expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

sábado, 28 de setembro de 2024

Ponte aérea São Tomé – Biafra – 54 anos depois - Mas a fome continua a matar em vários países africanos - FOTOS HISTÓRICAS DOS VOOS DA SOLIDARIEDADE DA FOME E DAS ARMAS PARA A MORTE

Jorge Trabulo Marques – Jornalista e antigo correspondente, em S. Tomé e Príncipe,  da revista Semana Ilustrada, de Luanda – Testemunho


 FOTO HISTÓRICA  -  Trata-se de um dos aviões que tomou parte na ponte aérea humanitária de São Tomé-Biafra,  que pessoalmente fotografei no momento em que ia abandonar a pista do aeroporto - Em cujo bojo (avantajado) não faltariam também algumas armas - Aliás, deveria ser mais o material de guerra, que transportavam,  de que propriamente alimentos 


Além destas imagens e outras de aeronaves que aqui recordo, dispunha de uma razoável colecção de fotografias  - dos aviões, crianças biafrenses, que foram acolhidas na Quinta de Santo António, bem como  toda a actividade das organizações humanitárias,  tal como milhares de negativos, desde  1963, a 1975, mas, infelizmente, não os tenho comigo: em meados de Outubro de 1975, quando deixei S. Tomé para a tentativa de uma travessia de piroga ao Brasil, deixei o meu espólio em casa da minha companheira santomense - e estavam, de facto, em boas mãos  - porém, mais tarde, pedindo ao Sr. Jorge Coimbra, que fosse portador do mesmo para Portugal, até hoje não se dignou entregar-mo - Tal como refiro em https://canoasdomar.blogspot.com/2008/02/sao-tome-atitude-do-empresario-jorge.html

"A Guerra Civil da Nigéria, também conhecida como Guerra Civil Nigeriana, Guerra Nigéria-Biafra ou ainda Guerra do Biafra que durou de 6 de julho de 1967 a 13 de janeiro de 1970, foi um conflito político causado pela tentativa de separação das províncias ao Sudeste da Nigéria, como a República autoproclamada do Biafra.  T

eve início após uma desavença entre os povos Hauçás e Ibos. Hauçás eram muçulmanos originários do norte do país e viviam em um sistema semifeudal. Os Ibos eram considerados a elite nigeriana, possuíam melhores cargos no governo central e melhores salários, e provinham das tribos ao leste. Em 1966, soldados da etnia Ibo tomaram o poder no país em um golpe de estado. No entanto, os Hauçás tomaram o poder seis meses depois em um contragolpe e iniciaram um massacre aos Ibos em todo país. Estima-se que cerca de 30 000 Ibos tenham sofrido nesse primeiro ataque. - Excerto de https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_da_Nigéria


FOTOS HISTÓRICAS DOS VOOS DA SOLIDARIEDADE DA FOME  E DAS ARMAS PARA A MORTE   TÊM QUASE 50 ANOS -   Obtidas pelo autor deste post Inicialmente esteve previsto o envio de  uma frota de cinco C-97, mas três foram cancelados devido à falta de manutenção. Cada um transportava 16 toneladas - ficaram operar apenas dois - Este foi um deles. Atualmente encontram-se guardados num museu americano

A frota da ponte aérea humanitária de S. Tomé ao Biafra, que inicialmente fora designada  pela sigla JCA -  Ajuda da Igreja Conjunta - , passou depois a ser conhecida por aviadores e organizações envolvidas, por  os  Voos de JESUS CHRIST AIRLINES ou Jesus Cristo Airways"., tendo dado origem a um filme, com o mesmo nome - Por sua vez, a própria a guerra, também foi rotulada de diferentes maneiras - Eu hoje - atendendo ao que analisei e observei  - chamar-lhe-ia a  Guerra dos Novos Cruzados da Fé Colonial e do Petróleo. - A imagem a lado -In Biafra

ESCREVEU-SE  MUITA COISA MAS TALVEZ FOSSE MAIS O QUE SE OMITIU E NUNCA FOI DITO  - QUEM LÁ ANDOU É QUE O AFIRMA

  "O livro que nunca chegou a ser escrito "

