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quinta-feira, 25 de abril de 2024

25 de Abril em S. Tomé e Príncipe – Minha cronologia dos factos – A Revolução de Abril 1974 só às 19 horas é que a rádio local (ERSTP), divulga um lacónico comunicado

                                                      Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

“Perante notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em pleno exercício das suas funções. A população tem dado um magnífico exemplo de calma e tranquilidade “ O repórter, este, é que jamais teria dias calmos com afrontas e agressões de vária ordem por dar voz à liberdade de expressão

25 DE ABRIL EM STP – Um dia igual aos outros. Mas acabaria por ser o  grande ponto de partida para a antiga colónia  portuguesa se libertar da mordaça colonial. 

Escrevia eu na edição seguinte ao 25 de Abril, da revista angolana Semana Ilustrada: "Alvorada da revolução do  25 de Abril, de 1974, não foi quase notada neste dia em S. Tomé e Príncipe,  senão para quem acompanhava as emissões estrangeiras de rádio, que não era, naturalmente, o grosso da população, mas quando raiou foi como um rastilho que se ateasse a um foguete – Mesmo assim, houve quem quisesse ofusca-la – E pouco faltou para que os roceiros provocassem um banho de sangue e o Movimento das Forças Armadas ali fosse abortado – Ou antes, um pouco retardado, já que a população, galvanizada pelas manifestações populares, dificilmente o ia permitir

A partir daí, o movimento libertador das Forças Armadas, rapidamente ali encontrou eco nas duas ilhas – Os colonos receberam-no com apreensão e jamais se mentalizaram para  o alcance das transformações que rapidamente se iriam operar. 

TOMEI CONHECIMENTO NA MANHÃ DAQUELE HISTÓRICO DIA 

Mas eu soube da notícia ao raiar dessa alvorada. Era operador na rádio local e correspondente da revista angolana, Semana Ilustrada. A estação encerrava à meia-noite e abria (se a memória não me falha) às cinco e meia da manhã. 

Nesse dia, era o técnico escalado para abrir a estação e pôr o Hino Nacional no ar, seguido de  um programa de música variada – era mais uma das bobines gravadas que recebíamos regularmente da extinta Emissora Nacional. Poucos depois, chega o Raul Cardoso, que, na redação, passava ao papel as noticias transmitidas, em onda curta, por aquela estação, para depois serem lidas nos noticiários da "província". Pois não dispúnhamos de fax.


Houve um golpe militar!!... Há uma revolução em Lisboa!"Confessava-me, mal   pôs os auscultadores à escuta.  Porém, as notícias dos acontecimentos em Lisboa, foram encaradas com reservas e a sua divulgação, começou por ser bastante lacónica - Só, depois do pôr-do-sol. já noite, às 19 horas, é que  O Emissor Regional difunde o seguinte comunicado da Repartição do Gabinete e distribuído pelo C.I.T

Só às 19 horas daquele dia 25 de Abril, é que o Governador envia um comunicado à rádio local, ao Emissor Regional de S. Tomé e Príncipe da EN,  dizendo que, “perante notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em pleno exercício das suas funções A população tem dado um magnífico exemplo de calma e tranquilidade “ 

ESTE O MEU RELATO NA EDIÇÃO SEGUIR AO 25 DE ABRIL DA REVISTA ANGOLANA SEMANA ILUSTRADA

S. Tomé-25. O dia amanheceu sereno e calmo como outro qualquer. As pessoas dirigem-se para os seus locais de trabalho habituais. Um sol resplandecente e equatorial banha de luz e de vida a pequena cidade de S. Tomé. A vida parece continuar com a mesma rotina dos demais dias da semana. Porém, para um número muito restrito de cidadãos, começam a chegar os primeiros rumores de que algo de estranho se passava na capital do País. Há interrogações. Expectativa geral. Tudo o que se fala e se sabe, é escutado de estações de rádio estrangeiras. Por isso a dúvida subsiste. As perguntas sobre o que há ou não, de verdade, sobre a situação em Lisboa, começam a suceder-se a cada instante. E a não encontrar uma resposta exacta, Tudo o que se fala é incerto e impreciso.

. Tomé-25. É quase meio-dia. O Governador da Província é já conhecedor das noticias que pela manhã começaram a ser radiofundidas por Emissões do exterior. Toma conhecimento do teor do comunicado emanado pela Repartição do Gabinete do Governo de Angola, transmitido pela Estação Oficial deste Estado. Que nada de concreto diz, pois é bastante lacónico.

