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quinta-feira, 14 de julho de 2022

São Tomé - Dom Manuel António - O Pastor e Poeta renunciou ao cargo de Bispo da Diocese de São Tomé e Príncipe - Após 15 anos de devotada missão no arquipélago - Talvez sem concretizar um dos seus maiores sonhos: - "Se tivesse muito dinheiro gostaria de ver neste país um grande Parque Escolar”Declarou-me há 7 anos - Entrevista que hoje recordo - É substituído interinamente, por Dom António Pedro, Bispo auxiliar de Luanda, Angola

 

Jorge Trabulo Marques - Jornalista   - 

D. Manuel António Mendes dos Santos, tinha sido nomeado bispo diocesano de São Tomé e Príncipe, desde 1 de Dezembro de 2006, pelo Papa Bento XVI, assumindo as funções no dia 18 de março de 2007, fazendo parte da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe. Sacerdote claretiano desde 1985, um olhar atento e uma voz amiga do povo são-tomense, um “veterano” de África e destas ilhas, que já conhecia desde Dezembro de 1993 .

Justificando a sua renúncia, Manuel António dos Santos de 62 anos, considera que "ser bispo em São Tomé e Príncipe não é fácil, porque é uma diocese e é também um país" e como resultado "o bispo é que acaba por ser o centro da igreja" e uma "figura muito solicitada" que está "sempre em movimento contínuo" para encontros, viagens e outras atividades.

A sua irmã, que muito o ajudara nas lides da sua residência e noutros trabalhos sociais, deixara S. Tomé, há já alguns meses, confessou- me  que  se sentia muito cansada, que já não ia ali voltar. -

O anúncio da renúncia e da substituição foi feito na manhã desta última quarta-feira por Dom Manuel António dando conta que o seu pedido de renúncia foi aceite por Vaticano que indicou provisoriamente Dom António Pedro auxiliar de Luanda para assegurar interinamente o cargo até a nomeação do seu sucessor –


Referindo que “o novo Bispo interino da Diocese de São Tomé e Príncipe, Dom António Lungieki Pedro Bengui foi ordenado sacerdote em 28 de outubro de 2001 e incardinado na Arquidiocese Metropolitana de Luanda, Angola.

Dom António Lungieki Pedro Bengui nasceu em 12 de dezembro de 1973 em Damba, Província de Uíje, tendo recebido a sua formação propedêutica, filosófica e teológica no Seminário Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus, em

Previa ficar 10 anos e acabou por se alongar por 15 - Mas, como se compreenderá, os anos pesam e a paciência  humana não é  infinita - Sobretudo, quando, a par da palavra do evengelho,  se deseja também fazer obra social e faltam os recusos económicos  -

Declarou que “foram 15 anos, sete meses e meio que estive nomeado bispo de São Tomé" e "começo por agradecer todo o carinho, todo o acolhimento que sempre senti, todo o calor humano com que sempre fui acolhido nesta terra", sublinhou Manuel António dos Santos.

O ex-líder da igreja católica em São Tomé e Príncipe, afirmou que durante a sua missão procurou "ser pastor de São Tomé" e até adquiriu a nacionalidade são-tomense para se sentir verdadeiramente "identificado com esse povo".

"Além disso é uma diocese com muitas dificuldades e exige do bispo o empenho para pensar o presente e o futuro da diocese e a verdade é que chegou o momento em que eu estava a sentir-me profundamente cansado [...] nos últimos tempos já me sentia com dificuldades em sentir ânimo para continuar", afirmou Manuel António dos Santos.

Contudo, explicou que desde que foi nomeado há quinze anos que definiu a meta máxima de 10 anos para o exercício da função, mas que acabou por se prolongar um pouco mais - Referem noticias divulgadas 

 Dom Manuel António Mendes do Santos,  já havia lançado um aviso aos seus paroquianos, há precisamente um ano, através de uma nota pastoral, no final da missa de domingo,  apelando à colaboração de todos,  veiculada pela Rádio Jubilar e divulgada pela Voz do Vaticano.