"Para o número x de anos atrás, eu tinha acabado de apresentar o meu ensaio na história , liguei para o elevador(memória) Biafra. Foi sobre a ponte aérea para o Biafra separatista 1967-1970 e a pergunta era, se os pilotos, que em muitos olhos foram classificados como mercenários, deliberadamente prolongaram a guerra entre a Nigéria e Biafra. Não posso dizer que há um trabalho científico radiante direto ao olhar para o jornal de hoje - dificilmente era melhor, então - mas foi aprovado" Texto traduzido. Biafra


"A Guerra Civil da Nigéria, também conhecida como Guerra Civil Nigeriana, Guerra Nigéria-Biafra ou ainda Guerra do Biafra que durou de 6 de Julho de 1967 a 13 de Janeiro de 1970, foi um conflito político causado pela tentativa de separação das províncias ao Sudeste da Nigéria, como a República autoproclamada do Biafra. O governo federal nigeriano opôs-se e começou a Guerra do Biafra (1967-70)" In InGuerra Civil da Nigéria

Do lado do Governo Federal da Nigéria – mantiveram-se fiéis os ingleses, que, no início dos anos 60 haviam reconhecido a independência à sua antiga colónia, a que  veio juntar-se  o apoio dos  Americanos (que fizeram o jogo duplo) e, por último,  os caças Mig da União Soviética -   intervenção esta crucial: os russos, sempre de olho no melhor furo, não quiseram ficar de fora, mesmo ao lado dos maiores inimigos.

Por sua vez o governo rebelde do "Biafra foi reconhecido pelo Gabão, Haiti, Costa do Marfim, Tanzânia e Zâmbia. Outras nações não deram reconhecimento oficial, mas providenciaram assistência ao Biafra: Israel, França, Portugal, a Rodésia, a África do Sul e o Vaticano providenciaram esse apoio. O Biafra também recebeu ajuda de organizações não governamentais como a Joint Church Aid, a Holy Ghost Fathers of Ireland, a Caritas Internacional, a MarkPress e a U.S. Catholic Relief Service In Biafra – Wikipédia
.
MAS ENQUANTO O APOIO  AO LEGÍTIMO GOVERNO NIGERIANO, ERA PUBLICAMENTE DECLARADO -  O CONCEDIDO AO ESTADO DA AUTO-PROCLAMADA INDEPENDÊNCIA  DO BIAFRA ERA MAIS DISFARÇADO E INDIRECTO - ATRAVÉS DE VÁRIAS ORGANIZAÇÕES HUMANITÁRIAS, PELAS QUAIS SE FAZIAM PASSAR ARMAS E MERCENÁRIOS - O QUE ORIGINOU VÁRIOS ACTOS DE SABOTAGEM E OS EPISÓDIOS MAIS INCRÍVEIS À VOLTA DOS VOOS QUE PARA LÁ SE DIRIGIAM...VOO 1501 O AVIÃO DO BIAFRA ..

“Durante o conflito Biafra, Air Fret havia-se diligentemente empenhado em voar de armas para o estado de separação com o seu DC-4or e Connie. Agora que a guerra tinha acabado, essas aeronaves estavam desgastadas e era natural que procurar substitutos". BaskervillBiafra

"T-6s para Biafra - Doze aviões  North American T-6  (ex-franceses) comprados e entregues em viagem de barco para Lisboa, a partir de Março de 1968":  - Traduzido ..MFI och Biafra  - Mas - segundo soubemos por Carlos Oliveira - "não foram para o Biafra por barco mas só tendo chegado 2 dos 4 que partiram de Tires"

"Há forças soltas em Biafra"  - Título do London Sunday Times Magazine 
.

A guerra civil Nigéria-Biafra era simplesmente uma guerra movida por um conflito de interesses, entre as diversas potências ocidentais, sobre os recursos naturais deste jovem país  - Houve quem apostasse na democracia  do jovem pais nigeriano e houve  os que apostaram no lado errado. Até a nível das igrejas - Mas houve quem o fizesse da forma mais inteligente:– a Igreja Presbiteriana – nem se passou nem para um lado nem para o outro:  apoiou ambos os lados: procurando “ promover uma solução pacífica através da manutenção de contactos e conversações com ambas as parte do conflito"Hugh McCullum

