Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador do povoamento do Golfo da Guiné
Vim a São Tomé mais numa romagem de saudade para rever locais e o amistoso sorriso dos santomenses, de que propriamente para fazer turismo - Se bem que reconheça que não deve haver ilhas mais formosas e pacíficas que estas paradisíacas umbelas luxuriantes que emergem do fundo dos mares, justamente na linha que divide os dois hemisférios
– Não descortinei a menor ponta de hostilidade contra o visitante, bem pelo contrário: a palavra "amigo" é uma expressão corrente, geralmente acompanhada por um sorriso de amável simpatia e de franca cordialidade, sim, com espontâneas provas de carinhoso acolhimento, como se quisessem dar a entender ao forasteiro, que é bem-vindo e já fizesse parte da mesma família
"
"O Sr. não é o Jorge Marques, que até se fotografou com uma barba de abelhas?!" - Interpelava-me ao fim do dia uma mulher, já na casa dos 50, acrescentando: "eu era ainda menina mas lembro bem do sr. Não foi de canoa ao Príncipe?!", eu recordo-me". A televisão reproduziu a noticia do jornal Transparência, acerca da minha estadia, e houve quem me fosse procurar à pensão, fazendo questão de se fotografar ao meu lado para o Facebook. Vim para fazer uma visita discreta mas já vi que as minhas escaladas ao Pico Cão Grande e aventuras de canoa, ainda permanecem na memória de muitas pessoas, sobretudo pela geração mais velha.
Ontem foi a vez de me dirigir à parte mais nordeste de S. Tomé, onde sabia que também me aguardavam boas recordações
Comecei pela enseada da
Rosema a fim de revisitar a praia onde a canoa Yon Gato, me levaria a conhecer uma das mais difíceis
e dramáticas aventuras, ao longo de 38
longos e atribulados dias e noites, depois de ter sido talhada num enorme
madeiro, algures numa das vertentes da soberba floresta que dali se ergue desde
a orla povoada de gogos e de espuma – As antigas instalações do armador Sr.
Paula, já não são propriamente as mesmas.
No entanto, a praia lá esta, com o
mesmo vai e vem eterno das ondas – Foi ali que a frágil piroga levaria os últimos
acabamentos, bem como algumas placas de cobertura nos bordos, na proa e popa,
afim de melhor se defender da violência das ondas
- Acompanhava-me uma amável e voluntariosa equipa do Jornal Transparência - Diário de São Tomé e Príncipe
Tendo como transporte o jipe alugado
por um bom amigo português, o Manuel Gonçalves.
– Não encontrei nenhum pescador ou
qualquer outra pessoa que tivesse assistido à minha largada até à Baía Ana
Chaves onde seria carregada no pesqueiro americano Hornet ao encontro da grande
corrente equatorial que me poderia transportar ao Brasil mas pude ter o prazer
de falar com dois velhos pescadores que ainda se recordavam do companheiro que
a construiu e de a ter visto naqueles estaleiros. Foram realmente momentos de
muita comoção. Tanto mais que ainda pude testar as minhas antigas capacidades
de marinheiro do mares do Golfo da Guiné.
PARECE UMA GRANDE BARCA
MAS NÃO É
A canoa, fotograficamente falando, talvez lhe possa parecer um iate - Sim, de 60 cm de altura por 1 metro de largura. Um
pedaço de um tronco escavado, mais ou menos comprido, com umas ligeiras
coberturas laterais e uma pequena ponte à proa e à popa - Foi talhada num madeiro, cortado na floresta, próximo da Vila das
Neves, da praia donde parti.
Como atrás referi, mandei-a construir a um pescador num tronco de ócá, com o apoio que me generosamente me foi
concedido por algumas pessoas amigas da ilha, mas não chegou a ser
experimentada, nem por ele nem por mim. Estava muito desequilibrada
(pendendo mais a estibordo, porém lá me remediei - com esforço inaudito -
procurando corrigir a deformação, sempre que o pude fazer.
