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terça-feira, 24 de setembro de 2019

Equinócio do Outono 2019-09-23 de Setembro - Celebrado nos Templos do Sol, aldeia de Chãs. Foz Côa, com esplendorosos momentos de poesia de João de Deus e Manuel Daniel

EQUINÓCIO DO OUTONO CELEBRADO JUNTO A UM CALENDÁRIO E CÂMARA DE RESSONÂNCIA DA PRÉ-HISTÓRIA, COM POEMAS DE JOÃO DE DEUS, LIDOS POR FAMILIARES

Jorge Trabulo Marques - Coordenador  - Vídeos musicados com algumas das canções cantadas na Igreja de Santo António, em Lisboa, no passado dia 13 de Junho 





O primeiro dia do Outono 2019, no Hemisfério Norte, entrou oficialmente esta manhã, dia 23 de Setembro, exatamente às 08:50, tendo sido  celebrado, momentos antes, no monte dos Tambores, aldeia de Chãs, Vila Nova de Foz Côa,  junto ao altar sacrificial do Santuário Rupestre da Pedra da Cabeleira de Nª Srª, com os raios solares a atravessarem a sua  graciosa gruta, em forma de semi-arco, com a leitura de belos momentos de poesia de João de Deus e de Manuel Daniel  

Poemas de João de Deus, cantados pela esposa de António Ponces de Carvalho, que também teve a amabilidade de  calorosamente nos surpreender com  poemas directamente lidos do magnifico livro, Campo de Flores, que, no final da cerimónia, gentilmente no-lo ofereceu. 





A saudação à chegada do primeiro dia do Outono, que começou por ser assinalado frente ao frontispício   do monumental  megalítico, localizado próximo a uma zona castreja,  integrada nas já tradicionais festividades dos ciclos das estações do ano,  acabou por decorrer também na face voltada a nascente e na  Pedra da Audição,   uma câmara de ressonância em forma de ouvido, visto ali os sons, além de lhe vibrarem intensamente no peito e na alma, a quem ali se recolhe sentado, parecem até expandir-se por todo o Universo 








 
Poeta Manuel Daniel -  Em o “Anjo do Esquecimento” – Na Celebração do Equinócio do Outono 2019 
MANUEL DANIEL –  UMA VIDA INTENSA E MULTIFACETADA – ADVOGADO, POETA, ESCRITOR, DRAMATURGO E O HOMEM AO SERVIÇO DA CAUSA PÚBLICA  -


Tal como havíamos previsto, também aproveitámos para, neste festival poético, lermos poemas do nosso estimado amigo e colaborador, Dr Manuel Daniel, atualmente invisual,  que só não esteve presente por via da sua incapacidade física.

  O abraço amigo de profunda gratidão por tão reconfortantes e belas poéticas palavras, em  o  Anjo do Esquecimento - Com encarecidos votos a Deus que lhe devolva a luz aos seus olhos, que tanto carece,  para poder  contemplar as maravilhas da sua criação e as poder sublimar  na sua calorosa e sensível verve  religiosa e poética.




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A manhã irrompeu fresca, com algumas névoas  a toldar o  céu,  quase a fazer-nos lembrar a instabilidade do último  Sábado e Domingo, todavia, à medida que o astro-rei subia a nascente, os seus luminosos raios,  mais se espelhavam esplendorosos,  como que a abençoar os  frutos e as colheitas, especialmente as vindimas, que é justamente o tempo em que decorrem por estas bandas do Douro e beira-transmontana, embora com muito suor e esforço, mas em jeito de festa, em que se recolhem os bagos das uvas para produzir o vinho generoso, o mundialmente tão conhecido e precioso néctar do vinho do Porto.

Repetiu-se, pois, uma vez mais, de forma singela e desprendida, a tradição que pretende recuperar antiquíssimos rituais, esquecidos no tempo, dos homens, que viviam e se abrigavam nas cavernas dos penhascos de granito, que por aqui  se erguem como inexpugnáveis  e cinzentas muralhas encasteladas, cujas vidas dependiam exclusivamente dos ciclos da Natureza, que cultuavam e celebravam, nos seus observatórios astronómicos e locais de culto – Eram os adoradores do Sol, o Deus Mais Antigo da Terra, fonte da vida de todas as formas existentes nos mares e à superfície  do nosso planeta.