Conflito este que viria   a culminar com o bloqueio e o  isolamento do estado rebelde, custando a ambas as parte mais de um milhão e meio de vidas - A ilha de S. Tomé,  vindo a revelar-se a mais importante plataforma de auxilio humanitário, no fundo só contribuiria para adiar o fim do conflito e prolongar ainda mais o sofrimento da população biafrense. Pois, nos aviões, não partiam apenas alimentos e medicamentos, mas  mercenários e a circulação de material de guerra. Daí o seu aspecto controverso e hipócrita.  Até porque, os países que  fomentaram o separatismo,  eram, afinal,  donde provinha  agora o apoio às principais instituições humanitárias

CLARO QUE NÃO PODEMOS GENERALIZAR -  MAS NÃO HÁ FOGO SEM FUMO. - SALVEM-SE AO MENOS OS BONS EXEMPLOS

(...)"As igrejas foram acusadas ​​de fabricação destas imagens horrendas para arrecadar dinheiro para manter Ojukwu no poder. "

 The churches were accused of manufacturing these horrific images to raise money to keep Ojukwu in power. The brutal fact, Johnson told me, was that these children and millions more were innocent victims of an international power game of political influence in Africa and one of a struggle for control of oil reserves in the big world.
 
"A coragem dos pilotos, os trabalhadores humanitários Biafra que poderia descarregar um Super Constellation de 15 toneladas de ajuda em 20 minutos na escuridão, e os missionários e a equipe médica que estavam dentro Biafra, foi incrível. - No final a política internacional e o comércio venceu. Biafra entrou em colapso". Hugh McCullu - In Voice of Biafra International


.
VEJA A INDIFERENÇA DA IMAGEM DA ESQUERDA E A    SUBSERVIÊNCIA DA IMAGEM À DIREITA: ANALISE AS DUAS IMAGENS ATENTAMENTE 

Na imagem  ao lado, um companheiro ferido estende a mão e ninguém lhe liga e vão deixá-lo morrer - talvez no mais horrível abandono e sofrimento: ao lado, um mercenário (o belga Marc) é transportado aos ombros sobre um rio caudaloso . E quase se deixam afogar para o salvar. Por aí, já vê a mentalidade colonial que norteou aquela guerra 

AVIÕES VELHOS E OBSOLETOS, A CAÍREM AOS BOCADOS - MAS PAGOS A PESO DE OURO: TÃO VELHOS ESTAVAM, QUE ALGUNS ACABARAM POR FICAR ABANDONADOS E  APODRECER POR ENTRE O CAPINZAL NAS IMEDIAÇÕES DA PISTA DO AEROPORTO DE S.TOMÉ - 

 (..)The planes we flew were no longer first line equipment in world commerce. Jets had taken their place. The Douglas DC7 had been the ultimate in the evolution of reciprocal engine propeller driven passenger planes. It was much faster and more powerful than the DC6. The Lockheed Super Constellation was a comparable plane. The Boeing 707 and the DC8 replaced these in airline service

Admirável era a coragem dos pilotos que os tripulavam – Protagonizaram voos admiráveis!  Episódios, que eles próprios relatam -  verdadeiramente épicos! - Alguns tinham sido pilotos na segunda guerra mundial, foram legionários no Congo,  na guerra de Argel e noutros conflito sangrentos

Arriscavam as vidas, por vezes, sob autêntica chuva de bombas e do fogo cruzado de metralhadoras anti-aéreas nigerianas - Muitos dos quais, creio, não tanto pelas vidas que poderiam salvar, mas porque, mercenariamente, valia a pena entrar no jogo da roleta russa

Além das armas que transportavam, a preocupação dominante era descarregar e vir embora e depois mostrar ao mundo as fotografias das crianças subnutridas – Ajuda ineficaz! Propaganda hipócrita, mais nada! – A caridade foi sempre mais uma panaceia de que uma solução.  Ficava por lá quase tudo a apodrecer  - e até nos armazéns, em São Tomé,  uma vez que  os aviões não davam escoamento a tudo, depois os ratos encarregavam-se de  os destruir e a própria humidade de os deteriorar – Além de que muito pouco ultrapassava o bloqueio no terreno.

