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sábado, 29 de agosto de 2020

Ó Deus!...Onde Irei à Deriva Numa Noite assim?...Escura é a noite, e também escuros são os caminhos à minha volta!

Num tempo confinado - talvez valha a pena meditar no que pode vencer a fé a força da vontade


Sozinho e sentado num mísero tronco escavado às desoras!...
Fixando de olhar triste o imenso teto escondido e sombrio!
Discorrendo absorto no fulgor de algum vago ou ténue brilho…
Em busca de um qualquer cintilar longínquo, das eternas estrelas
Donde não vislumbro sinal de luz – Oh grande desilusão a minha!
Estão mudas!... Escuridão e silêncio absoluto! Nenhum sinal de vida.!

Porém, em torno de mim, brame e crepita a densa escura treva!
Avança em turbilhões de fumo e vertigem o tumulto da vaga!
Só as escuríssimas ondas, e, atrás delas, outras ondas mais ainda!
Ao mesmo tempo que nos ares se enrola  e desvanece a baça névoa! 
Erguem-se e perpassam à minha volta, fugazes rolos de inúmeros trapos!
Que se fundem e refundem, num duelo incessante, desvairado torvelinho!
Enquanto meus olhos, mergulhados de afronta, pasmo, medo e mistério,
Me provocam mil interrogações! - Se alucinam de díspares e mil perguntas!
Varrem e escrutinam, todos os confins do convulsivo e misterioso oceano!
Perdidos na superfície da ondulante massa escura, imensa sepultura aberta!


Sim, a sós, comigo e com a minha intimidade, aqui vogo, voz emudecida
Flutuando à deriva e à solta, acima e abaixo de alterosos montes e sulcos  
De negras e altas montanhas líquidas,  que, cavalgando ao meu encontro,
Ora se erguem, abruptamente, ora parece que nelas me envolvo e afundo.
Porém, sempre de fronte pura e aberta à negra imensidão do infinito!  
Às sucessivas rabanadas do agreste uivo do vento, aos seus golpes duros!
Arrastado pela sua fugidia e perturbadora fúria, que ecoa espaço a fora!
Vogando em mar deserto, de mil remoinhos, de fervente espuma escura!
Imerso nas vestes da imensa solidão noturna, perdido e esquecido
De todo mundo e, porventura, até dos escuros e turvados Céus.
E certamente que também da misericórdia ou piedade de Deus .



Oh, apetecia-me imaginar!...
Em vez de ser este pobre ser humano, desprezado!
Em vez de vogar angustiado por ameaças
de todos os lados,  sem rumo e destino,
sentir que podia erguer-me e, num único suspiro,
 levantar os braços e caminhar!
Tal qual Jesus Cristo o fazia – diz a bíblia –
sobre a superfície das águas do Rio Jordão.
Sim, gostaria de levitar como Ele, largar esta exígua prisão
em que estou confinado
E começar a correr por esta negridão a fora,
levado pelo sopro do vento, sem tino
Mesmo que jamais pudesse alcançar
 um porto de abrigo ou as margens do infinito…


Nenhum sinal de vida. Ninguém. Vivalma – Só as escuras vagas
E atrás das vagas, outras e outras ainda! Alterosos vultos
Que não cessam de se erguer e levantar, vindos não sei donde!
Sonâmbulo abandono o meu!... Errante e estranha vida a minha!
Para onde serei levado neste miserável esquife, em noite assim?!...
Para onde me arrastará a minha canoa nesta louca e incerta deriva?!...
Fantasmagórico e vertiginoso carrossel, que o vento leva à sua frente,
Bramindo e uivante, soando na mesma sinfonia das invisíveis correntes,
Dos vultos sombrios das medonhas e alterosas vagas, que tumultuam
Em torno de mim, vindas de todos os cantos do enegrecido horizonte,
Sem todavia saber  para onde vão, sem lhe distinguir direção alguma.

Oh, escura é a noite, e também escuros são os caminhos à minha volta!
Múltiplos e ínvios os caminhos que se abrem para onde quer que me volte!
E, por certo, também escuros os meus passos que me conduzirão a Deus…
Sim, vou indo, indo arrastado, com um medo que ainda não sei vencer.
Mas cá vou indo, porque, enquanto vou vogando assim, é sinal que vivo.
Indo, sim, com o soar do mar, com o mar que soa, com o mar que brame,
Com o mar que voa! À flor do mar! – Qual cavaleiro errante, sentado
No fundo de tosco e frágil madeiro, sonhando acordado, errando
À superfície deste escuríssimo e ondulante manto, vasto mar!
Porque, enquanto for vogando acordado, vivo e vou sonhando.

Jorge Trabulo Marques

Diário de Bordo .... 15ª dia -  UM GRANDE BARCO PASSOU AO MEU LADO ***** ******.....17ª Dia - Se me perguntassem qual era o meu maior desejo ..... ....;BIOKO À VISTA - ILHA DO “DIABO......***.;NÁUFRAGO - 18ª DIA – MAIS UM BARCO PASSOU A CURTA DISTÂNCIA ......; 19º Dia – Sinto muita sede  ...     ...;..........;21º DIA – “Sinceramentejá tenho pena de ter ferido aqueles tubarões n............;Náufrago 22.º dia - A canoa esteve há pouco à beira de se virar .......;23º Dia -Vi uma borboleta!    ..24º Dia - É tubarão!.... Filho da mãe....... 25º diaEstou cheio de sede e de fome............26ª Dia Não tenho comidaÁgua também não. .      . 27ª dia  mar nunca se podem fazer cálculos seguros!...........28º Dia - Grandes vagas alterosas entravam dentro da minha canoa!.        29ª dia - Passei a noite todo encharcado.....       30º Dia - Não comi nada: limitei-me a comer uma das barbatanas do tubarão. .......... 31º Dia - A canoa a meter água cada vez mais!.... .............. .32º Dia -Estou comendo o coco! Avidamente!... Sofregamente!................33º Dia - Estou exausto!.........Dia 34º -  Sinto uma grande dureza no estômago..........35ºDia - Acordei com o barulho de uma enorme baleia aqui próximo da canoa ....36º Dia - Comi a ave que apanhei ontem! (...) Tenho a costa de África muito próxima... É já noite"... Estou a velejar! Estou-me a precipitar como um suicida. Tenho fome! ... Não posso demorar mais tempo!......37ª Dia Estou partido! Tenho o estômago metido para dentro...Estou realmente bastante fraco...

sem destino e a noite por companheira. poema




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