Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista -- Em próxima postagem a entrevista
com o Juiz Victor Pereira de Castro. - c
"FUI UMA MÁQUINA BRUTA A MATAR" - A uns matava-os a
soco, outros a tiro, à paulada ou à machinada! Alinhava-os ao
longo da vala para não me darem muito trabalho.Alguns ainda
gritavam lá dentro, mas calava-os imediatamente, com umas quantas
pazadas de terra. Nem era eu que as deitava, mas
a outra "empreitada" que vinha logo a seguir. - ...Fui duro!... Bem
sei... Tinha de ser...E não me pergunte se estou arrependido,não senhor! Não
estou!!.. - Outros amarrava-os à cadeira dos
choques eléctricos!... "até pulavam!...Até gritavam!...
Disse o Juiz: Victor Pereira de Castro:“Conheço pessoalmente. o José Mulato desde há dias porque o chamei para conversar sobre os acontecimentos. Conheço o José Mulato através de processos; foi um homem que teve muitos maus princípios; foi um homem que, muito novo, teve de dar contas à sociedade (e deu-as) por ter cometido um crime de homicídio, com o concurso de agravantes muito sérias. Estava a cumprir pena. Foram buscá-lo. Puseram-no numa posição que não era compatível com a sua natureza, a sua qualidade de criminoso de direito comum. Suponho que fez muitos crimes. Foi condenado por crimes muito graves que cometeu, e penso que sofreu uma das penas mais pesadas que foram dadas aos intervenientes dos acontecimentos.” - Pormenores mais à frente"
COMEMORAÇÕES DO 3 DE FEVEREIRO, ENSOMBRADAS POR
TUMULTOS POR MUDANÇA DE LOCAL - Pena que
assim tenha acontecido -
Diz Conceição Lima: “Pela primeira vez desde a proclamação da
independência nacional, as comemorações oficiais do 3 de Fevereiro, Dia dos
Mártires da Liberdade, passaram ao lado da localidade de Fernão Dias. E pela
primeira vez, o acto central de uma das datas mais importantes do calendário
nacional, quiçá a mais grave, decorreu sem a presença do Chefe do Estado." - Excerto de Fernão Dias: as razões do protesto popular
(Nas antigas instalações de Fernão Dias - num dia pacifico)
Senão apenas expressar a minha estranheza
pela ausência de informação, que não houve o cuidado de ser divulgada com mais
antecedência. Por mais pesquisas que fizesse, pela Internet, só me chegavam notícias
do ano passado. –
E também, por outro lado, algum desencanto, pelo
que se passou - Até compreendo que se proporcionem as duas alternativas (mas também não foo o que se fez) para quem,
por esta ou por aquela razão, não podendo ou não querendo ir a Fernão Dias, possa optar por uma
cerimónia no Museu Nacional ou na Praça da Independência.
Mas, de modo algum, que, a romagem ao campo dos
mártires da liberdade, possa ser esquecida ou subalternizada numa cerimónia
meramente protocolar de fato e gravata.
Pelo contrário, é um acontecimento, com tantos anos como tem a independência, pelo que deverá manter-se como evocação principal e inalterável: pois, só a ida ao local, vale pelas imagens; subsitue quaisquer discursos ou palavras de cunho oficial de cirucunstância – Ou será que já não se quererá ir ali devido ao estado de abandono em que se encontra o monumento, ali erguido em memória dos mártires? – É lamentável o que se passou e também o estado a que este foi esquecido - Muito embora haja um projeto para o mesmo local - Desde há 3 anos.
Pelo contrário, é um acontecimento, com tantos anos como tem a independência, pelo que deverá manter-se como evocação principal e inalterável: pois, só a ida ao local, vale pelas imagens; subsitue quaisquer discursos ou palavras de cunho oficial de cirucunstância – Ou será que já não se quererá ir ali devido ao estado de abandono em que se encontra o monumento, ali erguido em memória dos mártires? – É lamentável o que se passou e também o estado a que este foi esquecido - Muito embora haja um projeto para o mesmo local - Desde há 3 anos.
