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domingo, 19 de janeiro de 2020

Tributo a Antoine – Cantor e compositor e navegador solitário francês - Meu encontro, em 1974, com um dos mais famosos e populares cantores franceses da década, sessenta e setenta – Obrigado amigo pela oferta da carta marítima do Golfo da Guiné – Foi a primeira pessoa a saber que tencionava fazer a travessia de canoa S. Tomé à Nigéria – Foram 12 dias numa frágil piroga -

Jorge Trabulo Marques – Jornalista, navegador solitário e investigador


RECORDANDO O MEU ENCONTRO, EM SÃO TOMÉ, EM FINAIS DE 1974, COM PIERRE ANTOINE MURACCIOLI - - Um dos mais famosos e populares cantores franceses da década, sessenta e setenta – E também um marinheiro, aventureiro, escritor, fotógrafo e cineasta de origem corsa - Nascido em 4 de junho de 1944 em Tomasina ( Madagáscar, então parte do império colonial francês no qual seu pai estava trabalhando) – 

Obrigado amigo pela oferta da carta marítima do Golfo da Guiné – Foi a primeira pessoa a saber que tencionava fazer a travessia de canoa S. Tomé à Nigéria – Foram 12 dias numa frágil piroga -Tendo partido pela calada da noite da praia Gamboa, numa noite de um grande temporal -Repatriado para Lisboa, ao fim de 17 dias de detenção para averiguações, por ter sido tomado como agitador, regressaria a São Tomé, dias depois da independência, com o objetivo de concluir a escalada do Pico Cão Grande e tentar a travessia de Ano Bom para o Brasil, que acabaria numa penosa deriva de 38 dias até aportar na antiga Ilha de Fernando Pó, atual Bioko, onde seria tomado por espião e enviado para a cadeia dos condenados à morte - Graças a Deus estou vivo, o devo ao então comandante Obiang, atual Presidente, que depois me soltou, contrariando as ordens de seu tio.
Existem três tipos de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar."...

"Existem três tipos de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar."... Antoine, ambos somos amigos do mar, ambos somos tocados pela mesma paixão. Eu tive a felicidade de ter vivido 12 anos numa das mais belas ilhas do mundo, em S. Tomé, onde aprendi a arte de navegar nas frágeis pirogas dos pescadores, meus primeiros mestres, precisamente na ilha onde te encontrei à beira do teu veleiro, junto ao qual me ofereceste uma carta marítima e me destes as tuas opiniões sobre as correntes no Golfo da Guiné, palco de várias das minhas aventuras.

Tu dizes que tiveste “a sorte de ser um viajante e quase nunca ter parado de viajar desde então. J'ai eu la chance d'être un voyageur et je n'ai presque jamais cessé de voyager depuis.

Nasci em um lugar muito exótico , em Tamatave, Madagascar, onde meu pai trabalhava em Obras Públicas da então chamada França Ultramarina ... não me peça lembranças de Madagascar, eu saí aos 2 ou 3 anos e não me lembro de nada ... Em 1946, minha família se mudou para Saint Pierre e Miquelon por duas estadias de quase 3 anos. Se, para lá, eu cruzar o Atlântico quatro vezes em transatlânticos, e se eu navegar modelos de veleiros nas mesmas lagoas onde patinamos no inverno , a chamada do Mar não me afeta. ainda não conseguiu!  Mais pormenores em https://www.futura-sciences.com/planete/personnalites/voyage-antoine-1277/





"Nasci em um lugar muito exótico , em Tamatave, Madagascar, onde meu pai trabalhava em Obras Públicas da então chamada França Ultramarina ... não me peça lembranças de Madagascar, eu saí aos 2 ou 3 anos e não me lembro de nada ... Em 1946, minha família se mudou para Saint Pierre e Miquelon por duas estadias de quase 3 anos. Se, para lá, eu cruzar o Atlântico quatro vezes em transatlânticos, e se eu navegar modelos de veleiros nas mesmas lagoas onde patinamos no inverno , a chamada do Mar não me afeta. ainda não conseguiu!  Mais pormenores em https://www.futura-sciences.com/planete/personnalites/voyage-antoine-1277/