A estação do Outono é o inicio da despedida do Verão, com os dias em geral ainda  amenos, mas trazendo consigo mais frio e chuva, e o cair das folhas amarelas. Em Portugal, o outono termina 22 de dezembro, às 4h19, dando início ao inverno. dando lugar ao Solstício de Inverno.

Os equinócios ocorrem duas vezes por ano, na primavera e no outono, nas datas em que o dia e a noite têm igual duração. A partir daqui até ao início do outono, o comprimento do dia começa a ser cada vez maior e as noites mais curtas, devido ao Sol percorrer um arco mais longo e mais alto no céu todos os dias, atingindo uma altura máxima no início do Solstício de Verão. É exatamente o oposto no Hemisfério Sul, onde o dia 20 de março marca o início do Equinócio de Outono. http://oal.ul.pt/equinocio-da-primavera-2019/

 O enorme penedo,  visto de leste para oeste, prefigura um enorme crânio, como que pronto a ser decepado - daí  ser classificado, pelo arqueólogo e etnógrafo, Prof Adriano Vasco Rodrigues, como um local de culto ou de sacrifício, possui uma gruta em forma de semi-arco, com cerca da 4,5 metros de comprimento, que é iluminada no seu eixo no momento em que o Sol se ergue no horizonte, proporcionando uma imagem invulgar, tal como hoje voltou a ser testemunhada,  na  face que se abre em forma de radioso leque para quem se posicione no alinhamento sagrado, de costas a poente, que passa perpendicularmente ao muro e  às pedras que o balizam, como verdadeiro calendário astronómico.

POETA JOÃO DE DEUS – EVOCADO COM DUAS DAS SUAS MAIS RECENTES GERAÇÕES: COM A PRESENÇA DO BISNETO ANTÓNIO PONCES DE CARVALHO E A SUA ESPOSA, E O TRINETO DE 4 ANOS 

A celebração foi anunciada, na missa dominical, graças à gentileza do parco da freguesia, mesmo assim, com a aldeia envolvida nas vindimas,  numa terra igualmente marcada pela desertificação, não era fácil congregarmos os mesmos participantes da celebração do solstício do passado mês de Junho, que decorre do fim  da tarde ao pôr-do-sol, enquanto esta decorre  com  o astro-solar a levantar-se a oriente, no entanto, damo-nos por satisfeito por termos podido contar com um  caloroso grupo de amigos, que saudaram  o inicio da Estação dos frutos e das colheitas,, dir-se-ia de coração em festa, deslumbrados pelo fabuloso fenómeno solar, a que puderem assistir e  também pelos  belos momentos poéticos, vividos no interior do recinto  amuralhado.

Momentos de recolhimento, ao lado,  na Pedra da Audição ou das Orações
A bem dizer, tantas foram as emoções, que não é fácil  como descrever a celebração que dedicamos a este primeiro dia,  em que a luz e as trevas se repartem, em que o dia é igual à noite, não apenas pelo prazer renovado de poder contemplar uma das maravilhas, que nos legaram os homens da pré-história, mas também pelo caloroso convívio amistoso e poético proporcionado pelo pequeno grupo de participantes.

Sim, além dos habituais amigos, que vêm colaborando nas tradicionais festividades, que vimos organizando desde há cerca de 20 ANOS,  nomeadamente de António Lourenço, José Lebreiro,  Agostinho Soares, Hermínio Lemos, assim, como das reportagens fotográficas de Pedro Daniel e Adriano Ferreira,  quem haveria de imaginar, se bem que já constitua uma tradição a leitura de poemas e a evocação de poetas,  que, a nossa singela celebração de hoje, ia contar com a honrosa e amável presença de duas gerações do poeta João de Deus: do seu bisneto, Prof Doutor António Ponces de Carvalho, sua esposa e filho, o trineto –  associaram-se à leitura dos poemas de João de Deus,   um dos quais cantado pela Filomena
CELEBRAMOS A BELA POESIA DE JOÃO DE DEUS - Com poemas extraídos do livro CAMPO DE FLORES,  que a sua neta, amavelmente  nos  autografou e ofereceu   -  E, agora, também diretamente da mesma obra, magnificamente ilustrada e editada pela Associação  de Jardins-Escola João de Deus, que o seu Presidente,  Prof Doutor António Ponces de Carvalho, teve a gentileza de nos ofertar.


