Faleceu em Lisboa, o ex-presidente da República Evaristo de Carvalho, onde se encontrava hospitalizado - O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou este sábado a morte do antigo chefe de Estado de São Tomé e Príncipe
Morreu este sábado, aos 80 anos, em Lisboa, vítima de doença prolongada, o Ex-Chefe de Estado de S. Tomé e Principe, Evaristo Carvalho - Pude com ele testemunhar a pedra gravada na orla marítima de S. Tomé, com parte da célebre divisa do Infante Dom Henrique, que os navegadores portugueses das caravelas, ali teriam deixado, há mais de V séculos, quando aportaram, naquele local, a chamada Lagoa Azul, uma singular baía de águas profundas, situada a nordeste de S. Tomé, num espaço privilegiado e protegido dos ventos - Infelizmente, já foi desfeita. Houve na área umas triturações nas pedras e esses vestigios ficaram irreconhecíveis. Para meu desapontamento, pude comprovar esse facto em Maio de 2019 - http://canoasdomar.blogspot.com/2018/12/descoberta-de-s-tome-ha-uma-pedra.html
As minhas sinceras e mais sentidas condolências aos familiares e amigos, do meu antigo camarada da Brigada de Fomento Agropecuário, cidadão santomense, já então muito estimado entre todos os que o conheciam ou com ele trabalhavam.
Do
antropólogo, Prof. Gerhard Seibert,
devotado e prestigiado estudioso de S. Tomé e Príncipe, recebi por email
estas sentidaspalavas, que aqui reproduzo “Lamento muito o falecimento de Evaristo
Carvalho. As minhas sinceras condolências à toda a sua família enlutada".
O Governo decretou 5 dias de lutonacional, a partir do meio dia do ultimo domingo, em honra a Evaristo Carvalho,referindo que «A bandeira nacional deverá manter-se em meia haste e ficam proibidas a prática de atividades desportivas, a atuação dos conjuntos e bandas musicais, discotecas e demais atividades recreativas»,
Tomei conhecimento da inesperada noticia, que muito me entristeceu, antes de ser divulgada na imprensa, por gentileza do Sr. Embaixador da Guiné Equatorial Tito Mba Ada, visto saber dos laços que nos ligavam desde há longos anos - Aliás, também Evaristo de Carvalho, era uma personalidade muito admirada na Guiné Equatorial
De recordar a mensagem de profunda consternação e sentida comoção, que enviara, em Março do ano passado, ao Chefe de Estado Obiang, ao tomar conhecimento da enorme explosão num paiol militar que causou dezenas de mortes e centenas de feridos, mergulhando assim o povo da República Irmã da Guiné-Equatorial na dor e luto”- Lia-se na mensagem, que então enviou ao seu hómologo - E que, agora, certamente, a sua morte, não deixará de ser manifestada por parte de Malabo.
Sim, havia, entre nós, laços de amizade e de camaradagem, desde os distantes tempos, em que ambos trabalhávamos na Brigada de Fomento Agropecuário: ele, como Chefe de Secretaria, eu como modesto técnico agrícola.
Mesmo assim, ele sempre foi humilde, pacato e cordial, igual a si próprio, relacionando-se com todos, da mesma maneira respeitosa, simpática, cordata a e comunicativa
De seu nome completo, Evaristo de Espírito Santo Carvalho; natural de Santana, distrito de Cantagalo, signo balança, nascido a 22 de Outubro de 1941: conheço o Evaristo Carvalho, desde o dia em que ele trabalhou na secretaria de Brigada de Fomento Agro-Pecuário, sob a direção do Eng. Morbey, onde rapidamente ascendeu a Chefe dos Serviços Administrativos.
Pessoa respeitada e admirada por todos – Fomos colegas: ele com os papeis, na secretaria que ficava situada na cidade, eu na apicultura, a recolher enxames no mato, com as minhas barbas de abelhas no colmeal da Brigada ou a polinizar a baunilha, lá para os lados da Roça Santa Margarida, na área da então Vila da Trindade, com os demais técnicos da Estação Agrária e Florestal.-
Soube, mais tarde, que foi alvo de um processo disciplinar por parte da chefia do referido organismo, um ano antes da independência - O Eng Morbey, muito competente, mas tinha o seu feitio complicado, a lembrar alguns trejeitos dos roceiros.
