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domingo, 26 de outubro de 2014

São Tomé 39 anos depois – Praia da Rosema, cidade de Neves – A evocação da largada na canoa solitária Yon Gato para a longa odisseia dos 38 dias à deriva – E a revisitação em Anambô, no Padrão dos Descobrimentos





 Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador do povoamento do Golfo da Guiné



 
Vim a São Tomé mais numa romagem de saudade para rever locais e o amistoso sorriso dos santomenses, de que propriamente para fazer turismo - Se bem que reconheça que não deve haver  ilhas mais formosas e pacíficas  que estas paradisíacas umbelas luxuriantes que emergem do fundo dos mares, justamente na linha que divide os dois hemisférios





 – Não descortinei a menor ponta de hostilidade contra o visitante, bem pelo contrário: a palavra "amigo"  é uma expressão corrente, geralmente acompanhada por um sorriso de amável simpatia e de franca cordialidade, sim,  com espontâneas  provas de carinhoso acolhimento, como se   quisessem dar a entender ao forasteiro, que é bem-vindo e já fizesse parte da mesma família


"
"O Sr. não é o Jorge Marques, que até se fotografou com uma barba de abelhas?!" - Interpelava-me ao fim do dia uma mulher, já na casa dos 50, acrescentando: "eu era ainda menina mas lembro bem do sr.  Não foi de canoa ao Príncipe?!", eu recordo-me". A televisão reproduziu a noticia do jornal Transparência, acerca da minha estadia, e houve quem me fosse procurar à pensão, fazendo questão de  se fotografar ao meu lado para o Facebook. Vim para fazer uma visita discreta mas já vi que as minhas escaladas ao Pico Cão Grande e aventuras de canoa, ainda permanecem na memória de muitas pessoas, sobretudo pela geração mais velha.

Ontem foi a vez de me dirigir à parte mais nordeste de S. Tomé, onde sabia que também me aguardavam boas recordações




 
(imagens da construção da piroga)



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Comecei pela enseada da Rosema a fim de revisitar a praia onde a canoa Yon  Gato, me levaria a conhecer uma das mais difíceis e dramáticas aventuras,  ao longo de 38 longos e atribulados dias e noites, depois de ter sido talhada num enorme madeiro, algures numa das vertentes da soberba floresta que dali se ergue desde a orla povoada de gogos e de espuma – As antigas instalações do armador Sr. Paula, já não são propriamente as mesmas. 

No entanto, a praia lá esta, com o mesmo vai e vem eterno das ondas – Foi ali que a frágil piroga levaria os últimos acabamentos, bem como algumas placas de cobertura nos bordos, na proa e popa, afim de melhor se defender da violência das ondas  - Acompanhava-me uma amável e voluntariosa equipa do Jornal Transparência - Diário de São Tomé e Príncipe Tendo como  transporte o jipe alugado por um bom amigo português, o Manuel Gonçalves.


– Não encontrei nenhum pescador ou qualquer outra pessoa que tivesse assistido à minha largada até à Baía Ana Chaves onde seria carregada no pesqueiro americano Hornet ao encontro da grande corrente equatorial que me poderia transportar ao Brasil mas pude ter o prazer de falar com dois velhos pescadores que ainda se recordavam do companheiro que a construiu e de a ter visto naqueles estaleiros. Foram realmente momentos de muita comoção. Tanto mais que ainda pude testar as minhas antigas capacidades de marinheiro do mares do Golfo da Guiné.

PARECE UMA GRANDE BARCA MAS NÃO É

 A canoa, fotograficamente falando, talvez lhe possa parecer um iate - Sim, de 60 cm de altura por 1 metro de largura. Um pedaço de um tronco escavado, mais ou menos comprido, com umas ligeiras coberturas laterais e uma pequena ponte à proa e à popa - Foi talhada num madeiro, cortado na floresta, próximo  da Vila das Neves,  da praia donde parti. 

Como atrás referi, mandei-a construir a um pescador num tronco de ócá, com o apoio que me  generosamente me foi

concedido por algumas pessoas amigas da ilha, mas não chegou a ser experimentada, nem por ele nem por mim.  Estava muito desequilibrada (pendendo mais a estibordo,  porém lá me remediei - com esforço inaudito - procurando corrigir a deformação, sempre que o pude fazer.

Estava-se na época das chuvas e aquela altura era a mais desaconselhável para navegar naqueles mares. Se eu tivesse sido largado na corrente equatorial (e bastariam aí talvez umas 10 milhas a sudoeste) depressa me afastaria daquela zona turbulenta Assim, eu fui ao seu encontro:- ao encontro de um longo e penoso calvário!.. Mais a mais ia sozinho e aquela canoa precisava de pelo menos mais dois braços para se manobrar - sobretudo com mar muito agitado e batido. Tinha 60 cm de altura por um metro de largura mas era comprida.