Como atrás referi, mandei-a construir a um pescador num tronco de ócá, com o apoio que me generosamente me foi
Estava-se
na época das chuvas e aquela altura era a mais desaconselhável para navegar
naqueles mares. Se eu tivesse sido largado na corrente equatorial (e bastariam
aí talvez umas 10 milhas a sudoeste) depressa me afastaria daquela zona
turbulenta Assim, eu fui ao seu encontro:- ao encontro de um longo e penoso
calvário!.. Mais a mais ia sozinho e aquela canoa precisava de pelo menos mais
dois braços para se manobrar - sobretudo com mar muito agitado e batido. Tinha
60 cm de altura por um metro de largura mas era comprida.
Navegar numa frágil canoa não é a mesma coisa que navegar num iate onde o piloto automático até pode fazer todo o trabalho.. Ali, é necessária uma atenção permanente. Podem fazer grandes travessias e enfrentar as condições mais adversas - e era isso que eu queria demonstrar e já tinha demonstrado nos 13 dias de mar à Nigéria, tal como o teriam feito os primeiros povoadores das Ilhas do Golfo, embarcados do litoral em grandes pirogas e que ainda hoje se constroem na costa de África - Não em S. Tomé, porque as roças ocupavam tudo e não permitiam o abate das grandes árvores, além disso, puxar as canoas de encostas íngremes, não é tarefa fácil, enquanto o litoral africano é vasto e as possibilidades são maiores - Mesmo assim, aquele tamanho, é pouco usual nas ilhas e, quando os pescadores as utilizam, são precisos mais braços - Se é a remo e à vela, no mínimo, são necessárias duas pessoas. E até porque é muito arriscado, dormir sem mais alguém a zelar pela sua navegação - mesmo que se habitue a ter o sono dos gatos, era o meu caso.
AO ENCONTRO DAS RAÍZES DO POVOAMENTO DAS ILHAS DO GOLFO DA GUINÉ
Pouco
tempo após ter desembarcado em S. Tomé, em 1963, fiquei logo com a impressão de que estas maravihosas ilhas, eram
possuidoras de uma história muito mais antiga, que a admitida pelos compêndios coloniais. Aos povos africanos, situados no litoral e a sul de São Tomé, não
teria sido difícil aproveitar a direção dos ventos e das correntes.
Lembrava-me
das façanhas dos pescadores são-tomenses, dos seus antepassados que demandaram as ilhas, dos barcos negreiros que ali
aportaram e também dos marinheiros portugueses que por estas águas navegaram;
imaginava quantos naufrágios e sofrimentos aqueles mares, já não teriam
causado.
Demonstrei a
possibilidade das ilhas poderem ter sido povoadas por povos do litoroal do continente africano através das várias travessias que empreendi - De
resto, não será por mero acaso que as canoas surgem nas cartas do século XVII,
com idêntico destaque ao das caravelas.
Pois julgo que também as canoas africanas, à
semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar alto:
percorrendo extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos
navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da
história": que, velejando em linha, cada uma à distancia da visão da
canoa que lhe seguia atrás, até qualquer
delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso
oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas
das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento
náutico
JOÃO DE SANTARÉM E PERO
ESCOBAR, QUANDO PARTIRAM, SABIAM O QUE PROCURAVAM - MAS, NESSE
TEMPO, JÁ AS PIROGAS ERAM SOBERANAS E CRUZAVAM OS AS ÁGUAS DO GOLFO M.. - Pelos menos aos cartógrafos do século XVII,
não passava despercebida a sua importância
"Ao mar do cabo de
Lopo Gonçalves, sessenta léguas de caminho ao loes-noroeste deste cabo, está a
ilha que se chama S. Tomé, a qual mandou descobrir o Sereníssimo Rei D. João o
Segundo de Portugal, e a povoou" .Breve história das ilhas do Golfo da Guiné..
P
HÁ QUE DISTINGUIR A EPOPEIA MARÍTIMA DA COLONIZAÇÃO, QUE SUBJUGOU E TIRANIZOU OS POVOS.
P
HÁ QUE DISTINGUIR A EPOPEIA MARÍTIMA DA COLONIZAÇÃO, QUE SUBJUGOU E TIRANIZOU OS POVOS.
Depois de deixar a praia Rosema e atravessar a principal rua da cidade das Neves, o itinerário seguinte era o de continuar pela mesma estrada em direção a Anambô - E, ali, após desfrutar de mais uns belíssimos recortes do litoral nordeste da Ilha, revisitar um dos pontos históricos da colonização portuguesa .
