O náufrago que sobrevivi não perde a fé na providência divina – É também um ressuscitado, tal como o exemplo de cristo - Meus testemunhos de fé de quem andou perdido 38 dias numa frágil piroga no Golfo da Guiné.
Ó Deus Omnipotente e Salvador!... Ó JESUS CRISTO!...Ó BELO E MAGNÍFICO EXEMPLO SENHOR MEU!... Que maior tormento e suplício aquele!... Deitado no duro fundo daquele inconstante, encharcado, tosco e frágil madeiro escavado!… Porém, mesmo assim, quão doce e infinito era aquele meu tormento!... Quantas vezes, me lembrei da tua cruz e do teu calvário!... Quando já estavas prostrado e rendido às leis da morte e da vida para te lançarem estendido ao sepulcro!.. Quantas!... Quantas vezes!... Quando tudo à minha volta me parecia revolto e perdido… Sim, no meio avassalador daquelas espessas trevas e noites de breu, cercado pelo tumulto escuro do mar e do céu! E, ante a imensa e tenebrosa solidão, apenas se me afigurava vislumbrar o perfil do teu piedoso rosto… Embora triste e macilento, banhado de suor e de lágrimas!... Mas coroado de esplendorosa caridade e de compaixão… por aqueles mesmos que te traíram e não compreenderam a tua humana, divina e nobre missão! Mas aos quais a áurea que iluminava a tua face, me parecia resplandecer apenas emanada por um infinito sentimento de amor e perdão…

Enfrentando tempestade
Sim, no meu caso, muitos foram os momentos de extrema aflição, que me pareceram verdadeiras eternidades, especialmente durante os longos e difíceis 38 dias, enfrentando tempestades, sucessivas, o doloroso sofrimento da incerteza e da fome, o suplício da sede, com tanta água à minha volta e, por vezes, mesmo bebendo-a, não podendo matar a sede, além de constantes e quase mortíferos ataques de tubarões – porém, de todas as memórias que perduram – e estou certo que perdurarão para o resto da minha vida – o que mais me apraz registar – em todo o imenso somatório das minhas vicissitudes, é o espírito de determinação, de coragem e de uma infinita paciência, o de, nunca, em momento algum, me ter resignado ao extremo abandono e solidão, de lutar, de jamais me ter rendido a cruzar os braços, face às imensas dificuldades, mas o firme e constante propósito de as poder superar.
E, pelo que pude depreender, esta foi justamente uma das mensagens, que julgo ter podido transmitir, com a minha exposição “ Sobreviver no Mar dos Tornados, 38 Dias à Deriva numa Piroga, que apresentei, de 28 a 30 de Julho, em 2015, no Centro Cultural Português, em S. Tomé, depois da 1ª exposição no Padrão dos Descobrimentos, em Março de 1979, além das que pude apresentar posteriormente, em Foz Côa, sede do meu concelho e na cidade da Guarda, capital do meu distrito, e mais recentemente, na freguesia de Santa Comba.
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