O Cônsul dos EUA, em Luanda, deslocou-se a S. Tomé, para recolher informações: queria saber o o
movimento pró-MLSTP, era ali representativo
para enviar relatório urgente à sua
administração. - Eu respondi-lhe se queria guerra ou paz - Ele optou por seguir o caminho pacifico do
Coronel Pires Veloso. C
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ENCONTRO DE COSTA GOMES
E MÁRIO SOARES NA CASA BRANCA - Na imagem: Costa Gomes,Presidente Ford e Henry
Kissinger - 18 de Outubro de 1974. Nos anos 80, O Marechal Costa Gomes, recebeu-me
em sua casa, concedendo-me uma interessante entrevista – Abordámos a
descolonização de STP, confirmou-me as suas preocupações depois do registo gravado https://canoasdomar.blogspot.com/2019/04/para-historia-do-25-de-abril-adelino.html



Seguir-se-ia outra, a chamada revolta das panelas por parte de
mulheres santomenses, com o argumento de que a água teria sido envenenada, assim como os alimentos, vendidos nas lojas dos
comerciantes portugueses, o que não passava de um boato, tendo grupos de ativistas
entrado nalgumas lojas e vertido para a rua alguns sacos desses produtos alimentares,
tal como pude tesmunhar, o que viria a provocar, tal como atestam as imagens do artigo que publiquei na revista Semana Ilustrada, de Luanda, a sua escassês.
ABORDADO, NA AVENIDA DA MARGINAL - Que queria falar comigo fora da cidade - Num lugar “onde pudéssemos estar os dois à vontade” - Pormenores mais à frente.

Tal como já foi referido pela imprensa, em outubro de 1974, Costa Gomes fez uma visita histórica aos Estados Unidos da América, onde se encontrou com o presidente Gerald Ford e o secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger. Na sua comitiva seguia Mário Soares, então ministro dos Negócios Estrangeiros. Durante a viagem, Costa Gomes foi o primeiro Presidente da República a discursar perante a Assembleia Geral da ONU - Recorda o Expresso https://expresso.pt/politica/2015-03-17-Costa-Gomes-nos-EUA



A Heroicidade e humanismo de um valoroso companheiro na dificílima escalada ao Pico Cão Grande - Que chegou a trocar a sua roupa com a minha para me defender de agressores.
Recordações do santomense Constantino Bragança-
Atualmente Pai de sete filhos e um dos dirigentes da Associação Viver no Mundo,
para defesa dos emigrantes - Um dos meus
corajosos companheiros, com o Pires dos Santos, além dos meus guias, do Sebastião e do Chico, na dificílima escalada do Pico Cão Grande, em Outubro de 1975 – Era também ele que me distribuía a revista
Semana Ilustrada, de Luanda, de que era correspondente, em STP,
Chegou a trocar a sua roupa com a minha
para me ajudar a sair de casa e a defender dos ataques de alguns colonos tendo
sido também ele agredido – E, mais tarde, quando tive de precipitar, clandestinamente,
a minha travessia de canoa de S. Tomé
para a Nigéria, por via das sucessivas agressões de que estava sendo alvo, a ser inquerido pela policia, visto se
desconhecer onde me encontrava Pormenores em http://www.odisseiasnosmares.com/2020/08/pico-cao-grande-em-s-tome-epica.html

