Na imagem à direita sou eu na Roça Rio do Ouro (atual Agostinho Neto) como empregado de mato - Pelo que também soube o que era a escravidão - Das cinco e meia da manhã até ao pôr do sol - Com a chuva a secar a roupa no corpo, subindo e descendo vertiginosas grotas,.

É uma falácia
dizer-se que, com a abolição da escravatura em S. Tomé e a concessão de
alforria aos santomenses (que passaram a ser designados por forros), os libertou da condição
de trabalho esclavagista – Pois, em substituição da
palavra escravo, adotou-se a terminologia do indigenato. Isto pela razão, que, ao não reconhecer aos negros a qualidade de cidadãos, cerceando-se da liberdade,
era a fórmula opressora e de servidão
encontrada para os desígnios da chamada civilização ocidental. E sua regulamentação, em forma de lei prolongou-se, até quase aos anos 60, não obstante a lei de 11 de
Junho de 1953, ter convertido todas as
colónias em províncias ultramarinas, e, os seus
habitantes, a cidadãos portugueses de plenos direitos. Ou seja, com a ressalva
de que só deixariam de ser “indígenas” e passariam ao nível de “civilizados” ,
nos quais já se incluíam todos os brancos, goeses, os mistos e os negros
assimilados, mediante certas condições
- E quais as condições, vejam bem:
CLUBE NÁUTICO – JÁ NÃO É O QUE FOI - Está desativado e em reconstrução -MAS
TAMBÉM O QUE FOI NALGUNS ASPETOS DÁ QUE PENSAR


(imagem à esquerda a cores - extraída da Net)


PISCINA CONSTRUÍDA PELO GOVERNADOR GORGULHO - OS NEGROS NESSE TEMPO NÃO A FREQUENTAVAM - ESTAVA-LHE VEDADA - MESMO SEM TABULETA - QUEM SE ATREVIA?


Não era preciso colocarem lá tabuletas para impedir a sua entrada - Eles próprios não se sentiriam à vontade. Os santomenses, mesmo já nos governos de Silva Sebastião e de Cecílio Gonçalves - de 63 a 74 - eram escassos os que iam lá. Tanto assim que, não cultivando o hábito de a frequentar, lhe viraram ostensivamente as costas, mesmo depois da independência, razão pela qual chegou ao estado de abandono em que está.
O Clube Náutico, situado junto à marginal, na cidade de S. Tomé, com a sua piscina, esplanada coberta e bar, foi construído, nos princípios dos anos 50, no tempo do famigerado Governador Carlos Gorgulho. Mas, pelo que me é dado saber, não tardou a encerrar por falta de manutenção.
Isto porque, do ponto de vista de um alto responsável no Mistério do Ultramar, “desde que o Governo Central concedeu a “cidadania” aos nativos de S. Tomé e Príncipe deveria ter previsto a mistura de raças e de cores” evitando que àquele “centro” de diversões acudissem diversíssimos exemplares da fauna humana local”, defendendo "que devia ter-se colocado à entrada uma tabuleta com letras bem visíveis onde o direito de admissão fosse reservado, para evitar a frequência de cidadãos de todas as matizes e pigmentação que não tivessem o nível de educação à altura do meio que o deveria só frequentar
– Mais à frente poderá ler o resto dos argumentos, e ver até onde chegava a miopia colonialista – Obviamente, que o estado em que se encontra, atualmente, o Clube Náutico, completamente desfigurado (felizmente que em obras), nada tem a ver com esse conceito racista, mas pelo facto dos santomenses, nunca se terem ali acostumado e de também de não faltarem praias de areia limpa e macia, onde tomarem banho - e, até, logo ali ao lado, uma piscina natural. E, como tal, de lhe terem virado costas, permitindo que, ao abandono a que foi votado, a Natureza completasse o seu estado de degradação.

Durante a minha estadia em S. Tomé, de 20 de Outubro
a 10 de Novembro, 2014, a passagem pela marginal voltada a nascente, impunha-se-me
como uma peregrinação obrigatória.
Toda a cidade tem a sua beleza mas a que
está voltada para o mar, é, sem dúvida, aquela que mais encantos lhe dá, a que
mais seduz o visitante, sendo mesmo o regalo para quem nela reside. Tanto a
parte curvilínea voltada para a Baía Ana de Chaves, como a marginal, exposta a
leste desde antiga Fortaleza de S. Sebastião (atual Museu Nacional), passando
pela Pousada Miramar, até ao Forte de S.
Jerónimo, onde se encontra situado o Hotel Pestana, são, de facto, as duas zonas citadinas onde os
olhos se podem estender pelo horizonte
fora, extasiarem-se com o imenso azul do
céu e do oceano mas cuja linha de fusão
ou de união, que todavia parece não ficar
longe.
Também por lá dei alguns passeios. E, naturalmente, ao empreender aquele
percurso a pé, após uma visita ao Museu Nacional, dei-me em demandar aquela
ala marginal, em direção a sul, sabendo que ia passar ao lado do antigo Clube
Náutico, contíguo a uma piscina natural
– E, depois, quem é que, passando
naquela local, não olha para alvura franjeada das ondas a rebentarem nas negras
pedras de basalto, no seu constante vai e vem,
pois, conquanto se encontre
completamente à mercê dos caprichos do mar, da inconstância das suas
marés, foi para onde logo me dirigi para
ali me banhar, ante um fundo (mesmo que baixo) de areia branca e macia e a
doçura da água quente e traquila, na qual não tardaria a encontrar uma revoada
de sorridentes miúdos. Fala-se, na internet, que em S. Tomé, há muitas
crianças, sem paternidade, mas não era o caso.
P
ISCINA DO CLUBE NÁUTICO - Uma
tabuleta de acesso interdito a quem “não tivesse o nível de educação à altura
do meio” – Preconizava um zeloso funcionário da Administração colonial, dois
anos depois dos bárbaros massacres do Batepá
A piscina foi construída, no tempo do Governador
Carlos Gorgulho - Começou por ser designado Centro Social de Natação e
Diversões – Mas não tardou a ficar desativada, tal como se encontra hoje –
Porém, na governação de Silva Sebastião, já no tempo em que ali me encentrava,
sofreu novas obras e arranjos, tendo sido concessionada pela Câmara Municipal a
exploração privada, tal como, de resto, o Cinema Império, as pousadas de S. Gerónimo,
Miramar, na cidade, e a de Salazar, junto à cascata de S. Nicolau, entre outras
concessões a colonos.
Pois, mas, pelos vistos, no dizer de um alto
funcionário da Administração Colonial, esta mesma piscina apareceu construída
sem que tivesse existido a respetiva dotação quer no orçamento da Província
quer no municipal. Situada na Avenida das Armadas junto ao mar era o único
local de distração e desporto existente
na cidade mas devido a um não se sabe bem porquê, deixou de funcionar por falta
de quem substituísse a água salgada e o
restaurante não tinha a iluminação elétrica , por lhe ter sido cortada a
energia, por virtude de uma querela entre o município e o arrendatário deste
estabelecimento turístico situada junto ao mar e da piscina.
O que não me parece certo é que o plano de
obras de local tão aprazível tivesse
sido sustado e que até se pensasse em mandar aterra a piscina pondo ponto pedra
final a tão necessário centro social de
convivência e distração.

