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sábado, 16 de março de 2019

S. TOMÉ E PRÍNCIPE - As línguas crioulas destas maravilhosas ilhas têm dicionário e o seu falar ancestral é variado, abundante e musical.


Jorge Trabulo Marques - Jornalista



 UM PEQUENO MAS MARAVILHOSO PAIS QUE CONTINUA A SER CIOSO DA SUA LÍNGUA ANCESTRAL, COM A QUAL CANTA, SORRI, BRINCA CHORA OU SONHA - VALE A PENA OUVIR A SUA MUSICALIDADE  RECORDANDO O DEBATE VIVÍSSIMO, HÁ 6 ANOS, POR OCASIÃO DO LANÇAMENTO DO DICIONÁRIO LIVRE Santome-Português/Livlu-nglandji santome-putugêji, apresentado, em Julho de 2013, na sede da ACOSP - Associação da Comunidade de S.Tomé e Príncipe em Portugal, a que se seguiu um debate muito interessante e participativo, do qual aqui lhe deixámos o registo de algumas intervenções e de uma entrevista que nos concedeu na oportunidade.
Se alguém quer ver dois ou mais são-tomenses a dialogarem, gracejando, fazendo humor, divertirem-se, é ouvi-los falar no seu crioulo, mais conhecido por forro, fôlô, lungwa santome – Claro, que este hábito é mais usual com as pessoas mais velhas: as novas gerações, vão-se acostumando ao português, havendo mesmo muitos jovens que, além de não o falarem, dificilmente já o entendem, ou, pelo menos, com o mesmo à-vontade e fluência dos seus pais – Porém, o lançamento de um valioso dicionário, vai certamente contribuir para dar novo fôlego à segunda língua mais falada em toda a ilha de São Tomé, exceto na ponta sul.
O contacto entre povoadores portugueses e africanos na ilha de São Tomé, a partir de finais do século XV, deu início a um processo de crioulização que originou o aparecimento de quatro grupos crioulos com identidades e línguas distintas. Adotando uma abordagem interdisciplinar, esta comunicação tem por objetivo discutir a origem e o contributo das populações e línguas africanas no povoamento das ilhas do Golfo da Guiné (São Tomé, Príncipe e Ano Bom)

O contacto entre povoadores portugueses e africanos na ilha de São Tomé, a partir de finais do século XV, deu início a um processo de crioulização que originou o aparecimento de quatro grupos crioulos com identidades e línguas distintas. Adotando uma abordagem interdisciplinar, esta comunicação tem por objetivo discutir a origem e o contributo das populações e línguas africanas no povoamento das ilhas do Golfo da Guiné (São Tomé, Príncipe e Ano Bom)

Tjerk Hagemeijer, é professor e investigador na  Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no Departamento de Linguística Geral e Românica  - Doutorado  em Letras (Linguística Geral), Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com a classificação de Aprovado com Distinção e Louvor (por unanimidade) – Do seu currículo fazem parte numerosos trabalhos - Mas detalhes em ]curriculum vitae 
A crioulização no Golfo da Guiné: entre línguas, genes e história | Seminários Uma excelente oportunidade para linguistas, mas especialmente para estudiosos da cultura ancestral das Ilhas do Golfo da Guiné e seus habitantes:

 Tjerk Hagemeijer é o autor  do Dicionário Livre Santome-Português/Livlu-nglandji santome-putugêji em São Tomé e Príncipe, apresentado, em Julho de 2013, na sede  da ACOSP -  Associação da Comunidade de S.Tomé e Príncipe em Portugal, a que se seguiu um debate muito interessante e participativo, do qual aqui lhe deixámos o registo de algumas intervenções e de uma entrevista que nos concedeu na oportunidade. 




Trata-se, com efeito, de  um investigador dedicado aos vários crioulos do Golfo da Guiné – Com Nélia Alexandre é coautor de  um estudo bastante aprofundado, publicado na Internet, subordinado ao título “ Os crioulos da Alta Guiné e do Golfo da Guiné: uma comparação sintáctica”, do qual  - seguidamente - tomamos a liberdade de  transcrever um excerto, dada a sua importância  para melhor compreensão do dicionário santome-putugêji






