EQUINÓCIO DO OUTONO CELEBRADO JUNTO A UM
CALENDÁRIO E CÂMARA DE RESSONÂNCIA DA PRÉ-HISTÓRIA, COM POEMAS DE JOÃO DE DEUS,
LIDOS POR FAMILIARES
Poemas
de João de Deus, cantados pela esposa de António Ponces de Carvalho,
que também teve a amabilidade de calorosamente nos surpreender com
poemas directamente lidos do magnifico livro, Campo de Flores, que, no
final da cerimónia, gentilmente no-lo ofereceu.
A saudação à chegada do primeiro dia do Outono, que
começou por ser assinalado frente ao frontispício do monumental
megalítico, localizado próximo a uma zona castreja, integrada nas já tradicionais festividades dos
ciclos das estações do ano, acabou por
decorrer também na face voltada a nascente e na Pedra da Audição, uma câmara de ressonância em forma de ouvido, visto ali
os sons, além de lhe vibrarem intensamente no peito e na alma, a quem ali se
recolhe sentado, parecem até expandir-se por todo o Universo
Poeta Manuel
Daniel - Em o “Anjo do Esquecimento” – Na
Celebração do Equinócio do Outono 2019
MANUEL DANIEL –
UMA VIDA INTENSA E MULTIFACETADA – ADVOGADO, POETA, ESCRITOR, DRAMATURGO E
O HOMEM AO SERVIÇO DA CAUSA PÚBLICA -
Tal como havíamos previsto, também aproveitámos para, neste festival poético, lermos poemas do nosso estimado amigo e colaborador, Dr Manuel Daniel, atualmente invisual, que só não esteve presente por via da sua incapacidade física.
Tal como havíamos previsto, também aproveitámos para, neste festival poético, lermos poemas do nosso estimado amigo e colaborador, Dr Manuel Daniel, atualmente invisual, que só não esteve presente por via da sua incapacidade física.
O abraço amigo de profunda gratidão por tão reconfortantes e belas poéticas
palavras, em o Anjo
do Esquecimento - Com encarecidos votos a Deus que lhe devolva a luz
aos seus olhos, que tanto carece, para poder contemplar as maravilhas
da sua criação e as poder sublimar na sua calorosa e sensível verve religiosa e
poética.
-
POETA JOÃO DE DEUS
– EVOCADO COM DUAS DAS SUAS MAIS RECENTES GERAÇÕES: COM A PRESENÇA DO BISNETO
ANTÓNIO PONCES DE CARVALHO E A SUA ESPOSA, E O TRINETO DE 4 ANOS
Momentos de recolhimento, ao lado, na Pedra da Audição ou das Orações |



De recordar que, há dois anos e no âmbito da comemoração dos 100 anos
do Museu João de Deus, a Associação de Jardins-Escola João de Deus foi
distinguida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa com a
Ordem Honorífica de Instrução Pública.
João de Deus de Nogueira
Ramos nasceu em São Bartolomeu de Messines, Algarve, no dia 8 de março de 1830
e faleceu em Lisboa no dia 11 de Janeiro de 1896. Frequentou o curso de Direito
na Universidade de Coimbra e, acabado o curso, dedicou-se ao jornalismo e à
advocacia em Coimbra, Beja, Évora e Lisboa. Ligado inicialmente ao
ultra-romantismo, depressa o abandonou seguindo uma estética muito própria. As
suas poesias foram reunidas na colectânea Campo de Flores, publicada em
1893, incluindo-se nesta duas obras anteriores: Flores do Campo e Folhas
Soltas. Dedicou-se à pedagogia, resultando daí a Cartilha Maternal, publicada em 1876
e tendo como fim o ensino da leitura às crianças. Foi um dos grandes amigos e
admiradores de Antero de Quental. MAIS PORMENORES EM https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Deus_de_Nogueira_Ramos


A VIDA
A vida é o
dia de hoje,
a vida é ai que mal soa,
a vida é sombra que foge,
a vida é nuvem que voa;
a vida é sonho tão leve
que se desfaz como a neve
e como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
mais leve que o pensamento,
a vida leva-a o vento,
a vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
a vida é sopro suave,
a vida é estrela cadente,
voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
onda que o vento nos mares
uma após outra lançou,
a vida – pena caída
da asa de ave ferida -
de vale em vale impelida,
a vida o vento a levou!
a vida é ai que mal soa,
a vida é sombra que foge,
a vida é nuvem que voa;
a vida é sonho tão leve
que se desfaz como a neve
e como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
mais leve que o pensamento,
a vida leva-a o vento,
a vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
a vida é sopro suave,
a vida é estrela cadente,
voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
onda que o vento nos mares
uma após outra lançou,
a vida – pena caída
da asa de ave ferida -
de vale em vale impelida,
a vida o vento a levou!
João de Deus
O
Sol na marcha luminosa voa
Lançando
à terra majestoso olhar;
Passa cantando quem o ar povoa,
E
a praia abraça venturoso o mar.
No
bosque o vento doce canto entoa,
Ouvem-se
em coro as multidões cantar:
Que
a um só triste o coração lhe doa,
Que eu seja o único a sofrer, penar!
Por
ti, saudade... de quem vai tão perto·
E
a quem dos olhos e das mãos perdi
Neste
tão ermo, lúgubre deserto!
Por
ti, ventura ... que uma vez senti;
Por
ti que às vezes a meu peito aperto
E ... o peito aperto sem te ver a ti!
MARIA DA LUZ PONCES DE CARVALHO - QUE TIVE O PRAZER DE CONHECER - TAMBÉM RECORDÁMOS O SEU NOME