Navegar numa frágil  canoa não é a mesma coisa  que navegar num iate onde o piloto automático até pode fazer todo o trabalho.. Ali, é necessária uma atenção permanente.  Podem fazer grandes travessias e enfrentar as condições mais adversas - e era isso que eu queria demonstrar e já tinha demonstrado nos 13 dias de mar à Nigéria, tal como o teriam feito os primeiros povoadores das Ilhas do Golfo, embarcados do litoral em  grandes pirogas e que ainda hoje se constroem na costa de África -  Não em S. Tomé, porque as roças ocupavam tudo e não permitiam o abate das grandes árvores, além disso, puxar as canoas de encostas íngremes, não é tarefa fácil, enquanto o litoral africano é vasto e as possibilidades são maiores - Mesmo assim,  aquele tamanho, é pouco usual nas ilhas e, quando os pescadores as utilizam,  são precisos mais braços - Se é a remo e à vela, no mínimo, são necessárias duas pessoas. E até porque é  muito arriscado, dormir sem mais alguém a zelar pela sua navegação - mesmo que se habitue a ter o sono dos gatos, era o meu caso.

 AO ENCONTRO DAS RAÍZES DO POVOAMENTO DAS ILHAS DO GOLFO DA GUINÉ

Pouco tempo após ter desembarcado em S. Tomé, em 1963, fiquei logo com a impressão de que estas maravihosas ilhas, eram possuidoras de uma história muito mais antiga, que a admitida pelos compêndios coloniais. Aos povos africanos, situados no litoral e a sul de São Tomé, não teria sido difícil aproveitar a direção dos ventos e das correntes.

Lembrava-me das façanhas dos pescadores são-tomenses, dos seus antepassados que demandaram as ilhas, dos barcos negreiros que ali aportaram e também dos marinheiros portugueses que por estas águas navegaram; imaginava quantos naufrágios e sofrimentos aqueles mares, já não teriam causado.

Demonstrei a possibilidade das ilhas poderem ter sido povoadas por povos do litoroal do continente africano através das várias travessias que empreendi - De resto, não será por mero acaso que as canoas surgem nas cartas do século XVII, com idêntico destaque ao das caravelas. 

Em minha modesta opinião, a história das descobertas prima mais pela ficção e efabulação de que em dar-nos conta do que se verdadeiramente se passou. Mas o fenómeno da sublimação foi transversal a outras potências coloniais

Pois julgo que também as canoas africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar alto: percorrendo extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da história":  que, velejando  em linha, cada uma à distancia da visão da canoa  que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico

JOÃO DE SANTARÉM E PERO ESCOBAR, QUANDO PARTIRAM, SABIAM O QUE PROCURAVAM - MAS, NESSE TEMPO, JÁ AS PIROGAS ERAM SOBERANAS E CRUZAVAM OS AS ÁGUAS DO GOLFO M.. - Pelos menos aos cartógrafos do século XVII, não passava despercebida a sua importância
 
"Ao mar do cabo de Lopo Gonçalves, sessenta léguas de caminho ao loes-noroeste deste cabo, está a ilha que se chama S. Tomé, a qual mandou descobrir o Sereníssimo Rei D. João o Segundo de Portugal, e a povoou" .Breve história das ilhas do Golfo da Guiné..

P
HÁ QUE DISTINGUIR A EPOPEIA MARÍTIMA DA COLONIZAÇÃO, QUE SUBJUGOU E TIRANIZOU OS POVOS.

Depois de deixar a praia  Rosema e atravessar a principal rua da cidade das Neves, o itinerário seguinte era o de continuar  pela mesma estrada em direção a Anambô - E, ali,   após desfrutar de mais uns  belíssimos recortes do litoral nordeste da Ilha, revisitar um dos pontos históricos da colonização portuguesa .

Sim, passados 44 anos, ali me encontrava de novo na Baía de Anambô para mais um momento evocativo,  agora para homenagear os marinheiros de dois países irmãos, com profundos laços linguísticos e históricos – De Portugal e  de São Tomé e Príncipe  - Após ter deixado, há 39 anos, a Ilha de S. Tomé para uma travessia oceânica, que, devido a um violento tornado, acabaria por resultar num longo e dramático naufrágio de 38 dias, aqui voltei a maravilhar-me, coma a tranquilidade edílica de um  dos mais belos recantos da orla espumosa e verdejante deste verdadeiro paraíso equatorial.