Os crioulos de base lexical portuguesa da Alta Guiné (CAG) e do Golfo da Guiné (CGG) constituem duas famílias linguísticas independentes cuja formação remonta aos séculos XV  e XVI, num contexto de escravatura, tendo resultado do contacto entre o Português (arcaico  e regional) e diferentes línguas africanas de diversas famílias do Níger-Congo. Os CAG incluem o Kabuverdianu (CCV), o Kriyol (CGB) e o crioulo de Casamansa1; os CGG  abrangem o Santome (ST), o Angolar (ANG), o Principense (PR) e o Fa d’Ambô (FA).  Não obstante os progressos alcançados na crioulística ao longo das últimas  décadas, continua aceso o debate sobre a formação destas línguas e sobre a sua afiliação  genética e tipológica. Em particular, diversos autores têm proposto que os crioulos formam  uma classe de línguas tipologicamente distinta de outras línguas. A mais antiga hipótese de  que os crioulos constituiriam uma classe genética (ou uma família linguística) devido a um  conjunto aparente de semelhanças traduz-se na chamada monogénese, uma teoria que  advogava que todos os crioulos teriam na sua origem um único pidgin Português (Sabir ou  West-African Pidgin Portuguese), que foi relexificado por outras línguas. Esta hipótese foi  entretanto refutada, mas dela reteve-se, até hoje, a ideia bastante difundida de que os  crioulos descendem de pidgins diversos que, no curso do tempo, se transformaram em  línguas naturais (nativização), através de um processo de aquisição de L2 com restrições de  acesso à Língua-Alvo (o Português, nos contextos em questão). O facto de se ter  abandonado a monogénese não significa que não exista uma relação genética entre  subconjuntos de crioulos, de que os CAG e os CGG são exemplos, mas também os crioulos  de base lexical francesa das Caraíbas ou os crioulos de base lexical portuguesa na Índia – Excerto Os crioulos da Alta Guiné e do Golfo da Guiné.p

CURIOSA PROPOSTA POR UM MUSICÓLOGO SANTOMENSE

O auto Floripes  e Tchiloli a Património da Humanidade  -  Sugestão  lançada pelo musicólogo são-tomense, Carlos Almeida, atual quadro da Sociedade Portuguesa de Autores, durante a “ Conversa sobre o “Dicionário Santome – Português” - Um dos vários eventos  com que a  diáspora  assinalou os 38 anos sobre a  proclamação da independência  - Teve lugar na sede ACOSP -  Associação da Comunidade de S.Tomé e Príncipe em Portugal, tendo contado com a presença do Prof. Tjerk Hagemeijer, do Centro linguístico da Universidade Nova de Lisboa, responsável do  livlu-nglandji, “santome-portugêji,  em coautoria  com Gabriel Antunes de Araújo, da Universidade de São Paulo.

"Embora sendo uma peça de origem europeia, o Tchiloli é hoje património cultural são-tomense. Pois, após ter sido introduzido em S.Tomé, passou a ser praticado por são-tomenses e com algumas alterações conforme a percepção do mesmo povo. Temos na obra influências europeias e africanas, que fizeram com que tivéssemos o Tchiloli que hoje temos. O Tchiloli constitui um dos testemunhos da história de S. Tomé e ao mesmo tempo, traço da presença e dominação europeia no nosso país. - See more Património de S. Tomé.: Tchiloli

"Anualmente no dia 15 de Agosto, a ilha do Príncipe é invadida por milhares de visitantes que para ali se dirigem a fim de assistir a festa de São Lourenço e o Auto de Floripes. Atracção cultural que preenche o cartaz turístico da ilha do Príncipe, é um teatro de rua cujo argumento retrata o conflito entre cristãos e mouros. Auto de Floripes - 


HÁ QUE PRESERVAR E VALORIZAR O PATRIMÓNIO CULTURAL




O fado é português e já foi classificado como Património Imaterial da Humanidade. Amália Rodrigues, com a sua voz inconfundível, deu-lhe a projeção internacional que merecia.  A morna é  única e tipicamente cabo-verdiana –  E teve na interpretação de Bana, falecido recentemente, em Lisboa, a grande figura que mais projetou pelos quatros cantos do mundo a doce melodia das Ilhas de Cabo Verde. 

O Governo deste país,  ao mesmo tempo que prestava homenagem a um dos seus mais admirados filhos,   fez  aprovar uma resolução da morna como Património Histórico e Cultural Nacional – Um passo importante para a sua candidatura à UNESCO a  Património da Humanidade. Ora, aí está também o momento do Governo de S.. Tomé, valorizar e promover, a nível mundial, duas das suas mais singulares expressões artísticas de cariz etnográfico, histórico e teatral.