No entanto, existia um movimento, que pugnava pela libertação e independência – Esse movimento, denominado MLSTP, foi fundado por um grupo de estudantes nacionalistas, no exterior, que procurava, sob várias formas (umas públicas, através de um programa de rádio, no Gabão) e outras clandestinas, consciencializar a população.
Quando se deu o 25 de Abril, a maioria dos colonos foi apanhada de surpresa, pensando que a luta pela independência, dizia apenas respeito aos movimentos armados da Guiné, Angola e Moçambique e dificilmente admitiriam que o futuro de S. Tomé e Príncipe, ia justamente depender do que viesse acontecer naquelas colónias - Mas depressa se enganaram, porque, entretanto, mal a liberdade de expressão, foi instaurada, com o desencadear da revolução, não tardou a que, grupos de jovens nacionalistas, liderados pela Associação Cívica Pró-MLSTP, viessem para as ruas reclamar – através de várias manifestações populares - a “independência total e imediata”
Pois isso, tais factos, acabaram por provocar alguma insegurança e perturbação, no até então ambiente de paz e de tranquilidade (diga-se, imposto pela opressão) que acabaria por ser restaurado, alguns anos depois do brutal massacre de 3 de Fevereiro de 1953, infligido por um Governador que queria obrigar a população nativa a trabalhar à força nas brigadas das obras públicas – Isto porque, os serviçais contratados, a mão-de-obra proveniente de Cabo Verde, Guiné, Angola e Moçambique, revelar-se-ia insuficiente para as grandes plantações nas Roças.
O que se passou, em 1953, é do domínio público e deixou feridas e ressentimentos na alma,, não fácies de apagar- Quando se deu o 25 de Abril, a memória ainda estava muito fresca e terá sido essa a principal razão pela qual, os ideais nacionalistas, tiveram ponta e significativa adesão, com greves, reivindicações e manifestações populares, que se sucediam dia a dia, embora de forma agitada e acalorada, mas não pautada por atos de violência física.
Todos os sectores de atividade são afetados mas é nas roças que mais se fazem sentir os efeitos - E é também donde começam a partir alguns sinais alarmantes – Os roceiros, aos quais já lhe foram retiradas as armas dos paióis milicianos, é onde a crispação e a insegurança é maior - Por seu turno, em Lisboa, os patrões pressionam Spínola, a contrariar, nestas ilhas, a descolonização, alegando que as ilhas estavam desertas e pertenciam a Portugal, que envia o coronel Ricardo Durão, anterior comandante da CTSTP - pessoa muito grada dos recreios, dadas as jantaradas, com que o brindavam - , e, sem dar prévio conhecimento, ao Governador Coronel Pires Veloso, manda-o para S. Tomé – Mas vai ter de regressar no mesmo avião – Este é um dos episódios que, me recordou, o oficial que o conduziu de regresso ao aeroporto para partir no mesmo avião -
Foi
o Coronel Pires Veloso que expulsou Ricardo Durão - Fui eu que o
levei ao aeroporto
2015 - banco onde nos sentámos |
Vivia-se, por aquela altura, um clima de grande
instabilidade. A
cidade à noite ficava deserta. Muitos dos colonos haviam-se refugiado num
quartel da tropa portuguesa. Mais por precipitação de que por as suas vidas
correrem perigo. Mas sentia-se que havia realmente receio e uma tensão
generalizada de parte a parte. Já não me recordo do dia ou do mês em que
o cônsul me contactou. Mas sei (dito por ele) que foi a três dias da
deslocação de Costa Gomes a Nova Iorque, onde ia discursar perante a
Assembleia Geral das Nações Unidas, sobre o andamento da descolonização.
- Aliás, foi com essa a explicação com que se justificou para pedir a minha
opinião
Traz consigo
uma pasta preta na mão (cheia de dólares e um emissor) . Veste calça de
tireline tropical. Camisa de meia manga, sem gravata, mas, pelo aspecto,
dificilmente disfarçava a sua condição de “camone”. E, para
meu espanto, trata-me logo pelo nome. “Conheço o Sr. Jorge
Marques através dos artigos que escreve na revista Semana Ilustra. Tenho muito
prazer em falar pessoalmente consigo. Chamo-me Everett Briggs. Sou o
cônsul dos EUA, em Luanda e estou aqui para me inteirar da descolonização. Já
falei com algumas pessoas da Associação Comercial e Industrial (com
os principais cabecilhas das forças vivas colonialistas) e gostava muito
de saber a sua opinião e de contar com a sua disponibilidade! Não se
importa?”
COMPREENDI
IMEDIATAMENTE ONDE ELE PRETENDIA CHEGAR – Não lhe virei as costas porque
pressentia que estava perante uma personalidade com um poder de influência
muito grande - E eu não queria que ele se deixasse embalar no coro dos
colonialistas, com os quais havia conversado , pois calculava que as suas
expressões não teriam sido as mais favoráveis ao processo da descolonização.

