Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista -1º de uma série de artigos - c
Tudo começara na vila da Trindade,
com a população nativa a ser perseguida há meses com rusgas permanentes e
arrebanho de pessoas para as obras do Estado. Ao anoitecer do dia 3 de
Fevereiro de 1953, o tenente Ferreira e o Zé Mulato, acompanhados de soldados
armados de espingarda e baioneta, apareceram num jipe em atitude provocatória.
Um homem que passava, descuidadamente, na rua principal abatido pelas costas. A população, aterrada com o tiroteio, corre a refugiar-se no mato. E, no dia
seguinte, principiaram as prisões em massa, as rajadas de metralhadora, morte
de gente indefesa. Com a desculpa, disparatada, de que os nativos, armados
machins, se preparavam para marchar sobre a cidade para matar o Governador. E,
por fim, nomeariam como governantes personalidades
desafetas ao Governo, como o Engº Graça , os professores Januário e
Maria de Jesus, os chefes e mentores da revolta. E também alguns
brancos-forros, Vergílio Lima, Carlos Soares, Américo Morais - In Crónica de uma Guerra Inventada
– por Sum Marki
O mesmo se pode dizer em relação aos demais santomenses, vitimas de igual
infâmia, no dominado Massacre do Batepá (não em câmaras de gás ) mas
igualmente sujeitos a idênticos horrores e barbaridades, espancamentos e
atrocidades, que, não obstante toda a hedionda ignominia, heroicamente lograram
resistir e sobreviver, acarretando, ainda na memória dos dias de hoje, a dor
sofrida (no corpo e no espírito) as lembranças de tão inarrável como assombroso
pesadelo - Trágico saldo de centenas de mulheres e homens,
e até adolescentes e crianças, gente pacifica e indefesa, sob a alegada
tentativa de conspiração comunista.

Textos que poderá também consultar http://canoasdomar.blogspot.com/2016/02/s-tome-e-principe-homenageou-hoje-os.html . http://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-memorias-do-massacre-do-betepa-2.html http://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/massacres-dos-batepa-3-hoje-s-tome.html ….http://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-e-as-memorias-do-batepa-4-ze.html
…http://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-e-principe-memorias-do-batepa-5.html
Recentemente, recordou-se 0 Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto
lembra o genocídio cometido pelos nazistas, a data da
libertação do campo dos horrores de Auschwitz, pelo exército soviético,
em 27 de janeiro de 1945 - Lugar da
morte de cerca 1,1 milhão de pessoas, entre elas 1 milhão de judeus de vários
países europeus. - Através de entrevistas a alguns dos 300 sobreviventes,
constatou-se que ainda perdura, no coração e no seus olhos, um imenso rosário
de sofrimentos e de lágrimas, que não estão saradas
O mesmo
se pode dizer em relação aos santomenses, vitimas de igual infâmia, no dominado
Massacre do Batepá (não em câmaras de gás ) mas igualmente sujeitos a idênticos horrores e barbaridades, espancamentos
e atrocidades, que, não obstante toda a hedionda ignominia, heroicamente
lograram resistir e sobreviver, acarretando, ainda na memória dos dias de hoje,
a dor sofrida (no corpo e no espírito) as lembranças de tão inarrável como
assombroso pesadelo - Trágico
saldo de centenas de mulheres e homens,
e até adolescentes e crianças, gente pacifica e indefesa, sob a alegada
tentativa de conspiração comunista.
O QUE DIZEM AS "MEMÓRIAS DE UM AJUDANTE-DE-CAMPO E COMANDANTE DA POLICIA" . Capitão Salgueiro Rêgo - No tempo de um dos Governadores mais odiados em S. Tomé e Príncipe


"A forma como o Governador durante o tempo do meu Comando tratava e dirigia a sua obra, "com dinamismo - que o tinha -sob os aspectos de desenvolvimento material e económico era, sendo bem observado, em vários detalhes, como um ditador à maneira da gestapo no tempo de Hitler na Alemanha. Era ele e só ele quem tudo mandava. sentindo que a minha outra função de Administrador do Concelho inerente ao meu comando da Polícia iria ser toda subordinada às suas firmes e despóticas vontades em acionar as suas obras que dia a dia se faziam por toda a parte. Assim, o Governador determinava ao Administrador do Conselho que mandasse apresentar na Repartição das Obras Públicas a quantidade de trabalhadores que desejava para qualquer obra. Mas, como se me tornava impossível por falta de ficheiros e registos de elementos a convocar e a chamar pelos diversos Regedores das Freguesias da Ilha, comunicava isso mesmo - em geral pessoalmente ao Governador - que se admirava da minha ingenuidade nestas coisas já tão sabidas em S. Tomé! ...

