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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

São Tomé 39 anos depois: Filinto Costa Alegre, vê sinais de esperança na “Pátria da Liberdade” – Um dos raros países africanos onde a liberdade de expressão e o pluralismo democrático, fazem parte do sentimento generoso e pacifista do Povo das Ilhas Verdes do Equador





Por Jorge Trabulo Marques - jornalista - Viveu em São Tomé - de Nov.1963 a Outubro 1975



"Há alguma desilusão mas não desesperança"


"O sistema era extremamente injusto e estávamos a ser permanentemente humilhados e então sentimos que era o momento de virmos e darmos o nosso contributo para que nos libertássemos do jugo colonial, que implicava a tal humilhação e até violência" "O que se está a passar em São Tomé é a reprodução do que se passa a nível mundial: «Estamos num regime extremamente injusto para com os mais desfavorecidos, em que um pequeno número de pessoas beneficia de tudo o que o país produz» Apesar desse aspeto negativo diz: «mas nós, cá em São Tomé, ainda  temos razões para ter esperança. Há sinais de que as coisas estão a mudar positivamente


Filinto Costa Alegre é uma figura incontornável no histórico Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe.

 Fez parte de um reduzido grupo de estudantes universitários que abandona os estudos, em Portugal e que voluntariamente responde aos ventos de mudança do 25 de Abril. Só por esse corajoso gesto é digno do seu nome se inserir na  galeria  dos valorosos heróis destas ilhas. Mas o seu amor pátrio, a  sua entrega e generosidade à terra que o viu nascer, tais abnegados propósitos, vão ainda  mais longe.


Não só vêm ao encontro da mudança, como, ele próprio,  se afirma como o líder incontestável da Associação Cívica Pró-MLSTP, a primeira Organização Nacionalista efetivamente implantada em São Tomé e Príncipe, através da qual (das constantes e dinâmicas ações de esclarecimento e de reivindicação, socioeconómica e política),  o  então humilhado Povo, libertando-se das malhas opressoras do colonialismo, consegue alcançar a tão desejada independência,  em 12 de Julho de 1975. -

 Na qualidade de jornalista da revista angolana, Semana Ilustrada, tive oportunidade de acompanhar e divulgar, muitas dessas ações, e dialogar pessoalmente com Filinto Costa Alegre, assim, como com outros membros desta dinâmica associação, e, posteriormente, com  os principais dirigentes do MLSTP e outras figuras que entretanto surgiram na ribalta do processo de descolonização e democratização.

 39 anos depois 


Volto a encontrar-me com Filinto Costa Alegre! - Tendo o honroso prazer de lhe poder dar um abraço amigo, de estar lado a lado e frente a frente, com um dos mais aguerridos e distintos patriotas da luta democrática pela independência de São Tomé e Príncipe, pois nestas ilhas não chegou haver ações de luta armada, dado o caráter pacifista e tolerante  dos santomenses.



O caloroso e afável encontro decorreu, num dos bancos da antiga avenida marginal de São Tomé, onde se situavam as instalações da Pousada Miramar, que anteriormente haviam servido de central do cabo submarino, uma vez mais graças às amáveis diligências do Coronel Victor Monteiro, Diretor do Gabinete da Presidência da República de São Tomé e Príncipe,

Desembarcara no Aeroporto internacional  de São Tomé e Príncipe, no passado dia 20 de Outubro, por volta das 17,30, pouco antes do pôr do sol . Vinha para uma romagem de saudade de 10 dias mas acabei por ficar mais dez – Sim, já me encontro em Lisboa. Cheguei com alma em festa, repleta de calorosas emoções, contudo, sem saber muito bem por onde começar a verter para este meu site,  tão belas como reconfortantes  imagens, tantas carinhosas manifestações de cortesia e de afeto e apreço por parte de pessoas anónimas e figuras públicas, tão calorosos movimentos de diálogo e de convivência. 

De alguns desses momentos, já me referi em anteriores postagens. -  como seja a honrosa audiência que me concedeu Sua Ex. o Senhor Presidente Manuel Pinto da Costa, bem como os agradáveis momentos de convívio proporcionados pelo ex-presidente Fradique Menezes, na sua quinta da Roça Favorita e na aprazível mansão da Praia das Conchas, graças aos bons ofícios de Victor Monteiro, porém, há tanto ainda para contar!... – Hoje, vou começar pelo caloroso reencontro com Filinto Costa Alegre, no penúltimo dia da minha estadia na capital destas maravilhosas Ilhas - Na postagem seguinte conto referir-me à entrevista que me foi concedida por Agostinho Fernandes, ex-Ministro do Governo de Patrice Trovoada

Filinto Costa Alegre, recorda as razões que o levaram a interromper a sua vida académica:  isto porque  sentiu “uma oportunidade de acabar com a humilhação as injustiças que reinavam, em São Tomé e Príncipe, naquela altura. O sistema era extremamente injusto e estávamos a ser permanentemente humilhados e então sentimos que era o momento de virmos e darmos o nosso contributo para que nos libertássemos do jugo colonial, que implicava a tal humilhação e até violência"

Filinto Costa Alegre continua a ser a voz frontal e inconformada, sem papas na língua  - Acusa as elites, que estiveram no poder, de terem traído os ideais  da independência, no entanto, é crítico mas não  derrotista, pois considera existirem  sinais positivos de esperança.

 "Recuperámos as terras mas depois não fomos capazes de revalorizá-las"

 Muito se tem falado e escrito acerca do estado em que se encontram as grandes propriedades coloniais, mais das vezes, sem se ir às raízes históricas das condições humilhantes, de escarvatura, como eram ali tratados os santomenses e os chamados contratados.