A melhor maneira de tornar as crianças boas, é torná-las
felizes.... Disse Oscar Wilde. Mas as
crianças de São Tomé já são boas e amáveis por natureza – O que é
preciso é saber corresponder aos gestos e afetos de espontaneidade e à doçura
que se espelha nos sorrisos dos seus rostos de uma tez negra ou morena mas luzidia
como é o brilho dos seus olhos ou a alvura que ressalta de entre os seus lábios
. Abrem-se em rasgados sorrisos ao visitante, com a mesma simplicidade com que
vivem o dia a dia. Nunca regateiam um sorriso
de alegria e de calorosa inocência mesmo
que não sejam correspondidas – De resto,
as expressões de simpatia e afabilidade são timbre das gentes deste pequeno mas
maravilhoso país.
Todas as crianças que se veem
no vídeo e que correram chapinhando até nós tendo dado vivas a S. Tomé e a Portugal e cantado o hino do seu país, são
acarinhadas pelo pai e mãe. Foi, de resto, a primeira pergunta que lhe fizemos.
Gostam de cabriolar por onde lhes apetece e o mar é o seu dileto veraneio, onde se vieram
banhar e pescar com ajuda de uns simples canecos. É só meter na água e apanhar
o peixe. Não precisam de linha. Vimo-las fazer essa habilidade, depois do registo destas imagens.
Depois, lá foram andarilhando como que
ao sabor do vento - Gostam da terra e do mar mas ficámos com a impressão de que
não fazem parte das crianças abandonadas. Vieram
banhar-se na piscina natural e saltar do
alto de um muro que serve de represa à própria açude mas no sentido oposto, onde as ondas vêm brincar
na borda da areia. De facto, confirma-se que, em São Tomé “as adolescentes de idade
compreendida entre os 12 e os 19 anos de idade representam mais de 4% de idade
das mães solteiras a nível nacional, atingindo na região do Príncipe 9%, daí a existência
de muitas crianças a necessitarem de apoio. Parece não ser o caso destes adoráveis miúdos.


Casa dos Pescadores um luxo desnecessário – Diz ainda
o zeloso servidor colonial
(imagens da Fortaleza de S. Sebastião)
Situada quase no topo da Avenida da Armadas, o local é excelente para estes novos fins e a compra pelo preço de 300 contos foi excelente. Para casa dos pescadores é que o local menos se prestaria além de que uma casa de pescadores em S. Tomé não seria de oportunidade própria por praticamente só haver nativos-pescadores que só pescam quando aos próprios falta peixe! Mesmo para um “companha” montada seria um luxo a todos os títulos desnecessário e muito menos com aquela grandeza projetada e um sítio tão mal apropriado. No entanto, com o dinheiro ali gasto – mais de 700 contos – melhor aproveitado teria sido na compra de um barco salva-vidas para qualquer sinistro marinho tanto de pescadores como de barcos que fazem as carreiras de passageiros em todos os vapores que escalam S. Tomé tão fustigado pelos constantes e perigosos tornados.- Sousa Moutinho - 1956
2 comentários :
É sempre bom reviver um passado que, não assim tão distante, ainda está na memória daqueles que por lá passaram.
Estive a primeira vez em S. Tomé em Outubro de 1970, estive instalado na Pousada de S. Jerónimo e ainda por lá havia revistas endereçadas ao Mário Soares de quando lá esteve "desterrado". Era Governador o Silva Sebastião (?).
Foram umas semanas de muito trabalho mas gostei da ilha e das suas gentes.
Voltei mais umas vezes para curtas estadias e esqueci, fui para outras paragens.
Voltei em 1999 e só não chorei porque já tinha visto as mesmas cenas de destruição, abandono e acumular de lixo noutras partes do mundo.
Lembro as histórias da colaboração dada à guerra do Biafra e lembro principalmente a esperança perdida de alguns de não mais voltarem a Cabo Verde país de origem dos seus antepassados.
Mas a ilha continua bonita e o seu povo um exemplo de sofrimento.
Rui Figueiredo Jacinto ruyjacinto@gmail.com
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