Como ir arranjar- trabalhadores?!...Muito facilmente pá: como já do antecedente: forma que era já do tempo em que ele tinha tomado posse daquela Grande Propriedade que era do Estado mas que .ele governava à sua maneira de conseguir homens para trabalho, E como era ? Por meio de RUSGAS! Tratando-me por TU, como aliás a toda a gente daquela terra, dizia-me abrindo o mapa, a planta, da Ilha. Tratas de cercar com os teus soldados a zona' tal e tal ... e de manhã vais apertando o cerco e trazes-me para a Cidade essa gente que for saindo de suas casas. Assim se fazia e se entre as mulheres vinha alguma cachopinha bonitinha em isca para o homem grande ... E o resto da caçada era entregue pelos meus soldados sob prisão ao comandante das prisões -miseráveis barracões imundos onde os pobres dormiam pelo chão-um tenente Santos Ferreira que se dizia parente do Ministro do Exército, natural de Viseu" - Excerto - Em próximo post conto retomar as suas memórias.
O QUE DIZEM AS "MEMÓRIAS DE UM AJUDANTE-DE-CAMPO E COMANDANTE DA POLICIA" . Capitão Salgueiro Rêgo - No tempo de um dos Governadores mais odiados em S. Tomé e Príncipe
"A forma como o Governador durante o tempo do meu Comando tratava e dirigia a sua obra, "com dinamismo - que o tinha -sob os aspectos de desenvolvimento material e económico era, sendo bem observado, em vários detalhes, como um ditador à maneira da gestapo no tempo de Hitler na Alemanha. Era ele e só ele quem tudo mandava. sentindo que a minha outra função de Administrador do Concelho inerente ao meu comando da Polícia iria ser toda subordinada às suas firmes e despóticas vontades em acionar as suas obras que dia a dia se faziam por toda a parte. Assim, o Governador determinava ao Administrador do Conselho que mandasse apresentar na Repartição das Obras Públicas a quantidade de trabalhadores que desejava para qualquer obra. Mas, como se me tornava impossível por falta de ficheiros e registos de elementos a convocar e a chamar pelos diversos Regedores das Freguesias da Ilha, comunicava isso mesmo - em geral pessoalmente ao Governador - que se admirava da minha ingenuidade nestas coisas já tão sabidas em S. Tomé! ...


A MÁRTIR POVOAÇÃO DE BATEPÁ
O DIA QUE S. TOMÉ E PRÍNCIPE NÃO ESQUECE
20 anos depois, ainda havia quem
tivesse feridas nas pernas por cicatrizar das pesadas grilhetas - Fora as que
sangravam no coração!....que dificilmente se apagam...
SOBREVIVENTE - A DOR QUE O TEMPO AINDA NÃO APAGOU - ESPANCADA À CRONHADA DEPOIS DE LHE METEREM A CABEÇA NUM TANQUE DE ÁGUA - Era menina e estava grávida.
Ainda jovem, e
mesmo grávida, não foi poupada à brutalidade facínora das ordens do
então Governador Carlos Gorgulho:
arrastada à força de sua casa, levada para um calabouço na então Vila de
Trindade, espancada barbaramente, Primeiro deu-se o saque às casas: carregaram
o que puderam dos modestos teres e haveres, após o que as incendiaram.
Maria dos Santos, mais conhecida por Mena, agora com 80 anos, é um dos rostos debilitados, que ainda hoje espelha o testemunho do incomensurável sofrimento, angústia e lágrimas, por que viveu há 62 anos, - É uma das mártires, ainda sobrevivente dos hediondos massacres de Batepá, que tiveram inicio nos horrores da longa e pavorosa noite de 2 para 3 de Fevereiro de 1953 e que iriam prolongar-se nos ignóbeis espancamentos e torturas, até à morte, infligidos a centenas de santomenses, em terríveis interrogatórios, desde brutais choques elétricos, à violenta palmatoada, ao chicote, cacetada e cronhada, a soco e a pontapé, quer no afrontoso cárcere da prisão local, onde os presos, coabitavam exíguos e afrontosos espaços, em deploráveis e nauseabundas condições higiénicas, quer numa das salas da Fortaleza S. Sebastião (a capitania dos Portos), transformada em laboratório ao estilo da Gestapo hitleriana, sob a batuta do famigerado médico Aragão, locais donde partiam para o Campo de Concentração Fernão Dias
NÃO LANÇARAM 12O HOMENS AO MAR PORQUE A TRIPULAÇÃO SE OPÕS
Memórias do hediondo Massacre
do Batepá
Sim, lá
estava ainda a mola de um velho chassi calcinado, assim como a carapaça do
motor, junto às raízes da árvore da fruta pão. E, pelo que me apercebi,
não me mostravam tais memórias como meros souvenires (que julgo, o terão feito
pela primeira vez a um jornalista), dado tratarem-se de peças que têm muito a ver com
um período, muito sofrido, do casal que ali vivia, e que depois passaram também a ser, como que um relicário sagrado
para os filhos e netos., pelo que não deixei de ver nos olhos e nos rostos de
todos, quantos ali se encontravam presentes, como que o perpassar um sentimento, misto de dor, frieza e
de angústia, difícil de apagar e de esquecer.
De
referir que, inicialmente algo renitente, com expressão dura e não oculta de
alguma desconfiança, como se, porventura,
a memória que os brancos lhe deixaram, naqueles
martirizados dias, ainda pudesse ser estampada num português que agora lhe
batia inesperadamente à porta. Sim, pude ver que há chagas psicológicas, feridas no
coração, que deixam marcas para o resto da
vida – Sobretudo, no seu caso, quando era ainda menina e moça, se bem
que já grávida (pois em África o
fenómeno da procriação manifesta-se mais
cedo que nas regiões frias) e, além de a espancarem, quase a sufocaram quando
lhe meteram a cabeça num tanque de água para a obrigarem a confessar que estava
envolvida na tal fictícia conspiração comunista
CAMPO DE EXTERMÍNIO DE FERNÃO DIAS
EM PORTUGAL - NUMA REMOTA ALDEIA - TAMBÉM HOUVE OUTRO MASSACRE
Claro
que não se pode dizer que, em 1953, os tempos também fossem bons para os
portugueses que viviam na “metrópole do império colonial”, muito pelo
contrário: eram tempos de repressão, de fome e de miséria – E a pequena aldeia do Colmeal onde nasceu o meu bisavô paterno, varrida por ação de um processo judicial,
injusto e prepotente, no dia 10 de Junho de 1957, com os seus habitantes
despejados à força, com desfecho trágico
de casas queimadas e algumas mortes por balas da GNR- a guarda pretoriana do
regime colonial-fascista -, é também
outra das páginas negras da História da
Lusitânia moderna –
Conheci pessoalmente a dureza
desses tempo, quando fui trabalhar aos 11 anos, como marçano em Lisboa. Daí que, os criminosos acontecimento que ocorreram em Fevereiro de 1953,
em S. Tomé, sob o comando do próprio governador colonial, tenham que também de ser analisados -não
estritamente por via de ódios raciais –
mas num contexto mais abrangente – O da época colonial e do fascismo que se
servia de todos os meios para defender os interesses de uma certa burguesia
privilegiada – Infelizmente é esta a situação a que estamos assistir através da
ideologia liberal.

