Jorge Trabulo Marques - O primeiro jornalista, vinte anos depois a divulgar as imagens dos ignóbeis crimes, na revista de Luanda Semana Ilustrada, de que era correspondente, em STP, tendo sofrido fortes represálias por colonos: agressões físicas, ao ponto de ter que me escapar numa piroga para a Nigéria, travessia que andava a preparar desde algum tempo mas por outras razões - Pormenores mais à frente
São Tomé e Príncipe comemora esta quinta-feira, 3 de Fevereiro, dia dos heróis da liberdade do histórico massacre de 1953 - O Governo são-tomense prorrogou o estado de calamidade até ao dia 15 de fevereiro devido à pandemia - Com a decisão, o Governo, declarou que não se realizará a tradicional marcha da juventude em alusão ao dia 3 de fevereiro, feriado nacional em memória dos mártires da liberdade do massacre de Batepá, de 1953, e restringirá o ato central deste dia para apenas 60 convidados, a que deverá presidir, o Presidente da República, Carlos Vila Nova, na presença do PM, Jorge Bom Jesus e outras entidades representativas
Foi precisamente há 69 anos mas a lembrança dos ignóbeis acontecimentos, deverá permanecer ainda bem viva na memória dos escassos sobreviventes, mas também não esquecida na memória coletiva de um Povo, que não deixará de, neste dia, se lembrar dos que foram barbaramente espancados ou tombaram para sempre no Campo de Concentração de Fernão Dias
outras postagens sobre os massacres do Batepá
http://canoasdomar.blogspot.com/2015/01/memorias-do-bate-pa-1-auschwitz-em-s.htmlhttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-memorias-do-massacre-do-betepa-2.htmlhttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/massacres-dos-batepa-3-hoje-s-tome.htmlhttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-e-as-memorias-do-batepa-4-ze.htmlhttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-e-principe-memorias-do-batepa-5.html
BAPETÁ - A PÁGINA MAIS NEGRA DO PERÍODO COLONIAL

Como a morte ceifou por completo uma pequena aldeia e se alastrou por quase toda a Ilha - Vinte anos depois, tive oportunidade de registar as confissões do criminoso José Zé Mulato e do "Homem Cristo" que foi crivado de balas e logrou sobreviver, além de outros sobreviventes

A DIVULGAÇÃO DOS ACONTECIMENTOS - Ia-me custando a vida - Fui o primeiro
jornalista a divulgar as imagens que estavam no arquivo do jornal “A voz de S. Tomé” - Jornal oficial da colónia
- O Redator e Chefe de Redação, deste jornal, que
era também professor no Liceu, chegou junto de mim, no terraço da antiga Pensão
Henriques, mostrando-me uma série de fotografias, ao mesmo tempo que me perguntava se as queria
divulgar, dizendo-me, que ele não as ia publicar e que, o mais certo, era deitá-las
para o lixo. Aproveitei,
então, par as fotografar, pedindo-lhe que não cometesse essa
asneira, o que, pelos vistos veio acatar, visto terem passado a fazer parte do arquivo do Museu Nacional, instalado na antiga fortaleza S. Sebastião.Pena que o comerciante Jorge Coimbra, não me tenha feito a entrega de várias centenas de peliculas, que deixei em casa da minha companheira, quando parti de canoa - Valeu-me o facto de, mais tarde, o Sr. Afonso Henriques, me ter trazido um album de algumas fotos que ele não levara https://canoasdomar.
Quando entrevistei o advogado Victor Pereira, ele confessou-me que desconhecia essas imagens e também o número certo de vitimas - https://canoasdomar.

Entretanto,
eu já havia começado a entrevistar vários dos sobreviventes para a revista
Semana Ilustrada, de Luanda, de que era correspondente, uma das quais
ainda com feridas por sarar numa das pernas, com que fora
acorrentada
Trabalhos jornalísticos esses que me haveriam de custar graves dissabores, violentas reações por parte, de alguns colonos. que me furaram os pneus do meu carro à navalhada, penduraram uma forca na porta de minha casa, depois de arrombarem, sim, de um modesto apartamento no edificio do Lima & Gama e deixado tudo de pantanas - Não satisfeitos, mesmo assim, à noite sairam de um carro, que estacionaram junto ao edificio e fizeram-me uma espera, tendo-me pontapeado e agredido selvaticamente.
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Noutra ocasião, quando umas centenas de colonos das roças invadem o Palácio do Governador e insultam Pires Veloso, ao saírem, mal me vendo sentado na esplanada do Palmar, vêm logo de lá a correr como loucos atrás de mim armados de catanas na mão. Valeu-me ter-me refugiado num telhado, frente à farmácia Cabral, após o que estive uma semana escondido no mato em casa de um santomense, o Constantino Bragança, meu companheiro da escalada ao pico Cão Grande, que, tendo-se apercebido, veio chamar-me à noite para me alojar na sua cubata
SE ME APANHASSEM, TERIA SIDO DEGOLADO E DESFEITO!... - Em toda a parte os jornalistas são sempre as primeiras vitimas da ira popular, da intolerância e do ódio - Em todos as guerras e conflitos - Mas não só.
De tal maneira, me senti inseguro e me moveram tão feroz perseguição, que me vi obrigado a abandonar a Ilha numa canoa para a Nigéria, travessia que eu já andava a planear desde algum tempo para demonstrar que as ilhas poderiam ter sido ligadas por canoas, vindas da costa africana, antes da colonização

