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sábado, 6 de julho de 2024

Aos náufragos da traineira “Virgem Dolorosa” – E o relato emocionante de um dos sobreviventes dos Bancos da Terra Nova e Gronelândia, da Figueira da Foz, em 1952 – Agora a tragédia atingiu cinco pescadores: dois da Figueira da Foz, dois de Buarcos e um de Lavos. Além dos três tripulantes que continuam desaparecidos

 

A todos os homens do mar, de todos os continentes e cantos da Terra. Aos marinheiros e navegantes que, do Cais do Tejo, partiram pela barra do rio afora, em frágeis caravelas, rumo ao misterioso oceano, em demanda de novas terras e outras gentes, sofrendo horas infinitas em escaldantes e podres calmarias ou “fugindo à tempestade e ventos duros.”
E, por via disso, e, porventura, devido a desmesurados sonhos ou ao desamor e à compaixão de ímpios deuses, a quantos perigos e adversidades se não expuseram!

Aos náufragos perdidos a bordo da traineira “Virgem Dolorosa”
Que ironia esta a do destino coincidir com a palavra lacrimosa!
Náufragos das lágrimas! De ontem e de hoje! - De sempre!...
Náufragos de todos os dias do ano e de todos os tempos!

A todos os homens e vidas perdidas no mar!
Aos pescadores de todos os credos e cores!
Que se perderam ou sobreviveram!
Mas que muito sofreram,!
Muitas lágrimas verteram!
Sulcos na face derramaram!
Antes de serem sufocados
Ou até serem resgatados!


Náufragos de todas eras e continentes!
Náufragos de todos pontos dos oceanos!
De todas as atitudes marítimas da Terra!
Náufragos do desespero e da triste sina!
Das inumeráveis viagens inacabadas!
Dos inarráveis rumos que foram traçados
e dramaticamente, riscados,
abruptamente destroçados,
afundados no rodopio torvelinho das águas!..
Ou perdidos na vasta superfície das podres calmarias,
Debaixo de um céu quente, acobreado e sol a pino
ou matizado por um sangrento entardecer do dia!




Água, água, em todo o lado! Do círculo equatorial!
E, todavia - nessa atmosfera quente, sufocante e cálida! -
sem uma única gota potável! - Senão água salgada!

Já não falando dos gélidos mares da Terra-Nova!
onde, em qualquer momento ou hora do dia, assola
a fria brisa e a branca espuma ondula, se mistura e ergue-se
à permanente e silenciosa ameaça dos brutais icebergues!

Sim, tal como vós, também um dia parti de um porto,
de um indistinto porto tracei meu rumo e segui sem destino!
Perdi-me, voguei errabundo, fui um miserável náufrago!...
Mas vivi e sofri todas as sensações e emoções do mundo!
- Como só talvez as viva intensamente
quem se abra de corpo aberto
e coração fundido à pulsação
desse plangente limite,
viscoso, movediço, absorvente!
- Na tumultuosa e erma vastidão!



Naufraguei!...
Vi-me ignorado de toda a palavra,
irradiado do próprio sonho,
felizmente resisti e sobrevivi!
Náufragos, irmãos meus!
Afinal, irmãos de todos os homens,
de todos os seres e de todas as coisas!
Ricos ou pobres - O sufoco do mar não os distingue,
o tormento engole-os e traga-os a todos por igual.
Seja na mais transparência solar azulina dourada!
Seja no serpenteado mais escuro e aveludado !
Oh tristes e infelizes criaturas!



Aqui, elevo aos deuses as preces
que não acabastes de rezar!
As clamorosas súplicas,
que proferistes, em vão,
beijando, perdidos,
enlouquecidos, ícones, rosários,
relíquias sagradas! - A mais sentida oração
que um vil tumulto, profundo e mui perverso
vos silenciou e secou o vosso aflitivo coração!
Cerrando de vez as vossas já pesadas pálpebras
que sucumbiam aos olhares já cansados e doridos!
Às pulsações moribundas que já mal latejavam


Sobre as cristas do tumultuoso e enraivecido mar!
Debaixo de um teto febril de fogo assombrado!
Por entre o qual, só nalgumas furtivas abertas
se podia descobrir o brilho das estrelas menos eclipsadas
ou menos esmaecidas, que pareciam assomar e dançar
ou serem imediatamente absorvidas, ignoradas
pelo mesmo rugido das vagas e bramido do vento!


Num pavoroso e escuríssimo manto comum, amoldado
que se estendia do lençol do mar ao infinito firmamento!
Cruzado de incendiados e sinistros relâmpagos,
ecos de estrondosos ribombos de trovões!
Que vos fustigava e assolava o corpo e alma
num corrupio de mil faíscas e aturdidos clarões

E choro, condoído e angustiado, o sentimento
das mesmas lágrimas de sal
turvadas de sofrimento,
incerteza e dor

Choro e comungo convosco
os eternos instantes,
as horas infindas de pavor,
o desafiar do incontável rosário
de contas das vossas inumeráveis aflições!...