TODAVIA, SEJA QUAL FOR O ÂNGULO EM QUE FOR ANALISADA A DITA PONTE AÉREA HUMANITÁRIA, ELA FAZ PARTE DE UM DETERMINADO PERÍODO  DA HISTÓRIA DAS DUAS ILHAS -   CURTO, É CERTO,  MAS MUITO MEDIÁTICO   - SÓ POR ISSO VALE A PENA SER RECORDADA

independentemente da interpretação  sentimental ou política, que possa fazer-se, são história E AS DUAS CARCAÇAS DOS   - Lockheed Constellation - that was carrying weapons to Biafra - SÃO A ÚNICA MEMÓRIA FÍSICA QUE RESTA NO AEROPORTO DE SÃO TOMÉ
Curiosamente,  hoje em dia,  quem mais se bate pela preservação da escassa memória que resta da ponte humanitária de S. Tomé- Biafra,  não é o santomense (e compreende-se a razão,mas os estrangeiros – 

E também não  aqueles  que estão de passagem, os que visitam as ilhas e se vão embora, mas os que, depois da independência, ali se fixaram ou por ali têm passado passaram longos períodos,  criaram fundas raízes, na qualidade de  amigos e de cooperantes,  e rapidamente se afeiçoaram às belezas naturais das ilhas e à  cordialidade e simpatia das suas gentes. E que se sentem, tão apaixonados como os que lá nasceram. 

Daí que, paralelamente, ao   empenho manifestado pelo progresso e desenvolvimento do jovem país, também passassem a interessar-se, não somente  pelo estudo da recuperação ancestral da sua história,  como  da situação mais recente – do seu dia a dia. - É o caso da já emblemática  Associação Caué - Amigos de São Tome e Príncipe

C-97, estacionado no hangar do Aeródromo de S. Tomé - Foto recolhida de  WID Planes of the Biafran Airlift - Wik.

DO CONFLITO BIAFRENSE. O QUE RESSALTA IMEDIATAMENTE À MEMÓRIA  É A FOME E A MORTE - A MORTE DE MUITAS VIDAS E DE OUTRAS QUE, SOBRETUDO CRIANÇAS, QUE,  EMBORA PERMANECENDO DE PÉ,  JÁ NÃO ERAM VIDAS, MAS ESQUELETOS AMBULANTES.


Imagem de Don McCullin In 100 Photographs that Changed the World by Life
.

A ESMAGADORA MAIORIA PERDEU-SE NOS ESCOMBROS DA FRATRICIDA GUERRA

FAZ PARTE DA IMENSA LEGIÃO DE  VITIMAS INOCENTES E ANÓNIMAS  - ALGUMAS, PORÉM - UMAS ESCASSAS CENTENAS - TIVERAM A SORTE DE SEREM ASSISTIDAS - NALGUNS HOSPITAIS BIFARENSES E NIGERIANOS E NA QUINTA DE SANTO ANTÓNIO, EM SÃO TOMÉ
.

.

ESTE VÍDEO NÃO FOI REGISTADO NO BIAFRA! - INFELIZMENTE,  HOJE SÃO BANAIS IMAGENS EM VÁRIAS REGIÕES DE ÁFRICA

Naquela altura, a sua divulgação  pelos media internacionais, chocou o  mundo, mas, hoje em dia, são frequentes em vários países de África: nuns casos, causadas por idênticas guerras civis, noutros, por culpa dos próprios governantes, corruptos, que apenas olham  para os interesses pessoais e do seu séquito  - Angola, ambos os Congos, Moçambique, Libéria, Costa do Marfim, Leoa,, Somália, Chade, Sudão,  Uganda, Etiópia,  Burundi,, Ruanda, Eritréia, etc.

OS FACTOS HISTÓRICOS, VALEM  NÃO APENAS PELAS  BOAS MEMÓRIAS, COMO  TAMBÉM  PELAS MÁS  .

PhotobucketPoder-se-á argumentar (e com justificada razão) que, a memória herdada da ponte aérea humanitária São Tomé-Biafra, sob o ponto de vista sentimental,  talvez seja  mais negativa de que positiva, todavia, o mesmo não poderá dizer-se como  testemunhos de um determinado momento histórico, que levou o nome de S. Tomé para os principais jornais e televisões  mundiais.


On the island of Sao Tome, chartered planes were loaded with beans, sugar, and rice for Biafra, mainly on aging Lockheed Super Connies. So many lives were saved thanks to the work of a small group of charities and dedicated volunteers. In Remember Biafra 

Todos os aviões que participaram na ponte aérea humanitária  São Tomé- Biáfra, são mencionados no historial de cada um dos vários tipos  e modelos de  aeronaves –Isso está patente na Internet – Uma consulta mais aprofundada, pelo leitor,  dar-lhe-á conta desses registos.

