Jorge Trabulo Marques - Jornalista e Investigador
JOSÉ CARLOS LEITÃO, A IMAGEM E O PERFIL DE UM EMBAIXADOR DO BRASIL EM STP. QUE DEIXOU NESTAS MARAVILHOSAS ILHAS, AS MELHORES RECORDAÇÕES – Figura de alto nível na diplomacia brasileira, que, em Outubro de 2016, transitava para Cabo Verde, bom demais para se queimar inutilmente com um governo conflituoso, arrogante e ditatorial
FINALMENTE, 41 ANOS DEPOIS, ENTREGUE A "MENSAGEM DO POVO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE AO POVO BRASILEIRO" - QUE NÃO CHEGOU AO DESTINO MAS QUE NÃO PERDI
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Quis, porém, a sorte ou os mistérios da vida que o portador fossse o Embaixador do Brasil, em S. Tomé e Principe, José Carlos de Araújo Leitão, pouco antes de partir para Cabo Verde, «Após 4 anos e meio de trabalho um saldo muito positivo da minha experiência profissional em São Tomé. Vivi aqui uma quadra muito importante da minha maturidade. Não foi somente a questão profissional que prevaleceu. É preciso dizer que o aspecto humano da vida teve um peso muito relevante no conjunto de situações vividas na qualidade de embaixador. Minha primeira experiência plena como chefe de missão diplomática»,
Declarava, então, o prestigiado diplomata, em meados de Outubro de 2016, na cerimónia de despedida num espaço "onde deixou uma marca activa da sua presença em São Tomé e Príncipe - Referia, então, o Téla Nón, apontando "o Centro Cultural Brasil-São Tomé e Príncipe, como o espaço que José Carlos Leitão, transformou numa referência cultural na cidade de São Tomé", no qual vários " grupos culturais brasileiros trouxeram aos são-tomenses, as cores da identidade brasileira e descobriram as marcas da santomensidade. De um lado e do outro, os dois povos foram se conhecendo mais, as semelhanças e as diferenças impostas pela história. https://www.telanon.info/politica/2016/10/20/23009/adeus-ao-embaixador-do-brasil-em-stp/
MISSÃO ESPINHOSA, ARRISCADA E DURA - MAS O SONHO COMANDA A VIDA - E ALGUM DIA HAVERIA DE CHEGAR AO DESTINO, FOSSE QUAL FOSSE A ROTA ESCOLHIDA - CONQUANTO O PORTADOR FOSSE TEMERÁRIO, DIGNO E SÉRIO: - Quando descobri, José Carlos de Araújo Letão, imediatamente me apercebi que .ele fazia parte de um destino por cumprir - E passou a ser o portador dos sentimentos expressos há quatro décadas atrás por José Fret Lau Chong, então
ministro da Informação, Justiça e Trabalho, entre 1975 e 1976, considerado uma
das memórias vivas da luta pela independência de São Tomé e Príncipe,
conquistada a 12 julho de 1975, que representou
o Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe (CLSTP) em várias frentes em
Portugal, Alemanha e Marrocos.
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Na cerimónia da despedida - Pres da AN e o Embaixador |
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Télá Nón. Outubro 2016 |
Encontro com Jose

Pormenores em http://canoasdomar.blogspot.com/2015/07/em-s-tome-encerramento-da-exposicao.html
HÁ 4 ANOS - EXPOSIÇÃO SOBREVIVER NO MAR DOS
TORNADOS 38 DIAS À DERIVA – “Experiência de vida única” que é
“também a demonstração do querer humano sobre as adversidades” “davam um filme”
– Palavras de Olinto Daio”, Ministro Educação, Cultura e Ciência - Na verdade,
há momentos que, por tão tormentosos e solitários na vasta imensidão oceânica,
são verdadeiras eternidades – Que o digam todos aqueles que passaram pela
dramática e dificílima situação de náufragos. Outros, nunca o terão podido
expressar, visto terem ficado sepultados para sempre no silêncio eterno do
fundo dos abismos submarinos. Pessoalmente, quis Deus ou o destino que fosse um
dos sobreviventes, de entre os milhares de vítimas, que, por esta ou por aquela
razão, anualmente, são tragados pela voragem dos oceanos e pudesse transmitir o
testemunho daquilo que o engenho, a força de vontade e o querer humano, poderão
lograr, face às maiores provações.
27 de Julho 2015 |
Ministro da Cultura, Olito Daio |
Ciente de que tinha ali um interlocutor, lembrei-me de finalmente poder concretizar um desejo, há muito adiado: a de que pudesse ser ele o portador certo da mensagem que pessoalmente, desde há 41 anos, quis transportar de Canoa de S. Tomé ao Brasil
EMBAIXADOR JOSÉ CARLOS LEITÃO, FINALMENTE O PORTADOR DA "MENSAGEM DO POVO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE AO POVO BRASILEIRO" - QUE NÃO CHEGOU AO DESTINO



