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sexta-feira, 2 de agosto de 2019

MEU TRIBUTO AO EMBAIXADOR DO BRASIL EM CABO VERDE, JOSÉ CARLOS LEITÃO - Ele foi o portador, quando me recebeu na Embaixada do Brasil, em STP a poucos meses de terminar a sua missão no arquipélago santomense, da Mensagem do Povo da República Democrática de STP ao Povo da República Federativa do Brasil, que, eu, 41 anos atrás, não pude entregar quando tentei atravessar o oceano numa frágil canoa, tendo acabado por viver uma das mais dramáticas provas de sobrevivência, ao longo de 38 tormentosos dias

Jorge Trabulo Marques - Jornalista e Investigador 

















JOSÉ CARLOS LEITÃO, A IMAGEM E O PERFIL DE UM EMBAIXADOR DO BRASIL EM STP. QUE DEIXOU NESTAS MARAVILHOSAS ILHAS, AS MELHORES RECORDAÇÕES – Figura de alto nível na diplomacia brasileira, que, em  Outubro de 2016, transitava para Cabo Verde,  bom demais para se queimar inutilmente com um governo conflituoso, arrogante e ditatorial 


FINALMENTE, 41  ANOS DEPOIS, ENTREGUE A "MENSAGEM DO POVO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE AO POVO BRASILEIRO" -  QUE NÃO CHEGOU AO DESTINO MAS QUE NÃO PERDI  
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Na cerimónia da despedida - Pres da AN e  o Embaixador
Quis, porém, a sorte ou os mistérios da vida  que o portador fossse o Embaixador do Brasil, em S. Tomé e Principe, José Carlos de Araújo Leitão,  pouco antes de partir para Cabo Verde, «Após 4 anos e meio de trabalho um saldo muito positivo da minha experiência profissional em São Tomé. Vivi aqui uma quadra muito importante da minha maturidade. Não foi somente a questão profissional que prevaleceu. É preciso dizer que o aspecto humano da vida teve um peso muito relevante no conjunto de situações vividas na qualidade de embaixador. Minha primeira experiência plena como chefe de missão diplomática», 



Télá Nón. Outubro 2016
Declarava,  então,   o prestigiado diplomata, em meados de Outubro de 2016,  na  cerimónia de despedida num espaço "onde deixou uma marca activa da sua presença em São Tomé e Príncipe - Referia, então, o Téla Nón, apontando "o Centro Cultural Brasil-São Tomé e Príncipe, como o  espaço que José Carlos Leitão, transformou numa referência cultural na cidade de São Tomé", no qual vários " grupos culturais brasileiros trouxeram aos são-tomenses, as cores da identidade brasileira e descobriram as marcas da santomensidade. De um lado e do outro, os dois povos foram se conhecendo mais, as semelhanças e as diferenças impostas pela história. https://www.telanon.info/politica/2016/10/20/23009/adeus-ao-embaixador-do-brasil-em-stp/

Encontro com Jose 


MISSÃO ESPINHOSA, ARRISCADA E  DURA - MAS O SONHO COMANDA A VIDA - E ALGUM DIA HAVERIA DE CHEGAR AO DESTINO, FOSSE QUAL FOSSE A ROTA  ESCOLHIDA - CONQUANTO O PORTADOR FOSSE TEMERÁRIO, DIGNO  E SÉRIO:  - Quando descobri, José Carlos de Araújo Letão, imediatamente me apercebi que .ele fazia parte de um destino por cumprir - E passou a ser o portador dos sentimentos expressos há  quatro décadas atrás por  José Fret Lau  Chong, então ministro da Informação, Justiça e Trabalho, entre 1975 e 1976, considerado uma das memórias vivas da luta pela independência de São Tomé e Príncipe, conquistada a 12 julho de 1975, que  representou o Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe (CLSTP) em várias frentes em Portugal, Alemanha e Marrocos.


Os brasileiros são por natureza calorosos, extrovertidos, alegres  e comunicativos: e fazem-no com naturalidade – Porém, num bom diplomata, há estas qualidades intrínsecas e outras a saber dosear, que a sua missão lhe impõe e sem exageros: o justo uso do sabedoria, da oratória e da inteligência, com sobriedade, simpatia e calor humano – Foram estas as qualidades que me chamaram atenção, desde o primeiro momento que cumprimentei e fotografei, o Embaixador  do Brasil em São Tomé e Príncipe, José Carlos de Araújo Leitão 

