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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

São Tomé e a Festa de S- Pedro – Padroeiro dos Pescadores das Canoas – A maior festa do principio do Ano e do último dia de Janeiro - Com o Povo a festejar o santo popular e a divertir-se junto à emblemática ermida, na marginal da Baía Ana de Chaves

Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista


Dia 31 de Janeiro,  festa de São Pedro, padroeiro dos pescadores, junto à sua ermida na Baía Ana de Chaves – Esta é primeira grande festa do novo ano, com uma moldura humana de milhares de pessoas, que se concentram junto ao local onde se ergue uma capelinha em honra do dito santo popular e se estende ao longo da avenida marginal, na praia de S- Pedro, com gente vinda de todos os pontos da cidade da ilha e da cidade, mas especialmente dos bairros circundantes,  , Budo-Budo, São João Davargem, Ponte Graça, Potó-Potó, Atrás do Cemitério, Oquei-Del-Rei - Três dias de arromba, com música a rodos dos conjuntos típicos da terra ou apresentada por discotecas móveis, onde os DJ, dão largas à sua agilidade e imaginação, com os sons mais mexidos e frenéticos das últimas novidades





Enquanto a Europa, América do Norte, uma boa parte do hemisfério Norte, se debate com uma frio de rachar, aqui, na Ilha do meio do mundo, as águas do mar são quentes e convidam a mergulhar – As crianças, por natureza mais desinibidas e sem preconceitos, que o digam, com as suas correrias,  cambalhotas e mergulhos nas praias da cidade e naquelas onde se situam povoações – E foi justamente o que pudemos registar, ao fim da tarde da festa de S. Pedro, neste último domingo e último dia de Janeiro, uma festividade promovida pela comunidade piscatória local, com o apoio da Câmara Municipal de S. Tomé,


De um modo geral, as tradicionais festas dos chamados santos populares, celebram-se, em Julho, mas, na Ilha de S. Tomé, a principal festa de S. Pedro,  decorre, no dia 31 de Janeiro – Dia em que, a imagem -  da pequena ermida, em forma de uma vela, situada, na praia do mesmo nome, na Baía Ana de Chaves - é levada numa procissão ao longo da avenida da marginal e é recebida pelas canoas, engalanadas, que depois vão  a percorrer o tranquilo estuário, que lhe fica fronteiro – Pretexto para o povo festejar um dos  mais venerados apóstolos, bíblicos,  e também dar largas à sua folia, ao “flogá” –



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 Com tendas de comes e bebes, pratos típicos e variadíssimos aperitivos, além das exibições de grupos etnográficos – danço congo – e representações teatrais, como sejam os  grupos do tchiloli, conhecidos na ilha por tragédias, nomeadamente A Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carloto Magno

À hora, em que ali chegámos, quase ao pôr-do-sol, não pudemos assistir à tradicional procissão, que teve lugar ao principio da tarde, mesmo assim ainda  pudemos participar no caloroso ambiente festivo que ali se vivia, e do qual aqui damos conta de algumas imagens, nomeadamente de uma exibição de Tchiloli

Segundo é referido por estudiosos “O tchiloli baseia-se num texto escrito por volta de 1540 por Baltazar Dias, um dramaturgo cego, madeirense da escola de Gil Vicente (1465-1536). O seu drama inspira-se em seis romances castelhanos que, por sua vez, derivam do ciclo carolíngio do século XI. Este teatro medieval conta a história de Dom Carloto, filho e herdeiro do imperador Carlos Magno que assassina o seu melhor amigo, Valdevinos, sobrinho do marquês de Mântua, durante uma caçada, porque se apaixonou por Sibila, a esposa de Valdevinos. O crime leva as duas famílias e os seus representantes a debaterem questões de lei, de justiça e de governação. Os temas chave desse drama são a traição e a igualdade perante a lei. O imperador é confrontado com o dilema de escolher entre a raison d’État, o interesse nacional, e o seu amor paternal. Finalmente, o seu filho é condenado à morte e executado na fortaleza imperial.

Os grupos do tchiloli, conhecidos na ilha por tragédias, têm cerca de trinta elementos cada um, e pertencem todos a uma determinada localidade de forros (assim se chamam os crioulos nativos de São Tomé). Dentro de certos limites dramatúrgicos, cada tragédia representa uma versão própria da peça. Conforme a tradição medieval, exclusivamente os homens representam todos os papéis, inclusivamente os de mulheres. Além disso, o mesmo actor amador representa sempre a mesma personagem. Os papéis, o guarda-roupa e os textos transmitem-se no seio das famílias.
Actualmente existem mais grupos de tchiloli em São Tomé do que antes da independência. Em 1969, havia cinco tragédias3, em 1991 existiam nove grupos4, entre 1995 e 1998 actuaram 15 grupos5 e, segundo informações da Direcção Nacional da Cultura, em 2007 permaneciam 12 tragédias.

Geralmente um espectáculo tem a duração de cerca de seis horas e é apresentado em terra batida num quintal ou numa praça pública, ao ar livre, durante a gravana (estação seca), sobretudo por ocasião das festas anuais dos santos católicos das vilas e de outras festividades. A influência africana, em termos da noção de tempo, estendeu as poucas páginas do texto original para representações bem mais longas.

O palco rectangular, aberto pode ser visto de todos os lados. Os espectadores participam activamente no espectáculo através de comentários durante as várias cenas do teatro. A um lado do palco ergue-se a corte alta sobre estacas de madeira, coberta com ramos de palmeira, representando o palácio imperial. No lado oposto, no chão, a palhota feita de ramos verdes representa a corte baixa da família enlutada dos Mântua. Durante o espectáculo, um pequeno caixão colocado numa cadeira no meio do palco simboliza o Valdevinos morto.

A maior parte dos versos de sete sílabas de B. Dias são utilizados sem quaisquer alterações, contudo, textos adicionais de prosa em português moderno foram integrados na representação. Estes dominam as partes relativas à investigação criminal e aos procedimentos legais. Em contraste com o texto original, estes textos modernos são constantemente adoptados e improvisados pelos actores.

Enquanto o argumento da peça assume a sua importância, a dança, a pantomima e a música não são menos relevantes no contexto do espectáculo. Todo o tchiloli é uma mistura de dança e pantomima. Uma orquestra composta de tambores de diferentes tamanhos, um sino, flautas de bambu e sucalos (chocalhos) - instrumento local feito por um pequeno cesto contendo sementes - fornecem a música que acompanha os actores dançando de um lado para o outro. A música é caracterizadamente monótona, uma única melodia é retomada. – Excerto de



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