Maria
da Luz de Deus Ramos Ponces de Carvalho (Lisboa/27.06.1918 –
08.12.1999/Lisboa), nascida alfacinha na freguesia de São Sebastião da
Pedreira, foi a principal continuadora da obra de seu avô e de seu pai,
exercendo a partir de 1943 trabalho educativo nos Jardins-Escolas João
de Deus e leccionando em simultâneo a disciplina de Educação Sensorial
no Curso de Educadoras de Infância pelo Método João de Deus..https://toponimialisboa.wordpress.com/2015/10/12/o-jardim-da-neta-de-joao-de-deus/
HOJE SEUS OLHOS JÁ NÃO PODEM CONTEMPLAR A LUZ DO DIA -
ESTÁ COMPLETAMENTE CEGO - Os seus belos versos fazem parte das
tradicionais celebrações evocativas nos Templos do Sol - São
indispensáveis.
A
sua vida tem sido pautada pela dedicação mas também pela descrição.
Atualmente, debatendo-se com extremas limitaçoes da sua vista, por via
de ter ficado completamente cego, no entanto, pese tão dura limitação,
nem por isso a verbe do poeta se esgota e, dentro do que lhe é
possível, com apoio amigo da família, lá vai compondo os seus versos e
editando livros. Em cujos poemas perpassa o que de melhor têm a poesia
portuguesa - Domina com mestria os mais diversos géneros poéticos e
neles se expressa, a par de um profundo sentimento de religiosidade, o
amor à terra, à natureza, aos espaços que lhe são queridos, suas
inquietações e interrogações, sobre a efemeridade da vida e o destino
do Homem - Em Manuel Pires Daniel, não há jogo de palavras mas palavas
que vêm do coração, que brotam naturalmente, como água da melhor
fonte, que corre das entranhas do xisto ou do granito da nossa terra
Anjo do
Esquecimento
Ao Jorge Trabulo
Marques
Não é a brisa,
não. Muito menos o vento.
É o Anjo de Letes,
Anjo do Esquecimento.
Um Ser
predestinado p’ra ajudar na viagem
para a Eternidade,
que está na outra margem.
Veio já uma vez,
sem se ter feito nada.
Com a alma
confusa, a vez foi adiada.
Não tem critério a
vez, nem ninguém a conhece.
A viagem sucede
quando o Anjo aparece.
Segue-se na visita
o usual programa.
É uma rotina,
certa, quando o anjo nos chama.
Ninguém pode levar
riquezas ou dinheiro.
Só leva uma moeda
p ́ra pagar ao barqueiro.
Já a meio do rio,
sabe nesse momento
que perde para
sempre o seu conhecimento.
E ante a Suprema
Luz, após sentença breve,
dá-se a
retribuição conforme a vida teve.
A segunda visita
veio sem ser marcada.
Está distraída a
alma, e mais, muito ocupada.
O Anjo, renitente,
não pára de insistir:
-"Não foi da
outra vez, agora temos de ir." –
Há um abismo em
mim, por falta de vontade.
Não me sinto capaz
nesta oportunidade.
Nem uma despedida
eu já tentara ainda.
Como posso partir,
se esta vida é tão linda!
O mundo está
perdido; há mal em todo o lado,
mas não conheço
espaço que dê maior agrado.
Como posso perder
as cores do arrebol,
a tarde
extraterrestre de um lindo pôr do Sol!
Deixar de ver as
cores de belas mariposas,
volteando em
canteiros de lírios e de rosas.
Deixar de ouvir
crianças de risos cristalinos!
E em capelinhas
brancas a doce voz dos sinos!
Como posso deixar
um mundo tão bonito
por um sonho
ignorado tirado ao infinito.
Só Deus e o homem
podem viver uma afeição.
Os anjos não
possuem tão grande coração.
Eu não posso
deixar nenhum dos meus recantos;
estão cheios de
saudades, estão neles os meus encantos.
Não tem preço a
beleza que vai do vale à serra.
Eu não posso deixar-te,
gente da minha terra!
Anjo, não tenho
força. Falece-me a coragem.
Como posso deixar
de fazer a viagem?
Nem Deus me
perdoava se eu fosse embora assim!
Anjo do
Esquecimento, Esquece-te de mim!
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