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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Pintor-escultor, Luís Ángel Oitaven Rodrigues – A admirável coragem de um extraordinário pintor luso-galego - Deixou-nos, após doença prolongada no IPO – Serviu a Embaixada de Espanha, em Lisboa, durante vários anos. Em fevereiro de 2016, sofreu um AVC , porém, graças à sua tenacidade e ao seu amor pelas artes - desenho, escultura e pintura - conseguiu superar a sua enfermidade: embora com a mão direita imobilizada passou a esquerdino e pôde continuar a criar obras primas

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista  - Neste post, vídeo com as suas palavras e imagens de uma exposição e na intimidade do seu lar, No seio de uma familia carinhosa, rodeado dos seus gatos

Luís Ángel Oitaven Rodrigues, faleceu na madrugada da passada segunda-feira, no IPO, 2023-02-06, onde se encontrava em tratamento – Nasceu em 1955-01-24 . Completara 68 anos, no passado dia 24 de Janeiro .O seu corpo,  foi transferido, nesta  sexta-feira daquele Hospital para o crematório de Alcabideche

Tivemos oportunidade de nos associarmos ao velório e de juntarmos também as nossas mais sentidas condolências aos seus familiares, juntamente com as de  um expressivo grupo de pessoas amigas, que ali foram igualmente prestar a sua última homenagem e confortar os seus entes queridos 




De recordar, que, o Pintor, Luis Oitáven, sofreu um AVC em Fevereiro de 2016, porém,  graças ao seu amor pelas artes e também à sua grande força de vontade, à sua inquebrantável  determinação  e tenacidade, logrou  vencer as limitações físicas que o inesperado acidente vascular lhe provocara,  prostrando-o na enfermaria de uma clínica, em Alcoitão, durante alguns meses, imobilizando-lhe a sua mão direita, aquela com que habitualmente executava os seus trabalhos.

Nem assim, se deixou vencer pelas adversidades e continuou abraçar aquilo que sempre gostou de fazer – de pintar e desenhar – Tal como nos declarou num breve registo de impressões para o video, que aqui apresentamos. 

Em 2015, Luís Oitaven Rodrigues, que  desempenhou as funções de secretário no Departamento da Agricultura na Embaixada de Espanha, durante vários anos, viu-se forçado a ir para a reforma, quando este departamento foi encerrado -  E a ter que ir residir em Cárceres para não perder direitos sociais, nomeadamente o subsídio de desemprego – Sim, tendo partido com profunda mágoa, ao ter que se separar do lar, do convívio familiar e dos seus gatos, que também tanto amava e com os quais partilhava as longas horas de pincel na mão voltado para as suas telas, onde a inspiração ia brotando espontaneamente.

Embora com inaudito esforço, nunca se rendeu ao que parecia ser uma irremediável fatalidade para o resto da sua vida, e, sempre que podia, à medida que se ia reabilitando, lá ia pintando ou desenhando num modesto bloco de papel branco: há quem faça o seu diário escrevendo ou teclando num computador mas a linguagem de um pintor não é a da escrita mas do traço ou da pincelada  - E foi justamente isso que procurou fazer, registando de forma admirável, em  belíssima expressão  artística, as suas emoções, quer  das imagens que lhe afloravam à mente da nova experiência de vida que estava a atravessar, quer das recordações que também lhe povoam a imaginação e a memória


E foi precisamente um conjunto desses trabalhos, e de outros que o artista tinha pintado anteriormente, sim,   de  belíssimos desenhos e aguarelas e alguns acrílicos, a que deu o titulo de “Passado, Presente e Futuro, que constituíram uma admirável surpresa, uma espantosa demonstração de  talento e de coragem, na exposição que apresentou em Dezembro de 2016,   rodeado de amigos e familiares, num dos mais simpáticos cafés de Campo de Ourique, o Gift in Jar café, na Rua Latino Coelho da Rocha, nº 44, muito próximo da  Casa  Fernando Pessoa, em Campo de Ourique







VOLTAR DE UMA PÁGINA  - MÁGOA EM  DEIXAR O ACONCHEGO DO SEU AMADO LAR  -Para mim é o voltar de uma página: sinto mágoa ter que partir mas, por outro lado, sinto que tenho muita força  A minha vida sempre foi um pouco solitária. No casamento, não quer dizer que não seja feliz, mas sempre gostei do silêncio e do isolamento –  Confessava,   Luis Oitaven Rodrigues, ao jornalista, momentos antes do jantar de despedida, que ia ter no lugar por baixo de um toldo  no pequeno quintal de sua casa – Que é mais jardim de que outra coisa e o retiro acolhedor  para dialogar com as pedras que esculpe

Pintor e escultor nas horas de silêncio e de lazer – Um autodidata, que nos confessava dialogar com o silêncio das pedras que esculpia ou das telas que pintava. Dizendo-nos que ia procurar um sítio que fosse isolado, que lhe permitisse realizar plenamente o seu trabalho artístico, tirando o máximo partido do exilio forçado.