Associação de Jardins-Escolas João de Deus, com sede em Lisboa e  fundada em 1882, sob o nome Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus,  é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) dedicada à educação e à cultura cuja atividade se reparte pela ESE João de Deus e por 37 Jardins-Escolas distribuídos pelo país.
De recordar que, há dois anos e no âmbito da comemoração dos 100 anos do Museu João de Deus, a Associação de Jardins-Escola João de Deus foi distinguida pelo  Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa com a Ordem Honorífica de Instrução Pública.


João de Deus de Nogueira Ramos nasceu em São Bartolomeu de Messines, Algarve, no dia 8 de março de 1830 e faleceu em Lisboa no dia 11 de Janeiro de 1896. Frequentou o curso de Direito na Universidade de Coimbra e, acabado o curso, dedicou-se ao jornalismo e à advocacia em Coimbra, Beja, Évora e Lisboa. Ligado inicialmente ao ultra-romantismo, depressa o abandonou seguindo uma estética muito própria. As suas poesias foram reunidas na colectânea Campo de Flores, publicada em 1893, incluindo-se nesta duas obras anteriores: Flores do Campo e Folhas Soltas. Dedicou-se à pedagogia, resultando daí a Cartilha Maternal, publicada em 1876 e tendo como fim o ensino da leitura às crianças. Foi um dos grandes amigos e admiradores de Antero de Quental. MAIS PORMENORES EM https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Deus_de_Nogueira_Ramos




A VIDA

A vida é o dia de hoje,
a vida é ai que mal soa,
a vida é sombra que foge,
a vida é nuvem que voa;
a vida é sonho tão leve
que se desfaz como a neve
e como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
mais leve que o pensamento,
a vida leva-a o vento,
a vida é folha que cai!

A vida é flor na corrente,
a vida é sopro suave,
a vida é estrela cadente,
voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
onda que o vento nos mares
uma após outra lançou,
a vida – pena caída
da asa de ave ferida -
de vale em vale impelida,
a vida o vento a levou!

João de Deus 



VENTURA

O Sol na marcha luminosa voa
Lançando à terra majestoso olhar;
 Passa cantando quem o ar povoa,
E a praia abraça venturoso o mar.

No bosque o vento doce canto entoa,
Ouvem-se em coro as multidões cantar:
Que a um só triste o coração lhe doa,
 Que eu seja o único a sofrer, penar!

Por ti, saudade... de quem vai tão perto·
E a quem dos olhos e das mãos perdi
Neste tão ermo, lúgubre deserto!

Por ti, ventura ... que uma vez senti;
Por ti que às vezes a meu peito aperto
 E ... o peito aperto sem te ver a ti!

João de Deus – Do livro Campo de Flores

 


 


 MARIA DA LUZ PONCES DE CARVALHO - QUE TIVE O PRAZER DE CONHECER  - TAMBÉM RECORDÁMOS O SEU NOME

Neta de João de Deus, o autor da Cartilha Maternal (1876), e filha do pedagogo João de Deus Ramos, foi inscrita na toponímia de Lisboa a também educadora Maria da Luz Ponces de Carvalho, pelo Edital de 03/07/2008, no eixo pedonal entre as Malhas 19 e 20.1 do Plano de Urbanização do Alto do Lumiar que passou a ser um Jardim, com uma área de 0,37 ha, na então Freguesia da Charneca e hoje, de Santa Clara.
Maria da Luz de Deus Ramos Ponces de Carvalho (Lisboa/27.06.1918 – 08.12.1999/Lisboa), nascida alfacinha na freguesia de São Sebastião da Pedreira,  foi a principal continuadora da obra de seu avô e de seu pai, exercendo a partir de 1943 trabalho educativo nos Jardins-Escolas João de Deus e leccionando em simultâneo a disciplina de Educação Sensorial no Curso de Educadoras de Infância pelo Método João de Deus..https://toponimialisboa.wordpress.com/2015/10/12/o-jardim-da-neta-de-joao-de-deus/
POETA  MANUEL J. PIRES DANIEL   Nasceu em Vila de Meda (hoje cidade) em 18 de Novembro de 1934. Sem dúvida, um admirável exemplo de labor e de tenacidade, de apaixonado pelas letras e de sentido e dedicação ao bem comum – Nos seus livros, perpassam prefácios elogiosos, tanto pelo Presidente da Câmara de Meda, a sua terra, como de Vila Nova de Foz Côa, onde foi Presidente da Assembleia Geral, entre outras altas funções.