QUEM NÃO
DEVE NÃO TEME – IR PARA O MATO A FAZER O QUÊ?..
Ainda assim,
depois de ver que a abordagem começava a ser incómoda, nem sei como é que me
expus ali tanto tempo, junto dele - quase duas horas. Mas, tal como diz o
velho ditado, quem não deve não teme, e, como estávamos sentados de costas para
o trânsito da marginal (que era escasso), nem dei que o tempo passasse. Além
disso, não podia desperdiçar a oportunidade de me opor às teses dos colonos.
Começou então por me explicar que tinha recebido instruções do seu governo para se deslocar a São Tomé. Que o general António de Spínola aconselhara a sua administração para vetar os movimentos que visavam a independência das Ilhas de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, por entender que, quando foram descobertas, estavam desabitadas; que os seus povos queriam ficar ligados a Portugal – Referindo que Spínola argumentava que o programa do MFA se desviara dos princípios iniciais e que os autoproclamados movimentos de libertação, destas ilhas, apareceram depois do 25 de Abril para destabilizar a vida das duas colónias, não tendo qualquer influência local ou representatividade –
SÃO TOMÉ E CABO VERDE. NA VISÃO NEO-COLONIAL SPÍNOLISTA ERAM FUNDAMENTAIS
DA DEFESA DA NATO – - E tinham de permanecer sob o domínio
colonial - Certo que ainda existem muitas ilhas nessas
circunstâncias
Briggs,
confidenciava-me que, António Spínola, considerava os arquipélagos de Cabo
Verde e São Tomé e Príncipe, fundamentais para a defesa da
Aliança Atlântica (a NATO) no atlântico Sul. Por esse facto, a
administração americana, tinha dúvidas se deveria ou não exercer o direito de
veto na Assembleia das Nações Unidas, pelo que lhe solicitara o envio,
com urgência, de um relatório nos próximos três dias, antes de Costa Gomes, lá
ir discursar. Precisava de se inteirar, pessoalmente, de como estava aqui a
decorrer o processo de descolonização: se as ilhas tinham ou não
possibilidades económicas para se tornarem independentes e também de saber
o que é que eu pensava sobre a representatividade e de
credibilidade dos dirigentes da Associação Cívica pró-MLSTP. – a frente
activista do movimento de libertação de São Tomé e Príncipe, já que as
informações que, até então, havia recolhido eram extremamente negativas a
respeito do comportamento da referida Associação
MEMBROS DA
ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE SÃO TOMÉ, - EXTREMAMENTE SEVEROS PARA COM
A ASSOCIAÇÃO CÍVICA

A MINHA
RESPOSTA ERA DIFERENTE – E JULGO QUE O TERÁ SIDO PREPONDERANTE
Falei-lhe da
minha experiência nas Roças e de como os negros eram ali tratados. Que não se
deixasse influenciar por preconceitos racistas – que os racistas eram os
brancos, que não aceitavam que os negros pudessem ser livres e independentes.
E que a população não concebia outra ideia que não fosse o direito à
Independência de S. Tomé e Príncipe. Caso contrário, poderia “haver
um banho de sangue”.Repeti-lhe isso várias vezes. Mas
também lhe disse que, se quisesse uma opinião mais fundamentada, que devia
dirigir-se à sede da Associação Cívica. Ali teria oportunidade de ouvir
os membros da referida Associação: - “Se quer ouvir todas as partes, acho
que deve lá ir falar com eles!...É gente civilizada!... Acredito que o
vão receber cordialmente e que lhe prestarão os esclarecimentos de
que precisa! –
Agradeceu-me
e pareceu-me que as minhas palavras o teriam feito mudar da opinião que
trazia dos colonos. “Muito obrigado, Senhor Jorge Marques!.. Gostei muito de ouvir a sua
opinião. O senhor está muito bem informado! Vou ver se me recebem e falo
ainda hoje com alguém da Associação Cívica
Tudo quanto lhe transmitira,
era verdade e poderia ter sido dito numa palestra. Mas aquela sua
proposta – e logo a propor-me para falarmos num lugar mais isolado –
perturbar-me-ia, pois era feita de rajada; deixou-me bastante
incomodado - Contudo, também não pensei mais no assunto. Tinha outras
preocupações. Um grande desafio no mar, sozinho, esperava-me e era para mim a
grande obsessão.
SAI-SE ENTÃO COM ESTA: “GOSTARÍAMOS QUE FOSSE COLABORADOR DA NOSSA
AGÊNCIA! POMOS-LHES TODOS OS MEIOS À SUA DISPOSIÇÃO!..” – DIZ-ME
DESCARADAMENTE, DEPOIS DE TER PERCORRIDO DE TÁXI A CIDADE INTEIRA À MINHA
PROCURA.
Quando me abordou, presumo que já soubesse que eu era dos poucos
brancos (senão o único) que acompanhava de perto as manifestações e algumas
reuniões, promovidas pelos activistas afectos ao MLSTP, que se haviam agrupado
na Associação Cívica, para se ocuparem das acções de luta e de mobilização, até
ao regresso dos membros, daquele movimento de libertação, ainda exilados no
Gabão.. Mas a minha participação era jornalística e não interventiva.