Estive neste mesmo local,  no dia 21 de Dezembro de 1970 e numa data em que se comemoravam os 500 anos sobre a referido desembarque por João de Santarém e Pero Escobar.  Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa que eu procurei através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje questiono), outra, as prepotências e o sectarismo da colonização, as omissões ou  a verdade que convinha ao Reino.. Todavia, quer os portugueses, nas frágeis caravelas, quer os primeiros povoadores, nas suas toscas pirogas, foram lobos do mar e heróis desbravadores à sua maneira.

Ontem, dia 24 de Outubro, voltei ali para expressar igualmente a minha singela homenagem com a imagem das duas bandeiras: de Portugal e de São Tomé e Príncipe. Sou um crítico por muitos aspetos da colonização mas não deixo de admirar a coragem daqueles antigos navegadores -


Naquela altura, quando ali naveguei de canoa, a remos e a vela, desde a Baía Ana de Chaves, contrariamente ao ambiente que se festejava na então Praça de Portugal, dir-se-ia que o meu gesto decorria como que em silêncio contemplativo e retrospetivo, apenas presenciado por um fotógrafo da Agência Geral do Ultramar, que ali se deslocou para fazer o registo para a posteridade. 

Porém, agora, testemunhado por dois ativos  e voluntariosos   jornalistas do Jornal Transparência - Diário de São Tomé e Príncipe (Adilson Castro e  João Soares) que tiveram a gentileza de me acompanhar e de se associar ao singelo espírito evocativo, registando-o, bem como ainda a presença de Mauel Gonçalves,  um português de visita turística a estas ilhas. Não se ouviram no local outras vozes,  senão a do testemunho solidário, estudioso e amigo destes cidadãos. Tudo o mais  - e sob uma atmosfera intensamente luminosa - era a voz  do vento e o marulhar das ondas rolando no gogos negros e reluzentes da praia que a escassos metros iam rebentar em montões de imaculada espuma, talvez como  à chegada dos primeiros homens que penetraram naquele recôncavo terrestre, ladeado por denso, idílico e luxuriante
manto





Contudo, verifiquei que os velhos coqueiros debruçados sobre o mar foram substituídos por castanheiros da índia e existe um muro a separar a margem, que não havia. Aparentemente  mais bem conservado do que estava naquela altura, onde passei uma noite horrível, com as costas sobre lascas e gogos de todos os tamanhos e feitios (pois ali não existe praia de areia), mesmo quase sobre a margem onde as ondas vinham bater, embrulhado pelas palmas dos coqueiros mas constantemente a ser espicaçado e mordido por enormes caranguejos do mar e da terra, que não me deram um minuto de descanso

Não me deitei no mato, receando as cobras negras. E, ao alvorecer, perante aquele vetusto e simbólico padrão,  rodeado de palmas, tão belas, sonoras e verdejantes, não me importei de  homenagear os marinheiros de quinhentos, com a bandeira portuguesa.  .

De facto, há que realçar a coragem dos marinheiros lusitanos, que se fizeram ao mar apenas munidos de um mero astrolábio - Não dispunham de sextante, nem de cronómetro ou sequer de almanaque náutico que lhes possibilitasse algum rigor da navegação - Não iam completamente às cegas, porém,  embora dispondo de alguma informação, iam à aventura! - Indubitavelmente, foram grandes navegadores aventureiros!

Sou português  e não descuro os feitos marítimos dos meus antepassados. Mas também não quero fazer  como a avestruz e meter a cabeça debaixo da areia. Nem fazer dos compêndios coloniais a bíblia sagrada.  Sem deixar de admirar a coragem dos antigos navegadores,  busco outras interpretações

 


São Tomé 39 anos depois –  – Ainda não perdi a experiência –Teste na Baia Rosema, largara da Cidade das Neves, donde parti para a tentativa de uma travessia de S. Tomé ao Brasil, que acabaria numa longa e penosa deriva de 38 dias -  Eis como tudo começou: 

A princípio fui para ali trabalhar numa roça mas comecei por não me adaptar, lá muito bem. O administrador da roça queria que eu tratasse os trabalhadores  negros por tu. Dizia ele que era "a maneira de guardarem respeito ao branco" e de eles trabalharem". Evidentemente que não me adaptei... E o dinheiro que me pagavam ao fim do mês, comparado com as promessas que me fizeram,  depois de feitos os descontos para alimentação e pagamento da viagem, não me ficava quase nada.  Claro que não fui para São Tomé com o objetivo de fazer fortuna, mas esperava que ao menos me atribuíssem uma compensação humanamente digna. E então os pobres  trabalhadores ?!... Autênticos escravos!..  