"Antoine , nome artístico de  Pierre Antoine Muraccioli, um cantor pop francês e também um marinheiro, aventureiro, escritor, fotógrafo e cineasta de origem corsa, nascido  em 4 de junho de 1944 em Tomasina ( Madagáscar,  então parte do império colonial francês no qual seu pai estava trabalhando. Quando criança, ele viveu em São Pedro e Miquelon, Marselha e Camarões franceses, retornando definitivamente à França metropolitana em 1958. Ele se formou no Lycée Champollion em Grenoble, destacando-se em matemática avançada.

Como músico, ele fez parte de uma nova onda de cantores e compositores franceses de meados do final da década de 1960, comparável de alguma maneira a Bob Dylan ou Donovan,  mas também evidenciando alguns dos hard rock de garagem. estilo semelhante ao Rolling Stones, The Animals e Them, e alcançar alguma medida do estrelato pop.
Marinheiro
Em 1969, Antoine descobriu-se a  velejar por acaso, depois de alugar uma casa na Riviera Francesa, que incluía um bote. Embora ele nunca tenha parando de escrever e tocar, em 1974 ele também se apaixonou pelo mar e para outras atividades.


Antoine embarcou na vida de um marinheiro e aventureiro. Ele partiu na escuna de aço de 14 metros Om, navegando sozinho 27.000 quilómetros e navegando em portos do Atlântico como Nouadhibou, Rio de Janeiro, Santa Helena, Tristão da Cunha e Caiena, até 1980. [3] [citação necessário]
De 1981 a 1989, Antoine navegou no Atlântico e no Pacífico na saveiro de alumínio de 10 metros Voyage, e desde 1989 ele navega no catamarã de 12,5 metros, Banana Split. [3]
Antoine publicou seu primeiro livro de suas aventuras, Globedrifter (francês: Globe Flotteur) em 1977; vários outros se seguiram, incluindo seu livro sobre navegação à distância Setting Sail (francês: Mettre les Voiles) [nota 1] [3] Antoine fez filmes de suas viagens e apareceu no rádio e na televisão descrevendo suas aventuras, bem como publicou vários livros. https://en.wikipedia.org/wiki/Antoine_(singer)





A procura do divino, a maneira de sentir ainda mais de perto a presença de Deus, contam-se, entre as várias razões, que me levaram a enfrentar a solidão dos mares.
A primeira aventura  foi a  travessia de São Tomé ao Príncipe. Estávamos em 1970. 


Larguei à meia-noite, clandestinamente, pois sabia que, se pedisse autorização, me seria recusada, dada a perigosidade da viagem,   levando comigo apenas uma rudimentar bússola para me orientar. Fui preso pela PIDE,  por suspeita de me querer ir juntar ao movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, no Gabão, o que não era o caso. Levei três dias e enfrentei dois tornados. À segunda noite adormeci e voltei-me com a canoa em pleno alto mar.Esta era minúscula e vivi um verdadeiro drama para me salvar, debatendo-me como extrema dificuldade no meio do sorvedouro denegrido  das águas.


Cinco anos depois, numa piroga um pouco maior, fiz  a ligação de São Tomé à Nigéria. Uma vez mais parti sem dar a conhecer os meus propósitos, ao começo da noite, servindo-me apenas de uma simples bússola. Ao cabo de 12 dias chegava a uma praia ao sul deste país africano, tendo sido detido durante 17 dias  por suspeita de espionagem, após o que fui repatriado para Portugal. Os jornais nigerianos destacaram em primeira página o feito. 