Tinha sido maltratado nas roças, enquanto empregado de mato. E agora estava a
ser vítima de espancamentos e de perseguições de colonos. Eu estava ao lado do
Movimento de 25 de Abril e ao lado da independência daquele povo e, por isso,
de forma alguma poderia trair as minhas convicções. Houve, porém, quem
acedesse – aliás, que continuasse a fazê-lo, pois presumo que já era
colaborador da RFA, antes do 25 de Abril. Teve sorte!.. Noutro país, tinha-se
tramado: teria sido fuzilado. Mas as gentes de São Tomé são por natureza
pacíficas e ordeiras - Ele também não perdeu pela demora e raspou-se.
Por fim,
depois de me ouvir atentamente, avançou-me então com a proposta,
que, logo de início, me deu a perceber:
“Sabe,
meu caro senhor! Nós gostaríamos de ter na Ilha alguém que pudesse
prestar, informações, regularmente, à nossa Agência; o governo americano
está muito empenhado com a descolonização das colónias portuguesas. Há todo nosso
interesse que o processo decorra com normalidade. E convinha-nos que nos
informasse sobre as actividades da Associação Cívica e de outros
acontecimentos que considerasse importantes”:
“Se o Sr.
Jorge aceitar a nossa proposta, damos-lhe os meios
indispensáveis… E, como quem não quer a coisa, abria a pasta cheia de
notas de cem dólares e ostentava numa das mãos um pequeno emissor.
Garanto-lhe que ninguém tomará conhecimento da sua colaboração: só ficarei
eu a saber, o Sr. Jorge e um elemento da nossa Agência....Diga-me de
quanto precisa?...” – Curiosamente nunca prenunciou a palavra
CIA – Só falava da “nossa agência”. E aquele “paquete” de notas de 100 dólares
–Creio que algumas até as deixou cair propositadamente ao chão para mostrar que era dinheiro.
...
-
EU?!...COLABORADOR DA VOSSA AGÊNCIA?!... NEM ME FALE NISSO, SENHOR
CÔNSUL!... “ - FOI A MINHA RESPOSTA
“Por
favor, não me volte a abordar para tais assuntos!... Procure
outro!!...Já me bastam os problemas que tenho com os colonos!... As
agressões e ameaças que me fazem!... Já deverá saber – através da
Semana Ilustrada.
E era
verdade! – Em breve ia abandonar a ilha: já o havia tentado ao sul, na companhia
de um santomense e de um natural do Príncipe, que andava fugido na mata, mas,
ao largamos da praia, surgiu uma enorme onda, desequilibrámo-nos e fomos
deitados borda fora - Ainda pensei ir no dia seguinte, mas roubaram-me todas as
coisas (escasseavam conservas e alimentos importados, e houve quem se
aproveitasse), além de já ninguém me queria acompanhar. A minha
vida corria perigo e eu não podia adiar por mais tempo o meu projecto da
travessia São Tomé à Nigéria, que andava na minha cabeça há quatro anos.
Se fosse para fugir, teria ido mais para nordeste. Os colonos faziam de mim o
bode expiatório da sua revolta. Não aceitavam que se falasse de descolonização.
E, a ter que morrer selvaticamente nas suas mãos, ao menos morresse no mar por
uma causa nobre. Mesmo que fosse na barriga de um tubarão!...
Obviamente
que me recusei colaborar no perigosíssimo papel de espião. O dinheiro é importante mas não pode nem deve ser a troco de
convicções ou da nossa consciência. Lá foi à sua vida e eu fiquei na minha.
Levantei-me
para me despedir dele, mas logo a seguir me voltei a sentar no mesmo
banco, algo embaraçado e receoso de que alguém me tivesse visto a falar
com aquela inesperada criatura. Ao fim da tarde dei conhecimento a um elemento
da Associação Cívica, que me disse que já sabiam da sua presença.
UM JORNALISTA DA EX-UNIÃO SOVIÉTICA HAVIA-ME
ABORDADO, QUASE COM IDÊNTICA INTENÇÃO - DEPOIS DA KGB, SÓ ME FALTAVA
AGORA SER ARREGIMENTADO PELOS AMERICANOS


