Jorge Trabulo Marques - Jornalista

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a 6 de novembro de 1919 no Porto, onde passou a infância. Entre 1939-1940 estudou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa. Faleceu a 2 de julho de 2004, considerada uma das maiores escritoras e poetisas portuguesas do século XX, que apreciava falar-nos de temas como: o mar, a infância ou o humanismo cristão.
Os seus livros estão traduzidos em várias línguas e foi muitas vezes premiada, tendo recebido, entre outros, o Prémio Camões 1999, o Prémio Poesia Max Jacob 2001 e o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana – a primeira vez que um português venceu este prestigiado galardão. Com uma linguagem poética quase transparente e íntima, ao mesmo tempo ancorada nos antigos mitos clássicos, Sophia evoca nos seus versos os objectos, as coisas, os seres, os tempos, os mares, os dias. Na sequência do seu casamento com o jornalista, político e advogado Francisco Sousa Tavares, em 1946, passou a viver em Lisboa. Foi mãe de cinco filhos, para quem começou a escrever contos infantis.

Faleceu a 2 de julho de 2004, em Lisboa. Dez anos depois, em 2014, foram-lhe concedidas honras de Estado e os seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional.
O mar beijando a areia
O céu e a lua cheia
Que cai no mar
Que abraça a areia
Que mostra o céu
E a lua cheia
Que prateia os cabelos do meu bem
Que olha o mar beijando a areia
E uma estrelinha solta no céu
Que cai no mar
Que abraça a areia
Que mostra o céu e a lua cheia
um beijo meu
Sophia de Mello Breyner

carregados de cidades e distância
Adormecem os grilos
Uma criança escuta a concavidade de um búzio.
Talvez seja o momento de outra viagem
Na proa, decerto, a decisão da viragem”
Na capital britânica trabalhou como jornalista e produtora dos serviços de língua portuguesa da BBC. Apesar de uma longa carreira como jornalista, a escrita poética sempre fez parte da sua vida. Aos 19 anos viajou para Angola e participou na VI Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos, onde recitou alguns dos seus poemas. Foi provavelmente a mais jovem a fazê-lo. Desde então já publicou dezenas de poemas em jornais, revistas, e antologias em vários países. Em 2004, publicou ‘O Útero da Casa’ e em 2006 lançou ‘A Dolorosa Raiz do Micondó’. ‘O País de Akendenguê’ é o último título editado
A MÃO
Toma o ventre da terra
e planta no pedaço que te cabe
esta raiz enxertada de epitáfios.
Não seja tua lágrima a maldição
que seqüestra o ímpeto do grão
levanta do pó a nudez dos ossos,
a estilhaçada mão
e semeia
girassóis ou sinos, não importa
se agora uma gota anuncia
o latente odor dos tomateiros
a viva hora dos teus dedos.
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