Parabéns aos jovens da ilha do Príncipe que
resolveram celebrar o dia dos mártires da liberdade com uma caminha ao Precipício de Belmonte, um dos lugares mais paradisíacos
da Ilha do Príncipe de-fevereiro- celebrado-com-caminhas-%C3%A0- precip%C3%ADcio-do-belo-monte. htm
A FIGURA DO VERDUGO ZÉ MULATO – QUE
O GOVERNO COLONIAL USAVA, MUITO ANTES DE 1953
- Ao lado a imagem do pântano de areias movediças, infestado de mosquitos para onde eram atirados com pesadas argolas de ferro ao pescoço
Era incontornável a pergunta acerca da figura e do processo do José Joaquim, mais conhecido por Zé Mulato, a sinistra criatura, chefe das famigeradas brigadas de trabalho forçado e o carrasco dos interrogatórios e de torturas até à morte no Campo de concentração de Fernão Dias, onde perderam a vida centenas de santomenses. Mas o conteúdo da entrevista deixo-a para a próxima postagem, sob pena de tornar este artigo demasiado extenso
Era incontornável a pergunta acerca da figura e do processo do José Joaquim, mais conhecido por Zé Mulato, a sinistra criatura, chefe das famigeradas brigadas de trabalho forçado e o carrasco dos interrogatórios e de torturas até à morte no Campo de concentração de Fernão Dias, onde perderam a vida centenas de santomenses. Mas o conteúdo da entrevista deixo-a para a próxima postagem, sob pena de tornar este artigo demasiado extenso
Convirá dizer que ele já era citado em
relatórios do Ministério do Ultramar, na década de quarenta, ou seja, muito antes
de 1953 – Julgo ser a primeira vez que é tornada pública esta revelação, que pude extrair de antigos documentos
JUSTIÇA SEM JUSTIÇA - Que o usava para atos
intimidatórios – Senão veja estas descrições - 1948
96 - Carlos Alberto de Alva
Teixeira, foi intimado verbalmente ás 17 horas do dia 8-12_948 por um tal José,
capataz de presos, para demolir e desalojar um terreno na Av 5 de Outubro,
propriedade de sua mãe D, Joana Rodrigues Nascimento, registado na
Conservatória sob o nº 8.681 no livro 5 a fls. 132, do edifício e
retirando a mobília, não tem até hoje recebido a justa indemnização.
99 - Outros munícipes
procuram-nos com queixas e reclamações
semelhantes, não quizeram dar elementos indispensáveis da sua identidade, alegando
receio de represálias, citando para essas alegações exemplos, pelo que não me
foi possível dar seguimento ás suas pretensões.
Pode ser que haja exagero neste receio, mas da minha observação fiquei com a
suspeição de que nesta cidade de S.Tomé se usa por vezes de medidas de coação
para o conseguimento de certas vantagens mais menos justificáveis do que se
imagina ser o interesse do Estado.
114
- (...) Mas o pior de tudo, é que, na
Administração do Concelho são julgados, ninguém sabe porque juízo, várias demandas entre nativos,
frequentemente por factos que são crimes previstos no Código Penal. Na verdade
na administração do Concelho não há Julgado Municipal ou Instrutor, porque é
sede de Comarca, e não há também Tribunal Privativo da Indígenas, porque tal
jurisdição foi considerada excluída de S.Tomé, como acima se diz. E então a
formula seguida é resolução da s queixas dos nativos na administração e ali são atendidos pelo
administrador, 11doub1á" de Comandante de Polícia, maia polícia do que autoridade
administrativa.
115 - Assim vê-se que no ano de
1948 ali foram apresentadas por esta forma 1.460 queixas verbais, 188 em papel
selado e organizados 25 processos por crimes diversos. Alguns destas processos
transitaram para o Tribunal da Comarca, mas outros não, é o que se pode
depreender do arquivo; das queixas que não tiveram seguimento para o Tribunal
não se sabe com segurança o andamento que lhe foi dado, havendo poucos
despachos a esse respeito nos documentos verificados.
