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domingo, 7 de maio de 2023

Dia da Mãe - Recordando Minha Mãe! - Perdi-a longe dos seus olhos! Era militar em S. Tomé - Tive a premonição. - Teu ventre me fez aventureiro... Aos 15 anos já eu subia as cordas da Torre de Sagres... Longe de imaginar os tormentosos 38 dias numa canoa a navegar...

Dia das Mães ou Dia da Mãe  é uma data comemorativa que homenageia anualmente a figura familiar materna (mãe) e a maternidade. A data de comemoração varia de acordo com o país. Em Portugal e nos PALOP é comemorado no primeiro domingo do mês de maio e no Brasil no segundo domingo do mês de maio.

Jorge Trabulo Marques 


"Adeus meu filho, que já não te volto a ver" - Despediu-se de mim, com o último beijo ao 18 anos quando partia para um estágio de técnico agrícola numa roça em S. Tomé -

E, de facto, não se enganou, tal como a premonição, que eu tive, no dia da sua morte, então militar em S. Tomé, antes mesmo de receber o telegrama a dar-me a triste notícia. Hoje lamento a tropa não me ter autorizado a ir dar-lhe o último abraço, quando o câncer minava a sua saúde e tanto desejava voltar a beijar-me e abraçar-me - Sim, vim a saber que todos os dias, se lembrava de mim... Só fui depois autorizado a usar na camisa uma fita de luto


Saudosa Querida Mãe|! Não chegaste a conhecer as minhas aventuras marítimas nas canoas de S. Tomé, nem tão pouco me voltaste a abraçar depois do último beijo que me deste por detrás do postigo quando parti para S. Tomé. Sei que sofreste muito pela minha ausência e também eu por não te voltar a ver mais.

Partira para S. Tomé, em meados de Novembro de 1963, a bordo do paquete Uíge para concluir um estágio da Escola Agrícola de Santo Tirso, na Roça Uba-Budo, mas onde não encontraria o mínimo de condições, devido à rudeza e prepotência colonialista, a raiar o esclavagismo, com que ali me confrontei


Treinos na canoa, S. Tomé-Príncipe
Era jovem e alimentava um mundo de sonhos mas o que fui ali conhecer, naqueles primeiros anos, na beleza paradisíaca de uma Ilha equatorial, foram desilusões e humilhações, umas atrás das outras – Só 12 anos mais tarde voltaria à minha aldeia mas já não ia encontrar a minha mãe viva, que falecera, ao fim de um penoso calvário de doença prolongada, quando eu prestava serviço militar nesta antiga colónia portuguesa.

Sabendo da gravidade da doença que então minha mãe padecia, fiz todos os esforços, junto a instituição militar para a poder visitar mas não fui autorizado: pois a mentalidade da tropa colonial não se compadecia com sentimentos pessoais - Deixara a minha aldeia aos 18 anos e nunca mais a voltaria a ver.

Dizia-me ela no momento da despedia, em que me dava o último beijo: adeus meu filho, que já não te volto a ver - E, de facto, não se enganou, tal como a premonição, que eu tive, no dia da sua morte, antes mesmo de receber o telegrama a dar-me a triste notícia.

VI O FUNERAL DA MINHA MÃE, COMO SE ESTIVESSE A ACOMPANHAR O CORTEJO FÚNEBRE ATRÁS DA SUA URNA ATÉ AO CEMITÉRIO

Foi num Domingo. E, como havia estado de serviço de véspera, após almoço resolvi deitar-me e descansar um pouco Adormeci e, uma hora e meia ou duas depois, acordei a chorar - E porquê? Acabava de assistir, com os olhos rasos de lágrimas, ao funeral de minha mãe a dirigir-se para o cemitério - Com tal evidência e clareza, com tal pormenor, que era como se eu próprio estivesse incorporado no cortejo fúnebre atrás da urna. Via os olhos chorosos do meu pai e dos meus irmãos, Ouvia os sons dos sinos e a sineta a finados e via os seus rostos, todos exprimindo a sua inconformável dor. De tal modo que eu próprio, também sentia a mesma emoção. Acordei a chorar. - Já um dia fiz este relato num jornal.

E assim lá ficou aquele abraço por repetir, o abraço choroso, de uma despedida vertida de lágrimas, quando me beijou e me abraçou à porta do postigo da nossa casa.

Olhe, mãe, se há coisas que não me esquecem, aquele momento é um deles: "Adeus meu filho que nunca mais te volto a ver!" - Foi exatamente assim - naquela sua voz repassada Já de dor e de saudade, e ainda estava a abalar: ainda mal dava os passos do adeus.

Vi-a, depois, limpar as lágrimas ao avental, mas, claro ,longe de acreditar no que te ouvia. Simplesmente lágrimas, sofrimento, dor de mãe, pensava eu. Como foi possível que adivinhasse?

Será que às mães é dado esse dom - esse terrível dom de poderem futurar dolorosas separações? De pressagiarem os maus destinos, entrar nos desígnios da morte e da vida, antever a  de vínculos que as possam desligar das coisas que mais queridas lhes são - os filhos?



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