideias com que
convivo há algum tempo, embora vos coloque já de sobreaviso para o facto de
esta exposição não passar de particulares considerações sobre tema tão
aliciante e complexo.
Feito o alerta, tentemos responder à questão central que aqui
nos traz: Quem somos nós?
A resposta é imediata: somos santomenses, africanos, fruto de um
processo de caldeamento de culturas que se encontraram no contexto de um longo
processo de colonização que, tendo embora posto em confronto gentes e
civilizações provenientes da Europa e da África, uniu as vivências de senhores
e escravos e deu azo a um povo com características bem específicas.
A esse propósito, permitam-me uma longa mas necessária citação
do geógrafo, poeta, sociólogo e professor, Francisco José Tenreiro, o qual
considera que “a situação privilegiada da ilha, primeiro na rota da Índia e,
mais tarde, entreposto entre a costa ocidental de África e a América do Sul,
facilitou contactos de raças, de culturas e de produtos. Foi, na realidade,
desde o final do século XV, uma das grandes encruzilhadas do Mar-Oceano onde se
encontraram homens, negros e brancos, de diferentes proveniências e com estilos
de vida diferenciados, e se misturaram plantas do Mediterrâneo, de África, da
Ásia quente e chuvosa e da América do Sul”.
Diz ainda Francisco Tenreiro que “foi a ilha campo de ensaio de
culturas, no sentido mais amplo que a esta palavra se pode atribuir. Além de
portugueses da Metrópole, que traziam consigo as formas de um estilo de vida
desenvolvido no mundo mediterrâneo, também madeirenses, com a sua experiência
do fabrico do açúcar e de ocupação de terras virgens, e estrangeiros, como
Genoveses e Franceses, técnicos também do açúcar ou mercadores. Ali arribam
ainda, embora em contactos frustes, os Holandeses no decorrer do século XVII.
Da costa africana, elementos negros, introduzidos como escravos, e que, dada a
enorme latitude que o resgate teve para as populações de São Tomé, constituíam
os mais variados tipos raciais: Sudaneses e Guineenses primeiro, Bantos ou
Sul-Africanos mais tarde. …. Mais tarde ainda, na segunda metade do século
XVIII, também os contactos com as gentes do Brasil: brancos, negros e crioulos
que retornam ao golfo da Guiné ou para comerciar ou mesmo para se estabelecerem
no reino do Dahomé.” (1) Sem esquecer as 2.000 crianças judias que acompanharam
em 1493 o terceiro mandatário, Álvaro de Caminha, um número considerável das
quais soçobrou à rudeza da viagem.
Pela sua posição estratégica, São Tomé é ponto de passagem
obrigatória dos navios brasileiros, em especial da Baía, que traficavam na
Costa da Mina, já que, por determinação de el-rei, “daqui em diante não vai
nenhum a ella sem que primeiro tomem a ilha de Santo Tomé, assim na ida como na
vinda depois de terem negociado na mesma Costa, para que nela se averigue o que
levaram e o que trouxeram, e … se regulem por este exame os direitos que hão de
pagar”.(2)
Isto depois de parte da população de São Tomé a ter abandonado
ao tempo da decadência do açúcar e por sua vez se ter baldeado para o nordeste
brasileiro.
Somos igualmente descendentes dos escravos mulatos e negros
alforriados pelo foral de 1515 e seguintes e pelos escravos que foram sendo
sucessivamente libertos pelos seus senhores e pela administração, o último
grupo dos quais ocorreu em 8 de Novembro de 1875, na sequência das sucessivas
reivindicações reclamando a abolição imediata e efectiva da escravatura,
anteriormente já abolida por Decreto de 25 de Fevereiro de 1869.