Foi no final da celebração do 12 de Julho, na Praça da Independência, em 2015, quando descia da Tribuna de Honra, ao lado da Embaixadora de Portugal, Paula Silva, que horas depois voltaria a reencontrar no almoço comemorativo, que teve lugar nos jardins da Roça Agostinho Neto, antiga Roça Rio do Ouro, da Sociedade Agrícola Vale Flor

Depois disso, deu-me a honra o prazer de participar na inauguração da minha exposição, Sobreviver no Mar dos Tornados", que apresentei no Centro Cultural Português, com a presença do Ministro da Educação, Cultura e Ciência, Olinto Daio, entre outras personalidades.- 
Pormenores em http://canoasdomar.blogspot.com/2015/07/em-s-tome-encerramento-da-exposicao.html






HÁ 4 ANOS - EXPOSIÇÃO SOBREVIVER NO MAR DOS TORNADOS 38 DIAS À DERIVA   – Experiência de vida única” que é “também a demonstração do querer humano sobre as adversidades “davam um filme”Palavras de Olinto Daio”, Ministro Educação, Cultura e Ciência - Na verdade, há momentos que, por tão tormentosos e solitários na vasta imensidão oceânica, são verdadeiras eternidades – Que o digam todos aqueles que passaram pela dramática e dificílima situação de náufragos. Outros, nunca o terão podido expressar, visto terem ficado sepultados para sempre no silêncio eterno do fundo dos abismos submarinos. Pessoalmente, quis Deus ou o destino que fosse um dos sobreviventes, de entre os milhares de vítimas, que, por esta ou por aquela razão, anualmente, são tragados pela voragem dos oceanos e pudesse transmitir o testemunho daquilo que o engenho, a força de vontade e o querer humano, poderão lograr, face às maiores provações. 




27 de Julho 2015
Ministro da Cultura, Olito Daio 
Mas também voltaria a fotografá-lo  noutras cerimónias publicas, em Fevereiro e Março de 2016, nomeadamente por ocasião dos cumprimentos  dos embaixadores ao então Presidente da Republica Manuel Pinto da Costa  – E, em todos os momentos, quer a sua natural forma de exprimir, o seu à-vontade,  a forma de sorrir e de  comunicar, fosse qual fosse a cerimónia ou o evento ou com quem quer se relacionasse, ali estava um digno respeitante do seu país, um diplomata que não desilustrava a proverbial e calorosa simpatia

Ciente de que tinha ali um interlocutor, lembrei-me de finalmente poder concretizar um desejo, há muito adiado: a de que pudesse ser ele o portador certo da mensagem que pessoalmente, desde há 41 anos,  quis transportar de Canoa de S. Tomé ao Brasil 


EMBAIXADOR JOSÉ CARLOS LEITÃO, FINALMENTE O PORTADOR DA "MENSAGEM DO POVO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE AO POVO BRASILEIRO" -  QUE NÃO CHEGOU AO DESTINO

Com muita pena minha, não pude atravessar o oceano e a  mensagem que me acompanhava, tomou também comigo outro rumo. No entanto, já me dei por feliz  ao poder fazê-lo 41 anos mais tarde: não em terra brasileira mas num espaço que é como se fosse o de uma casa brasileira, sim, fazendo  a honrosa entrega da mesma mensagem, a uma mui distinta figura,  digno portador, na sua qualidade do mais alto  representante da  Nação Brasileira em S. Tomé e Príncipe -  Pude entregá-la ao Sr. Embaixador . José Carlos de Araújo Leitão, que me recebeu no salão nobre da embaixada do Brasil em S. Tomé 

Em meados de Outubro,  pouco tempo   depois da Independência e após a escalada do Pico Cão Grande, deixaria São Tomé a bordo do pesqueiro Hornet para ser largado numa piroga na Ilha de Ano Bom, 180 Km a sul da linha do Equador, a fim de tentar a travessia atlântica - com uma mensagem  redigida  por José Fret Lau Chong que então desempenhava as funções de ministro da Informação, Justiça e Trabalho – cargo que ocupou entre 1975 e 1976 – a qual dizia, entre outras palavras, o seguinte: 

"Salientamos o espírito aventureiro que preside à iniciativa do Camarada  Jorge Marques, que, depois de uma viagem experimental , e bem sucedida de S. Tomé à Nigéria, também de canoa, propõem-se avançar, desta feita, mais significativamente, programando o percurso S. Tomé- Brasil."
"A recente independência  nacional de S. Tomé e Príncipe, e a consequente libertação do nosso povo do domínio colonial português, reforça a afinidade dum passado histórico comum com o Povo Brasileiro, e daí, a razão de ser de uma irmandade que importa  reviver, sempre que possível, para se reforçar. 