Sim, porque, o mar, não mudou;
o mar de hoje é o mar antigo de ontem, de outrora....
É o mar eterno, sem fim, sem fundo e sem história!...

A sua voz é a voz dos tempos!...Das universais sementes!
O cheiro a maresia , a sal-gema é a mesma de sempre -
As ondas continuam a enrolar-se sem descanso
nos areais de todas as praias de todos os continentes!...

Ao largo, o cenário estende pelo horizonte o seu manto!
O mesmo círculo a prologar-se indefinidamente -,
e, à volta do círculo, ainda o abandono,
a solidão de todas as eras intemporais!

Além disso, sei que, ouvindo o grito
grave e assustadiço das gaivotas,
ainda ouço os vossos suspiros e aflitivos ais!
Á mistura com o uivar desgrenhado do vento
e, por todos os espaços, o cavo ribombar do trovão,
que sucedia aos inesperados relâmpagos infernais, raios
que incendiavam e se fundiam como fosfóricos fantasmas
por entre as espessas, negras trevas ameaçadoras e turvadas!...
Sem a mais ténue pena de amor à vossa dor ou compaixão!

Excerto de um poema de minha autoria, que acompanhou uma exposição que apresentei no Padrão dos Descobrimentos, em 1998
Meu preito de homenagem aos neógrafos da traineira “Virgem Dolorosa” – A tragédia marítima. ocorreu na madruga da do dia 4 de Junho, atingiu cinco pescadores: dois da Figueira da Foz, dois de Buarcos e um de Lavos. Além dos três tripulantes que continuam desaparecidos
A todos os homens do mar, de todos os continentes e cantos da Terra. Aos hábeis e destemidos pescadores das frágeis pirogas, que me ensinaram a arte de navegar, mestres na arte do equilíbrio e da agilidade, que, nas águas equatoriais de S. Tomé e Príncipe, se afoitam aos mais violentos tornados e as sulcam todos os dias.

Aos marinheiros e navegantes que, do Cais do Tejo, partiram pela barra do rio afora, em frágeis caravelas, rumo ao misterioso oceano, em demanda de novas terras e outras gentes, sofrendo horas infinitas em escaldantes e podres c

Tal como foi noticiado, o  naufrágio da embarcação de pesca “Virgem Dolorosa”, que ocorreu, na madrugada da passada quarta-feira, entre as praias de Pedrógão e de Vieira de Leiria, vitimou três pescadores do concelho da Figueira da Foz, - dois de Buarcos e um dos  Lavos - Estando ainda outros três desaparecidos no mar, enquanto 11 tripulantes foram retirados com vida.

A embarcação estava no exercício da sua atividade, em conjunto com as outras [mais seis da mesma organização] e, de um momento para o outro, virou. Não se sabe as razões, não se sabe nada, virou”, afirmou, em declarações à agência Lusa, António Lé.

O presidente da Câmara da Figueira da Foz, após visitar os feridos em observação no Hospital Distrital da Figueira da Foz, disse que o Município vai avançar com apoio psicológico, moral e de companhia às famílias https://www.campeaoprovincias.pt/noticia/tragedia-no-mar-poe-de-luto-a-figueira-da-foz

 

JORGE TRABULO MARQUES - JORNALISTA E INEVESTIGADOR 
 

O autor destas linhas Dez 1970 
Em 2015

Repito o que disse, neste dia, em 2012: Já não assistimos à imposição de medalhas aos familiares dos que perderam ingloriamente as vidas numa guerra longa e injusta, e mesmo a alguns vivos por haverem cumprido (com total entrega) um dever que lhes fora imposto – Quando os ventos em África sopravam a favor da libertação dos povos, nós continuávamos orgulhosamente sós afirmar que Portugal ia do Minho a Timor. 

E, agora, quais são os novos heróis de merecido mérito?!... Continua haver comendadores e amedalhados – Claro,  mais deles por serem grandes devotos de quem lhes confere o distinto galardão. Mudou o regime mas as varejas são as mesmas - Portugal já não tem mais império mas tem muita água salgada e está à venda; os principais compradores são os filhos dos novos ricos que colonizámos - Saúdo o meu país profundo que mais sofre e continua a viver a meias com a pobreza e as lindas Ilhas de São Tomé e Príncipe, para onde meu coração se reparte e cuja população aguarda ainda a sua oportunidade 

RELATO DRAMÁTICO DE  UM DOS PESCADORES SOBREVIVENTES DO BACALHIERO JOÁO COSTA - Que se afundou em Setembro de 1952 

-Já não tinham que tragar, já não tinham que beber: beberam água das chuvas e do mar, uma tartaruga que pescaram e tiveram que matar o pobre cão para mitigarem a fome  - Registo efetuado, em Julho de 2012, junto à capela de Nª Senhora da Conceição, na Figueira da Foz,   imagem venerada pelos pescadores. 