Sim, passados 44 anos, ali me encontrava de novo na Baía de Anambô
para mais um momento evocativo, agora para homenagear os marinheiros
de dois países irmãos, com profundos laços linguísticos e históricos – De
Portugal e de São Tomé e Príncipe - Após ter deixado, há 39 anos, a Ilha de S.
Tomé para uma travessia oceânica, que, devido a um violento tornado, acabaria
por resultar num longo e dramático naufrágio de 38 dias, aqui voltei a maravilhar-me,
coma a tranquilidade edílica de um dos
mais belos recantos da orla espumosa e verdejante deste verdadeiro paraíso
equatorial.
Estive neste mesmo local, no dia 21 de Dezembro de 1970 e numa data em que se comemoravam os
500 anos sobre a referido desembarque por João de Santarém e Pero Escobar. Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa
que eu procurei através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje
questiono), outra, as prepotências e o sectarismo da colonização, as omissões
ou a verdade que convinha ao Reino..
Todavia, quer os portugueses, nas frágeis caravelas, quer os primeiros
povoadores, nas suas toscas pirogas, foram lobos do mar e heróis desbravadores
à sua maneira.
Ontem, dia 24 de Outubro, voltei ali para expressar igualmente a
minha singela homenagem com a imagem das duas bandeiras: de Portugal e de São
Tomé e Príncipe. Sou um crítico por muitos aspetos da colonização mas não deixo de admirar a coragem daqueles antigos navegadores -
Naquela altura, quando ali naveguei de canoa, a
remos e a vela, desde a Baía Ana de Chaves, contrariamente ao ambiente que se
festejava na então Praça de Portugal, dir-se-ia que o meu gesto decorria como
que em silêncio contemplativo e retrospetivo, apenas presenciado por um
fotógrafo da Agência Geral do Ultramar, que ali se deslocou para fazer o
registo para a posteridade.
Porém, agora, testemunhado por dois ativos e voluntariosos jornalistas do Jornal Transparência - Diário de São Tomé e Príncipe (Adilson Castro e João Soares) que tiveram a gentileza de me acompanhar e de se associar ao singelo espírito evocativo, registando-o, bem como ainda a presença de Mauel Gonçalves, um português de visita turística a estas ilhas. Não se ouviram no local outras vozes, senão a do testemunho solidário, estudioso e amigo destes cidadãos. Tudo o mais - e sob uma atmosfera intensamente luminosa - era a voz do vento e o marulhar das ondas rolando no gogos negros e reluzentes da praia que a escassos metros iam rebentar em montões de imaculada espuma, talvez como à chegada dos primeiros homens que penetraram naquele recôncavo terrestre, ladeado por denso, idílico e luxuriante
manto
Porém, agora, testemunhado por dois ativos e voluntariosos jornalistas do Jornal Transparência - Diário de São Tomé e Príncipe (Adilson Castro e João Soares) que tiveram a gentileza de me acompanhar e de se associar ao singelo espírito evocativo, registando-o, bem como ainda a presença de Mauel Gonçalves, um português de visita turística a estas ilhas. Não se ouviram no local outras vozes, senão a do testemunho solidário, estudioso e amigo destes cidadãos. Tudo o mais - e sob uma atmosfera intensamente luminosa - era a voz do vento e o marulhar das ondas rolando no gogos negros e reluzentes da praia que a escassos metros iam rebentar em montões de imaculada espuma, talvez como à chegada dos primeiros homens que penetraram naquele recôncavo terrestre, ladeado por denso, idílico e luxuriante
manto
Contudo, verifiquei que os velhos coqueiros debruçados sobre o mar foram substituídos por castanheiros da índia e existe um muro a separar a margem, que não havia. Aparentemente mais bem conservado do que estava naquela altura, onde passei uma noite horrível, com as costas sobre lascas e gogos de todos os tamanhos e feitios (pois ali não existe praia de areia), mesmo quase sobre a margem onde as ondas vinham bater, embrulhado pelas palmas dos coqueiros mas constantemente a ser espicaçado e mordido por enormes caranguejos do mar e da terra, que não me deram um minuto de descanso
Não me deitei no mato, receando as cobras negras.