SÃO TOMÉ - CENTRO DE MERCENÁRIOS E DE ESPIONAGEM INTERNACIONAL

Passavam por ali mercenários, vindos de toda a parte. Afluíam a São Tomé espiões para as mais diversas tarefas e missões. Disfarçados de turistas ou de repórteres que passavam relatórios dos horários do voos e os denunciavam aos ingleses (a BBC transmitiu várias noticias desse género) e também ao governo federal nigeriano ou então queriam recolher informações do terreno através de pilotos e mercenários, que frequentemente ali regressavam para se estenderam ao sol nas praias, a própria contra-espionagem francesa e alemã, americana e russa, que procurava baralhar e contraditar essas informações, negociantes de armas, jornalistas que chegavam de toda a parte(fotógrafos e operadores de imagem de cinema e televisão)contrabandistas    de dólares, proxenetas – e talvez até sabotadores: então como se  explica que dois "aviões de treino/ataque ligeiro, Fouga Magisters" não chegassem a a ser enviados para o Biafra, por falta das asas?!... Vi-os, mais tarde, depois do conflito, no Hangar do aeroporto. Vi gente dessa - e conheci pessoalmente duas personagens da multifacetada fauna que então proliferava na pequena cidade.  

Vi, por várias vezes, um tal alemão Rolf Steiner, mercenaire  (sempre de camuflado e de boné na cabeça) com fama de ter atrás de si um currículo diabólico: militou na juventude hitleriana, ex-sargento da Legião Estrangeira na Argélia, com missões na Correia , Sudão  - onde houvesse necessidade de recrutamento de mercenários, lá estava  ele  à cabeça. E foi o que aconteceu também no Biafra. Tendo feito da  Ilha de São Tomé, o lugar de eleição para vários fins de semana e ou  períodos mais prolongados  para descanso e lazer -  retemperar forças.

Toda a espécie de acólitos das igrejas,  com a sua já tradicional  ostentação de salvadores das almas através de uma caridade ineficaz e hipócrita,  sem dúvida, um maná para o mais descarado mercenarismo e oportunismo - São Tomé era o centro do mundo, geograficamente, mas também o centro do disfarce e da maior hipocrisia da Terra.

Para muitos colonos foi como que a descoberta de um Novo Brasil. Nunca lhes entrou tanto dinheiro nos bolsos e duma assentada. Não havia o menor pudor nem a a menor vergonha. Qualquer serviço prestado aos estrangeiros, era uma exorbitância. Aliás, eles também eram principescamente pagos! - Não faziam mais de que lhe sacar  algum dos chorudos cashets que facturavam.  O pretexto era a fome dos biafrenses, mas a mola real girava toda  à volta do mesmo: - dos cifrões!   E o governo colonial não ficava atrás! -  as taxas aduaneiras eram pagas pela hora da morte! - Encheu os cofres!


TODOS ATRÁS DOS DÓLARES... E AS CRIANÇAS AS MAIORES VÍTIMAS DA GANÂNCIA  DOS ADULTOS - DO ESPÍRITO DOS NOVOS CRUZADOS E  DA HIPOCRISIA NEOCOLONIALISTA

Aos estrangeiros, não faltavam pipas de dólares.  Aos colonos, tudo tinha de ser pago na moeda americana e   na hora. Mais de que um escândalo, uma  obsessão. Os mercenários pegavam nas armas (partiam e vinham nos aviões) mas só para sacar - E, ali,  quis-me parecer que havia mais legionários de que freiras e padres. 