Noutros tempos, a diocese de São Tomé, teve fama e grandeza – Agora, as preocupações, a par da ação religiosa, vão para as ações  sociais da Igreja, “no combate à pobreza e às necessidades e carências crónicas de boa parte da população». - São Tomé e Príncipe (STP), já foi diocese,  abrangendo Angola, Moçambique e toda a bacia do Golfo da Guiné, até 1842, constituída sui iure a 31 de Janeiro de 1533 pelo Papa Clemente VII por desmembramento da Arquidiocese do Funchal

Como é do conhecimento público, embora a igreja católica, seja o culto predominante nas Ilhas Verdes do Equador, naquele que é considerado um dos países africanos mais estáveis e democráticos, tanto os cristãos, quanto muçulmanos, convivem pacificamente; incorporando características de crenças nativas africanas, a pandemia veio agravar as dificuldades das populações mais carenciadas, em todo o mundo - E o papel da igreja católica, tem sido relevante, por via de doações à disponibilização de estruturas, distribuição de vale-refeição e confeção de máscaras doadas gratuitamente

Tendo referido, na referida nota pastoral,  que um empreiteiro meteu 18 mil euros ao bolso e não fez a obra ajustada - Ficou de fazer obras na igreja de S. Pedro da Praia do Pantufo, meteu falência - Lamentou-se, o Bispo  Dom Manuel dos Santos, em nota pastoral

Tendo então declarado, tal como comprova o video,  que a igreja apenas dispunha  de 80 mil euros, em Lisboa e graças a uma herança que recebemos da Madeira e cerca de vinte mil euros em S. Tomé, frisando que, mesmo este dinheiro que tem recebido está todo hipotecado em projetos




Na manhã da véspera  do dia 12  - D. Manuel António, apelou,  na Sé Catedral, ao amor e união entre os são-tomenses para que o país possa alcançar um futuro melhor para todos.  

D. Manuel António que presidia a celebração de acçao de graças por ocasião do 47º Aniversário da Independência de São Tomé e Príncipe, manifestou o desejo “que todos nós amemos esse país, com a sua realidade, já que é nesse país que somos chamados a fazer a nossa história”.


Dom Manuel António, é natural  da pequena aldeia de São Joaninho, concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. De origem humilde, o 5º de uma família de nove irmãos, ainda vivos.

Em Setembro de 2015, depois de nos ter recebido na sua residência em S. Tomé, e ter participado no encerramento da exposição, que apresentei nos finais de Julho de 2015, no Centro Cultural Português, intitulada Sobreviver nos Mar dos Tornados e Tubarões,  38 dias à deriva numa pirogahttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/07/em-s-tome-encerramento-da-exposicao.html deu-nos o prazer de partilhar da celebração do equinócio do Outono, no santuário ruprestre da Pedra da Cabeleira, em Chãs, de V. N. de Foz Côa  -https://templosdosol-chas-fozcoa.blogspot.com/2015/09/equinocio-do-outono-2015-chas-foz-coa.html


Disse-nos, Dom Manuel dos Santos,  que o  papel da Igreja Católica, na educação, em São Tomé,  sempre foi muito importante, recordando  que “os nossos missionários, já antes da independência criaram várias escolas primárias, tanto em S. Tomé como no Príncipe. Criaram a Escola de Artes e Ofícios, que teve um papel importante neste pais, e estiveram também na fundação do Liceu Nacional .

Já comDom Abílio Ribas,  criaram o instituo Diocesano de Formação, com currículo Português, desde o principio apoiado pela cooperação portuguesa- Mas é uma escola, que neste momento tem algumas dificuldades de sustentabilidade e, por isso mesmo, fizemos um protocolo com o Ministério de Educação de Portugal, para que a Escola fosse assumida como escola portuguesa,


Estamos nessa fase de transição, de passar o testemunho para o Ministério da Educação de Portugal. Para além disso, temos outras escolas e vários jardins de infância . Portanto, continuamos a ter um papel importante na educação.

Se me pergunta: então que grande sonho é que teria com a Educação em São Tomé?

Bem. Se eu tivesse dinheiro – mas é preciso, de facto, muito dinheiro -  gostaria de ver neste pais um grande parque escolar, com escola, desde o pré-escolar, escola primária, escola secundária, um ensino técnico profissional  - Eventualmente, até, algum Instituto superior ou assim. E também, sobretudo, uma escola de formação de professores, que era  muito importante que aqui se fizesse. Estão a dar-se  passos nesse sentido – Para mim, de facto,  é algo fundamental. Já  que, se um país quer acreditar no futuro, quer construir o futuro, tem de começar pela educação




DOM MANUEL DOS SANTOS  – ORIUNDO DE UMA  HUMILDE FAMÍLIA BEIRÂ, O  5º  DE 9 FILHOS – “TODOS VIVOS!  - GRAÇAS A DEUS”

 “QUEM SOU” – VEJA O VÍDEO OU LEIA – NA PRIMEIRA PESSOA

“Sou da Beira, de facto: de São Joaninho de Castro Daire, distrito de Viseu. Sou o 5º de nove filhos, vivos ainda, graças a Deus.