Novembro 1975 – Algures na grande solidão do Golfo da Guiné – Esta bandeira da pátria santomense, ainda com cerca de meio ano após a independência, desfraldada num dia de calmaria, foi-me confiscada e rasgada na cadeia da morte, em Malabo, sob o tenebroso regime de Macias Nguema, na qual fui preso para ser executado por suspeita de espionagem - Quis o destino que o então jovem Obiang Nguema, atual Presidente da Guiné Equatorial, contrariando as ordens do seu tio, me libertasse no dia em que ia ser enforcado - Conhecida por Black Beach, o "buraco do inferno" 

Os objectivos destas travessias visavam demonstrar a possibilidade de antigos povos africanos terem povoado as ilhas, situadas naquele Golfo, muito antes dos nossos navegadores, ali terem chegado, contrariamente ao que defendem as teses coloniais,  que dizem que as ilhas estavam completamente desabitadas  - E a verdade é que, entretanto, já foram encontradas antigas cartas em arquivos, do tempo dos árabes, que provam, justamente, esses contactos com povos que, de há muito, ali viviam. Factos históricos que, de modo algum, poderão pôr em causa o mérito dos nossos arrojados marinheiros


Larguei da praia Gambôa, por volta das oito da noite: quem me conduziu ao local foi o saudoso professor Ferreira da Silva, a quem disse que ia passar uns dias de retiro no ilhéu das Cabras, devido às perseguições e espancamentos que estava a ser alvo por parte de um grupo de colonos, devido aos meus artigos na revista Semana Ilustrada, que não se conformavam com a liberdade de imprensa, instaurada pela revolução do 25 de Abril – Pois, além dos primeiros artigos, na imprensa, do massacre do Batepá, também cheguei a dar  destaque às manifestações pró-independência.


A única pessoa que sabia da minha intenção era a minha companheira Margarida, que também me acompanhou na viatura do Prof Ferreira da Silva –E que, segundo mais tarde vim a saber, além das lágrimas que verteu quando me deu o último beijo de despedida, nessa noite ficou muito preocupada, pois também se apercebeu do violento tornado que nessa noite se abateu sobre a cidade e aquela área e que ainda me surpreendeu muito próximo da costa – Lá me safei com extremas dificuldades, pois os tornados são muito mais perigosos junto a terra de que no alto mar.

DE SIMPLES PRAIA DE PESCADORES A UMA DAS PRINCIPAIS CIDADES DA NIGÉRIA

Na altura, a praia onde aportei,  além da existência das  instalações  petrolíferas, pouco mais era que uma humilde aldeia de pescadores – Hoje, certamente, já terá dado ligar a grandes construções, que é o que depreendo pelas imagens que pude consultar na Internet

Mesmo vila ou cidade, Eket, que existia nas imediações,  comparada com o que é hoje, parece-me muito diferente – É referido que pertence ao estado  de  Akwa Ibom, um dos 36 estados da Nigéria, com uma população de mais de 5 milhões de pessoas e cerca de 10 milhões de pessoas em diaspora. Foi criado em 1987 do antigo estado Cross River e é uma das principais áreas produtoras de petróleo no país. A capital do estado é Uyo, a casa de mais de 500.000 pessoas e um centro acadêmico proeminente Universidade de Uyo. Akwa Ibom, que  tem dois grandes portos marítimos.

Ao cabo de 12 dias chegava a uma praia ao sul deste país africano, depois de ter passado uma confusa noite, sem saber bem para onde me dirigir, numa zona com vários poços de petróleo, em plena laboração, tendo mesmo passado a navegar por baixo da ponte de um deles. O maior problema, porém, podia ter-me surgido  quando me aproximei junto da ré de um petroleiro, que se encontrava fundeado ao largo, supondo-se tratar-se de um porto:  mal me aproximei, fui imediatamente repelido pelo movimento da hélice ,  que se encontrava a trabalhar, possivelmente para produzir energia elétrica: a minha sorte foi não ter sido puxado no sentido inverso, pois quando não teria logo sido desfeito e desaparecido.

Ás tantas, vejo um barco de cabotagem na minha direção, que deveria estar a fazer ligação entre algum petroleiro e a terra: vendo que não se desvia desse rumo, amarrei-me a uma cordo pronto a atirar-me o mar. Ao mesmo tempo que apontava a luz da lanterna para o pano da vela para se afastarem de mim, Mas, uma vez mais a minha boa estrelinha, esteve ao meu lado: o barco passou a uns escassos metros, ao ponto de ouvir mesmo o falatório da sua tripulação mas  não me viram e o perigo lá passou.

