expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Eclipse total solar na América do Norte - Fui ensombrado por um eclipse lunar total num mar de trevas na noite de 18 para de 19 de novembro de 1975 - Sozinho perdido no mar e na mais absoluta escuridão há 31 dias numa frágil piroga

Jorge Trabulo Marques - Jornalista

Algures no Golfo da Guiné, ia a caminho dos 31 dias à deriva numa frágil piroga - Na noite de 19 para o dia 20 observei um eclipse total da Lua, que me envolveu num mar de trevas 


Um eclipse total foi hoje  visível na América do Norte,  nesta segunda-feira:  tendo começado a notar-se por volta das 20:07 CET no México, prolongando-se até cerca das 21:45 CET, altura em que termina na Terra Nova. 
O fenómeno celeste  ocorre quando a Lua se interpõe entre o Sol e a Terra, bloqueando a luz do Sol, atraindo a atenção de milhões de pessoas e também de se constiruir como oportunidade científica para estudiosos fazerem novas análises e  observações

NÃO ESQUEÇO O MAR DE TREVAS DAQUELA NOITE

O que me envolveu foi lunar e há 49 anos. Refere registo que "O eclipse lunar total o segundo e último de dois eclipses lunares do ano, teve duração total de 40 minutos. e 12 segundos. O Chade, obteve a melhor observação do meio do eclipse, de onde foi visível à meia-noite O eclipse parcial durou 3 horas e 29 minutos no total. https://pt.wikipedia.org/wiki/Eclipse_lunar_de_18_de_novembro_de_1975

Ao 31º Dia - Na noite do dia 18 para 19 de Novembro, em que observei um eclipse total da lua" e sofri um novo ataque de um gigantesco tubarão - " A canoa a meter água cada vez mais!.... Isso preocupa-me um bocado. A fraqueza a invadir-me o corpo... Tenho que ter calma. Muita calma! Mas, sinceramente!... Tudo tem limites.. " Desabafos para o meu diário gravado



O céu e o mar ficaram mais negros que nem na mais negra noite de tempestade - Não se enxergava um palmo à frente do meus olhos - Nem sequer os contornos da piroga - Durante quase hora e meia foi como se o mundo não existisse.


O mar e o céu pareciam unidos nas mesmas sombras e pela mesma escuríssima cortina - Senti uma profunda solidão! - Tanto mais que havia mais nuvens que abertas, que por sua vez iam também eclipsando as estrelas e tornando-as ainda mais longínquas - Além de que o mar permaneceu toda a noite muito cavado. Mas não poderei dizer que fosse uma noite muito anormal - Pior teria sido se chovesse. Direi que a observação daquele eclipse lunar foi apenas um episódio em mais uma longa noite de vigília e de reflexões na minha vida.



Algures no Golfo da Guiné, 20 de Novembro de 1975 Há 49 anos


Diário de Bordo 1-  Hoje é manhã do 31ª dia. Passei uma noite incómoda. Não consegui conciliar o sono. Fiquei praticamente sempre acordado. O mar muito cavado, fortemente cavado! Devido possivelmente a trovoadas vindas do sul ou de outras bandas...Próximo da canoa apenas choveu ao fim da tarde de ontem...  A noite pôs-se normal, até com aberturas de luar muito bonitas!... Eu é que não consegui dormir em toda a noite. A pensar na minha vida... Até agora tenho pensado no mar, nas dificuldades a vencer no mar...mas esta noite estive a pensar  em terra.... Porque, efetivamente, eu tenho de ter um destino...certo... Comecei a pensar o que é que eu irei fazer agora... Portanto, esta noite os meus pensamentos ocuparam-se no que vai a ser a minha vida em terra.


Diário de Bordo 1 (continuação) Esta manhã  aparece com o mar relativamente cavado, com uma certa  carneirada. O céu nublado. Não totalmente mas com nuvens escuras que ameaçam chuva. ..Um pormenor curioso a que eu não fiz referência: na noite de ontem, eu tive oportunidade de observar um eclipse  total da lua.


A ideia   de que, dentro de pouco tempo, hei-de alcançar chão firme, já não é bem uma interrogação; a partir de agora é quase uma certeza. Talvez pelo facto de, quando em quando, se me depararem, aos meus olhos, no horizonte difuso, os seus  contornos. Claro que a vida a bordo não melhorou de maneira alguma. . Porém, o meu cérebro, que até agora tem vivido numa constante preocupação  com as dificuldades da minha sobrevivência no mar, estranhamente,  passou a ocupar-se mais no que será a minha vida quando chegar a terra. Havia-me esquecido de pensar em tais questões. Sinto-me mais na pele de    um vagabundo de que um náufrago e preocupa-me o meu futuro. 

De facto, tenho concluído que esta vida errante, não é nada boa.Terei que viver uma vida mais tranquila e menos sobressaltada. Mas como?!...O que é que eu irei fazer quando chegar a terra?!..Como irei ser recebido e que será depois a minha vida?!... 
 
Não tenho meios de comunicar com ninguém. Disponho apenas da orientação de duas bússolas: uma que trago no pulso, como se fosse o meu relógio, outra fixada  junto à ponte da proa. Se morrer afogado no mar eu tenho a certeza que ninguém vai saber  o que me aconteceu ou chorar nesse momento a minha falta.  Mesmo a família, da qual tenho estado bastante ausente. 