Aos 11 anos fui para o seminário de Resende, do seminário de Lamego. Saí de lá aos 18 anos para entrar na Congregação dos Missionários Claretianos; ordenado padre, em 1985, na minha terra, por Dom António Xavier Monteiro, que era então o Bispo de Lamego,

Adicionar legenda
Após a minha ordenação, fiquei a trabalhar nos Carvalhos, durante 9 anos. Em Novembro de 1993, vim para África; estive um mês em Luanda e “aterrei” em 6 de Janeiro de 94 nas terras de São Tomé. Foi então que pela primeira vez pisei o território são-tomense. Impressionou-me, na altura, logo o verde desta Ilha: de facto, era um verde tão intenso, que, um ano e meio depois, quando regressei a Portugal,   vi que não havia comparação possível, com os verdes desta terra..
- Jorge Marques – E os perfumes!...
– Dom Manuel dos Santos - Bem, os perfumes... Eu, como nasci no meio da montanha, no meio do tojo, das urzes, não me impressionaram, porque, lá também há perfumes muito intensos! Eu fui criado, no meio do campo! Sempre trabalhei no meio do campo, mas, sobretudo, o verde desta terra, de facto, impressionou-me muito.
 
Cinco dias depois, acabei por ir para Roma, onde regressei a Portugal, tendo sido escolhido  Vigário Provincial, às comunidades claretianas:

 Nessa qualidade, continuei a visitar constantemente São Tomé, e, em 2007, vim então para aqui, como Bispo de São Tomé e Príncipe.

 IGREJA CATÓLICA CONTINUA A SER A INSTITUIÇÃO DE SOLIDARIEDADE SOCIAL MAIS REPRESENTATIVA 

- Jorge Marques – No meu tempo, não havia aqui tantas igrejas: como é que Igreja Católica, neste momento, consegue superar esta concorrência?

- Dom António dos Santos: “Nós temos que perceber  que a vivência de uma  fé, também se vive dentro de uma  cultura, que os povos vivem. E, a cultura de hoje,  é uma cultura fragmentária, de auto-realização, se pode dizer assim, centrada muito na pessoa. 

Então, muitas vezes, a religião, é a procura de algo que me satisfaça pessoalmente, em que eu muitas vezes me assuma como sacerdote dessa religião. Claro que  depois cada um acaba por escolher a religião que mais lhe parecer adequada à sua verdade. Daí, o surgimento, dessa cultura fragmentária, dessas religiões e de todas essas ceitas.

A  Igreja Católica, no entanto, continua a afirmar as suas convicções: é  uma igreja nascida de Cristo, feita por santos e pecadores! Continua ao serviço deste Povo! Continua a ser a Instituição de Solidariedade Social, ainda maior deste país! Continuamos, portanto, a acreditar no futuro! A trabalhar com esperança! Para que este Povo continue a ter metas de vida, a ter futuro, num amanha de esperança!

Jorge Marques: “ E acha que há motivos para isso?

Eu costumo dizer que sou um otimista realista. Ou seja: é óbvio que vivo um otimismo próprio de quem acredita em Cristo, e quem acredita em Cristo, sempre acredita que Deus é mais forte que o demónio! Que Deus é mais forte de que todas as coisas. 
Agora, também vivo esta minha esperança, na realidade de todos os dias! No confronto das situações em que este país vive, com a cultura, hoje, muito paganizada, em que estamos inseridos. Portanto, sabendo que não é fácil num ambiente destes, nós conseguirmos fazer passar  a nossa mensagem cristã de vida, de serviço, de atenção ao outro e não aos interesses pessoais: não é uma tarefa fácil

Mais: a maior dificuldade, ainda é, nós mesmos, os cristãos, encontrarmos as pessoas, que são capazes de  acreditar, de lutar, de liderar, elas mesmas: - não apenas os sacerdotes mas também os leigos; em se  empenharem na vivência séria de uma fé! De acreditarem que é possível fazer alguma coisa diferente.

Jorge Marques - S. Tomé, é uma ilha prodigiosa, onde os frutos surgem ao longo do ano, onde não há falta de alimentos, pelo menos de frutos naturais. Em todo o caso, costuma dizer-se que não só de pão vive o homem, tem notado essas carências? Aqui não notamos os rostos que existem, por exemplo, em Angola, aquelas barrigas de balão, etc. O que é que diz sobre isso?