S. Tomé-25. Estamos no começo da tarde. Chega-nos ao conhecimento que parte do efectivo militar aquartelado na cidade entra de prevenção. Notícias não confirmadas começam a partir de agora a circular com maior intensidade pela população que, com crescente expectativa, se interroga ansiosamente.

S. Tomé-25. São 19 horas. O Emissor Regional difunde o seguinte comunicado da Repartição do Gabinete e distribuído pelo C.I.T

"Perante notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em pleno exercício das suas funções. A população tem dado um magnífico exemplo de calma e tranquilidade que o Governo e as Forças Armadas da Província continuarão a assegurar."

Lampejos de um defunto moribundo. Pois escusado seria dizer que àquela hora ainda o Governo derrubado estaria no exercício pleno das suas funções. Um comunicado, portanto, que não veio trazer luz alguma sobre as dúvidas que já existiam. Maior confusão, porventura, estamos certos, foi o que veio provocar.

Pois se as estações estrangeiras já àquela hora estavam fartas de deitar cá fora a noticia do golpe militar aos quatro ventos. Um caso mais ou menos consumado, era a ideia que começava já a prevalecer em muita gente, tal a veracidade e o pormenor com que o desenrolar dos acontecimentos passavam a ser pelas mesmas relatados. Uma sensação de alívio notava-se nas pessoas, se bem que juntamente com alguma inquietação pela incerteza que, não obstante, ainda pairava. Oficialmente nada de concreto se sabia, apenas o conteúdo daquela comunicação que, àquela hora,  e dada de maneira  como foi redigida, terá sido bastante inoportuna. 

S. Tomé-25. E a hora de fechar o Emissor Regional. Ouvem-se os últimos acordes do Hino mas até àquele momento a grande verdade, de que já muita gente não tinha dúvidas, não chega a ir para o éter pelas ondas hertzianas desta Voz Portuguesa no Equador. E isto porque a Emissora Nacional, de que faz parte, continua no seu mutismo em relação à sua emissão para o Ultramar. Continua com a sua normal programação, apenas com a diferença dos noticiários serem demasiado breves.

S. Tomé-25. E a hora de fechar o Emissor Regional. Ouvem-se os últimos acordes do Hino mas até àquele momento a grande verdade, de que já muita gente não tinha dúvidas, não chega a ir para o éter pelas ondas hertzianas desta Voz Portuguesa no Equador. E isto porque a Emissora Nacional, de que faz parte, continua no seu mutismo em relação à sua emissão para o Ultramar. Continua com a sua normal programação, apenas com a diferença dos noticiários serem demasiado breves.


S. Tomé-26. É meia-hora da madrugada. Algum do pessoal do E. R. de S. Tomé e Príncipe que se havia mantido em escuta depois de encerrada esta estação, houve e regista, em fita magnética, as primeiras palavras do grande general António Spínola. Fala como Presidente da Junta de Salvação Nacional, que então se constituira após o Glorioso Movimento das Forças Armadas, em tão boa hora levado a cabo, segundo as sua próprias palavras, no seu memorável comunicado à Nação Portuguesa, de que, a partir daí, assumira a enorme e pesada responsabilidade da condução dos novos destinos.

S. Tomé-26. 19.00. Uma comunicação do Governo da Província anuncia que, segundo telegrama do Ministério do Ultramar, o Governador de S. Tomé e Príncipe é reconduzido.

S. Tomé-27. O Comandante Militar em exercício, tenente-coronel Ricardo Durão, é chamado pela Junta de Salvação Nacional a desempenhar importante cargo no Ministério da Defesa Nacional. Função essa que, segundo posteriormente veio a público, não chegou a ocupar visto ter sido mais tarde designado delegado da J.S.N. junto do Ministério das Corporações.

S. Tomé-26. 19.00. Uma comunicação do Governo da Província anuncia que, segundo telegrama do Ministério do Ultramar, o Governador de S. Tomé e Príncipe é reconduzido.

S. Tomé-27. O Comandante Militar em exercício, tenente-coronel Ricardo Durão, é chamado pela Junta de Salvação Nacional a desempenhar importante cargo no Ministério da Defesa Nacional. Função essa que, segundo posteriormente veio a público, não chegou a ocupar visto ter sido mais tarde designado delegado da J.S.N. junto do Ministério das Corporações.


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