 Continuei a velejar com luzes em vários pontos: quando amanheceu voltou a passar outro barco por mim: era um pesqueiro: o barco  abrandou a marcha e ainda me passaram uma garrafa de água. Depois, já muito cansado por não ter dormido em toda a noite, acabei por adormecer, tendo sido acordado com abordagem de três pescadores, que, supondo que a canoa andasse perdida, entraram a bordo da mesma e me ofereceram uma bebida à base de uma fermentação e, amavelmente, me ajudaram a conduzir a canoa para a praia.

Como esta era baixa e o mar estava um bocado picado, e sendo a proa da minha canoa  mais baixa de que a deles, prenderam a canoa deles à ré da minha e,  ora progrediam ora recuavam,  com os seus remos, que me pareceram ainda mais pontiagudos que os de S. Tomé, envergando apenas umas simples tangas.  

Quando a canoa alcançou, já lá tinha a aldeia, talvez em peso à minha espera, pois já os humildes pescadores, que ali viviam numas modestas cubatas, deveriam ter passado a mensagem de que andava uma canoa à deriva à frente à sua aldeia, pelo que, quando ali embicou,  supondo-me naufragado, nem sequer cheguei a pisar o areal, tendo sido levado ao colo para junto de uma cabana, onde uma mulher me abraçou, chorando e procurando confortar-me, supondo que fosse mais um dos náufragos sobreviventes das muitas odisseias que eles ali já conheciam.

Como ainda tinha várias latas de comida comigo, troquei esses mantimentos por saborosos frutos, que gentilmente me ofereceram também – Umas duas horas depois, de carinhoso convívio, sou então conduzido por dois jovens, que me levam numa das suas motorizadas ao longo da praia até à sede das instalações de petróleo.
Sou recebido por um dos chefes, um americano, que me pergunta se quero ficar a trabalhar na refinaria, eu respondo-lhe que não é essa a minha intenção, após o que então ordena que seja levado à esquadra da polícia

Depois de me identificarem, pois levava comigo o passaporte português,  mesmo assim, fotografaram-me em vários perfis, e, como eu estava com a pele mal tratada pelo sol, muito queimado, supondo, certamente, que eu precisasse de assistência médica, conduzem-me ao  Immanuel Hospital, donde só tenho alta,  após fazer uma greve de fome, pois eu sentia-me bem e, apesar de estar a ser bem tratado, o que eu queria era estar em liberdade.

Dali  sou então encaminhado para a cidade de Calabar, onde fico detido numa das celas do Departamento de Emigração para averiguações.  Mas também ali não tive razões de queixa, sempre me forneceram alimentação e nunca me molestaram,  senão o de me sentir aprisionado.
Curiosamente, uns dias depois, entra o chefe na minha cela com um jornal na mão, que mo oferece, com a manchete da noticia do português que tinha aportado solitário às costas da Nigéria.


Depois de ali ter estado uns oito dias,  conduzem-me de avião para Lagos, capital do país, donde sou repatriado para Portugal ao fim de 17 dias de permanência, com o carimbo de repatriado no passaporte.


Regressado a São Tomé, ainda no mesmo ano, e já com São Tomé e Príncipe independente, tentei empreender a  travessia ao Brasil, com o propósito reforçar a minha tese, evocar a rota da escravatura através da grande corrente equatorial e  contribuir para a moralização de futuros náufragos, à semelhança de Alan Bombard.  Segundo este investigador e navegador solitário, a maioria das vítimas morre por inação, por perda de confiança e desespero, do que propriamente por falta de recursos, que o próprio mar pode oferecer. Era justamente o que eu também pretendia demonstrar - Navegando num meio tão primitivo e precário,  levando apenas alimentos para uma parte do percurso e servindo-me, unicamente, de uma simples bússola, sem qualquer meio de comunicar com o exterior, tinha, pois, como intenção, colocar-me nas mesmas condições que muitos milhares de seres humanos que, todos os anos, ficam completamente desprotegidos e entregues a si próprios  - Porém,  quis o destino que fosse mesmo esta a situação que acabasse  por viver.

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