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segunda-feira, 18 de março de 2024

Poeta Nuno Júdice – Deixou-nos num domingo, aos 74 anos. Mas fica a poesia serena do seu sorriso com flores da Primavera - Natural de Portimão, Júdice, considerado um dos mais importantes nomes da poesia contemporânea.


Jorge Trabulo Marques
Nuno Júdice - Morreu, em Lisboa, aos 74 anos, o poeta, ensaísta, ficcionista e professor universitário Vítima de cancro



PRIMAVERA - Tem na cabeça um curso de história de arte, mas
quando as flores começam a abrir à sua volta, e
os ramos da árvore se agarram a ela, como braços
obscenos, liberta-se das preocupações teóricas e
oferece o corpo à vista do pintor, para que ele
o transforme numa alegoria da manhã. Entre ela
e o seu corpo, então, surge um conflito que não
consegue resolver: será a mulher do quadro mais
real do que ela? E terão aquelas flores o perfume
que ela respira, enquanto espera que o pintor
termine o seu retrato? As ideias que lhe passam
pela cabeça esvaziam-na de sentimentos; e pode
olhar friamente para aquela situação, pensando
que o próprio pintor se limita a executar o
que vê. Mas aquilo que está em frente dele
é ela; e quando ele se cansa, pousa os pincéis,
e arruma a tela para o fundo do atelier,
resta-lhe vestir-se, receber o que ele lhe
deve, e voltar à sua vida. Porém, já não é
a mesma coisa; e não se esquece da mulher
deitada num canto, respirando o perfume de um
jardim que vai secando, com o tempo, e que
sabe mais do que ela sobre o que é o destino
de quem entregou o seu corpo a quem não soube
o que fazer com ele, depois de o pintar.



Nuno Júdice foi um dos poetas portugueses mais publicados e traduzidos, tendo a sua obra merecido reconhecimento internacional com vários prémios, dos quais se destaca o Prémio Ibero-Americano Rainha Sofia atribuído em 2013. Em 2018, foi galardoado com o prémio PEN do Clube Galego e em 2021, foi distinguido com o Grande Prémio de Poesia Maria Amália Vaz de Carvalho da Associação Portuguesa de Escritores (APE) pela publicação do livro “Regresso a um cenário campestre”, editado em 2020. Foi finalista do Prémio Europeu de Literatura pela obra “Meditação sobre ruínas” que em 1994 já tinha sido distinguida também pela APE.
Em 2022, foi publicado o volume “50 anos de poesia (1972-2022), que reúne o seu trabalho poético durante meio século.

Nuno Júdice, natural do Algarve (nasceu em 1949 na Mexilhoeira Grande, Portimão), é autor de uma extensíssima obra literária e ensaística, sendo há muito anos o diretor da revista "Colóquio-Letras", da Fundação Gulbenkian. Dirigiu também a revista "Tabacaria", da Casa Fernando Pessoa, e foi conselheiro Cultural na embaixada de Portugal em França, de 1997 a 2004. Organizou a Semana Europeia da Poesia, no âmbito da Lisboa’94 - Capital Europeia da Cultura.

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