E, ao alvorecer, perante aquele vetusto e simbólico padrão, rodeado de palmas, tão belas, sonoras e
verdejantes, não me importei de
homenagear os marinheiros de quinhentos, com a bandeira portuguesa. .
De facto, há que realçar a coragem dos marinheiros
lusitanos, que se fizeram ao mar apenas munidos de um mero astrolábio - Não
dispunham de sextante, nem de cronómetro ou sequer de almanaque náutico que
lhes possibilitasse algum rigor da navegação - Não iam completamente às cegas,
porém, embora dispondo de alguma
informação, iam à aventura! - Indubitavelmente, foram grandes navegadores
aventureiros!
São Tomé 39 anos depois – – Ainda não perdi a experiência –Teste na Baia Rosema, largara da Cidade das Neves, donde parti para a tentativa de uma travessia de S. Tomé ao Brasil, que acabaria numa longa e penosa deriva de 38 dias - Eis como tudo começou:
A princípio fui para ali trabalhar numa roça mas comecei por não me adaptar, lá muito bem. O administrador da roça queria que eu tratasse os trabalhadores negros por tu. Dizia ele que era "a maneira de guardarem respeito ao branco" e de eles trabalharem". Evidentemente que não me adaptei... E o dinheiro que me pagavam ao fim do mês, comparado com as promessas que me fizeram, depois de feitos os descontos para alimentação e pagamento da viagem, não me ficava quase nada. Claro que não fui para São Tomé com o objetivo de fazer fortuna, mas esperava que ao menos me atribuíssem uma compensação humanamente digna. E então os pobres trabalhadores ?!... Autênticos escravos!..
A princípio fui para ali trabalhar numa roça mas comecei por não me adaptar, lá muito bem. O administrador da roça queria que eu tratasse os trabalhadores negros por tu. Dizia ele que era "a maneira de guardarem respeito ao branco" e de eles trabalharem". Evidentemente que não me adaptei... E o dinheiro que me pagavam ao fim do mês, comparado com as promessas que me fizeram, depois de feitos os descontos para alimentação e pagamento da viagem, não me ficava quase nada. Claro que não fui para São Tomé com o objetivo de fazer fortuna, mas esperava que ao menos me atribuíssem uma compensação humanamente digna. E então os pobres trabalhadores ?!... Autênticos escravos!..
Por força dessa minha inadaptação, o meu passa-tempo predileto, era então o mar...Praticamente, desde que ali desembarquei, vi nele uma espécie de refúgio. Qualquer coisa onde me sentia livre de todos os aborrecimentos. Um horizonte sempre aberto e imenso, que me abria as portas a uma incontível ânsia de ir mais além na procura de uma felicidade imaginária que naquele meio ambiente eu não encontrava.
Por isso, sempre que podia, frequentava as belas praias de São Tomé. Comecei por manter estreitos contactos com os pescadores, homens corajosos e simpáticos. Aprendi a equilibrar-me nas suas canoas, começando primeiro por dar pequenos passeios de praia em praia., até que por fim veio a paixão - E, a par disso, também outras interrogações
Por isso, sempre que podia, frequentava as belas praias de São Tomé. Comecei por manter estreitos contactos com os pescadores, homens corajosos e simpáticos. Aprendi a equilibrar-me nas suas canoas, começando primeiro por dar pequenos passeios de praia em praia., até que por fim veio a paixão - E, a par disso, também outras interrogações
só canoa
de gente de feitiço" é que o tornado a levava ao Príncipe ou ao Gabão;
"outra, vem gandú (tubarão), vira a canoa e come-lhe a perna" .
Achava que era uma superstição, sem fundamento e havia que desfazer esse
fantasma: concluía que, se o tornado arrastava para lá a canoa,
involuntariamente, também lá se podia ir por vontade própria. Face a essas
lucubrações, comecei a pensar que, um dia, eu devia fazer-lhe essa demonstração
- A par disso, questionava-me também sobre o seu passado longínquo: se não
teria sido através das canoas que os seus ancestrais não teriam vindo do
continente africano.