DEBATE BASTANTE HUMORADO E ACALORADO







Se alguém quer ver dois ou mais são-tomenses a dialogarem, gracejando, fazendo humor, divertirem-se, é ouvi-los falar no seu crioulo, mais conhecido por forro, fôlô, lungwa santome – Claro, que este hábito é mais usual com as pessoas mais velhas: as novas gerações, vão-se acostumando ao português, havendo mesmo muitos jovens  que, além de não o falarem, dificilmente já o entendem, ou, pelo menos,  com o mesmo à-vontade e fluência dos seus pais – Porém, o lançamento de um valioso dicionário, vai certamente contribuir para dar novo fôlego à segunda língua mais falada em toda a ilha de São Tomé, exceto na ponta sul.

SÃO OS MAIS VELHOS QUE FALAM FLUENTEMENTE O SANTOME MAS HÁ GENTE NOVA E SIMPÁTICA QUE DÁ CARTAS E NÃO LHES FICA ATRÁS


Depois da apresentação da obra em várias instituições, em Portugal, no Brasil e em S. Tomé    (Lançamento do Dicionário Livre Santome-Português/Livlu-nglandji santome-putugêji em São Tomé e Príncipe ) essa honra coube também à ACOSP -  Associação da Comunidade de S.Tomé e Príncipe em Portugal


Falou-se da referida obra, como surgiu e dos vários contributos e colaboradores, assim como da  importância que assumem os 8500 vocábulos  (verbetes) para “os falantes nativos, estudantes e interessados nas línguas crioulas  de base portuguesa.” – Considerada a mais completa obra de referência  da principal língua autóctene  da República de São Tomé e Príncipe. Produzido a partir de fontes orais e escritas, cada verbete em santome traz a transcrição fonética e a equivalência em português, incluindo nomes científicos de plantas e animais. O leitor encontrará também uma lista de palavras correspondentes em Português.. 


S. Tomé e Príncipe ainda continua a ser um país com enormes carências. As roças já não são o que eram mas há fábricas de cacau – um dos mais apreciados do mundo e antes não existiam. E há sobretudo menos mortalidade infantil e uma notável conquista sobre o analfabetismo. Ora, ao promover-se a sua língua crioula, é indubitavelmente um valioso ato cultural.


VEJA AS SEMELHANÇAS ORAIS DO Fá d'Ambô com o Santome o Santome





O DEBATE CONTOU COM A PRESENÇA DO PROF.FRANCISCO ZAMORA SEGORBE,  DE ANO BOM, SURPREENDEU A ASSISTÊNCIA PELA SEMELHANÇA DO SANTOME  COM O FALAR DE ANO BOM

“Fá d'Ambô, Fla d'Ambu, annabonense, annobonés ou annobonense (em lingua portuguesa)  chamado falar de Ano Bom e língua anobonenseou anobonesa) é um crioulo Portugu~es falado na Ilha de   Ano BomGuiné Equatorial, estima-se que existam até 9 mil falantes deste dialeto.

Segundo estudiosos, o crioulo de Ano Bom, é  baseado em   82%,  do forrro, enquanto que uns 10% de seu léxico se baseia no castelhano. É falado por descendentes de mestiços entre africanos, portugueses e espanhóis; devido à similaridade entre o português e o castelhano não se sabe que origem têm certas palavras. Fá d'Ambô – Wikipédia, a enciclopédia livre

Livlu-Nglandji é como se chama o primeiro dicionário do crioulo 


Lê-se na apresentação do dicionário santome-putugêli, que “O santome, também conhecido como forro, fôlô, lungwa santome, dialeto ou são-tomense, é uma língua crioula de base lexical portuguesa que surgiu no século XVI, na ilha de S. Tomé, fruto do contacto entre o português  e diversas línguas do continente africano. Depois do português, língua oficial, o santome é a segunda língua mais falada na República de s. Tomé e Príncipe, mas não goza, actualmente, de estatuto oficial, embora tenha sido declarada uma das línguas nacionais, ao lado do angolar (ngola) e do principense (lung’ie).

A primeira referência histórica ao santome data de 1627, altura em que o Padre Alonso de Sandoval, a partir de Cartagena,  (Colômbia), menciona a existência de  da lengua de  San Thomé. Já  o século XVIII, mais precisamente em 1766, Gaspar Pinheiro da Câmara também faz alusão a esta língua ao escrever  que he de saber que a gente natural destas ilhas tem língua sua e completa, com pronúncia labeal, mas de que não consta  haver inscrição alguma (...) (apud Espírito Santo 1998:59, nota 1). a língua escrita só apareceria pela primeira vez  na segunda metade do século XIX, quando autores como Francisco Stockeler e António Lobo de Almada Negreiros, bem como os pioneiros dos estudos crioulos , Hugo Schuchardt e Adolpho Coelho, nos dão a conhecer os primeiros fragmentos da língua” - excerto




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