"terá sido uma das guerras mais vistas, com as suas emblemáticas fotografias de crianças de ventre inchado pela fome. Mas isso não era a guerra propriamente dita, antes uma consequência do bloqueio que os federais haviam instalado à volta do Biafra. E a sua divulgação mundial, a suscitar simpatia e comiseração pela causa biafrense, era uma excelente manobra mediática até então inédita"Herdeiro de Aécio

Era a corrida aos dólares!... Quem não lucrou, minimamente, com a tragédia biafrense – não tenho a menor dúvida - foram os  santomenses. - E sou eu apenas a dizê-lo - São-tomenses pouco beneficiaram com a ponte aérea com o Biafra


 Fomentou-se a prostituição e houve muito quem abusasse de jovens adolescentes(a troco de quase nada) e, mesmo as organizações humanitárias, nem sequer se dignaram distribuir uma simples lata de leite em pó, tigela de feijão ou de arroz: a um velho, a um mendigo ou a uma criança - E a mortalidade infantil era elevadíssima! - 

PREFERIAM DEIXAR ESTRAGAR OS ALIMENTOS A DISTRIBUIR UMAS MÍSERAS MIGALHAS AOS SANTOMENSES -  NO FIM DE CONTAS, NÃO SE RESOLVEU O PROBLEMA DA FOME NO BIAFRA NEM SE PRESTOU QUALQUER AJUDA PRÁTICA ÀS CRIANÇAS E À POPULAÇÃO DAS ILHAS

Havia crianças muito carentes, que bem precisavam de alguns desses alimentos! - Vi mães a chorar ao lado dos pequeninos caixões (ou simplesmente com o cadáver embrulhado num modesto cobertor) a derramarem-se em lágrimas de dor e sofrimento, porque, o estado de fraqueza e a falta de medicamentos do menino ou da sua menina, lhe havia tornando a vida mais frágil à disenteria, à tuberculose e à malária - Quem se importava?!... Alguns daqueles pastores ou padres, se interessou pelas crianças santomenses?!... Não proporcionavam imagens nas primeiras páginas da imprensa internacional - E também sabiam que não podiam arriscar romper a  cumplicidade mantida com o governo colonial.

 Aos adultos restava-lhe  o cheiro intenso desses produtos à mistura com os do cacau e do café, quando passavam à frente dos armazéns – E também os próprios miúdos, que não deixaram de parar, espreitar e “farejar”  o que havia ensacado ou  nas inúmeras caixas de cartão ou em paletes de madeira, no interior desses mesmos armazéns, ironicamente espalhados em vários pontos da cidade, pagando alugueres milionários aos roceiros  - onde costumavam armazenar o cacau e o café para embarque, e que agora, só a cedência de uma parte do espaço, lhes iria trazer lucros bem mais avultados de que as colheitas desses produtos tropicais.

Grandes felizardos! Porém, os  sacrificados carregadores negros, cujos modestos salários nem por isso haviam beneficiado um centavo, carregando às costas  pesados sacos e   acarretando pesadíssimas contendores,  para eles a vida continuava como dantes:  tudo lhes passava ou às costas ou pelas mãos, mas ao lado: muitos deles, esfomeados e com a barriga a dar horas, verem tanta comida, tantos alimentos e alguns já prontos a serem consumidos (o queijo enlatado, por exemplo)  e não lhe poderem tocar!!... Calculo!... Pior que o suplício do Tântalo

Aliás, o Governo colonial, que foi quem mais lucrou com as taxas aduaneiras, alguma vez ia admitir a existência de fome nas Ilhas?!... E a pretensa ajuda humanitária beneficiou talvez até muito pouco os próprios biafrenses – pois, se tal acontecesse, as crianças que  foram acolhidas em S. Tomé, não teriam chegado no ponto de desnutrição que atestavam as imagens



PARA OS SANTOMENSES, A GUERRA DO BIAFRA ERA  APENAS SINÓNIMO.  DOS QUE SE ENCHERAM DE DINHEIRO  E A IMAGEM DE CRIANÇAS MAGRAS, SUBNUTRIDAS, ESQUELÉTICAS 

– "Oh! Parece criança Biafra!" - Esta a expressão que se popularizou, quando alguém via uma criança mais débil ou fraca.

Quase já na fase final do conflito, começaram a chegar à Quinta de Santo António as primeiras crianças, que ali iam ser assistidas e acarinhadas. Quem as podia visitar eram apenas as organizações humanitárias. A maioria dos santomenses não as viu. Mas  ficaram a saber,  através das noticias ou quando eram desembarcadas no aeroporto. O sentimento que então se propalou e generalizou, foi o de que havia guerra e fome num país de África  e que, muitos brancos, se enchiam de dólares  à custa dessa mesma guerra.

Também por lá se viam a circular notas do Biafra, mas ninguém as aceitava ou trocava por dinheiro algum. Se os biafrenses  (que eram quem mais as trazia), não tivessem dólares na carteira, estavam desgraçados!... Ninguém lhes dava dormida. 