Contrariando a forma dicotómica como as teses colonialistas
costumam abordar o processo de povoamento das ilhas, referindo-se ao confronto
Europeus livres/Negros escravos, a historiadora portuguesa Isabel Castro
Henriques, com base nos textos portugueses dos séculos XV e XVI, afirma que “
na fase inicial da colonização de São Tomé, que decorre grosso modo até ao
início do segundo quartel do século XVI, verifica-se a coexistência de uma
maioria de Europeus livres com uma fracção minoritária de Africanos livres, de
uma grande inteligência e ricos, mas nem por isso menos activos e participativos
no processo em curso”. (3)
Todos eles deram o seu contributo na formação do que somos hoje,
devendo dizer-se, como o faz o reputado historiador santomense Carlos Neves,
que “ dos povos transferidos, das culturas transportadas, das línguas postas em
convívio, originaram-se importantes sínteses, que deram lugar a um outro
povo”.(4)
Estamos, pois, perante uma sociedade profundamente heterogénea,
constituída por povos das mais diversas proveniências e origens e, por isso
marcada, desde as suas origens, por duas grandes características: a diversidade
e a conflitualidade, que fizeram sempre do arquipélago um verdadeiro caldeirão
de instabilidade política e social.
Do ponto de vista da diversidade, vejamos como se estruturavam
no século XVI, de forma vincadamente hierarquizada, os grupos sociais então
prevalecentes: primeiro, o pequeno núcleo dos europeus, compreendendo por volta
de 1% da população, que, chegados a S. Tomé a partir dos finais do séc. XV e
constituído, na sua maioria, por degradados mandados à força pela justiça,
ocupavam “ o nível hierárquico mais elevado do poder civil, eclesiástico e
militar, o que lhes conferia o controlo do aparelho político e administrativo
e, consequentemente, do sistema económico. De referir que, a maior parte das vezes,
era a capacidade económica que permitia a ascensão a cargos importantes,
principalmente na estrutura militar ou no senado da câmara”.(5)
Em seguida, a elite dos moradores livres da cidade, os moladôs
poçon, ou filhos da terra constituída pelos mestiços, de grande poder económico
e sempre em disputa pelo poder político, sobretudo na nomeação para juízes da
Câmara (como aconteceu, por exemplo, em 1553, aquando do movimento de Yanus
Gato, mais conhecido por Yon Gato), cuja importância social atingiria no século
XVIII hegemonia quase plena, e pelos funcionários e proprietários negros, uma
parte dos quais também senhores de terras e de escravos.
Nas ilhas viviam também os negros forros, escravos libertos, que
odiando o trabalho agrícola que foi sempre o seu e em condições absolutamente
degradantes e de exploração, debandam para a cidade, em busca de um emprego que
não existe.
Apesar da apreciação negativa dos europeus a respeito dos
elementos desse grupo social, a quem chamavam daninhos e preguiçosos, eles trabalhavam
no porto, cuidavam dos escravos em trânsito ou iam negociar ao outro lado da
costa, entregavam-se ao comércio de ocasião ou procuravam desesperadamente uma
vaga no pequeno funcionalismo público…
O arquipélago é ainda espaço de residência dos escravos
domésticos, que constituíam a grande maioria da população. Na prática, todas as
famílias de moradores os possuíam, pois, para além do trabalho gratuito que
proporcionavam, eram testemunhos de poder e alvo da exploração e ostentação
mais descarada por parte dos seus donos. Recorde-se, a esse respeito, que
algumas senhoras dos moradores (mestiças e negras) se deslocavam às compras em
carrinhos de mão carregados por escravas, seguidos por um cortejo de trinta ou
mais destas… Excerto de “https://www.telanon.info/cultura/2019/09/27/30043/quem-somos-nos/
Refere
noticia da Guiné Equatorial, que "O
Programa de Eliminação da Malária na Ilha Bioko (BIMEP) ganhou o Prêmio P3
Impact, que premia os melhores programas no nível mundial, impulsionado por
parcerias de negócios público-privado (P3) e que visam alcançar um mundo
melhor. Pela primeira vez na história dos prêmios Concordia, um programa
vence em duas categorias: Prêmio do Júri pelo melhor Programa e Prêmio do
- "Este prémio é um grande
reconhecimento, não apenas pelo incrível trabalho realizado por essa aliança
única no mundo, mas também testemunha a visão única de liderança de SE, o
Presidente da República, que sabia como ver esta oportunidade única em
benefício de seu povo, do continente africano e da humanidade. Agora é a hora
de cada cidadão estar plenamente consciente do que estamos fazendo e
valorizá-lo como ele é: o possível legado da Guiné Equatorial para o mundo
", declarou
o vice-ministro da Saúde e Bem-Estar Social da Guiné Equatorial, Mitoha Ondo'o
Ayekaba.