Estando já de algum modo habituado ao diálogo silencioso com as suas telas ou quando as pedras lhe lançam o convite para as apanhar nas encostas dos montes ou montanhas, no leito dos rios e  na margem das praias ou arribas, sim, de modo a passarem de matéria inerte e  formas vivas  e esculturais, confessava-se  preparado para a nova fase da sua vida


 
“Eu sou um autodidata, tanto na pintura como na escultura. É a minha maneira de  me expressar e de transmitir ao mundo as minhas emoções  Desde pequeno, sempre gostei de desenho. Cada peça que eu faço, custa-me desfazer dela. Quanto ao valor da minha arte, não sei. Quanto me perguntam o preço,  eu não sei dizer. A arte deve ser vendida àquelas pessoas que realmente a apreciem.” – Confessou-nos, na intimidade do seu lar, junto dos que são mais queridos: a esposa, filha e filho, nora, os seus quadros, esculturas  


 Tal como a de seu pai  - Um galego, que não conheceu outra profissão que não  a de servir a coroa espanhola na Embaixada em Portugal -  Porém,, num  tempo em que a precarização laboral se institucionaliza, em que fazer 12 horas seguidas passa a ser uma rotina e não uma exceção, em que  pessoas passam a ser meros números estatísticos  e todos os valores, desde a dedicação, ao esforço  e à fidelidade, já não bastam  para garantir o pão de cada dia

Seu sogro, de nacionalidade  portuguesa, pai de sua mulher, também poderia ter sido um próspero construtor cível, se o Estado Novo,  lhe tivesse pago as obras que lhe encomendou, pois construi-as  e  não lhas pagou, além das perseguições políticas da PIDE, que lhe moveu – Nado e criado, em Lisboa, vê-se obrigado a ter que abandonar o lar (mulher e os dois filhos) e partir para Espanha, onde o espera  uma espécie de longo exílio.

Luis Ángel Oitaven Rodrigues. nasceu em Lisboa, em  24 de janeiro de 1955,

Estudo no Instituto Espanhol de Lisboa onde fez o título de Bachillerato Superior, área de letras e desenho artístico.

Esteve empregado na Embaixada de Espanha em Lisboa até Agosto de 2015. Embora se considere autodidata, frequentou  diversos cursos livres, nomeadamente curso de pintura decorativa sobre gesso no Espaço Chiado (Arte Sacra)  escultura em pedra no Centro Galego de Lisboa. Participou numa exposição coletiva e artes decorativas na cidade de Tomar.

Em 29 de Fevereiro de 2016, sofreu um AVC mas graças ao seu amor pelas artes conseguiu vencer certas limitações e foi o  que pretendeu mostrar ao público naquela  exposição que  teeve por título; Presente, Passado, e,  Futuro?

Antes de sofrer o AVC, sentia-me com vontade de me dedicar à pintura, à escultura….estava cheio de projetos para o futuro, satisfeito por ter a oportunidade de todo o tempo para o fazer.



No entanto, de repente vi-me impossibilita, do de o fazer, os sonhos caíram-me  e sentia-me de mãos vazias, o presente daquele então, ficou sombrio, pesado. Mas tive a sorte de ter conhecido uma equipa médica, enfermeiro e terapeutas,  que me incentivam a não desistir… Um obrigado a todos eles.

Para não cair de novo em deceções, comecei uma conversa interior comigo próprio, nessas e nestas conversas que mantenho a diário, a modo de meditação, abriram-me os olhos para Viver o Presente aproveitando a lucidez de cada  respiração, sem pretender agarrar seja o que for, sem rejeitar as oportunidades, que surgem a cada momento

QUEM HAVIA DE DIZER QUE, ALGUM TEMPO DEPOIS, AO DESEMPREGO, LHE IA BATER À PORTA TAMBÉM OUTRA CONTRARIEDADE…

RECEBEU-ME EM SUA CASA, DECORADA COM OS SEUS ADMIRÁVEIS QUADROS, NO SEIO TÃO QUERIDO E ÍNTIMO AMBIENTE FAMILIAR – Com um pequeno jardim nas traseiras, numa rua não muito longe da basílica da Estrela, rodeado dos seus gorduchos e lindíssimos gatos, sim, pouco antes de partir para Espanha – Pena que, o registo  da entrevista, devido a falhas do cabo do microfone, tenha sofrido algumas  perturbações  técnicas – Mesmo assim, vale a pena recordar as suas palavras, lembrar aquele momento, em que, conquanto estivesse que deparar-se com o espetro do desemprego, longe de imaginar que viria   defrontar-se com um AVC.

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