Após o 25 de Abril de 1974, Pires Veloso
foi nomeado governador de São Tomé e Príncipe, passando, a 18 de dezembro do
mesmo ano, a alto comissário, função que manteve até à independência do
território, a 12 de julho de 1975.António
Elísio Capelo Pires Veloso
Sem a sua intervenção, sensata,
ponderada e inteligente, dificilmente teria deixado de haver um segundo banho
de sangue naquela Ilha – Já o disse numa postagem, publicada aqui neste site,
de que não retiro uma linha, da qual transcrevo alguns excertos.
O GENERAL
PIRES VELOSO (ENTÃO TENENTE-CORONEL) AGIU BEM, AO OBRIGAR, RICARDO
DURÃO (DA MESMA PATENTE E ATUAL GENERAL) A NÃO SAIR DO AEROPORTO E A
VOLTAR NO MESMO AVIÃO A PORTUGAL
– Sem a sua intervenção, sensata, ponderada e inteligente, dificilmente teria deixado de haver um segundo banho de sangue naquela Ilha – Já o disse numa postagem, publicada aqui neste site, de que não retiro uma linha, da qual transcrevo alguns excertos.
O GENERAL PIRES VELOSO (ENTÃO TENENTE-CORONEL) AGIU BEM, AO OBRIGAR, RICARDO DURÃO (DA MESMA PATENTE E ATUAL GENERAL) A NÃO SAIR DO AEROPORTO E A VOLTAR NO MESMO AVIÃO A PORTUGAL -
ATITUDE SENSATA E INTELIGENTE – – Talvez mais grave que o massacre de 3 a 7 de Fevereiro de 1953 (muito antes da guerra colonial), levado a cabo por milícias, fortemente armadas, dirigidas pelo próprio governador, Carlos Gorgulho, constituídas por colonos, militares e alguns serviçais, que os roceiros e governo, atiraram contra os naturais da Ilha. Só pelo facto de se recusarem ao trabalho forçado nas obras públicas e nas grandes plantações do cacau e café. Houve quem reagisse e, não tardou, que um caso isolado, fosse tomado por "rebeldes" de uma "revolta comunista"


Eu costumava ali ter acesso para ir buscar o volume das revistas que a redação me enviava semanalmente, de Luanda.. E, ao regressar, foi quando me apercebi da sua presença - Estava nitidamente com olhar de caso: “Passa-se alguma coisa, Sr. Tenente-Coronel?! - Esboça uma sorriso amarelo e diz: “Não, obrigado!..Não há problema nenhum!!... Vim cá só a passear!.. E não estou autorizado, não sei porquê!.... Que eu saiba, a Ilha ainda não é dos pretos."” – Vi logo que havia por ali tentativa de golpaça e não insisti. Pires Veloso Governador de S. Tomé e Príncipe, alertado para a sua presença, trocou-lhe as voltas. Obrigando-o a regressar no mesmo avião. E lá foi de volta o grandalhão oficial com uma verdadeira chapada sem dor, mas com muita humilhação e muito bem dada!
No seu livro de memórias ( “Vice-Rei do Norte - Memórias e Revelações) o agora General Pires Veloso, faz uma breve referência, mas é omisso em apontar o nome do oficial - Diz apenas o seguinte: “Sentindo que a minha atitude em recusar receber um oficial superior, enviado especial do Presidente da República, general Spínola – que fiz regressar no mesmo avião que havia trazido, sem o ouvir – havia obtido a aprovação entre os meus adversários, sabia ter conseguido com isso algum crédito.”
Sem dúvida, um procedimento sensato e inteligente de Pires Veloso; de outro modo, dificilmente apaziguaria as tensões existentes entre colonos e os dirigentes da Associação Cívica. Porque, o mais certo, era que os colonos (sentindo-se encorajados e comandados) passassem deliberadamente ao ataque, podendo desencadear a contra-revolução, de imprevisíveis consequências.

