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quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Pedras com memória num lugar com história - Chãs - Foz Côa - Maciço dos Tambores - Bustos hercúleos, testemunhos de um passado longínquo – além destes – muitos mais, que povoam estes maravilhosos espaços.

Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador 






Magistral herança que ressoa a primórdios, trazendo o eco recôndito e longínquo de remotas eras, dos povos que por aqui se abrigaram e cultuaram os seus deuses, erigindo insólitas catedrais, templos solares alinhados com os ciclos da Natureza, altaneiras estátuas de descomunais figuras humanas em descampados morros, impressionantes formas de animais, de aves, enfim, configurando as mais estranhas criaturas e fantasmagorias, cavadas e moldadas no ventre ou na face do acinzentado e negro-sarapintado granítico - qual fabuloso petrimundo dissimilado por mil cidadelas

Não é mera obra do acaso, vestígios da erosiva e poderosa ação dos elementos - Na verdade, sítios há que são uma tentação, um verdadeiro centro de emanações e de eflúvios, propensos ao deleite, ao esquecimento e à sublimação.


Quando não coberto das giestas em flor, aparentemente, mais lembra terra de ninguém, parda e vazia paisagem de um qualquer pedaço lunar, porém, estou certo que não haverá alguém que, ao pisar o milenar musgo ressequido daquelas tisnadas fragas, ao inebriar-se com os seus bálsamos, subtis fragâncias, e volvendo o olhar em torno dos vastos horizontes que se rasgam por largos espaços, fique indiferente ao telúrico pulsar, à cósmica configuração e representação divina, que ressalta em cada fraguedo ou ermo penhasco 
Ali se refugiaram povos muito antigos, aproveitando os naturais abrigos: as cavernas abertas nos enormes megalíticos, as fendas e as grutas dos encastelados afloramentos, ou mesmo implantando, nos espaços mais estratégicos e abrigados, os seus acampamentos, valendo-se de grotescas lascas e pedras soltas, de cujas construções ainda prevalecem abundantes amontoados e outros vestígios - e até um santuário de sacrifícios, amuralhado por um recinto circular, junto ao qual se destacam dois colossais fraguedos, assentes num lagedo que descai em rampa. Um deles, o principal, está de tal maneira inclinado a poente, que parece desfiar todas as leis do equilíbrio e da gravidade. Visto de trás, faz lembrar um enorme crânio humano 

A fronte, pelo contrário, parece ter sido cortada de alto abaixo por um só golpe - sabe-se lá por que hábil mão e recorrendo a que gigantesco machado! Junto à sua base, de extremo a extremo, e no sentido poente nascente, é atravessado por uma galeria em forma de cúpula, tendo no interior, um nicho com uma pintura a negro, que tem dado origem a várias lendas e que a o povo chama(talvez pelo seu entrelaçado), a Cabeleira de Nossa Senhora, nome pelo qual é também conhecido o dito santuário.



A outra fraga, fica um pouco ao lado - e também não é uma pedra vulgar. A sua orientação é ligeiramente diferente. Vista de costas para poente, parece um enorme boné semi-pousado ou cabeça de réptil de olho aberto. Porém, o lado que está voltado para Norte, uma boa parte do seu fundo, sai do lagedo que o sustenta, é oco, fica incrivelmente suspenso em vazio, tomando a forma de uma gigantesca campânula




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