Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Informação e análise
AVÓ MENA - MÁRTIR DO BATEPÁ - COM A FILHA E OS NETOS |
Nos Estados Unidos, comemora-se no primeiro domingo de setembro. No Reino Unido, no primeiro domingo de outubro. A França é um caso raro: há o Dia das Vovós (primeiro domingo de março) e o Dia dos Vovôs (primeiro domingo de outubro). A Estônia comemora no segundo domingo de outubro. A Austrália, no primeiro domingo de novembro. O Canadá, em 25 de outubro. https://www.bbc.com/portuguese/geral-44930392
Neste
dia dos avós, recordo aqui um dos belos poemas de Alda Graça do Espírito Santo, a
grande matriarca santomense, autora do hino Nacional de S. Tomé e Príncipe, figura
incontornável da poesia e da cultura
destas maravilhosas Ilhas - Ilustrado com a imagem de
Maria dos Santos, mais
conhecida por Mena, uma das mártires, sobrevivente dos hediondos massacres de Batepá, de Fevereiro de 1953 - Tinha 80 anos, em 2015, quando a entrevistei,
rodeada da filha e de seus netos, à porta de sua casa, em Batepá, distrito de Mé-Zóchi,
uma das
mártires - E também pela autora do poema - Avó Mariana

Avó Mariana, lavadeira
dos brancos lá da Fazenda
chegou um dia de terras distantes
com seu pedaço de pano na cintura
e ficou.
Ficou a Avó Mariana
lavando, lavando, lá na roça
pitando seu jessu
à porta da sanzala
lembrando a viagem dos seus campos de sisal.
Num dia sinistro
p'ra ilha distante
onde a faina de trabalho
apagou a lembrança
dos bois, nos óbitos
lá no Cubal distante.
Avó Mariana chegou
e sentou-se à porta da sanzala
e pitou seu jessu1
lavando, lavando
numa barreira de silêncio.
Os anos escoaram
lá na terra calcinante.
- "Avó Mariana, Avó Mariana
é a hora de partir.
Vai rever teus campos extensos
de plantações sem fim".
- "Onde é terra di gente?
Velha vem, não volta mais...
Cheguei de muito longe,
anos e mais anos aqui no terreiro...
Velha tonta, já não tem terra
Vou ficar aqui, minino tonto".
Avó Mariana, pitando seu jessu
na soleira do seu beco escuro,
conta Avó Velhinha
teu fado inglório.
Viver, vegetar
à sombra dum terreiro
tu mesmo Avó minha
não contarás a tua história.
Avó Mariana, velhinha minha,
pitando seu jessu
na soleira da senzala
nada dirás do teu destino...
Porque cruzaste mares, avó velhinha,
e te quedaste sozinha
pitando teu jessu?
- Alda Espírito Santo, em "É nosso o solo sagrado da terra". Lisboa: Ulmeiro, 1978, p. 51-52
A CARTA DE JOSÉ SARAMAGO - PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA - para "Josefa, minha avó" -
Tens noventa anos. És velha,
dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo — e eu acredito.
Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados.
Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água.

Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira — sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.

Foto de Minha Doce África
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AQUI DEIXO ESTA BELA IMAGEM DE LINDOS E AMOROSOS ROSTOS AFRICANOS - NA ESPERANÇA DE QUE TODOS TENHAM UMA AVOZINHA OU AVOZINHO, QUE LHE POSSA NESTE DIA DISPENSAR ALGUNS BEIJINHOS E CARINHOS
A ARTE COMO BELA EXPRESSÃO ARTÍSTICA DA FAMILIA - MENSAGEM DO PROF. VITOR SERRÃO , NESTE DIA
DOS AVÓS 26 DE JULHO. "Eu que sou avô, e pai, e filho, e amigo dos amigos,
entre muitas outras coisas, celebro a data que se convencionou chamar DIA DOS
AVÓS recorrendo, como me é usual, ao discurso de uma obra de arte. Não com a
tradicional referência à Oração de Sant'Ana e S. Joaquim na Porta Dourada, tema
que gerou algumas obras-primas. Escolhi, ao invés, uma FAMÍLIA DE CAMPONESES,
tela dos irmãos Le Nain, pintores franceses da segunda metade do século XVII que
criaram uma espécie de 'pintura proletária' avant la lettre. Muito bom, este
quadro com um casal de trabalhadores rurais com seus filhos e netos. A
fraternidade feita arte, a arte feita fraternidade no intimismo do retrato de
grupo a que não faltam cão, gato, música de flauta, frugalidade de alimentos e
calor de lareira.
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