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domingo, 18 de setembro de 2022

Náufragos das pirogas santomenses – 10 dias à deriva do sul de S. Tomé aos Camarões - Frequentes os naufrágios nos mares dos tornados e tubarões no Golfo da Guiné

Jorge Trabulo Marques - Jornalista

Não há episódio mais dramático, que o protagonizado por um náufrago. Já o vivi. Mais uma vez o drama tocou a dois corajosos pescadores, Severino e Octávio, que, por avaria do motor, depois de terem partido para a faina no mar de Porto Alegre, estivaram 10 dias a deriva no alto mar antes de terem passado por uma ilha cujo nome não fixaram para três dias depois chegarem a fronteira dos Camarões, onde permaneceram por vários dias, tendo regressado a S. Tomé, 45 dias depois de terem sido dados como desaparecidos no alto mar do arquipélago.



De acordo com as declarações a STP-Press, ambos pescadores congratularam-se com a solidária intervenção do cidadão Delfim Neves, Presidente do Parlamento que em parceria com Consolado são-tomense nos Camarões conseguiu colocá-los de regressa ao território são-tomense.


Em Julho de 2014, Idalécio, de 22 anos, e, José António, de 49, pescadores nas canoas da Praia Melão, em São Tomé, andaram cinco dias perdidos no mar, viveram um drama, que dificilmente jamais esquecerão para o resto da vida, até serem resgatados por uma traineira na costa nigeriana - Quando se viram sozinhos na canoa, na solidão imensa do mar, o cenário pareceu-lhes o fim do mundo – Rezaram e pediram que Deus lhes desse coragem - E a fé – que é um bom suplemento à confiança – salvou-os!

É tema, de ontem, de hoje e de sempre. Seja qual for o oceano, há em todas as águas, em todos os mares, vidas tragadas pela violência das vagas ou que sucumbem, vítimas da incerteza ou do desespero, do um atroz sofrimento da fome e da sede.

Só quem passou por essa terrível situação, sabe avaliar quão angustiosos são esses dias e noites de abandono e incerteza – Especialmente a bordo de uma frágil canoa – E, de facto, são muito frequentes os desaparecimentos de pescadores nas canoas, nos mares em torno destas maravilhosas Ilhas do Equador. De volta e meia, sucedem noticias destes dramas. Por vezes, com desfecho feliz, porém, mais das vezes, é o pescador que parte ou pescadores que partem da sua praia e nunca mais voltam.

Já me referi a esta questão, em postagens anteriores deste meu blogue – Nomeadamente, a uma reportagem que cheguei a publicar, antes do 25 de Abril, na Revista na revista Semana Ilustrada, de Luanda, de que era correspondente, em São Tomé – Porém, creio que pela primeira vez, já que estes dramas, geralmente passavam à ,margem das preocupações coloniais.


"Foi no dia 12 de Junho de 1972, que Manuel Quaresma e Fernando Afonso - aquele com 32 e este com 40 anos - se fizeram na sua canoa ao mar. Largaram de manhã cedinho, como habitualmente. O sol, muito brilhante nesse dia, nascera-lhes lá fora, ao largo. Com eles, outros companheiros de faina, partiram em suas canoas. Iam pescar, para algumas milhas mas com a Ilha sempre à vista. A tê-la constantemente a seu lado, pois nenhum deles possui processos de orientação. Pescar era pois o objectivo de todos. E o de voltar, como não podia deixar de ser. Porém, para Manuel Quaresma e Fernando Afonso, tal não aconteceria. Um tornado surpreendeu-os, deixou-os desorientados e completamente à deriva. Eram mais ou menos duas da tarde quando isso aconteceu. O mar ficou de calema, segundo a linguagem sua, a ilha encoberta por densa neblina e o horizonte esfumou-se. A partir de então ficaram sem saber em que ponte se encontravam e para onde navegavam.

(...) Salvos cinco dias depois

Não foi tanto a fome que os martirizou mas a sede - "Para mitigar a sede, sobretudo a secura dos lábios e da boca, que a ardência de um sol forte, equatorial, impiedoso, os causticava, valeram-se de óleo de palma (imagine o leitor qual não terá sido a aflição dos pobres homens para chegar a este ponto!) e chuparem os próprios chumbos para criarem saliva na boca" (....) Eram decorridos já cinco dias e cinco noites, quando finalmente, viram contornos de terra


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