Peão de confiança de Spínola (não entrara na aventura contra-revolucionária spinolista de11 de Março de 1975 , porque não calhou, tal como outros, que viram o tapete sair-lhes dos pés .
O ex-comandante do Comando Territorial Independente de São Tomé e Príncipe (CTISTP), conhecia bem o arquipélago, as roças e os roceiros, com os quais convivera em altas jantaradas e almoçaradas, nas sedes das administrações: pois era já um costume enraizado que a elite económica, há muito, mantinha com a tropa. Mas, agora, de certeza que não vinha com esse propósito – Os tempos eram de revolução. E os roceiros opunham-se ostensivamente! Já tinham invadido o Palácio do Governo e dir-se-ia que só faltava pegarem nas armas que possuíam nas arrecadações. O que não dispunham era de quem os apoiasse ou de um comando operacional. Supõe-se que deveria ser a missão que trazia na manga o velho amigo das altas comezanas e das festanças.de fatiota branca. Só que nem sequer chegou a sair da gare do aeroporto.. Saiu-lhe o tiro pela culatra - E ainda bem:
O bom senso de Pires Veloso, uma vez mais esteve à altura das suas responsabilidades, evitando mais uma enorme confusão - Ah, sim, não tenho a menor dúvida, teria havido muitas mortes em São Tomé: de parte a parte, eu seria uma delas. - Fui tomado pelos colonos como o bode expiatório de todos os problemas. E a única arma que dispunha era a máquina de escrever, que ma escaqueiraram por completo, - Tive de pedir uma emprestada a pessoa amiga. Sabe Deus as adversidades por que então passei para poder continuar a enviar os meus trabalhos jornalísticos para a revista Semana Ilustrada, em Luanda.
“Sentindo que a minha altitude em recusar receber um oficial superior, enviado especial do Presidente da República, general Spínola – que fiz regressar no mesmo avião que o havia trazido, sem o ouvir - havia obtido a aprovação entre os meus adversários, sabia ter conseguido com isso algum crédito"
"Aproveitando esse crédito, organizei uma reunião, no Palácio do Governo, com dirigentes da Associação Cívica para tratar do assunto das armas da Organização Provincial dos Voluntários"
Tentei convencê-los a serem eles próprios fazerem a entrega dessas armas no Quartel-General, o que fizeram, nesse mesmo dia.
Poderá imaginar a sensação de alívio e bem-estar quando, ao cair da tarde, o coronel Cardoso do Amaral, me comunicou que tudo tinha corrido muito bem e que o armamento havia sido recebido!
Foi uma fase no processo da descolonização, decisiva e marcante, fundamentalmente porque havia conseguido, além do controlo de grande quantidade de armas dispersas pelo Território, ter as Forças Armadas disciplinadas, para além de um entendimento com respeito e confiança mútos entre autoridades portuguesas, dirigentes do MLSTP, Associação Cívica e população em geral”
(...) nós tudo procurámos fazer para que a passagem de S. Tomé e Príncipe, de colónia a pais independente, se fizesse com suavidade, tolerância, compreensão, ora criando um mínimo de estruturas que ajudassem ao funcionamento de uma nova Democracia, ora denunciando erros e, na medida do possível, corrigindo-os do passado.
Confusos, não tendo entendido bem quão profunda havia sido a revolução de 25 de Abril, um dia invadiram o Palácio querendo falar comigo.
Em tom de crítica, acusaram-me de actuar como um verdadeiro Governador, ser mole demais, sem capacidade de decisão e pedindo protecção para essa noite, pois tinham informações de que os pretos iam massacrá-los.
Tranquilizei-os na medida do possível, garantindo-lhes que eu, nessa noite, pessoalmente, iria patrulhar a cidade, o que fiz, conduzindo um VW, por vezes acompanhado com o meu ajudante de campo.
Nas casas dos portugueses não apagaram as luzes e, quando ouviam o motor do meu carro (era o único a circular), abriam a janela. Eu dava-lhes a Boa-Noite e eles correspondiam.
Preservar o nome e a presença de Portugal
Viveu-se então a fase final do processo, em ambiente de boas relações entre autoridades portuguesas e são-tomenses, num clima de tranquilidade e compreensão, que culminou, a 12 de Julho, com uma festa de dignidade ímpar, com um respeito total entre todos”.