- J.M._ Diz-se que o Sr. Cravid também foi uma das pessoas afectadas pelos acontecimentos do Batepá. Que se passou então em relação à sua pessoa?J.M. -Por que é que o prenderam?
A partir daí o Governador Gorgulho - para salvar a face dos seus desmandos e prepotências, e, como os grandes erros, nunca vêm sós, para justificar uns cometia outros, cada vez mais graves. passou acusar os "rebeldes" de comunistas, através da imprensa e da rádio. E não tardou que os colonos - incentivados ao ódio à dita "hidra comunista", respondessem ao apelo dos muitos boatos propalados
Acompanhou-nos ao lugar, onde ficava a casa que o chefe da brigada do campo de concentração e de trabalhos Forçados utilizava para pro ceder às torturas, aos interrogatóri0.e: e julgamento das inúmeras pessoas que para ali iam presas.
Maria dos Santos, mais conhecida por Mena, agora com 80 anos, é um dos rostos debilitados, que ainda hoje espelha o testemunho do incomensurável sofrimento, angústia e lágrimas, por que viveu há 62 anos, - É uma das mártires, ainda sobrevivente dos hediondos massacres de Batepá, que tiveram inicio nos horrores da longa e pavorosa noite de 2 para 3 de Fevereiro de 1953 e que iriam prolongar-se nos ignóbeis espancamentos e torturas, até à morte, infligidos a centenas de santomenses, em terríveis interrogatórios, desde brutais choques elétricos, à violenta palmatoada, ao chicote, cacetada e cronhada, a soco e a pontapé, quer no afrontoso cárcere da prisão local, onde os presos, coabitavam exíguos e afrontosos espaços, em deploráveis e nauseabundas condições higiénicas, quer numa das salas da Fortaleza S. Sebastião (a capitania dos Portos), transformada em laboratório ao estilo da Gestapo hitleriana, sob a batuta do famigerado médico Aragão, locais donde partiam para o Campo de Concentração Fernão Dias

A dado passo escrevia o seguinte:.“Felizmente que o Ministro, a quem escrevi particularmente contando-lhe o que se passava, me mandou embarcar. Mas vieram atrás de mim oito dias de prisão tudo descrito no 1º volume das minhas memórias, castigo que o Ministro não teve coragem de anular sabendo-se de toda aquela pouca vergonha que por lá se passava e obrigou o Governo Central a mandar regressar os três culpados de toda aquela péssima cena que foi sem dúvida um dos factores do que estamos sofrendo em Africa. No meu quartel havia 50 soldados angolanos que tomavam parte em todas aquelas tristes cenas que tendo acabado o tempo e regressado às suas terras temam, contando, ajudado a criar a revolta que estalou e que felizmente tanto lá como em S. Tomé tudo se mantém agora nas mãos de dirigentes respeitáveis, compreensivos e justos tratando os negros como merecem.


Em Fevereiro de 1953, cerca de centena e meia de santomenses, iam ser largados no mar por ordem do Governador Carlos Gorgulho- Tal não aconteceu porque a tripulação, liderada pelo imediato Bernardino Lopes Monteiro, se sublevou - Porém, alguns anos mais tarde, no caso de prisioneiros de guerra guineenses, persistem fortes suspeições, de, que o crime tenha mesmo sido consumado, com uma parte da carga humana, engaiolada nos porões e da qual apenas chegou metade ao seu destino - Quem levanta a questão é um tripulante, que acusa o comandante como uma figura odiada: "Foi ainda a bordo deste mesmo navio que nos deslocámos de Bissau a Cabo Verde (Tarrafal) na Ilha de Santiago) para ali embarcar supostamente 88 ex-prisioneiros de guerra, mas por razões que nunca cheguei a saber apenas 44 voltaram para a Guiné .Era então Comandante do António Carlos o conhecido e odiado pelas gentes da outra banda, o "Herói do Barreiro"... Estou a falar-vos do longínquo ano de 1964. (***). - Pormenores em. Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74
| sobrevivente |
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Sum Marki, pseudónimo do Senhor Marques – - O escritor de origem portuguesa, nascido nas Ilhas Verdes do Equador, que cativou o coração dos santomenses, pela sua coragem na denúncia dos Massacres do Batepá, quer antes quer depois do 25 de Abril
Quantos tombaram? – Esta questão foi também levantada num estudo do investigador Gerhard Seibert, que, diz o seguinte: (tradução de francês) “Os vários dados sobre o número de vítimas do massacre divergem bastante.Mais pormenores em LE MASSACRE DE FÉVRIER 1953 À SÃO TOMÉ - Lusot

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