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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Natália Correia e Zeca Afonso - Inédito – Vozes no Botequim da Liberdade - Ó rama, ó que linda rama – E Milho Verde - Meu registo das Noites Loucas, de alegria, música e poesia


                                                          Jorge Trabulo Marques - Jornalista


Reportagem sonora de uma das noites de caloroso convivo e de boémia do Botequim da Natália Correia, no Largo da Graça, Lisboa, anos 80 – Naquele espaço, as surpresas da noite já faziam parte do cardápio da casa, do habitual convívio e diversão.


Foto obtida pelo autor deste blogue  à saída de uma festa de gala no Casino Estoril - Natália Correia e a sua corte - Na qual está também - no primeiro plano  Dórdio Guimarães, o fiel companheiro de todas as horas de Natália,  de costas voltadas para o fotógrafo; um pouco mais à esquerda, está  Fernando Grade, e,  quase a servirem de guarda-costas, Francisco Baptista Russo e Fernando Dacosta, agora de novo com mais uma bela surpresa literária  - Não me ocorre o nome das outras suas amigas.

Se Natália Correia fosse viva e ainda liderasse o Botequim, por certo, alguns dos frequentadores deste famoso Bar já tinham desencadeado uma revolução
 Uma das habituais presenças, ao pino do Botequim, era o Mastro António Vitorino de Almeida, mas, que muitas vezes, podia ser usado por outras músicas

A noite que aqui recordo, contou a presença de Zeca Afonso, A VOZ DA UTOPIA E DA LIBERDADE, que se associou ao coro das vozes, onde a da Natália Correia, era geralmente a voz que liderava os Cânticos que ali se faziam ouvir. -
Zeca Afonso, a emblemática voz do 25 de Abril, da revolução dos cravos, imortalizada por , “Grândola, Vila Morena”


José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos – ou simplesmente Zeca Afonso, como viria a ser eternizado – nasceu a 2 de agosto de 1929, em Aveiro. Em miúdo passou algumas temporadas em Angola, onde o seu pai exerceu a função de delegado do Procurador Geral da República. Por motivos de saúde, o pequeno Zeca dividiu o seu tempo entre África, que aprendeu a amar e a respeitar, e Portugal. As suas raízes familiares não representam propriamente o ‘proletariado’. Contudo, quando se fez homem, Zeca cantou e defendeu, como poucos, o povo – antes deste ir ‘de carrinho’, como viria a cantar na década de 80, no álbum Como Se Fora Seu Filho, um disco paradoxo, dividido entre a utopia e o desalento da realidade política:

Vídeo elaborado a partir da cassete de um pequeno gravador, que utilizava como repórter da Rádio Comercial, que pude registar numa das noites inesquecíveis de boémia no Botequim, que tive o prazer de frequentar muitas vezes - Hoje lembrei-me de ir buscar esses sons ao meu vasto arquivo - Onde ainda guardo (entre cerca de três centenas de cassetes de áudio, inúmeras reportagens e entrevistas, entre as quais,, Fernando Namora, Vergílio Ferreira, José Gomes Ferreira, Moreira das Neves, Amália Rodrigues, Cupertino de Miranda, Azeredo Perdigão, Costa Gomes, etc..etc
Sim, outros sons e outras vozes, gravadas no Botequim, que espero vir a editar no You Tube, pois tenho a certeza que não deixarão de ser apreciadas e de comover até às lágrimas, todos quantos o frequentaram e ali viveram momentos que perdurarão para o resto das suas vidas. Botequim - Pequeno no espaço mas grande como bar aglutinador das mais diferentes sensibilidades - Centro de tertúlias políticas, literárias e artísticas, palco de conspirações e acesos debates na presença de figuras, como Ramalho Eanes e esposa, Sá Carneiro, Nuno Krus Abecassis, Helena Roseta, Oliveira Marques, Ary dos Santos, Mestre Martins Correia, Francisco Relógio, David Mourão Ferreira, Dórdio Guimarães (o companheiro inseparável de todas as horas da autora da Mátria), Manuel da Fonseca, Urbano Tavares Rodrigues,Césariny, Cruzeiro Seixas, José Augusto-França, Amélia Vieira, Fernando Dacosta, José Manuel dos Santos, Amélia Muge, Tomás Ribas, Gilberto Madail, Afonso Moura Guedes; Narana Coissoró, deputados de todos os partidos, cartomantes, videntes e astrólogas, aspirantes a poetas, a pintores, a músicos, a escritores ou a políticos, homossexuais e lésbicas assumidos ou disfarçados, jornalistas, empresários, generais na reforma e no ativo, vários capitães de Abril.

E tantas outras personalidades (até do estrangeiro, sobretudo do Brasil) provenientes das mais diferentes atividades ou, simplesmente, pessoas anónimas que admiravam o perfil e o estilo inconfundível de Natália, que ali iam todas as noites, ao Largo da Graça, movidas pela curiosidade de a conhecer pessoalmente, de partilhar a alegria, a truculência, a frontalidade, o fascínio e o saber do seu inigualável convívio. "Mulher forte, irreverente, contraditória - e de beleza extraordinária. Com intensa versatilidade, dedicou-se a vários géneros literários.
Natália Correia sempre se recusou a ser uma figura decorativa, peça que entrava e saía do palco segundo as regras da compostura. Ao longo da vida escreveu intensamente. E ainda marcou presença na política e na imprensa. A indignação foi uma constante na sua vida e obra - motivada pela censura que a amordaçava ou por uma insurreição natural a todos os engodos ideológicos da sociedade. "Uma mulher imperial", diz a jornalista Clara Ferreira Alves." "Natália Correia é uma mescla de anjo e demónio. Muito do seu encanto vem desta mistura explosiva. É conhecida pela personalidade livre de convenções sociais, vigorosa e polémica, que se reflete na escrita.

Em Memória de Natália Correia e do Botequim - Em Noites Loucas, de alegria, música, convívio e poesia 







Natália Correia (1923 - 1993), mulher de paixões, casou quatro vezes ao longo dos seus 70 anos. Fez televisão, foi jornalista, dramaturga, poetisa e estreou-se na ficção com o romance infantil «Aventuras de um Pequeno Herói», em 1945.
Nasceu nos Açores em 1923 e aos 11 anos desloca-se para Lisboa. Foi jornalista no Rádio Clube Português e colaborou no jornal Sol. Ativista política: apoiou a candidatura de Humberto Delgado; assumiu publicamente divergências com o Estado Novo e foi condenada a prisão com pena suspensa em 1966, pela «Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica».
Deputada após o 25 de Abril , fez programas de televisão destacando-se o “Mátria” que apresentava o lado matriarcal da sociedade portuguesa.
Fundou o bar “Botequim”, onde cantou durante muitos anos, transformando-o no ponto de reunião da elite intelectual e política nas décadas de 1970 e 80.
Organizou várias antologias de poesia portuguesa como “Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses” ou “Antologia da Poesia do Período Barroco”.
Natália Correia foi uma versejadora de êxito, uma mulher carismática com uma vida social intensa, não fez concessões à mediania e notabilizou-se por uma vasta obra intelectual.

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