Assim, aproveitando a travessia  atlântica do camarada Jorge Trabulo Marques, que servindo-se de uma simples canoa, vai percorrer  o mar, de S. Tomé ao Brasil, evocando a rota por que, na era retrógrada, os escravos eram conduzidos  para as plantações  da cana do açúcar, o povo de S. Tomé e Príncipe, representado pela sua vanguarda revolucionária,  o MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE (MLSTP), saúda fraternal e calorosamente, o povo irmão do Brasil" - Excerto


Em Novembro de 2014 - Junto à residência   de José Fret Lau Chong para lhe oferecer a cópia da mensagem que, de algum modo, me salvou de ser enforcado na famigerada cadeia black Beack, a mando do então ditador Francisco Macías Nguema por suspeita de espionagem

Depis da minha travessia de S. Tomé à Nigéria, numa frágil canoa,  uns meses depois e já com S. Tomé e Principe, indeoendente,  regressei à capital para concluir a escalada do Pico Cão Grande e tentar a travessia oceânica – Pois precisava de um teste maior para demonstrar que as canoas eram capazes de efetuarem longas travessias, apesar de serem os meios mais primitivos nos mares.


"Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!..

A canoa "Yon Gato" foi carregada a bordo do pesqueiro Hornet, em meados de Outubro,  de 1975, ao largo da Baía Ana de Chaves para ser largada na corrente equatorial - Porém, contrariamente ao prometido, ao fundear junto à Ilha de Ano Bom (Guiné Equatorial) com o pesqueiro envolvido por enorme agitação noturna, varrido de  proa à popa,  pelas já habituais  tempestades da época das chuvas, que o assolaram nas anteriores noites, o comandante chama-me à câmara de comando para desistir  do meu propósito e coloca-me num dilema:  ou fico a trabalhar a bordo ou tenho que ser largado com a canoa. De resto, este era também  o aviso e a  vontade expressa da  tripulação: "Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!.." Não tendo aceite a sua proposta, obriga-me assinar um termo de responsabilidade, antes de arrear a canoa ao mar.

Com Ano Bom ao fudo e de proa a Norte
Face à impossibilidade de tomar a rota para oeste, e, 
como as correntes e os ventos, ali me puxavam para norte, resolvi apontar meu rumo para voltar a S. Tomé e tentar a travessia noutra oportunidade

 Após um dia de navegação normal, com vento pela popa e à vela - mas sempre perseguido por duas canoas  para me roubarem os alimentos, dada a extrema penúria vivida naquela ilha - surge o inevitável temporal: um violento tornado, ao princípio da noite, vindo do sudeste,  uma súbita rajada de vento seguida por uma enorme vaga, apanha-me desprevenido e ainda com a nova casca de noz,  mal acabada de experimentar,  solta-me o leme (que lhe adaptei - e só por milagre também eu não fui atirado, com a cana do leme, para o seio daquela escurissima confusão, que só a curtos espaços os relâmpagos iluminavam) deixa-me a piroga atravessada à vaga e desgovernada, varrendo-me os apetrechos e forçando-me alijar da maior parte de viveres para aliviar o lastro e não ir ao fundo

Era o começo de um longo e exaustivo tormento . Encontrava-me no Atlântico Sul , em pleno mar alto,  a 350 km da costa  leste do continente africano  e 180 km a sudoeste da ilha de São Tomé.  Depois dos longos 38 dias de solidão no mar, muitos dos quais sem comida e bebendo água das chuvas ou água salgada,  com vários ataques de tubarões, acabei por acostar em Bioko. onde fui preso e enviado paraa sinistra prisão da Playa Negra   onde sou tomado por espião e encarcerado numa cela da Cadeia Central para ser executado, já que este era o destino de quem ali era condenado: entrar vivo e sair cadáver.

  Felizmente, é a mensagem,  autenticada pelo MLSTP, que havia sido escrita para saudar o Povo Brasileiro - admitindo que pudesse fazer a travessia até ao Brasil - que    me vai salvar a vida. 

Guiné Equatorial no reinado de Macias Nguema
Obianag - Então com 34, meu libertou
Mesmo assim, dada a  persistente desconfiança do então Presidente Macias, que nem depois de  enviar o seu barbeiro pessoal (o santomense, Sr. Bandeira) se convencera, nem da veracidade da referida mensagem, nem dos meus argumentos,   quem  acaba por ordenar a minha soltura é o seu sobrinho, o então comandante das Policias e das Forças Armadas, o atual Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, a quem fico a dever a vida

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