Foi,
pois, graças a esses contactos com os pescadores santomenses, quando
trabalhei na Roça Ribeira Peixe, que iniciei a minha aprendizagem
sobre a técnica da arte de navegar nas suas frágeis pirogas e que o espírito de
aventura marítimo, se me foi desenvolvendo. E, alguns anos depois,
simultaneamente, o desafio da escalada ao Pico Cão Grande, que ali
se ergue, numa zona onde existem várias aldeias dos hábeis pescadores
"angolares".- Na verdade, não é pois a riqueza material
que mais me interessa. Mas também não é o desejo de me tornar famoso, a razão
pela qual tenho arriscado a vida. Sim, porque, excetuando esta
última viagem marítima, tenho partido clandestinamente, sem dar conhecimento
para onde vou e o que vou fazer. Sem o apoio, aprovação ou a reprovação
de quem quer que seja.
Sabia
dos muitos perigos que me podiam esperar - não os desdenhava! - mas
entregava-me ao oceano de coração aberto, possuído de uma enorme paixão, em
demanda dos grandes espaços e de uma infinita liberdade, tal qual as aves
migradoras! Olhava-o como se fosse já meu familiar e meu amigo. Embora sabendo
que a sua face, quando acometida de irascível crueldade, havia sido palco de
muitas tragédias, havia engolido muitos barcos e tragado muitas vidas. Contudo,
eu não ia ali apenas movido pelo prazer da aventura: só por isso, não sei se
compensaria... Mas orientado por razões mais fortes
O POVOAMENTO DAS ILHAS DE SÃO TOMÉ E PRINCIPE NÃPO COMEÇOU APENAS HÁ CINCO SÉCULOS
O mundo não é de
ontem nem de hoje. E nem só de há cinco séculos que o homem se arrojou nas
grandes viagens de navegação. Mesmo que o povoamento das
ilhas do Golfo da Guiné, não fosse feito através de pirogas, já os navegadores
fenícios, cartagineses e árabes, há muito haviam demandado aqueles mares, pelo
que não deixariam de procurar extrair alguns benefícios das ilhas e deixar lá
algumas pessoas.
Porém,
muito antes mesmo dessas viagens, julgo que já
os africanos eram os senhores dos mares, costa africana
e ilhas - Atlântico, Mediterrâneo e no Índico - experientes artesãos e
audaciosos mestres na arte de navegar nas suas canoas Formaram verdadeiras
civilizações, que foram retalhadas pela expansão colonial. .A supremacia do
homem branco sobre outras raças, não passa de uma ideia absurda, de um preconceito...
A existência de antigos mapas não deixa margem para dúvidas.
Os portugueses foram grandes navegadores - E talvez dos maiores navegadores daqueles tempos. Um país, tão pequeno e com tão fracos recursos económicos, ter feito o que fez, foi realmente uma verdadeira odisseia. Há, pois, que enaltecer a coragem daqueles bravos pilotos e marinheiros.
A existência de antigos mapas não deixa margem para dúvidas.
Os portugueses foram grandes navegadores - E talvez dos maiores navegadores daqueles tempos. Um país, tão pequeno e com tão fracos recursos económicos, ter feito o que fez, foi realmente uma verdadeira odisseia. Há, pois, que enaltecer a coragem daqueles bravos pilotos e marinheiros.
Todavia, surge o
aspeto negativo: o do consequente domínio colonial,
através das armas, do avanço bélico, sobre povos pacíficos, tal como o
fizerem outros europeus: aproveitando-se de prévios conhecimentos,
seguindo rotas já conhecidas, orientaram as suas navegações, não propriamente
para estabelecerem laços culturais ou de um pacífico intercâmbio comercial,
mas para imporem a sua vontade, o domínio e a exploração do comércio e
das riquezas naturais, com mão-de-obra escrava.
De facto, a grande
lição de que os portugueses se podem orgulhar é a de que, embora sendo um pequeno
país, cruzou mares e expandiu-se para os vários cantos do mundo.