Por força dessa minha inadaptação, o meu passa-tempo predileto, era então o mar...Praticamente, desde que ali desembarquei, vi nele uma espécie de refúgio. Qualquer coisa onde me sentia livre de todos os aborrecimentos. Um horizonte sempre aberto e imenso, que me abria as portas a uma incontível ânsia de ir mais além na procura de uma felicidade imaginária  que naquele meio ambiente eu não encontrava.
 
Por isso, sempre que podia, frequentava as belas praias de São Tomé. Comecei por manter estreitos contactos com os pescadores, homens corajosos e simpáticos. Aprendi a equilibrar-me nas suas canoas, começando primeiro por dar pequenos passeios de praia em praia., até que por fim veio a paixão - E, a par disso, também outras interrogações

só canoa de gente de feitiço" é que o tornado a levava ao Príncipe ou ao Gabão; "outra, vem gandú (tubarão), vira a canoa e come-lhe a perna" . Achava que era uma superstição, sem fundamento e  havia que desfazer esse fantasma: concluía que, se o tornado arrastava para lá a canoa, involuntariamente, também lá se podia ir por vontade própria. Face a essas lucubrações, comecei a pensar que, um dia, eu devia fazer-lhe essa demonstração - A par disso, questionava-me também sobre o seu passado longínquo: se não teria sido através das canoas que os seus ancestrais não teriam vindo do continente africano.

Foi, pois, graças a esses contactos  com os pescadores santomenses, quando trabalhei na Roça Ribeira Peixe,  que  iniciei a minha aprendizagem sobre a técnica da arte de navegar nas suas frágeis pirogas e que o espírito de aventura marítimo, se me foi desenvolvendo. E, alguns anos depois, simultaneamente,   o desafio da escalada ao Pico Cão Grande, que ali se ergue, numa zona onde existem várias aldeias dos hábeis pescadores "angolares".-  Na verdade, não é pois  a riqueza material que mais me interessa. Mas também não é o desejo de me tornar famoso, a razão pela qual tenho arriscado a vida. Sim, porque,  excetuando   esta última viagem marítima, tenho partido clandestinamente, sem dar conhecimento para  onde vou e o que vou fazer. Sem o apoio, aprovação ou a reprovação de quem quer que seja. 

Sabia dos muitos perigos que me podiam esperar - não os desdenhava! - mas entregava-me ao oceano de coração aberto, possuído de uma enorme paixão, em demanda dos grandes espaços e de uma infinita liberdade, tal qual as aves migradoras! Olhava-o como se fosse já meu familiar e meu amigo. Embora sabendo que a sua face, quando acometida de irascível crueldade, havia sido palco de muitas tragédias, havia engolido muitos barcos e tragado muitas vidas. Contudo, eu não ia ali apenas movido pelo prazer da aventura: só por isso, não sei se compensaria... Mas orientado por razões mais fortes

 O POVOAMENTO DAS ILHAS DE SÃO TOMÉ E PRINCIPE NÃPO COMEÇOU APENAS HÁ CINCO SÉCULOS

O mundo não é de ontem nem de hoje. E nem só de há cinco séculos que o homem se arrojou nas grandes viagens de navegação. Mesmo que o povoamento das ilhas do Golfo da Guiné, não fosse feito através de pirogas, já os navegadores fenícios, cartagineses e árabes, há muito haviam demandado aqueles mares, pelo que não deixariam de procurar extrair alguns benefícios das ilhas e deixar lá algumas pessoas. 

Porém, muito antes mesmo dessas viagens, julgo que já os africanos eram os senhores dos mares, costa africana e ilhas - Atlântico, Mediterrâneo e no Índico - experientes artesãos e audaciosos mestres na arte de navegar nas suas canoas Formaram verdadeiras civilizações, que foram retalhadas pela expansão colonial. .A supremacia do homem branco sobre outras raças, não passa de uma ideia absurda, de um preconceito...  

 A existência de antigos mapas não deixa margem para dúvidas.

Os portugueses foram grandes navegadores - E talvez dos maiores  navegadores daqueles tempos. Um país, tão pequeno e com tão fracos recursos económicos, ter feito o que fez, foi realmente uma verdadeira odisseia. Há, pois, que enaltecer a coragem daqueles bravos pilotos e marinheiros.