O Ministério de Minas e Hidrocarbonetos,
Gabriel Mbega Obiang Lima, orgulha-se do trabalho bem feito e da boa
colaboração que existe entre o Governo e as empresas para a conquista dos
resultados do BIMEP e, portanto, deste prêmio. Por isso, ele agradece ao
povo da Guiné Equatorial e seu Presidente, HE Obiang Nguema Mbasogo, por
orientar sempre as ações que levaram a colocar a Guiné Equatorial no centro da
pesquisa sobre malária na África e no mundo. .
- “O sucesso de um programa como o BIMEP
exige que os parceiros se comprometam financeiramente, em recursos e em uma
determinação de longo prazo. Nunca vacilamos em nosso compromisso e sempre
fomos claros sobre nossos objetivos ”, afirmou Christopher Schwabe,
diretor de desenvolvimento de cuidados médicos internacionais (MCDI).
O BIMEP é resultado da parceria
público-privada das empresas petrolíferas Marathon Oil, Noble Energy e Atlantic
Methanol Production Company (AMPCO), organização não governamental MCDI, Ikara
Health Institute e Swiss Tropical and Public Health Institute , a empresa
Sanaria e o Ministério da Saúde e Bem-Estar Social da Guiné Equatorial.
A Cúpula Anual de Concordia visa criar
associações e vínculos em favor do impacto social e reúne mais de 3.000 pessoas
influentes e criadores de alianças de entidades públicas, privadas e grandes
entidades sem fins lucrativos. O P3 Impact Award é um prêmio criado pela
Escola de Negócios e Sociedade Darden da Universidade da Virgínia, o Escritório
de Associações Globais do Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos
e da Concórdia, que deseja reconhecer e honrar as associações. líderes
público-privados (P3), de colaboração intersetorial, que trabalham para
melhorar as comunidades e o mundo.
O BIMEP alcançou resultados positivos
relacionados à saúde. Após 15 anos, foram alcançados marcos importantes,
como a redução da mortalidade de crianças menores de 5 anos em 63%, a
prevalência de infecção por malária em 76%, a redução de anemia grave -
atribuível à malária - em Crianças menores de 5 anos em 90% e a diminuição da
anemia moderada e grave em mulheres grávidas em 77%.
O BIMEP também lançou as bases para a
introdução de uma vacina contra a malária, por meio da Iniciativa de Vacinas
contra a Malária no Equatoguíneo (EGMVI), que faz parte do Projeto de
Eliminação da Malária na Ilha Bioko. A iniciativa concluiu com êxito três
ensaios clínicos da vacina PfSPZ que demonstram que a vacina é segura,
tolerável e imunogênica em adultos e jovens. A vacina PfSPZ pretende ser a
primeira vacina autorizada contra a malária e a primeira vacina viva de
esporozoítos que protegeria contra qualquer tipo de malária. Os parceiros
do BIMEP esperam que até 2025, intervenções e projetos de vacinas erradiquem
completamente a malária da Guiné Equatorial.
O BIMEP foi finalista do Prêmio Impacto
P3, juntamente com outros projetos de diferentes países: Care 2 Communities
(C2C), que trabalha para o acesso à atenção primária comunitária de alta
qualidade e sustentável no Haiti, o Fórum da Commodity Alliance ( CAF) e o
Programa de Desenvolvimento da Cadeia de Valor (VCDP), que procuram fornecer
aos pequenos produtores de arroz da Nigéria acesso a um mercado lucrativo e
confiável para seus produtos. Os programas “Conservamos La Vida” também
foram finalistas, cujo objetivo é a conservação de uma população viável de
ursos andinos e as “Cadeias de valor para o desenvolvimento rural” que
trabalham nas comunidades de pequenos agricultores etnicamente diversos de
Mianmar.
Fonte: Gabinete de Comunicação do
Vice-Ministro da Saúde e Assistência Social
Gabinete de Informação e Imprensa da Guiné
Equatorial
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lugar, com a menção da fonte do mesmo (Gabinete de Informação e Imprensa da
Guiné Equatorial).