A subjugação de povos e o domínio colonial sobre os mesmos, não será, com
certeza, a nota mais emblemática a recordar
NÃO
CHEGUEI ATRAVESSAR O OCEANO ATLÂNTICO, TAL COMO ESPERAVA MAS CONTINUO ACREDITAR QUE SÃO POSSÍVEIS LONGAS TRAVESSIAS
MESMO ASSIM:
Comprovei que
as canoas vão ao cabo do mundo; . naveguei e fui arrastado por centenas de milhas
e estabeleci ligações de uma delas ao continente - São Tomé-Nigéria.
e difícil navegar a bordo destas frágeis embarcações e eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso -Mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes.
e difícil navegar a bordo destas frágeis embarcações e eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso -Mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes.
Os pescadores (nas Ilhas) aos quais se inculcou o
fantasma de que gente só de feitiço é que o tornado não volta canoa ou que o “Gandú não engole perna de gente”,
poderão estar descansados – Se a tempestade algum dia os surpreender e os
arrastar fora do alcance da sua praia e da sua querida ilha, não se importem,
deixem-se levar pelo seu ímpeto.
Não cruzem os braços e se deem por vencidos:
Remem ou velejem, sempre que puderem ou então deixem
que a canoa vogue à flor das ondas, que o mar não quer nada que lhe seja
estranho e a algum ponto da costa, hão de ir parar
BASTA QUE NÃO PERCAM A CALMA E SE ALIMENTEM COM A PESCA: A CARNE DO PEIXE MATA A FOME E O SANGUE, QUE NÃO É SALGADO, A SEDE - E A ÁGUA DA CHUVA, COM UM POUCO DE ÁGUA DO MAR, É AINDA MELHOR.
A CANOA SÓ VAI AO FUNDO SE ESTIVER MUITO CHEIA DE PESCADO OU NÃO
FOR DE ÓCÁ. O MAR BRINCA
COM O SEU CASCO E O SEU CASCO DESLIZA E BRINCA COM O MAR.
Também as canoas
africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar
alto: Fizeram extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos
navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da
história": que, velejando em linha, cada uma à distancia da
visão da canoa que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha
habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as
mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo
sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico
AS CANOAS DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE SÃO MAIS
PEQUENAS QUE AS DO LITORAL AFRICANO - As ilhas são montanhosas e as roças
também não permitiam o abate de grandes árvores - Mas a ligação dos
primeiros povos foi realizada a partir da costa africana para as ilhas à
vela e a remos. Actualmente, são frequentes as viagens da Nigéria para São Tomé,
com auxílio de motores fora de borda- O regresso é feito à veja e a motor.
LEVADOS PELO ESPÍRITO DE
AVENTURA, PELO INSTINTO MIGRADOR DAS AVES - que partilhavam a mesma
alegria e abundância da Mãe-Natureza, pelo acaso ou por outras razões que a
razão desconhece e só Neptuno poderia interpretar, sim, ao Mar se fizeram nas
suas pirogas e por lá se fixaram nas suas majestosas Ilhas a que
aportaram.
ALGUNS VOLTARAM ÀS TERRAS DE ORIGEM PARA TRAZEREM AS MULHERES E OS FILHOS.
E a notícia das suas maravilhas, depressa se espalharia... E, assim, pouco a pouco se foi constituindo um Povo, que se aventurou pelo oceano a fora, atraído por ilhas que lhe terão parecido os Jardins do Éden ou os Paraísos mais belos que hão conhecido
ALGUNS VOLTARAM ÀS TERRAS DE ORIGEM PARA TRAZEREM AS MULHERES E OS FILHOS.
E a notícia das suas maravilhas, depressa se espalharia... E, assim, pouco a pouco se foi constituindo um Povo, que se aventurou pelo oceano a fora, atraído por ilhas que lhe terão parecido os Jardins do Éden ou os Paraísos mais belos que hão conhecido
O que ignoravam é que a paz, a
tranquilidade secular, endémica, haveria de vir a ser quebrada,
abruptamente, com a chegada de homens e modos de ser completamente
estranhos e adversos à sua cultura e ao seu pacífico modo de vida.
2 comentários :
Parabéns pelo regresso às ilhas paradisíacas!...
Tu historia y aventuras me parecen maravillosas... Me encantaría tener la oportunidad de ascender al pico Câo Grande; ¿sabes si esto es actualmente posible?
Felicidades por tus vida y aventuras, y por poder volver a esa bella tierra.
Un saludo cordial desde España.
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