Com pena nossa, uma deficiência técnica, não nos permitiu o registo integral  da sua resposta – Em todo o caso, aqui ficam algumas das suas palavras, aludindo à Fundação do Banco do Leite, que ele próprio fundou  e  à distribuição de alimentos

(…) - Dom Manuel dos Santos - A igreja serve refeições quentes a crianças e a idosos, em vários lugares. Para nós a população dos idosos  e das crianças, são muito vulneráveis. Por exemplo, fundei o Banco de Leite, tentando, em Portugal, angariar leite, papas lácteas, etc. para distribuir por São Tomé e Príncipe, de modo a melhorar  a sua qualidade alimentícia. Não se pode chegar a todos, infelizmente,  mas temos tido capacidade de oferecer leite às nossas crianças, na Casa dos Pequeninos, e , até, fazendo-o chegar  às crianças, no Príncipe - Mesmo através de outras instituições. 

DOM MANUEL DOS SANTOS - O PASTOR E O POETA


OS MENINOS DA MINHA RUA - POR DOM MANUEL DOS SANTOS  - Lido do seu livro "Aqui onde estou todos os Sonhos São  Verdes"






0S MENINOS DA MINHA RUA

Os meninos da minha rua caminham como jangadas
perdidas no mar salgado enfeitado de espuma
caminham à procura de coisa nenhuma
apenas querem regressar a casa
onde os espera uma noite inteira

Os meninos da minha rua brincam com as pedras
e atiram pedras aos cães e  às mangueiras
atirar pedra e  sonho é brincadeira
que inventaram aos nascer da terra
como cachos de bananeira

Os meninos da minha rua vestem de azul marinho
quando saem da escola em bandos alvoroçados
com os botões perdidos ou mal apertados
crescendo no desejo de inventar o destino
em livros com a forma de bola

Os meninos da minha rua riem e dançam
numa alegria de pardais fora do ninho
aos magotes vão fazendo o seu caminho
na busca de metas que não alcançam
e pelas quais sonham e choram.

Os meninos da minha rua estão a crescer
deixemo-los brincar
rir e estudar
deixemo-los aprender
deixemo-los crescer

S. Tomé, 1 de Fevereiro de 2012
In  Aqui Onde Estou Os Sonhos São Verdes”
De Manuel dos Santos

 DOM MANUEL DOS SANTOS - O PASTOR E O POETA


Foi Alda Graça Espírito Santo , a matriarca da poesia santomense, que, ao tomar conhecimento dos seus versos, o estimulou a dar a conhecer a sua poesia – Confessou-nos, Dom Manuel dos Santos, num diálogo informal, que decorreu durante o almoço oferecido na Quinta Calcaterra, concelho Meda, na sequência de uma visita que fez à Pedra da Cabeleira de Nossa Senhora, no equinócio do Outono, em Chás, Foz Côa


Encontrei umas folhas, com uns poemas seus, mas isso tem de ser publicado” Disse, um dia,  Alda Graça Espírito Santo, a Dom Manuel dos Santos. A grande matriarca da poesia santomense, que faleceu a 10 de Março de 2010, já não pôde assistir à publicação de nenhum dos livros do Bispo de São Tomé e Príncipe, mas foi ela que o estimulou a editá-los, que saíssem do anonimato dos seus cadernos – E também do seu computador para onde  vai como que debitando os seus momentos de inspiração, numa espécie de diário poético: não apenas de cariz eminentemente  bíblico e espiritual mas também sobre os mais diversos temas do quotidiano e  recordações, nomeadamente das  terras que o viram nascer. 




Tal como é dito, no prefácio do livro “Momentos de Verde e Mar”,  autor de poemas  que “evocam sentimentos íntimos do poeta e retratam a sua a subjectividade  do seu mundo interior que ora se encontra muito próxima  do real ora se afasta dele para se recolher na intimidade  das palavras” Ou, tal como é escrito, em Poemas de Fé de Vida e Fé, pelo Fr. Fernando Ventura: “Não tendo medo das palavras nem dos afectos encontrados na vida e na história, o autor dá às palavras o gesto sereno da contemplação vivida, o som profundo das sonoridades da África, o gosto do mar das ilhas e das gentes de um país à espera de si próprio e do seu futuro, um futuro que tarda em chegar, num presente que é um «ainda não» mas que permite abrir o coração do poeta ao ininteligível da esperança no leve-leve de um devir que se faz tarde.

Percorrer este livro, é ir ao encontro do mar, da paisagem que a ilha aperta mas que o mar alarga, é ouvir a voz do cacaueiro, o riso da fruta-pão, é abrir a alma ao perfume da flor do café, à segurança do embandeiro que resiste ao tempo, ao colorido do vozear das crianças, ao marulhar do oceano que abraça feliz a areia da praia só contaminada pela ignomínia indizível dos assassinos dos sonhos. 

DOM MANUEL DOS SANTOS - Setembro 2018


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