HOJE SEUS OLHOS JÁ NÃO PODEM CONTEMPLAR A LUZ DO DIA  - ESTÁ COMPLETAMENTE CEGO  -  Os seus belos versos fazem parte das tradicionais celebrações evocativas nos Templos do Sol   - São indispensáveis.


MANUEL DANIEL –  UMA VIDA INTENSA E MULTIFACETADA – ADVOGADO, POETA, ESCRITOR, DRAMATURGO E O HOMEM AO SERVIÇO DA CAUSA PÚBLICA

 A sua vida tem sido pautada pela dedicação mas também pela descrição. Atualmente, debatendo-se com extremas limitaçoes da sua vista, por via de ter ficado completamente cego, no entanto, pese tão dura limitação, nem por isso a verbe do poeta se esgota  e, dentro do que lhe é possível, com apoio amigo da família, lá vai compondo os seus versos e editando livros.  Em cujos poemas  perpassa o que de melhor têm a poesia portuguesa -  Domina com mestria os mais diversos géneros poéticos e neles se expressa, a par de um  profundo sentimento de religiosidade, o amor à terra, à natureza, aos espaços que lhe são queridos,  suas inquietações e interrogações, sobre a efemeridade da vida  e o destino do Homem - Em Manuel Pires Daniel, não há jogo de palavras mas palavas que vêm  do coração, que brotam  naturalmente, como água da  melhor fonte, que corre das entranhas  do xisto ou do granito da nossa terra

Anjo do Esquecimento
Ao Jorge Trabulo Marques

Não é a brisa, não. Muito menos o vento.
É o Anjo de Letes, Anjo do Esquecimento.

Um Ser predestinado p’ra ajudar na viagem
para a Eternidade, que está na outra margem.

Veio já uma vez, sem se ter feito nada.
Com a alma confusa, a vez foi adiada.

Não tem critério a vez, nem ninguém a conhece.
A viagem sucede quando o Anjo aparece.

Segue-se na visita o usual programa.
É uma rotina, certa, quando o anjo nos chama.

Ninguém pode levar riquezas ou dinheiro.
Só leva uma moeda p ́ra pagar ao barqueiro.

Já a meio do rio, sabe nesse momento
que perde para sempre o seu conhecimento.

E ante a Suprema Luz, após sentença breve,
dá-se a retribuição conforme a vida teve.

A segunda visita veio sem ser marcada.
Está distraída a alma, e mais, muito ocupada.

O Anjo, renitente, não pára de insistir:
-"Não foi da outra vez, agora temos de ir." –

Há um abismo em mim, por falta de vontade.
Não me sinto capaz nesta oportunidade.

Nem uma despedida eu já tentara ainda.
Como posso partir, se esta vida é tão linda!

O mundo está perdido; há mal em todo o lado,
mas não conheço espaço que dê maior agrado.

Como posso perder as cores do arrebol,
a tarde extraterrestre de um lindo pôr do Sol!

Deixar de ver as cores de belas mariposas,
volteando em canteiros de lírios e de rosas.

Deixar de ouvir crianças de risos cristalinos!
E em capelinhas brancas a doce voz dos sinos!

Como posso deixar um mundo tão bonito
por um sonho ignorado tirado ao infinito.

Só Deus e o homem podem viver uma afeição.
Os anjos não possuem tão grande coração.

Eu não posso deixar nenhum dos meus recantos;
estão cheios de saudades, estão neles os meus encantos.

Não tem preço a beleza que vai do vale à serra.
Eu não posso deixar-te, gente da minha terra!

Anjo, não tenho força. Falece-me a coragem.
Como posso deixar de fazer a viagem?

Nem Deus me perdoava se eu fosse embora assim!
Anjo do Esquecimento, Esquece-te de mim!

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