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terça-feira, 25 de agosto de 2020

Largar tudo - os horários, a família, os amigos, a tranquilidade de um lar - e partir mar fora numa frágil piroga

Jorge Trabulo Marques



(…) Ir sozinho para o mar, é partir 
em demanda dos mais ténues rumores e labirintos sagrados!
É viajar na senda dos séculos passados, - era volvida - 
ou dos que ainda  hão-vir por  vontade divina!

Apelar ao instinto animal (que raramente se engana, tal como o da ave)
É vidência!  Deslumbramento! Itinerário transfigurado.
É trocar o certo pelo incerto
- Sem todavia saber que próximo futuro o aguarda,
a que portos  poderá  arribar,
que enseadas de ilhas frondosas o esperam, 
que  recortes de orlas vai contemplar,
que escolhos vai ter pelo caminho,
que perigos e ameaças vai encontrar!


Sulcar a superfície do mar é ir em demanda 
da sumptuosa  beleza ou do  terrível sufoco e destruição!
É navegar por extensões de horizontes que tanto o inquietam 
e atormentam, como  poderão tranquilizá-lo e sossegar-lhe o coração!
Que tão depressa  lhe aterrorizam ou embriagam os sentidos 
como, com igual surpresa, o afrontam com imprevisível provocação.














Treinos  para trav. STP 

 
Largar tudo - os horários, a família, os amigos, 
a tranquilidade de um lar - e partir 
mar fora numa frágil piroga
ou até em barcos maiores e bem equipados, 
singrando o ondulante manto líquido, 
trocando o certo pelo incerto, o desconhecido,
não receando os revés da ousadia e  a má sorte,
não temendo as partidas da omnipresente imagem da morte,
alheio a tudo: às inesperadas variações dos ventos,
à dança e contradança de correntes poderosas
súbitos vendavais, "súbitas trovoadas temerosas!"

construçao da canoa 

Oh!, como  é fantasmagórica  a imagem, 
ímpia e devastadora a visão do mar e do céu!

Quando, após enormes adversidades,
num permanente desafio à sorte,
após se deixarem para trás da imensa vastidão
negríssimas cerrações da cor da fuligem e do breu,
vigílias infindáveis, pavorosas incertezas,
em noites de angústia e assombração,
vogando à flor de turbulentas, enegrecidas águas,
fitando continuamente a mesma infinda abstração,


(...) Navegar sobre as ondas encapeladas,
ir de velas enfunadas, é sentir a alma rubra!
Alheia aos perigos que rondam por toda a parte,
subindo ou imergindo
dos insondáveis abismos!
Navegar à flor das águas agitadas é ter por companhia
a menos de um palmo ou da grossura de uma tábua,
a cova funda e horrível da mais funesta e imensa sepultura
.
Deixar, enfim, que o mar e o vento cumpram a sua palavra!
Não pensar em horários
nem perder tempo em coisas banais

Ser sonho ousado que se cumpra e nada mais!

Excertos  - Jorge Trabulo Marques 


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