Pouco depois do 25 de Abril, vi com os meus próprios
olhos essas feridas - Ainda em chagas vivas por sarar! ...
Provocadas por longo cativeiro, no campo de concentração de Fernão Dias, acorrentados
a bolas de ferro, tal como aos escravos nos barcos negreiros. Pude entrevistar
algumas dessas pessoas para a Revista Semana Ilustrada.
"Você
que é amigo dos pretos, veja se tem a coragem de publicar estas
fotografias! Ao mesmo tempo que mas passa algumas para as mãos, pedindo-me, que, logo
que as fotografasse, lhas devolvesse. Com a recomendação: "Mas se o
fizer, acautele-se! Olhe que eles ainda andam quase todos por aí e não vão gostar - Agradeci-lhe o gesto
e a recomendação mas não me amedrontei.
Pelo contrário, tinha ali um bom motivo de reportagem, entre mãos mas, para
isso, precisava de ouvir alguns dos sobreviventes e de fazer as
entrevistas que me fosse possível.
COMETERAM CRIMES HEDIONDOS E NÃO FORAM PRESOS

Eu desembarcara,
a bordo do paquete Uíge, em Novembro de 1963, numa altura em que ainda devia
haver bastantes mais feridas por cicatrizar do que após o 25 de Abril de 1974,
mas nem assim nunca ninguém me falou de tais factos. A razão é simples de
compreender: eram das tais conversas, publicamente proibidas, tal como proibido
chegara a ser o livro das “MEMÓRIAS DE UM AJUDANTE-DE-CAMPO”, a que conto vir a falar numa das postagens seguintes.
MUSEU
NACIONAL DE SÃO TOMÉ – SITO NA ANTIGA FORTALEZA DE S. SEBASTIÃO - ONDE O
PASSADO HISTÓRICO PORTUGUÊS NÃO DEIXA MUITO A DESEJAR
São Tomé e Príncipe possui um Arquivo Histórico, localizado na
praça de Mártires da Liberdade, na cidade capital, com a
avenida da Independência e Parque Popular, e o Museu Nacional, localizada no
sudeste da mesma cidade, que passou ali a integrar as instalações da antiga
fortaleza de S. Sebastião, desde 1975.

Confesso
que também guardo más recordações destas instalações. Era ali a antiga Capitania dos
Portos, e, no seguimento da minha viagem clandestina de canoa ao Príncipe, fui
ali chamado pelo Capitão dos Portos – um tal Elias da Costa - que, além de
me aplicar pesada coima, me deu uns
valentes encontros contra a parede – Isto
já depois de ter sido recebido no aeroporto
de S. Tomé, com um par de socos no estômago e de seguida ter passado pelos
calabouços da Pide, supondo que eu não queria ir para aquela ilha mas fugir
para o Gabão
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