-
Mãe santomense - Foto do autor deste blogue

COM AS GUERRAS, HÁ SEMPRE QUEM ENRIQUEÇA

Os avultados lucros passaram  completamente à margem das gente da terra 

Só de algum modo os  taxistas. Mas de forma muito vaga. Como os preços eram tabelados, certo que houve mais corridas e deslocações ao aeroporto  e a outros pontos da ilha, porém,  como  aos negros estava vedado  poderem  especular e praticarem tarifas livres, os ganhos ficavam sempre muito aquém do esforço do seu trabalho – Tiveram mais clientes, é certo  – e talvez algumas magras gorjetas – mas nem por isso  deixaram de ser pobres. E de enfrentar as dificuldades do costume. 

Houve também quem vendesse o corpo  - . Mas quem comia a fatia maior eram os angariadores, os proxeneta  – Que não se coibiam de ir  ao mato buscar as suas presas -  mais delas ainda menores. Aliás, o abuso de jovens adolescentes - a vilania dos cabaços - era uma prática há muito seguida por alguns  feitores gerais e administradores das roças 

Como as dormidas nas pensões eram insuficientes, muitos foram os que se aproveitaram, quer na cidade, quer  nas roças, para  hospedar um ou mais estrangeiros – e até alguns dos pobres biafrenses, em trânsito ou para ficarem por ali algum tempo. Coitados, sabe deus as dificuldades!... Mais deles não se importavam de vender alguns dos poucos bens que lograram trazer consigo, sacrificando-os para pagar as despesas das refeições e hospedagem.  

Entre as organizações humanitárias, dir-se-ia prevalecer a  hipocrisia sob o manto diáfono  da religiosa caridade. .- Então donde vinha tanta massa para pagarem os transportes dos aviões, aos pilotos (mercenários) despesas de milhões?!... Não era das petrolíferas que pretendiam instalar-se naquele estado nigeriano?!.. 

A  temível  PIDE-DGS,  não largava os estrangeiros de vista:  seguiam-lhes os passos, receosos de que pudessem  introduzir conceitos "subversivos" e incentivassem a descolonização. E acho que alguns ainda lá foram chamados e convidados a abandonar a ilha.

As organizações humanitárias (que se haviam retirado do aeroporto internacional de Bioko, na altura sob o comando de Francisco Macias, e optado por S. Tomé e Gabão,  assumiam o papel de frota avançada dos novos neo-colonizadores ocidentais, aos quais interessava a independência do Biafra, unicamente para se apoderarem das suas riquezas naturais -  Não tenho a menor dúvida que era mais  as armas,  transportadas, na dita ponta aérea, que propriamente cargas de mantimentos - Ainda me apercebi de alguns obuses numas caixas - De resto,na Internet, abundam testemunhos desse procedimento.

OS VOOS DA SOLIDARIEDADE NÃO DEIXARAM  BOAS RECORDAÇÕES  – MAS SÃO HISTÓRIA

Os "forros" e outros negros que habitavam a preferia da cidade (mas principalmente os pescadores da Praia Gamboa e  os habitantes de outras aldeias nas praias ou lugares do mato, das proximidades), sim, a tranquilidade dessas pessoas, foi bastante perturbada  e afectada - ninguém se importava com isso.  O roncar dos motores, misturado com o silvo do vento das hélices, o intenso ruído causado por aquelas potentes máquinas voadoras, carregando toneladas de alimentos e medicamentos, ouvia-se perfeitamente em toda a cidade e até nas roças: não passava despercebido   – Ainda hoje,  quando penso nesses dias de desusada agitação, da cidade e ao aeroporto, até  parece que ainda me soam aos  ouvidos os sons e o troar característico  da descolagem e aterragem  dos aviões,  lá para os lados da Ponta Vasconcelos, Praia Lagarto, Praia Cruz  e Praia Gamboa. 

Não tenho a menor dúvida do pesadelo que assolou a vida pacata dos pescadores que habitavam as modestas casas de madeira, cobertas de ramos de andalas, nas aldeias pegadas à pista, ali junto ao mar,  habituados apenas ao marulho das ondas, à maresia, e, de um dia para o outro, verem-se confrontados, todas as noites, com o barulho ensurdecedor dos motores: primeiro a aquecerem, depois  já com os quatro a funcionar, e, por fim, a descolarem  ou  a fazerem-se à pequena pista – Hoje mesmo, quem viva junto ao aeroporto da Portela, em Lisboa,  e numa altura em que  o ruído dos aviões, está mais controlado, é algo perturbador, quanto mais naquele tempo! 