Tinha 16 anos. Foi um dos 73 sobreviventes do naufrágio do bacalhoeiro João Costa, que sairá de Lisboa, em 15/04/1952 para os Bancos da Terra Nova e Gronelândia – Na viagem de regresso, um circuito elétrico, provocou um incêndio a bordo, levando o barco ao fundo. Foram largados os 23 doris, que acabariam por andar sete dias à deriva, até que foram localizados a cerca de centena e meia de milhas dos Açores, pelo navio americano, o STEEL EXECUTIVE que recolhera 35 pescadores a bordo em 8 dóris; tendo os restantes 27, sido encontrados pelo navio Alemão HENRIETTE SCHULTE que os recolhera dos 6 dóris. 

O trágico naufrágio é recordado no blogue naviosàvista“Logo que a 27, foi conhecida a noticia de que o navio-motor bacalhoeiro JOÃO COSTA,  pertencente à Sociedade de Pesca Luso Brasileira, Lda., da Figueira da Foz, havia naufragado no dia 23, cerca das 09h00 (hora local) e transmitida pelo navio Americano COMPASS, que encontrara 12 homens em três dóris, todos os serviços da Armada e Mutua dos Armadores dos Navios da Pesca do Bacalhau, tomaram imediatamente as providencias necessárias tendentes ao salvamento dos náufragos, tarefa insana que se prolongou durante toda a noite.

O JOÃO COSTA, com 73 homens de tripulação, entre oficiais, marinheiros e pescadores, saíra de Lisboa em 15/04/1952 para os Bancos da Terra Nova e Groenlândia, iniciando a viagem de regresso, no dia 18/09/1952, com um carregamento de cerca de 11.000 quintais de bacalhau. Cinco dias depois o navio deixou de comunicar com Lisboa, o que a principio não causou grandes apreensões. No entanto, elas avolumaram-se, à medida que os dias iam passando, tanto mais que – segundo rádios do navio de apoio GIL EANNES – dois violentos ciclones assolavam o Atlântico, obrigando os 24 navios da frota Portuguesa, que se encontravam nos Bancos a abrigarem-se no porto de St. John’s, onde permaneceram ainda livres de qualquer perigo. –  Excerto de http://naviosavista.blogspot.com/2009/02/recordando-o-naufragio-do-navio-motor.html

                                      RECORDAM-SE DE BERNARDO SANTARENO


- NOS MARES DA TERRA NOVA, GRONELÂNCIA E NOUTRAS PARAGENS 


Diálogo casual com antigos pescadores da pesca do bacalhau na Terra Nova e noutras paragens, junto à ermida da Nª Sra da Conceição, na Figueira da Foz De rostos sulcados pelas maresias dos grandes oceanos, que dedicaram, grande parte da sua dia, à duríssima e arriscada faina marítima - E QUE AGORA VIVEM DE UMA MAGRA REFORMA E DAS SUAS MUITAS RECORDAÇÕES. - A sua terra natal é a Figueira da Foz e o seu país é Portugal.



 


Fomos um país de marinheiros - E hoje o que somos?!..."Não tínhamos mais nada, tínhamos água. Essa ideia da extensão da plataforma continental é sempre a mesma, a de que agora não temos terra, mas temos água" Eduardo Lourenço, hoje no DN"

 





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  Sou português  e não descuro os feitos marítimos dos meus antepassados. Mas também não quero fazer  como a avestruz e meter a cabeça debaixo da areia. Nem fazer dos compêndios coloniais a bíblia sagrada.  

Sem deixar de admirar a coragem dos antigos navegadores,  busco outras interpretações. Eu próprio me desloquei de canoa, em Dezembro de 1970, desde a Baía Ana de Chaves ao recanto de  Anambó Local onde é suposto terem aportado pela primeira vez, João de Santarém e Pero Escobar  


HÁ QUE DISTINGUIR A EPOPEIA MARÍTIMA DA COLONIZAÇÃO , QUE SUBJUGOU E TIRANIZOU OS POVOS.

Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa que eu procurei através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje questiono), outra, as omissões ou  a que convinha ao Reino..

Todavia, quer os portugueses, nas frágeis caravelas, quer os primeiros povoadores, nas suas toscas pirogas, foram lobos do mar e heróis desbravadores à sua maneira.

Também as canoas africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar alto: Fizeram extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da história":  que, velejando  em linha, cada uma à distancia da visão da canoa  que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico







Do alto das velhas muralhas do Fortim de São Jerónimo, onde tantas vezes olhava a espuma que ali ia rebentar nas rochas negras e contemplava o mar ao largo, sim, muitas vezes ali me envolvi em prolongadas cogitações. E só via o mar... Só pensava, obsessivamente, nas distâncias e nas entranhas do mar.!.. Olhava-o com pasmo e respeito, mas queria sentir-me também parte dele! Ser mais um elemento do mítico e misterioso oceano! Ir por ali a fora numa das ágeis pirogas.! Desvendar segredos esquecidos no tempo!...


                   

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