A mim, descontou-me uma semana de trabalho, por via dos dias em que eu faltei, quando fiz sozinho e clandestinamente a travessia .de canoa ao Principe. Claro que acabei por não ficar por lá muito tempo. Mas devo-lhe o ter-me assinado o relatório do meu tirocinio do Curso de Técnico Agícola, que, não o pudendo concluir nem na roça, nem naquela estação agrária, mas no serviço militar, quando ali fui encarregado de dirigir os serviços da Agro-Pecuária.
Anos depois, em Janeiro de 1974, pouco antes do 24 de Abril, também eu fui afastado de ascender aos quadros do ER de STP, da Emissora Nacional, onde era operador, por caturrice de um tal Eng Freire, chefe desta estação, por via de um artigo que publiquei na revista angolana Semana Ilustrada. - Tenho a cópia desse telegrama enviado para Lisboa.
De vez em quando, também viamos o Evaristo, na área dos laboratórios, em humilde diálogo com o Chefe da Brigada ou outros engenheiros e regentes agrícolas, tomando até o mesmo jipe de regresso à capital. Que me lembre, nunca o vi zangado ou de semblante encrespado mas, às vezes, com certo ar muito sério e sisudo, pois, tal como outros, teve que engolir algumas prepotências do chefe, quando este tinha as suas saídas mais autoritárias ou bruscas.
Impunha-se pela qualidade do seu trabalho, em que toda a gente confiava: não era estilo subserviente ou de vergar-se em devaneios artificiais para cair nas graças hierárquicas, tal como também não era suposto que se lhe conhecesse qualquer tendência anticolonialista, ao contrário de um funcionário (já me não ocorre o nome) que fazia de capataz nos trabalhos agrícolas e, dada a sua impertinência, na voz e na postura, até se dizia que ele ia ser o dono daqueles terrenos e da ilha, se algum dia S. Tomé, ascendesse à independência. Esta palavra, não era comum ser pronunciada (era proibida no léxico linguístico colonial) mas pessoalmente também não duvidava que não deixasse de ser pensada e até muito desejada, numa certa elite da Ilha – Nomeadamente por aquela que sofrera os horrores do Batetá, ainda com a memória bem fresca, daquelas atrocidades do Governador Carlos Gorgulho. Nessa altura, o jovem Evaristo, já tinha 14 anos: por certo que dificilmente se esquecerá – e se calhar aquele seu ar introspectivo, um tanto ou quanto contristado, que evidencia quando não sorri, lhe terá ficado do que observou nesses atribulados dias, porventura aos seus pais, amigos ou familiares. - Filho de Pedro Carvalho dos Santos e de Maria do Espírito Santo Dias – Sim, pois qual foi a família que escapou à fúria colonial desses conturbados dias?!..
Recordo o agradável passeio, que me proporcionou na sua viatura, no último domingo de
Amuletos históricos
Fevereiro de 2016, num agradável passeio à Lagoa Azul, do qual aqui mostro algumas das variassimas fotos que lhe fiz, uma das quais a que eu chamei de a cadeira do poder, dada a sua peculiar forma: creio ter sido das primeiras pessoas, a quem ele confidenciou a intenção de querer voltar a recandidatar-se, apoiado pelo seu Partido.
Foi uma tarde, que dificilmente esquecerei; que não esperava viver naquele dia, quando me encontrou na Praça da independência e teve a amabilidade de me convidar a dar um passei no seu carro.