Na verdade, conforme já referi, o  povo de São Tomé não lucrou minimamente com a onda de especuladores e oportunistas – Mas tomou consciência de que, na direcção para onde os aviões se dirigiam  ao fim da tarde e pela noite a fora,  lá para os confins a Norte da vastidão oceânica do Golfo,   havia uma guerra sangrenta,  entre irmãos africanos,  marcada pela fome e pela morte – E houve até – da parte do regime colonial, quem se aproveitasse para argumentar que “os pretos não sabem governar e só sabem matar-se  uns aos outros” – Quando, afinal, aquela guerra era fomentada do exterior, como, de resto,  a maioria das guerras africanas – pois,  o expansionismo colonialista-capitalista, não conhece rostos nem fronteiras e  o negócio das armas é extremamente lucrativo.

Terá sido das primeiras guerras civis no continente africano – pelo menos, até aquela data, a mais fratricida e devastadora – entre Maio de 1967 e Janeiro de 1970. As imagens que então correram e chocaram o mundo, de crianças esqueléticas e desnutridas, com enormes barrigas, mas onde apenas existia a fome e carências tremendas,  infelizmente, essa tão perturbadora tragédia, hoje dificilmente teria o mesmo impacto: tais imagens, tornaram-se banais

O NEGÓCIO DAS ARMAS E A EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO – PRINCIPAIS CAUSADORES DOS MAIORES CONFLITOS BÉLICOS

De facto, não há guerras limpas: todas as guerras têm o seu lado cruel e em permeio com os gestos da maior coragem e abnegação humana. A Guerra  do Biafra, também conhecida por Guerra Civil Nigeriana(1967-70) é talvez, até hoje, dos conflitos africanos, um dos exemplos mais paradigmáticos,  aquele  onde se cruzaram os mais diferentes   e contraditórios interesses e objectivos, incluindo as próprias organizações humanitárias – tendo, porém, como dominador comum as riquezas petrolíferas (jogos económicos e coloniais entre as várias potências, explorando crenças religiosas,  muçulmanos, a norte - e cristãos, a sul) diferenças étnicas (Yoruba, na de Sudeste os Ibo e na do Norte os Hausa. )
 ............
Do lado do Governo Federal da Nigéria, predominavam os apoios dos britânicos e dos americanos e das  suas companhias petrolíferas, a que veio juntar-se a União Soviética, com o envio dos então sofisticados  Mig-17 e o Il-28 RUSSOS E AS GUERRAS CIVIS AMERICANA E NIGERIANA
 ............................

 Do lado rebelde, do estado separatista, a auto-proclamada República do Biafra,    estavam, descaradamente, aqueles países que questionavam o status quo africano da época da pós descolonização, como eram os casos da África do Sul e de Portugal (apoio logístico a partir de São Tomé) e, de forma encapotada, os interesses das petrolíferas francesas e, de forma mais genérica, um bloco que se pode identificar como o eixo franco-alemão que prosseguia em África uma estratégia frequentemente distinta da das duas potências anglo-saxónicas. Essa distinção é visível no apoio material que aqueles dois países davam ao equipamento do exército português em África: a G-3, os helicópteros Allouette III, os Fiat G-91, as Berliets e os Unimogs – IGUERRAS ESQUECIDAS (3): A GUERRA DO BIAFRA .


As igrejas cristãs e católicas (e respectivas instituições) estavam em S. Tomé, porque,  os Ibos do Biafra, eram maioritariamente cristãos e católicos; além de, que, entretanto, a descoberta de importantes jazidas  no delta do rio Níger, atiçava ainda mais a cobiça estrangeira – que não dispunha da mesma implantação dos ingleses e americanos.


A igreja, que ao longo dos séculos apoiou o comércio dos escravos, uma vez mais estava no terreno a apoiar a sua religião: as populações com as quais mais se identificava  e poderia cimentar a sua influência – Hipocritamente, sob o pretexto de ajuda humanitária. **

Nenhum comentário :