116 - A grande maioria destas
queixas não tem qualquer despacho ou outro indício do andamento que tiveram,
nos respectivos registos, ou então os despachos são imprecisos, incompletos,
dando bem a sensação do desprezo com que estes assuntos, que tanto calam no espírito
da população, são acolhidos por funcionários cheios de tédio, ou, como eles
alegam, que teem tanto que fazer que não chegam a fazer nada. Um despacho diz
assim - "Ouvidos e harmonizados" sem que ninguém possa saber ao certo
o que se passou
Diz o mesmo relator-inspetor: “Constou-me
também que na execução desses trabalhos e do trabalho correcional os
trabalhadores são entregues á condução de outros presos, muitas vezes
criminosos de nomeada, que sobre os trabalhadores exercem grandes violências, 0
que já provocou a intervenção dos médicos do hospital em vista de ali
aparecerem gravemente feridos ou contusos dos naus tratos e até por esse
estabelecimento correu um processo por e8tupro na pessoa de uma menor de 11 ou
12 anos, presa ou filha de uma presa, que obrigou a tratamento hospitalar da
vitima, praticado por um desses capatazes, preso por assassinato de um filho,
tendo o processo sido mandado arquivar, sem qualquer procedimento"
QUANDO A BELEZA DE UMA
ILHA É MANCHADA DE HORROR, DESTRUIÇÃO E MORTE
Além de alguns sobreviventes, cujos relatos transcrevi em anteriores trabalhos jornalísticos, neste site, embora com alguma relutância, e, diga-se, também com algum receio, pois desse homem tudo era possível, pude também entrevistar o famigerado Zé Mulato . A entrevista não chegou, no entanto, a ser publicada, não por falta de vontade minha, mas por decisão editorial da revista Semana Ilustrada, atendendo à crueza das suas declarações e às reações de que vinha sendo alvo por alguns colonos. Contudo, as suas palavras, tendo-me soado, quase como o silvo das balas, com que crivou as suas vítimas, ou através da violência da barbárie de espancamentos, ficaram-me como que retidas na memória para sempre – Exercício esse que fiz, neste site, há 3 anos, por ocasião da celebração do 36 º aniversário da independência de S. Tomé e Príncipe . A dado passo dizia eu o seguinte:
A paz que ali reinava dantes, dava lugar a um
autêntico cenário de horrores: por todo o lado havia a imagem e o cheiro
da morte!...- E aqueles que conseguiram escapar, feridos ou vivos, onde
quer que se encontrassem, vertiam agora lágrimas de dor e de luto, de desespero
e aflição.
Rara era a família
santomense que não chorasse um dos seus mortos.
- Porém, o macabro
crime não tardaria também a atingi-los da forma mais violenta e cobarde. Enceta-se
a caça aos "culpados" e outro cenário cruel rapidamente vai ter lugar
– No Campo de Concentração de Fernão Dias
Ouvi as declarações e os
desabafos de algumas das vítimas que sobreviveram ao massacre do
Batepá e às prisões e torturas de centenas de mortes que se
seguiram.
Por fim, também ouvi
o principal carrasco, cujo diálogo registei para um pequeno gravador .
Recebeu-me na sua oficina, cá fora, encostado à sua carrinha. Mas não foi fácil
falar com o corpulento Zé Mulato. E até me dirigi a ele com alguma
relutância e medo, receando que pudesse ter a mesma atitude
intempestiva dos colonos e me agredisse - Não o fez fisicamente mas as
suas palavras soaram-me a balas, a extrema violência e a fusis!
Não queria falar e vi
que também estava zangado comigo: "Você é um parvo!!..
Tinha obrigação de
conhecer melhor o preto!!..Eu sou negro e analfabeto e sei bem o que sou:
conheço a minha rês!!"
Mas depois de o deixar
desabafar, lá foi desfiando alguns dos episódios, revelando pormenores dos
seus cruéis atos, num tal acontecimento
macabro.
- Sim, já me haviam
relatado os seus crimes, mesmo assim não esperava tão inesperada confissão. actos
de tamanha impunidade e crueldade!
Descritos com tão
flagrante e desbragada sinceridade. Tão crassa frieza,
impiedade e desfaçatez, cujas palavras ainda me não
saíram completamente dos ouvidos, tal a impiedade com que as pronunciou e a impressão com que ainda hoje as recordo. Sim, confessava-me ele
num certo dia e com palavras de arrepiar:
Era eu quem
mandava. Cumpria ordens!...O que querem agora que eu faça?!..
Querem que eu me
mate ou querem que eu me deixe matar por eles?!...
Agora andam para aí
a rondar-me a porta: o primeiro que aqui entrar, deixo-o aqui
degolado, não sai daqui inteiro nem vivo!...Querem que lhes dê
o mesmo trato?!...
A uns matava-os a
soco, outros a tiro, à paulada ou à machinada!
Alinhava-os ao
longo da vala para não me darem muito trabalho.