"A recente independência nacional de S. Tomé e Príncipe, e a consequente libertação do nosso povo do domínio colonial português, reforça a afinidade dum passado histórico comum com o Povo Brasileiro, e daí, a razão de ser de uma irmandade que importa reviver, sempre que possível, para se reforçar.
Depis da minha travessia de S. Tomé à Nigéria, numa frágil canoa, uns meses depois e já com S. Tomé e Principe, indeoendente, regressei à capital para concluir a escalada do Pico Cão Grande e tentar a travessia oceânica – Pois precisava de um teste maior para demonstrar que as canoas eram capazes de efetuarem longas travessias, apesar de serem os meios mais primitivos nos mares.
A canoa "Yon Gato" foi carregada a bordo do pesqueiro Hornet, em meados de Outubro, de 1975, ao largo da Baía Ana de Chaves para ser largada na corrente equatorial - Porém, contrariamente ao prometido, ao fundear junto à Ilha de Ano Bom (Guiné Equatorial) com o pesqueiro envolvido por enorme agitação noturna, varrido de proa à popa, pelas já habituais tempestades da época das chuvas, que o assolaram nas anteriores noites, o comandante chama-me à câmara de comando para desistir do meu propósito e coloca-me num dilema: ou fico a trabalhar a bordo ou tenho que ser largado com a canoa. De resto, este era também o aviso e a vontade expressa da tripulação: "Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!.." Não tendo aceite a sua proposta, obriga-me assinar um termo de responsabilidade, antes de arrear a canoa ao mar.
como as correntes e os ventos, ali me puxavam para norte, resolvi apontar meu rumo para voltar a S. Tomé e tentar a travessia noutra oportunidade
Após um dia de navegação normal, com vento pela popa e à vela - mas sempre perseguido por duas canoas para me roubarem os alimentos, dada a extrema penúria vivida naquela ilha - surge o inevitável temporal: um violento tornado, ao princípio da noite, vindo do sudeste, uma súbita rajada de vento seguida por uma enorme vaga, apanha-me desprevenido e ainda com a nova casca de noz, mal acabada de experimentar, solta-me o leme (que lhe adaptei - e só por milagre também eu não fui atirado, com a cana do leme, para o seio daquela escurissima confusão, que só a curtos espaços os relâmpagos iluminavam) deixa-me a piroga atravessada à vaga e desgovernada, varrendo-me os apetrechos e forçando-me alijar da maior parte de viveres para aliviar o lastro e não ir ao fundo
Era o começo de um longo e exaustivo tormento . Encontrava-me no Atlântico Sul , em pleno mar alto, a 350 km da costa leste do continente africano e 180 km a sudoeste da ilha de São Tomé. Depois dos longos 38 dias de solidão no mar, muitos dos quais sem comida e bebendo água das chuvas ou água salgada, com vários ataques de tubarões, acabei por acostar em Bioko. onde fui preso e enviado paraa sinistra prisão da Playa Negra onde sou tomado por espião e encarcerado numa cela da Cadeia Central para ser executado, já que este era o destino de quem ali era condenado: entrar vivo e sair cadáver.

A canoa "Yon Gato" foi carregada a bordo do pesqueiro Hornet, em meados de Outubro, de 1975, ao largo da Baía Ana de Chaves para ser largada na corrente equatorial - Porém, contrariamente ao prometido, ao fundear junto à Ilha de Ano Bom (Guiné Equatorial) com o pesqueiro envolvido por enorme agitação noturna, varrido de proa à popa, pelas já habituais tempestades da época das chuvas, que o assolaram nas anteriores noites, o comandante chama-me à câmara de comando para desistir do meu propósito e coloca-me num dilema: ou fico a trabalhar a bordo ou tenho que ser largado com a canoa. De resto, este era também o aviso e a vontade expressa da tripulação: "Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!.." Não tendo aceite a sua proposta, obriga-me assinar um termo de responsabilidade, antes de arrear a canoa ao mar.



Guiné Equatorial no reinado de Macias Nguema

Obianag - Então com 34, meu libertou
Mesmo assim, dada a persistente desconfiança do então Presidente Macias, que nem depois de enviar o seu barbeiro pessoal (o santomense, Sr. Bandeira) se convencera, nem da veracidade da referida mensagem, nem dos meus argumentos, quem acaba por ordenar a minha soltura é o seu sobrinho, o então comandante das Policias e das Forças Armadas, o atual Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, a quem fico a dever a vida
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Obianag - Então com 34, meu libertou |
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