A minha mãe faleceu, dois anos depois de eu ter chegado a São Tomé . Sei que o meu pai, os meus dois irmãos e a minha irmã me não  esquecem. Mas a vida deles e de todos os meu familiares, é como se fizesse parte de outro mundo...Quem é que poderá imaginar onde eu agora estou e a fome que me tortura e a solidão em que  me encontro? 
 
Amo a natureza e vejo no mar a mais íntima  forma da sua aproximação. Cada vez mais me sinto atraído pelo seu misterioso canto. O isolamento é uma forma de o encontrar, de mergulhar na sua indescritível magia. Sim, fisicamente, sou para aqui um farrapo humano. Uma criatura desprezível,  as forças vão-me  faltando. Sem nada com que matar a fome. No entanto, talvez por isso mesmo, mais purificado, mais sensível e fortalecido espiritualmente. Sim, porque o mar não é só esta imensa vastidão. O mar é vida. Umas vezes meigo, suave, dócil, belo e acariciador; outras vezes, cruel, impiedoso, impaciente e infernal

Agora, nesta manhã acinzentada, não será bom nem mau, nem triste nem alegre: ondula, freme, move-se numa turbulência que nem me agrada nem me desagrada. Não me encanta nem desencanta.. É realmente terrível o seu poder. Não é egocêntrico. Não vive apenas para dentro dele. Transmite e afeta todo o meu estado de alma. É pena vê-lo agora encrespado, tão sisudo e não tão comunicativo como costuma ser. Mesmo assim, faz-me sentir próximo dele. Embora, com outras palavras, é o que vou já transmitir  para o meu gravador - O fiel registo dos meus sentimentos, que guardo como se fosse o cálice de um sacrário no meu baú de plástico, um velho contendor do lixo, que o meu amigo Germano Castela, fez o favor de me dispensar.

Diário de Bordo Devo estar mais próximo do continente africano. Já parece impossível, não é ?!...Depois de tantos dias de ter largado e não ter atingido a costa africana!... Claro que  as trovoadas têm-me feito andar para aqui às aranhas de um lado para o outro!.... Vou pôr  a vela, já. A ver se atinjo, hoje, finalmente, terra!

Quando o mar está calmo a canoa não tem tanta velocidade. É natural que a noite passada tenha andado bastante.... devido à força que as vagas lhe imprimiram.

Diário de Bordo 2- É quase meio-dia e ainda não consegui navegar nada! Já por três vezes tentei pôr a vela.... e não há vento!.. Quer dizer, aqui, quando há trovoadas há vento demais e é impossível  navegar! Quando não há trovoadas, há calmarias e o mar é um lago!... Agora o mar não dá qualquer hipótese, visto não haver força de vento suficiente para impulsionar a vela. É irritante!...Sinceramente!... Esfomeado que estou!...

Encontro-me para aqui próximo, muito próximo!... A canoa a meter água cada vez mais!.... Isso preocupa-me um bocado. A fraqueza a invadir-me o corpo...Não tenho anzóis que deem para pescar os peixes que aqui há. Os anzóis que disponho são para peixes muito grandes e o nylon é fraco. A situação não é desanimadora mas também não é muito agradável. Tenho que ter calma. Muita calma! Mas, sinceramente... Tudo tem limites... 

 Diário de Bordo 3 Agora, neste preciso momento,  talvez quatro horas  da tarde, apareceu um enorme! um gigantesco tubarão! Mesmo gigantesco!! Estava deitado no fundo da canoa.... e senti roçar!... Depois vi logo que era um tubarão! Pois investiu várias vezes contra a canoa!... À proa! À popa! Até que eu agarrei no machim  e consegui dar-lhe umas machinadas na cabeça!  E então fugiu!...Não sei onde é que ele agora se encontra! Mas, efetivamente, é um monstro!!.. Uma coisa pavorosa!... Um monstro autêntico!... A acompanhá-lo havia uma série de peixinhos!...

Diário de Bordo 4-  Acabei agora de pescar um peixe  à mão!...Andava aqui... Consegui!...O gajo, mesmo cortado, estava a escapar-se! Era o que faltava!... Claro que estou a comê-lo  cru!... Sabe-me perfeitamente bem!...

Diário de Bordo  5 -  Estou satisfeito!...Já comi o peixe cru  e soube-me bem!...Estou a ver perfeitamente contornos da costa africana, que ainda é um bocado distante.... 

Finalmente consegui pôr a vela e parece que há um ventozinho que me vai tocar para lá...Veremos quando...



Diário de Bordo  6 Esta é uma melodia (melodia africana) que eu gosto imenso!...Aqui no mar sabe tão bem!... Realmente, há trechos musicais que, nestas circunstâncias, são mesmo muito apreciados...
.
Diário de Bordo  7   É pura e simplesmente irritante!... Não há vento absolutamente nenhum!... Quer dizer, não posso velejar e tenho a costa, tão próxima! ...É realmente muito aborrecido!

Diário de Bordo  8. Já se pôs o sol do 31º dia. O dia esteve praticamente de calmaria!... Ligeiras brisas... que não deram para navegar...

Voltei apanhar uma ave. Pousaram duas: uma à proa e outra à popa. A outra fugiu!... Tenho-a aqui para a comer amanhã.... 

 A costa africana. sei que não fica distante... É natural que esta noite tudo se modifique... Há uma formação de nuvens muito escuras a sueste, que devem trazer chuva, com certeza...Portanto, é isto apenas que tenho agora a dizer.. E que amanhã outras novidades melhores possam surgi


j

Nenhum comentário :