Todavia, Filinto Costa Alegre,  não esconde alguma desilusão. reconhece que, "nós, efetivamente, recuperámos as terras mas depois não fomos capazes de revalorizá-las, sobretudo de partilhar aquilo que se colheu das terras. Porque, o que se está a passar, atualmente, em São Tomé e Príncipe, é a reprodução dos sistema ao nível mundial, em que há um pequeno número que se torna cada vez mais rico, em detrimento da esmagadora maioria da população. «Fomos capazes de nos unirmos e derrotar o colonialismo mas não o novo colonialismo, aquilo a que se chama “coloniedade do poder”. »  Considerando que «estamos num regime extremamente injusto para com os mais desfavorecidos, em que um pequeno número de pessoas beneficia de tudo o que o país produz» 

HÁ SINAIS DE ESPERANÇA NA “PÁTRIA DA LIBERDADE”


São Tomé e Príncipe, um dos raros países de África, onde as elites  podem expressar-se livremente, sem receio de represálias.  Embora as  desejadas mudanças ao nível económico e social, estejam muito longe de corresponderem aos justificados anseios do grosso da população, mesmo assim, para  o líder histórico da Associação Cívica, da então frente avançada da MLSTP, durante o período pós 25 de Abril, o sonho de uma sociedade, mais justa, mantém-se vivo



Pois, sublinha, «nós, cá em São Tomé, ainda temos razões para ter esperança. Há sinais de que as coisas estão a mudar positivamente. E o principal fator é a participação. Tem-se vindo a verificar que, os mais desfavorecidos, cada vez  mais assumem o seu papel no processo democrático, sublinhando que, "ninguém dá nada de bandeja seja o que for e muito menos o capitalismo, porque, aqueles que têm não vão abrir mão do que têm, se os  que nada têm não o reivindicarem e não souberem expor as suas reivindicações, se não souberem, sobretudo, sustentá-las, não serão escutados, é o que se passa aqui, conclui para logo acrescentar.  «Eu quero dizer que a razão da minha esperança é que, efetivamente, de eleição para eleição, de ano para ano, que as pessoas mais desfavorecidas, ganhem consciência de que, se souberem juntar e souberem definir os seus interesses, sobretudo, ao nível da liderança, os líderes certos, no futuro  as coisas mudarão”

 São Tomé a Pátria da liberdade no sentido formal, e, sobretudo, no seio da elite. A elite pode expressar-se. Neste aspeto reconhece que “nós temos  a léguas, a milhas à frente de muitos países.

AS ROÇAS DE MÁ MEMÓRIA  - FEUDOS DA ESCRAVATURA À INDEPENDÊNCIA

Não se pense que, nas grandes propriedades de cacau e café,  apenas os negros, eram escravizados, também os brancos empregados de mato - Conheci no corpo e no espírito essa dura experiência- Também eu trabalhei naquela roça grande!- Na Roça antiga  RIO DO OURO hoje conhecida por Roça Agostinho Neto Estive lá até que fui  mobilizado para a tropa, tendo ido tirar o curso de sargentos milicianos, em Angola, seguido do curso dos comandos e regressado ao CTI de STP, onde conclui o serviço militar.





 



FILINTO GUILHERME D`ALVA COSTA ALEGRE nasceu em 09 de Julho de 1952 (um ano antes do “ Massacre de 1953”), na localidade de Água Porca, no Distrito de Água Grande, em São Tomé, República Democrática de São Tomé e Príncipe.

Aos 22 anos, interrompe os seus estudos universitários em Portugal e regressa a São Tomé, para fundar e dirigir, juntamente com outros patriotas, a Associação Cívica Pró-MLSTP, primeira Organização Nacionalista efectivamente implantada em São Tomé e Príncipe. Na sequência da mobilização e da reivindicação socioeconómica e política conduzida pela Associação Cívica, São Tomé e Príncipe viria a tornar-se independente em 12 de Julho de 1975.

Quatro anos depois (1979 ), conclui a Licenciatura em Direito na Faculdade de Direito da [Universidade Eduardo Mondlane][1] em Maputo, República de Moçambique. Regressado ao país, exerce, sucessivamente as funções de Técnico Superior do Ministério da Justiça, Magistrado do Ministério Público, Magistrado Judicial e Assessor Jurídico do Banco Central de São Tomé e Príncipe.

Em 1991 conclui o Mestrado em “ Port and Shipping Administration “, na [World Maritime University][2], em Malmo, na Suécia, tendo a sua tese de mestrado incidido sobre “ A Fraude Marítima”.

Participante activo na luta clandestina contra o regime ditatorial e repressivo de partido único, Filinto Costa Alegre foi um dos inspiradores e fundadores do Grupo de Reflexão, organização que liderou a luta pela instauração do processo democrático em São Tomé e Príncipe. Mais pormenores em Filinto Guilherme d'Alva Costa Alegre – Wikipédia, a 

QUEM É Filinto Costa Alegre: Jurista de formação, jovem são-tomense, de apenas 22 anos em 1974 (equipararia a que idade dos jovens de hoje?), abandonou os estudos em Portugal e regressou a terra natal, até então colónia portuguesa conjuntamente com uma vintena de colegas estudantes para organizarem as manifestações populares e darem a voz de contestação contra o poder colonial e da exigência de libertação das ilhas do império português.

Ao contrário dos outros PALOP aonde decorreu a luta armada ou o caso de Cabo Verde que fazia parte do PAIGC do grande pensador Amílcar Cabral, não havia qualquer sensibilidade por parte do poder de transição de Portugal em reconhecer a auto determinação do povo das ilhas a independência  Quem é Filinto Costa Alegre? | Téla Nón


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