Todavia, surge o aspeto negativo: o do consequente domínio colonial, através das armas, do avanço bélico, sobre povos pacíficos, tal como o fizerem  outros europeus:  aproveitando-se de prévios conhecimentos, seguindo rotas já conhecidas, orientaram as suas navegações, não propriamente para estabelecerem laços culturais ou de um pacífico intercâmbio comercial,  mas para imporem a sua vontade, o domínio e a  exploração do comércio e das riquezas naturais, com mão-de-obra escrava.

De facto, a grande lição de que os portugueses se podem   orgulhar é a de que, embora sendo um pequeno país, cruzou mares e expandiu-se para os vários cantos do mundo. A subjugação de povos e o domínio colonial sobre os mesmos, não será, com certeza, a nota mais emblemática a recordar

NÃO CHEGUEI ATRAVESSAR O OCEANO ATLÂNTICO, TAL COMO ESPERAVA MAS CONTINUO ACREDITAR QUE SÃO POSSÍVEIS LONGAS TRAVESSIAS

MESMO ASSIM:

Comprovei  que as canoas vão ao cabo do mundo; .  naveguei e fui arrastado por centenas de milhas e estabeleci ligações de uma delas ao continente  - São Tomé-Nigéria.

e difícil navegar a bordo destas frágeis embarcações e eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso  -Mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes.

Os pescadores (nas Ilhas) aos quais se inculcou o fantasma de que gente só de feitiço é que o tornado não volta canoa  ou que o “Gandú não engole perna de gente”, poderão estar descansados – Se a tempestade algum dia os surpreender e os arrastar fora do alcance da sua praia e da sua querida ilha, não se importem, deixem-se levar pelo seu ímpeto.
Não cruzem os braços e se deem por vencidos:
Remem ou velejem, sempre que puderem ou então deixem que a canoa vogue à flor das ondas, que o mar não quer nada que lhe seja estranho e a algum ponto da costa, hão de ir parar

BASTA QUE NÃO PERCAM A CALMA
E SE ALIMENTEM COM A PESCA: A CARNE DO PEIXE MATA A FOME E O SANGUE, QUE NÃO É SALGADO, A SEDE - E A ÁGUA DA CHUVA, COM UM POUCO DE ÁGUA DO MAR, É AINDA MELHOR.  

A CANOA SÓ VAI AO FUNDO SE ESTIVER MUITO CHEIA DE PESCADO OU NÃO FOR DE ÓCÁ. O MAR BRINCA COM O SEU CASCO E O SEU CASCO DESLIZA E BRINCA COM O MAR.

Também as canoas africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar alto: Fizeram extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da história":  que, velejando  em linha, cada uma à distancia da visão da canoa  que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico

AS CANOAS DE  SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE SÃO MAIS PEQUENAS QUE AS DO LITORAL AFRICANO -  As ilhas são montanhosas e as roças também não permitiam o abate de  grandes árvores - Mas a ligação dos primeiros povos foi  realizada a partir da costa africana para as ilhas à vela e a remos. Actualmente, são frequentes as viagens da Nigéria para São Tomé, com auxílio de motores fora de borda- O regresso é feito à veja e a motor. 

LEVADOS PELO ESPÍRITO DE AVENTURA, PELO INSTINTO MIGRADOR DAS AVES  - que partilhavam a mesma alegria e abundância da Mãe-Natureza, pelo acaso ou por outras razões que a razão desconhece e só Neptuno poderia interpretar, sim, ao Mar se fizeram nas suas pirogas e por lá se fixaram nas suas majestosas Ilhas a que aportaram. 

ALGUNS VOLTARAM ÀS TERRAS DE ORIGEM PARA TRAZEREM AS MULHERES E OS FILHOS.

E a notícia das suas maravilhas, depressa se espalharia... E, assim, pouco a pouco se foi constituindo um Povo, que se aventurou pelo oceano a fora, atraído por ilhas que lhe terão parecido os  Jardins do Éden  ou  os Paraísos  mais belos que hão conhecido
O que ignoravam é que a paz, a tranquilidade secular, endémica,  haveria de vir a ser quebrada, abruptamente, com a chegada  de homens e modos de ser completamente estranhos e adversos  à sua cultura e ao seu pacífico modo de vida. 



2 comentários :

João Neves disse...

Parabéns pelo regresso às ilhas paradisíacas!...

Anônimo disse...

Tu historia y aventuras me parecen maravillosas... Me encantaría tener la oportunidad de ascender al pico Câo Grande; ¿sabes si esto es actualmente posible?
Felicidades por tus vida y aventuras, y por poder volver a esa bella tierra.
Un saludo cordial desde España.