Tive o prazer de lhe mostrar a pedra com a inscrição deixada pelos navegadores portugueses,“Talant de Bien Faire - que costumavam gravar no tronco das árvores ou nas pedras. quando chegavam a uma terra até então desconhecida- Esta frase está inscrita no túmulo do Infante D. Henrique, que era o seu lema e que hoje serve de divisa à Escola Naval – E significa desejo ou vontade de bem-fazer, exortando a um esforço pessoal e coletivo de perfeição
A pedra, que entretanto já foi desfeita, tal como pude comprovar em Maio de 2019, foi encontrada por mim e pelo santomense Cosme Pires dos Santos, em Agosto, de 2015, num dia em que, ambos, percorremos, várias áreas da orla marítima, com o objetivo de encontramos eventuais vestígios arqueológicos – Tanto anteriores à colonização, como a partir desse período. Pormenores em http://canoasdomar.blogspot.com/2018/12/descoberta-de-s-tome-ha-uma-pedra.html
Evaristo de Carvalho, além dessa interessante experiência, pouco comum, a um são-tomense, no período colonial, o facto de, em duas ocasiões (Julho a Outubro de 1994 e de Setembro de 2001 a Março de 2002), ter desempenhado as funções de Primeiro-Ministro ou seja, o politico a quem fora confiada a missão de preencher os espaços vazios na ação governativa, devido à demissão dos Governos, que estavam em exercício.
O Presidente da República Português, Marcelo Revelo de Sousa, apresentou, através do site oficial da PR, as mais sinceras condolências ao povo de São Tomé e Príncipe e ao seu Presidente Carlos Vilanova, pelo falecimento do antigo Presidente Evaristo Carvalho, que sempre teve excelentes relações com Portugal, antes e durante o seu mandato.
De seu nome completo Evaristo do Espírito Santo Carvalho, nasceu em Bombom, Santana, São Tomé e Príncipe, 22 de outubro de 1942, faleceu em Lisboa, em, 28 de maio de 2022
Evaristo Carvalho teve uma longa trajetória política: Presidente da Assembleia Nacional entre 2010/2012, foi primeiro-ministro por duas vezes, em 1994 e entre final 2001 e inicio 2002, ele ocupou ainda as funções de ministro da Defesa e Ordem Interna. Em 2011, candidatou-se pela primeira vez à Presidência do país. Desta vez ainda sem sucesso.
Eleito Presidente de São Tomé e Príncipe em 18 de julho de 2016, Evaristo Carvalho exerceu o mandato até 02 de outubro de 2021, quando foi sucedido por Carlos Vila Nova.
Pai de 25 filhos, Evaristo Carvalho era um histórico da política são-tomense, tendo sido, por duas ocasiões, primeiro-ministro em governos de iniciativa presidencial.
Evaristo Carvalho começou por ser um quadro do partido único - Movimento para a Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD) - após a independência e até ao início do multipartidarismo, na década de 1990.
Foi chefe de gabinete de Miguel Trovoada quando este foi Presidente da República e aderiu ao Ação Democrática Independente (ADI), partido hoje liderado por Patrice Trovoada, pelo filho daquele antigo primeiro-ministro
De recordar, que, o ex-Chefe de Estado Santomense, nas comemorações dos 46 anos da independência, em 12 de Julho 2021, disse à nação santomense que sociedade nenhuma desenvolve estando mergulhada numa tão profunda crise de valores.«Respeito ao próximo, em particular aos pais, aos professores, aos chefes e aos idosos. Tratamos os outros cada vez com menos atenção e consideração», declarou o Presidente da República.
Dados biográficos: No período colonial Chefe dos Serviços Administrativos da Brigada de Fomento Agro-pecuário.
No período de transição; Chefe de Gabinete do Primeiro Ministro do Governo de Transição e Inspector de Administração Interna.
No período pós independência (Mono-partidarismo); Director de Gabinete do Presidente da República, Director-Geral de Agricultura, Secretário de Estado de Administração Territorial, Ministro das Construções, Transportes e Comunicações, Provedor da Justiça e Deputado da Assembleia Popular.
No multipartidarismo; Secretário-Geral da Presidência e Director do Gabinete do Presidente da República, Ministro da Defesa e Ordem Interna, Primeiro-ministro e Chefe do Governo (duas vezes), Director do Projecto Dimensão Social de Ajustamento Estrutural, Deputado, Líder Parlamentar. Actualmente é Vice-Presidente do ADI e Presidente da Assembleia Nacional. – Téla Nón
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