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quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Toponímia portuguesa e autóctone em São Tomé e Príncipe - Estudo das principais características dos topónimos e das expressões toponímicas da República Democrática de São Tomé e Príncipe (STP – Por Armanda Macedo Balduino e Gabriel Antunes de Araújo


Jorge Trabulo Marques - Jornalista  -  Fotos de minha autoria  - Com excertos de  um interessante estudo  de uma nova publicação sobre a origem linguística dos nomes dos lugares em São Tomé e Príncipe - 

Mais um importante contributo para o conhecimento das principais características dos topónimos e das expressões toponímicas da República Democrática de São Tomé e Príncipe (STP).

Refere o estudo que, “os topónimos, devido à sua natureza motivada, além de identificar localidades, estão relacionados a diversos aspectos físicos e antropoculturais de uma determinada comunidade linguística. Por constituírem marcadores linguísticos de tempo e de lugar, referindo a épocas passadas, na qual o ato de nomeação foi concretizado, os topônimos concedem pistas acerca de fatos históricos, sociais e culturais de uma comunidade, caracterizando a toponímia como uma área transdisciplinar, que não somente pode contribuir para estudos de diversas naturezas, mas também utiliza recursos extralinguísticos em suas análises (CARVALINHOS, 2009).

(…) A República Democrática de São Tomé e Príncipe é um país da costa oeste africana, no Golfo da Guiné, cuja população é de aproximadamente 180 mil indivíduos (INE, 2012)1 . Inicialmente desabitada, a colonização inicial de STP favoreceu o surgimento de uma língua crioula (FERRAZ, 1979, BANDEIRA, 2017, BANDEIRA, ARAUJO e FINBOW, 2019.) Posteriormente, fatores como o isolamento, a remoção de certos grupos de falantes das ilhas, as contribuições linguísticas de línguas africanas, a atuação criativa dos falantes locais e o influxo constante de novos atores promoveram a especiação dessa língua: ao longo do século XVI, o santome (código ISO 639-3: CRI) se desenvolveu nos centros coloniais (urbanos e rurais) da ilha de São Tomé, enquanto o angolar (ISO 639-3: AOA) é a língua dos descendentes de escravos fugidos dos engenhos que formaram quilombos; outros grupos de falantes foram levados à ilha do Príncipe e à ilha de Ano Bom, onde as condições locais contribuíram para sua especiação dando origem ao lung’Ie (ISO 639-3: PRI) e ao fa d’Ambô (ISO 639-3: FAB), respectivamente (BANDEIRA, 2017, ARAUJO, 2020). Além disso, o kabuverdianu (ISO 639-3: KEA) também é falado no arquipélago, por ser a língua de herança dos descendentes dos trabalhadores oriundos de Cabo Verde, chegados no final do século XIX e ao longo do séulo XX. Apesar deste cenário multilinguístico, em STP, somente o português goza o status de língua oficial, marco estabelecido no momento da emancipação política de Portugal em 1975. De acordo com o censo do Instituto Nacional de Estatística de São Tomé e Príncipe (INE, 2012), cerca de 98,4% da população se declara falante da língua portuguesa. 

 

São Tomé e Príncipe se configurou, desde a chegada dos portugueses no século XV, como um lugar de convivência, nem sempre pacífica, entre populações distintas do ponto de vista étnico e linguístico. Por conseguinte, nesse cenário multilíngue, a toponímia local reflete essa diversidade. Dessa forma, uma descrição do perfil toponímico santomense pode contribuir com os estudos sobre a realidade multilíngue do país, como também fornecer pistas acerca da presença dos grupos étnicos do arquipélago, bem como das línguas faladas por tais grupos. Por fim, além de esclarecer aspectos relacionados à constituição demográfica de STP, o estudo dos topônimos do arquipélago pode alimentar a discussão a respeito do status social reservado às línguas nacionais ali faladas e auxiliar a proposição de questões de política linguística do país. 

É preciso considerar, no entanto, que a despeito das semelhanças promovidas pelo compartilhamento da língua portuguesa pelos países africanos de língua oficial portuguesa e pela história desses países, não é razoável pressupor que o perfil toponímico santomense seja equivalente a uma simples reprodução dos perfis toponímicos de Portugal ou dos países africanos de colonização portuguesa. Há outros fatores linguísticos e extralinguísticos, como a constituição de seus grupos étnicos e suas línguas, o contato linguístico, acontecimentos políticos e históricos, entre outros aspectos, que atuam na formação de topônimos e caracterizam a toponímia local como única. Desse modo, além das semelhanças esperadas entre a toponímia santomense e portuguesa, conjectura-se, também, a possibilidade de que topônimos sejam criados conforme a realidade geográfica, social, histórica e linguística de STP, sendo, por isso, um locus privilegiado da memória e da ecologia linguística santomense. O texto está organizado da seguinte forma: na seção 2, apresentamos a abordagem metodológica e nosso corpus. Na seção 3, propomos uma análise do perfil toponímico santomense, seguida pelas considerações finais na seção 4.

 

(---)  Os topónimos em línguas autóctones podem ser atribuídos, principalmente, ao santome, embora haja, na Região Autónoma do Príncipe, topónimos em lung’Ie. Em (3) e (4), podemos observar alguns topónimos formados com itens lexicais do santome e do lung’Ie, respectivamente4. (3) a. Cabalo Molê b. Ubua Coconja c. Libadoque (4) a. Ximalô b. Lentá Piá [kaˈbalu moˈle] [ˈubwa koˈkõdʒa] [ˈliba dɔˈke] [ʃiˈmalo] [lẽˈta ˈpja] lit5. ‘cavalo morto’ lit. ‘cerca de coqueiros’ lit. ‘cimo’ lit. ‘topo’ lit. ‘entre e olhe’ Em (3), os itens do sintagma toponímico foram recuperados do Dicionário santome-português/português-santome (ARAUJO & HAGEMEIJER, 2013), ao passo que, em (4), a classificação dos topônimos provém de um glossário do lung’Ie (AGOSTINHO, 2014). Em (3.b), por exemplo, piá [ˈpja] equivale a ‘olhar’ em lung’ie e em santome, e lenta [lẽˈta] é atestado como ‘entrar; entrada’ (cf. AGOSTINHO, 2014) em ambas as línguas (ver Araujo & Hagemeijer, 2013, p. 58). Considerando que o topônimo Lentá Piá é empregado na Ilha do Príncipe, assumimos Lentá Piá como um topônimo construído a partir de itens lexicais do lung’Ie. No que diz respeito à estrutura dos topônimos nas línguas autóctones, é possível observar que além de corresponderem a nomes comuns toponimizados, podem ser formados por um item genérico mais uma palavra específica, caracterizando um sintagma toponímico, ou também ser constituído por itens lexicais reduplicados na língua fonte. Os topônimos compostos por apenas um substantivo comum, no geral, equivalem a um genérico toponimizado (5.a), a um substantivo abstrato (5.b), ou, de modo mais recorrente, fazem referência à flora local (5.d-f). – Pormenores em 

https://zenodo.org/record/4059056#.X3YKKWhKi00

 

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