Alguns ainda
gritavam lá dentro, mas calava-os imediatamente, com umas quantas
pazadas de terra. Nem era eu que as deitava, mas
a outra "empreitada" que vinha logo a seguir.
O campo estava
vedado de arame farpado….Mas houve quem fugisse. Houve uns
macacos que se puseram andar!!. Por isso, passei acorrentá-los para não
se escaparem, e, às vezes, para não me maçar muito, mandava-os
carregar água do mar em potes até se cansarem!.. E tinham que andar
ligeiros, dar a volta pelos coqueiros e a despeja-la ali de novo à
beira da praia!
Dei muitos murros e
pontapés até se cagarem! Depois mandava-os abrir as
covas para outros os enterrarem! Não tenho pena de nenhum dos que
matei!...Foram
uns milhares de "comunistas" à vida! ...Fui duro!... Bem
sei... Tinha de ser...E não me pergunte se estou arrependido,não senhor! Não
estou!!.. - Outros amarrava-os à cadeira dos
choques eléctricos!... "até pulavam!...Até gritavam!...
Eram uns tristes
... Coitados!...Passavam sede e fome!.. .Andavam magros como os cães!... Alguns
caiam já mortos!... Eu sei...Foi duro!.. Eram meus patrícios!... Mas
quem é que os mandava ser comunistas?!.. Houve muitos que
sempre negaram a morte do alferes por mais verdoadas
que levassem!
Oh! mas quando o
cacete lhe caía nas costas!...Ou o chicote lhes zurzia na cabeça e no
focinho!...Não havia língua que não se soltasse!
Abria-se-lhe logo a
boca p´rá verdade!!... E os desgraçados até me davam vontade
de rir quando de repente confessavam:
."
- Perdoa-me Zé Mulato! Perdoa-me Zé Mulato!
Eu sou comunista!
Eu sou comunista! … Não me mates!!Não me mates!!!
Estou arrependido!..não
me meto mais noutra!!"
- Era então quando
lhe dava mais porrada!
Virava pau em cima
deles!... Pau até partir ou rachar cabeça deles!.. Ainda
mais os espancava!!...
Comunistas? - pergunto eu.
Sabiam lá os tristes massacrados o que era o comunismo!- Nem ele
próprio sabia. Mas, lá está... Zé Mulato era lesto e mau!
Portava-se como todo
o mundo fosse seu. Cumpria as ordens que vinham de cima por inteiro
e ainda abusava!... Queria lá saber do sofrimento alheio!...
O verdugo era
impiedoso e não hesitava!
"Depois
duns valentes choques eléctricos, aos mais renitentes, desapertava-lhe
as fivelas, tirava-lhe os coletes e as correias, soltava-os, ficavam
doidos e tontos, pareciam macacos esgazeados! … Atiravam -se direitos às
paredes às cabeçadas! Até sangrarem-lhes os dentes!...Caiam no
chão e esperneavam!
E eu depois lá
tinha de acabar com eles, com uns pontapés na cara! Esmagava-os!!...
O negro é rijo!... Custa a
morrer!
Eu também sou da
mesma fibra.. e venha aí o primeiro que me queira
dar alguma cacetada! Senão os matasse nunca mais morriam e se acalmavam!
Dava em maluco!...
Ainda ia ficar mais estragado do que eles!!..
Então era gritaria
a toda a hora e nunca mais se calavam!..
Mas Sô Zé
Mulato tinha o perfil do carrasco ideal, nem
ia ficar louco nem minimamente se impressionava! - E, pelo que me disse, até achava muita graça e
piada - Porém, a tal cadeira - só de se
ver - era mesmo real e macabra.
Sim, ainda vi
a imagem cruel e fotografada desse abominável suplício!- Tive-a nas
mãos mas não a pude publicar: o editor da Voz de São Tomé, (jornal do
regime), essa e outras horrendas imagens não mas facultounem ele as publicou
- espero que estejam guardadas em arquivo- Um tal
militar (um tenente fascista) encarregou-se de limpar os arquivos da
PIDE e o que não interessava.
http://canoasdomar.blogspot.com/2015/01/memorias-do-bate-pa-1-auschwitz-em-s.htmlhttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-memorias-do-massacre-do-betepa-2.htmlhttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/massacres-dos-batepa-3-hoje-s-tome.htmlhttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-e-as-memorias-do-batepa-4-ze.htmlhttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-e-principe-memorias-do-batepa-5.html
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