O ex-comandante do Comando Territorial Independente de São Tomé e Príncipe (CTISTP), conhecia bem o arquipélago, as roças e os roceiros, com os quais convivera em
em opíparas comezanas, na Casa Grande, nas residências dos administradores. - Spínola, não queria a independência desta ex-colónia, alegando que as ilhas estavam desertas, quando foram descobertas pelos portugueses (estafado argumento para justificar o domínio sobre as populações autóctones), tendo-o enviado com a missão de se juntar aos roceiros e liderar um golpe contra-revolucionário.
Mas não chegou sequer a transpor a alfândega do aeroporto. Teve de aguardar, junto à aerogare, mas do lado voltado para a pista e fora das vistas do público, até que fosse recambiado no mesmo avião. Humilhação bem feita e à altura das circunstâncias.

Ele conhecia-me, sabia bem que eu não estava do lado da sua barricada e foi parco de palavras. Que eu saiba, até hoje, o caso nunca chegou a ser notícia. E tão pouco a informação foi conhecida naquele momento pelos nacionalistas (mas foram informados, ainda nesse dia) pois, se o vissem por lá, teria havido, logo ali, uma grande confusão...E talvez tivesse sido ele a primeira vítima. A aerogare estava cheia de gente, era dia de "São Avião!". Da maneira que andavam os ânimos tensos, de certeza que não se safava de um valente aperto.
Simpático com a burguesia roceira, que o obsequiara, na sede das administrações, na "Casa do Patrão" ao pomposo velho estilo colonial - cínico com quem lhe conviesse, e, nos meios do exército, era tido como um duro... Amedalhado por "altos feitos" pela sua manifesta lealdade ao império colonial, via-se que era dos tais que não deixava os seus créditos entregues por mãos alheias. Os roceiros, haviam-no obsequiado com lautos banquetes e ele não lhes queria ser ingrato. O que não toleravam é que os defensores do 25 de Abril, lhes falassem em independência e em liberdades democráticas. Certamente que eu teria sido um dos que fazia parte das suas listas, dos traidores e indesejáveis brancos a abater. Já em Lisboa, não podia passar frente ao Bar PIC NIC no Rossio. - Ponto de encontro dos colonos mais reacionários.


Não me mataram, porque, entretanto, viram os faróis de outro carro e puseram-se na alheta. Noutra ocasião, arrombaram-me a casa, escaqueiraram com todas as minhas coisas e puseram-me uma forca pendurada à entrada da porta. Por duas vezes, furaram-me à navalhada os pneus dos meu carro. Entre outras patifarias.
SORTE PARA O POVO SANTOMENSE E PARA O PRÓPRIO LÍDER DO ABORTADO GOLPE CONTRA-REVOLUCIONÁRIO
Se, Ricardo Durão (agora general) ou algum militar aceitasse comandar os roceiros, como aconteceu no Batepá, teria sido uma mortandade, talvez ainda maior!... Milhares de santomenses teriam sido baleados!... Até porque muitos dos implicados naquele massacre, ainda por lá por lá se passeavam à vontade...
Pessoalmente, também achei prudente não lançar o alerta, sobre a presença de Ricardo Durão, uma vez que ia ser recambiado. Não havia interesse em gerar mais tensões das que já existiam. Teve sorte.. E também o povo de santomense, que se livrou de uma séria ameaça à sua integridade. Teria havido muitos mártires!...E já bastava de sangue derramado por séculos de colonização.
Quando alertei Pires Veloso, da presença do inesperado oficial, ele já lhe tinha dado instruções para regressar no mesmo voo. "Já sei que ele aí está: vai já no mesmo avião. Não se preocupe".
O movimento pró-independentista apreciou atitude do Governador, que até então não acreditava nas boas intenções de Pires Veloso, pois via-o com desconfiança - Os santomenses olhavam os militares portugueses, como tropa de domínio colonial. Porém, a partir daquela altura, o Governador passou a ser visto como um dos seus e com outros olhos. No seu livro “Vice-Rei do Norte - Memórias e Revelações, o agora General Pires Veloso, faz uma breve referência, mas, como atrás referi, é omisso em apontar o nome do oficial - E alude também à inesperada invasão dos colonos ao Palácio do Governo -
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